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ENTRE OS MUROS DA ESCOLA

Posted by Clenio on 15:02 in

Se tem uma coisa que ainda preciso aprender nessa vida é a de não dar ouvidos a recomendações cinematográficas de outrem (exceto pessoas altamente confiáveis, raça essa em franca extinção...). Foi seguindo uma opinião que hoje me soa obviamente equivocada (a mesma pessoa gostou de "O lutador", com Mickey Rourke) que deixei de assistir, em tela grande, o excelente "Entre os muros da escola", que conferi essa madrugada, fugindo dos agitos de Momo. E se arrependimento matasse provavelmente esse post nem existiria, porque o filme de Laurent Cantet, vencedor da Palma de Ouro em Cannes em 2007, é uma pequena obra-prima a ser descoberta e recomendada com fervor.

Logicamente não é um filme para o público que venera coisas como "Avatar". Baseada em um romance auto-biográfico de François Begaudeau, a obra de Cantet versa sobre pessoas, sobre diferenças sociais, sobre problemas aparentemente pequenos que se transformam em tempestades emocionais. O protagonista é o professor de francês de uma escola pública do subúrbio parisiense que luta para não apenas ensinar a disciplina a seus alunos, mas também procura encaixá-los na sociedade, em um mundo repleto de violência e pobreza, que discrimina os semelhantes e principalmente as minorias - e entre seus alunos estão chineses, marroquinos e árabes.Ao lado de um grupo de outros mestres, ele tenta estimular o aprendizado, a ética e a auto-estima de seus aprendizes, esbarrando muitas vezes no derrotismo que eles mesmos cultivam dentro de si.

O roteiro, escrito por Robin Campillo ao lado do diretor e do ator principal, escapa miraculosamente dos clichês que povoam o gênero "filmes de professor", não fazendo de seu protagonista um super-herói imbatível e infalível. François erra - e erra feio, às vezes - e isso o aproxima genuinamente da plateia, que, fascinada, acompanha sua batalha através de um mar de burocracia, mentiras e preconceitos. Espertamente, nada se sabe sobre a vida pessoal do professor: ele existe apenas dentro dos muros da escola, evitando que o interesse do público se desvie ou dilua. E o trabalho de François Begaudeau nunca deixa de cativar a audiência por sua naturalidade: sempre que está contracenando com seus alunos, há a nítida impressão de que estamos realmente assistindo a um embate real - às vezes cordial e intelectualmente estimulante e em outras assustadoramente a um passo da beligerância. Graças a esta falta de maiores ambições cinematográficas (leia-se movimentos radicais de câmera, edição estonteante e arroubos de criatividade), o filme de Cantent conquista pela simplicidade de sua forma e pela profundidade de seu conteúdo. Nem mesmo o final em aberto - bastante apropriado - tira a força de "Entre os muros da escola". Um grande filme em formato discreto!

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2 Comments


Puxa, que inteligência a tua! Parabéns pela brilhante leitura que fizeste do filme. Vou querer assistir a ele logo, logo. CLênio, vou mandar meu celular por depoimento no Orkut. Beijos.


Preciso conferir este também e já, me parece um bom filme de exercício de sensibilidade.

E, ainda que eu faça parte do 'público de Avatar', estou aberto a esse tipo de abordagem, pois muito me interessa e define.

Abração, sumido!

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