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O PAU

Posted by Clenio on 10:55 in

Primeiro, uma consideração: eu ADORO Fernanda Young. Gosto dela como escritora, roteirista, entrevistadora e principalmente suas atitudes (posar nua em um país onde se valoriza mais a bunda do que o cérebro é definitivamente uma atitude corajosa pra caramba...) Tendo dito isso e explicitado minha admiração incondicional a ela, nada mais me resta senão tecer elogios a "O pau" (Ed. Rocco), seu mais recente romance, que eu li em menos de 48 horas (dizer devorar seria o mais correto, mas tratando-se de um livro com esse título pode soar como uma piada de duplo sentido de péssimo gosto...). Talvez seja uma das mais divertidas, insanas e paradoxalmente coerentes obras nacionais dos últimos anos, mixando cultura pop com geniais insights a respeito das relações entre esses dois eternos inimigos (??), o homem e a mulher.

É praticamente impossível dissociar a escritora Fernanda de sua protagonista, Adriana, assim como é um trabalho hercúleo não imaginar que a roteirista Young seja tal e qual Vani, sua mais famosa personagem (da saudosa série "Os Normais"). Adriana é uma mulher de 38 anos, culta, bem de vida, descolada e inteligente que se envolve com um homem de 24 anos, ator (motivo para sacadas admiráveis sobre os bastidores do mundo do entretenimento), bonito, sedutor mas carente de um cérebro razoável e dono de uma parca cultura. Ao descobrir, da pior maneira possível, que é traída, Adriana sente-se humilhada (quem não se sentiria?), vasculha o orkut do namorado (em um capítulo particularmente tragicômico) e resolve se vingar através da castração. Não uma castração física, mas psicológica, que segundo ela, é bem mais eficaz.

Ler Fernanda Young é um prazer enorme. Seu texto bem-humorado (de um bom-humor azedo, mas de uma ironia irresistível) atinge diretamente a identificação dos leitores, sejam eles homens ou mulheres, devido a sua aguçada percepção das relações amorosas e/ou romântico-sexuais. Os homens provavelmente vão pensar duzentas vezes antes de trair suas namoradas e as mulheres... certamente irão dar altas gargalhadas acompanhando o falar incessante de Adriana (imagino o quão divertido seria ver o texto em um palco, em um monólogo estrelado por digamos, Fernanda Torres ou Drica Moraes).

"O pau" é um livro curtíssimo (meras 180 páginas que soam como 30), mas diz muito mais a que veio do que dezenas de outras bíblias literárias pretensiosas e ocas. Para terminar com um trocadilho infame, mas de certa forma apropriado, nesse caso o tamanho não importa: importa é o prazer que proporciona. E prazer é uma coisa que o pau de Fernanda Young oferece generosamente.

"Paus sempre me lembraram o Hitler... agora entendo a profundidade desse lapso. Aqueles alemães todos, enormes, louros, fortes, desfilando em homenagem àquele nanico, de topete e bigodinho. Todo nervosinho. É exatamente igual. Exatamente igual ao que vocês, homens, fazem com seus paus. Vocês obedecem a ele como cachorrinhos amendrontados. Por que esse temor todo? Vocês tem medo que o pau fique puto e vá embora? Esposam ficam putas e vão embora, e vocês nem ligam. Vocês até preferem."

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