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SYMPATHETIC CHARACTER


Eu já tive a sua idade. Meu sorriso também já foi a novidade de uma festa. Já tive que fazer malabarismos para manter uma imagem que me era mais apropriada. Assim como você eu achava que quantidade era qualidade. E exatamente como você eu já quis abraçar o mundo com as pernas. Nos meus vinte anos tudo era possível, todas as pessoas eram possibilidades e mundos a ser explorados.

Eu já tive a sua falta de consideração para com os sentimentos alheios. Do alto da arrogância dos meus vinte anos eu achava que as pessoas existiam pra minha diversão. Assim como você eu realmente acreditava que os outros podem ser perfeitamente descartáveis quando não são mais úteis. E bem como você eu achava que uma boca era muito pouco quando havia tantas implorando por beijos.

Eu já confundi diversão com sacanagem. Achei que beijar muita gente era "conhecer" muita gente. Já fiz pessoas se iludirem a meu respeito pra depois empurrá-las do alto de suas expectativas. Já tive carinha de santo mascarando um espírito de sátiro.

Entendo sua ânsia de viver. Também já a tive. Compreendo que há tanta vida lá fora e aqui dentro sempre que é difícil não buscar alternativas. Acredite em mim, eu tenho essa empatia natural com pessoas que, como diz a música, "morrem de vontade, que secam de desejo e ardem". Mas acredito também que machucar pessoas não é o melhor caminho para a realização pessoal.

Eu já achei que certas pessoas faziam drama por nada até que me pus no lugar delas. Achava que sofrer por amor era coisa de mocinha de novela mexicana, até me apaixonar e sentir a torturante dor de um coração partido. Já julguei pessoas por atos que me flagrei repetindo tempos depois. O mundo dá voltas, dizem por aí. E como não concordar com isso?

Cometi erros crassos e imperdoáveis. Por uns fui perdoado, por outros jamais absolvido. Em todos eles me considero culpado. Quando os cometi julgava estar sendo sincero comigo mesmo, honesto com meus desejos e sentimentos. Mas se pudesse voltar atrás, eu preferiria mil vezes ter reprimido minhas vontades para poupar os sentimentos de quem gostava de mim - ou poderia vir a gostar de verdade. O escorpiano falou mais alto em várias ocasiões. E hoje quem paga pelo sentimento de culpa é um bobo sentimentalóide que perdeu muitas chances de ser feliz.

Talvez eu tenha odiado seus atos porque me vi refletido neles. Mas ainda tenho dentro de mim o senso de obrigação de te avisar enquanto é tempo: as pessoas se machucam e às vezes os ferimentos são mortais.

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3 Comments


Puxa, essa foi a verdadeira confissão madura, uma autoanálise direto. Na verdade, às vezes, precisamos 'quebrar a cara' para aprendermos a ter limites. No entanto, não deves te culpar por tantas coisas ao mesmo tempo, uma vez que na época em que tomaste tais atitudes, era esse o teu entendimento da vida, o teu conceito de viver. Agora, hoje, sabendo dos teus erros e continuando a errar, aí, sim, tu podes deixar que o sentimento de culpa te perturbe ardentemente. Mas esse não será o teu caso, pelo que deu para perceber. Pior do que tudo junto, é fingir que se está sempre certo, tendo consciência de que se está fazendo o mal ao outro e não sendo tolerante às suas dificuldades e limitações. As circuntâncias da vida vão-nos exigindo mudanças de atitudes, pois viver é um eterno processo dialético de "vir a ser". Não existe um modelo pronto de comportamento a não ser aquele imposto pelo capitalismo, em que os corpos e os pensamentos devem estar 'docilizados' para a obediência à exploração e à materialização de tudo. Vc é d++++++++. Beijos


Tânia, seus comentários sempre são extremamente pertinentes. Você, assim como eu, deve tentar se entender diariamente, buscando se aprorimar a cada vez mais. Por isso entendemos um ao outro. Muito obrigado pelas visitas.


Clenio, boa-noite! Conheci o seu blog atraves do Cris (apimentario) e gostei muito do que li, aqui no seu espaço. Parabens pela escrita!

Abraços.

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