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FILMES QUE MUDARAM A MINHA VIDA - SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS

Posted by Clenio on 17:42 in

SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS (Dead Poets Society, 1989) Direção: Peter Weir. Roteiro: Tom Schulman. Fotografia: John Seale. Música: Maurice Jarre. Produção: Steven Hart, Paul Junger Witt, Tony Thomas. Elenco: Robin Williams, Ethan Hawke, Robert Sean Leonard, Josh Charles


Não sei se essa deformação cultural advém do fato de eu sempre ter visto minha mãe cercada de listas de chamadas, provas e trabalhos a corrigir, mas eu não posso negar que desde sempre adoro filmes que falam sobre relações entre professores e alunos. E dentre as dezenas de obras que assisti dentro desse gênero à parte, uma em particular tem um lugar especial no meu coração; que atire a primeira pedra quem nunca se emocionou com "Sociedade dos poetas mortos", dirigido pelo australiano Peter Weir em 1989.

Não tive a oportunidade de assistí-lo no cinema. Na época em que foi lançado eu ainda morava no interior e meu contato com a sétima arte era mesmo através do video-cassete, uma das maiores invenções da humanidade. Quando o assisti finalmente, ele teve sobre mim quase o poder de uma epifania: ali estava, à minha frente, a história que eu queria ouvir, contada de forma inteligente, sensível e delicada, sem nunca porém deixar de ser forte e inspiradora. Ali estavam, diante de mim, personagens reais, com dúvidas reais, medos verdadeiros e sonhos que se pareciam com os meus. Ali estava, falando para mim - era para mim sim, eu tinha essa plena certeza - o professor que sempre sonhei ter, que ensinava não apenas como entender uma poesia mas também a viver (na época eu achava que era possível ensinar algo dessa envergadura).

"Sociedade dos poetas mortos" se passa em 1959, quando os EUA ainda não tinham tido seus sonhos demolidos com as mortes de Kennedy e Luther King. O cenário é a Welton Academy, uma escola para rapazes tradicional e rígida em seus conceitos de disciplina, ordem e excelência. Quando o filme começa conhecemos John Keating (Robin Williams no papel que me faria seu fã eternamente), o novo professor de literatura. Ex-aluno da Welton, logo Keating surpreende seus alunos fugindo da didática quadrada exigida na escola. Logo de cara manda todos rasgarem as páginas iniciais de um livro de teoria que continha um prefácio explicativo. Segundo ele, poesia não se explica: se sente. Entusiasmados com seus métodos nada ortodoxos, um grupo de estudantes ressuscita a Sociedade dos Poetas Mortos, fundada por Keating em seus tempos de discente. Nas reuniões do grupo, os jovens declamam poesia, tocam música, conversam sobre seus objetivos e tem momentos de liberdade que as salas de aula não permitem. Aos poucos a relação entre Keating e seus alunos atinge um novo patamar. No entanto, ao alertar para os perigos do conformismo, para a liberdade de escolha, para a necessidade urgente de aproveitar ao máximo cada dia e para a importância de lutar por seus sonhos, o professor acaba esbarrando no jeito burocrático de pensar e ensinar da fechada Academia. O conflito fica estabelecido de vez quando um dos alunos de Keating, o jovem Neil Perry (Robert Sean Leonard) resolve desafiar ordens paternas e insistir em seu desejo de ser ator, deflagrando uma tragédia que irá abalar e/ou fortalecer a admiração dos estudantes por seu mestre.

É praticamente impossível descrever em palavras o impacto que uma história como essa teve em mim, um guri de 16 anos, no auge da explosão hormonal, com muito mais dúvidas do que certezas na cabeça. Tudo no filme me inspirava: a bela música de Maurice Jarre, a fotografia espetacular de John Seale, os diálogos brilhantes de Tom Schulmann. .."Carpe diem, aproveitem o dia" dizia John Keating, enquanto citava Walt Whittman e Thoreau ("A maioria dos homens vive em silencioso desespero"), enquanto incentivava em cada aluno o que ele tinha de mais especial. Para um adolescente cdf e quase mortalmente tímido como eu, Todd Anderson (Ethan Hawke), o aluno exemplar e mega-cobrado pelos pais era o mais próximo de alguém com quem identificar-se que o cinema poderia me proporcionar. E John Keating, pra mim, era mais super-herói do que qualquer Batman ou Superman, porque humano, à flor da pele e falível.

Na minha cabeça delirante, que buscava orientações a seguir, eu era todos aqueles alunos sedentos por vida. Eu era Todd Anderson (Ethan Hawke), o filho cobrado com exagero; era também Neil (Robert Sean Leonard), que buscava extravasar suas angústias através da arte; e era também Knox Overstreet (Josh Charles), que utilizava a poesia como instrumento para vencer o medo de conquistar a mulher que amava. A vontade que eu tive, quando o filme acabou pela primeira vez na minha frente (sim, eu o assisti a dezenas de vezes e sempre me arrepio com a última cena, como se fosse uma mágica emocional) foi de começar minha vida do zero, mandar tudo às favas e viver do meu jeito. Logicamente, com 16 anos, ainda estudando e sem emprego, essa vontade não saiu da teoria. Mas continua dentro de mim - enterrada como um saco de macumba, como diria Nelson Rodrigues - a lembrança da bela poesia:

"Fui à floresta porque queria sugar a essência da vida
Eliminar tudo que não era vida
Pra não descobrir, ao morrer, que não vivi..."


Eu não gosto de poesia - fazer o que? Não consigo gostar... - mas "Sociedade dos poetas mortos" não fala apenas de poesia. Fala de amor, liberdade, auto-conhecimento, auto-estima, amizade e paixão (pela vida, pela natureza, pelas pessoas). Fala de gente, e o faz de tal maneira que fica difícil acreditar que perdeu o Oscar de Melhor Filme para o maçante "Conduzindo Miss Daisy" (pelo menos levou a importante estatueta de roteiro original, escrito com um toque de gênio por um Tom Schulman que nunca mais fez nada de marcante). No entanto, dentro do meu coração poucos filmes são tão importantes e essenciais na minha formação quanto ele.

AVISO: Essa seção não tem a menor intenção de reiterar escolhas de críticos ou babar ovo em cima das maiores bilheterias da história (aliás, bilheteria é o que menos importa aqui). Todos são filmes que, por um motivo ou outro fizeram da minha vida algo melhor, por razões mil. É uma lista bastante aleatória, democrática e os títulos que dela participam tem apenas uma coisa em comum: são filmes que vi, revi, trevi e verei sempre que meu coração mandar.

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3 Comments


Entendo a motivação dessa seção, é algo pessoal que você quer compartilhar com os leitores do seu blog.

Agora, acho que Sociedade dos Poetas Mortos, é daqueles filmes que todos já devem ter visto, e onde todos ficaram pensativos após vê-lo. A ideia de Carpe Diem tão estudada na literatura, é finalmente mostrada na prática, no cotidiano daqueles rapazes que finalmente possuem um espaço para respirar, fora das pressões dos familiares e da escola.

Gosto bastante da película também. Mesmo sabendo hoje, que ali há mais idealismo que realidade. Mas o que seria dos homens sem os sonhos e questionamentos, não é mesmo? É, realmente, uma ótima obra que merece ficar eternizada na história.

Abraço!


A poesia vista lindamente na tela..é um clássico!

Abs!


PARABÉNS PELO TEXTO!
Este filme é definitivo!

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