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MINHA FAMA DE MAU

Posted by Clenio on 18:00 in

Hoje em dia já é quase unanimidade dizer que se é fã de Roberto Carlos (e eu o sou, sem vergonha de admitir, a ponto de volta e meia cantarolar algumas de suas canções, em especial as mais dor-de-corno possível). O que pouca gente reconhece - e o motivo ainda me é desconhecido - é ser fã da outra metade de Roberto: o Tremendão Erasmo Carlos. Talvez por ter seguido outra vertente dentro da música brasileira (o rock), o co-autor de clássicos absolutos do romantismo musical nacional não desfruta do mesmo prestígio e do mesmo sucesso que o Rei. Uma injustiça, principalmente levando-se em consideração que, ao contrário de seu velho amigo, Erasmo parece ser muito mais "gente como a gente". Pelo menos essa é a impressão que fica depois do término da leitura de "Minha fama de mau" (Ed Objetiva), autobiografia do cantor e compositor.

Enquanto Roberto Carlos (nem tanto por sua culpa, mas devido a circunstâncias outras) hoje ocupa o lugar de cantor mais popular do país, recebendo homenagens por onde quer que passe e mantendo-se sempre em voga, seu parceiro/irmão/amigo Erasmo foi relegado a um melancólico segundo plano no panorama da MPB. Pouco se sabe hoje em dia de sua carreira, poucas músicas suas (pelo menos cantadas por ele) tem espaço na mídia e é pouco provável que mulheres suspirem por seus cabelos grisalhos. No entanto, se os corações apaixonados ainda suspiram ao som de belas músicas como "Detalhes", "Cavalgada", "Emoções", "Fera ferida" e centenas de outras canções, metade da responsabilidade é dele, um cidadão da Tijuca que, sobrevivendo a uma infância pobre - mas bastante pródiga de diversão, segundo o livro - virou ídolo da juventude, conviveu com a nata da MPB e nunca deixou de amar a primeira e única mulher, Narinha, que morreu em 1995.

Apesar de ser um letrista de talento inquestionável - atire a primeira pedra quem não acha linda nenhuma de suas composições - Erasmo não é um grande escritor e nem ao menos um biógrafo brilhante como Ruy Castro e Fernando Morais, como bem mostra "Minha fama de mau". Suas lembranças não seguem uma linha cronológica rígida, indo e vindo no tempo ao sabor de sua memória afetiva. E por ser afetiva, logicamente não é exatamente objetiva ou tem o distanciamento necessário para revelar aos leitores segredos de bastidores mais apimentados. Desfilam pelas páginas do livro nomes como Tim Maia, Jorge Ben, Wanderlea, Alcione, João Nogueira e, é claro, Roberto Carlos, mas sempre lembrados com carinho, admiração e amizade pelo autor. O público perde por não descobrir nada de pervertido nos camarins da Jovem Guarda (talvez um buraco com vista para o vestiário feminino...) mas tem mais uma prova do bom caráter e da generosidade de Erasmo, que, ao contar sua vida até agora preferiu lembrar bons momentos a fazer fofoca sobre a vida alheia.

Ler "Minha fama de mau" é mais ou menos como ouvir Erasmo Carlos contar, com sua voz suave e sotaque carioca, as aventuras e desventuras de seus quase 70 anos de existência. É como uma conversa amigável, engraçada em alguns momentos, comovente em outros. Mas é, antes de mais nada, um necessário resgate de uma personalidade incrível e de importância fundamental na música brasileira.

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