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UM EX-"MELHOR AMIGO"

Posted by Clenio on 13:06 in


Quem já passou por isso há de concordar comigo. Mais triste que o fim de um namoro é o fim de uma amizade. Um namoro, bem ou mal, já nasce sob a certeza de que um dia acabará. Só mesmo otimistas incorrigíveis - e aqueles com memória curta - são capazes de acreditar realmente que um namoro é pra sempre. No entanto, uma amizade - ao menos aquelas que julgamos verdadeiras - tem sempre aquela aura de eternidade que, quando destruída, é capaz de jogar qualquer um em um abismo de dúvidas e elocubrações pouco agradáveis e muitas vezes assustadoras.

É desagradável perceber, por exemplo, que você dispendeu preciosos anos da sua vida tentanto construir uma relação de confiança e intimidade com alguém que confunde essas palavras com licensiosidade e falta de respeito. Que você suportou bravamente intromissões inaceitáveis em sua vida amorosa, sexual, financeira e familiar de forma unilateral - porque, ao contrário de seu "melhor amigo", você respeitava limites. Não é nem um pouco feliz notar que as risadas que muitas vezes vocês deram juntos não era COM você e sim DE você.

É assustador começar a ter a certeza a cada dia maior de que você era apenas uma pessoa a mais na vida daquele que se dizia seu melhor amigo. Que ele conviveu com você durante anos mas nunca realmente o viu; que ele dormia no quarto ao lado do seu mas mantinha uma distância quilométrica em termos de uma relação real; que ele provavelmente só se sentia em paz e tranquilo quando você estava no centro de um furacão emocional devastador.

Dá um certo medo lembrar de situações em que estava claro com quem você estava lidando, mas que mesmo assim você não prestou atenção a seu sinal de alarme. Coisas que seriam imperdoáveis em outras pessoas mas que, por um motivo ou outro, você considerava passíveis de compreensão nele agora parecem monstros que o perseguem dia e noite. Certas dúvidas tornam-se certezas e você fica com aquela sensação indescritível de que sua importância na vida do seu melhor amigo é a mesma que ele dá a uma roupa que um dia foi linda mas que hoje é apenas isso - uma roupa que você usa no dia-a-dia e à qual não se dá o menor valor agora que perdeu a utilidade.

Você realmente acreditava que pelo menos essa relação seria pra sempre em sua vida. Acreditava que havia dado motivos o bastante para provar sua amizade, mas de repente percebe que tudo foi inútil, insuficiente e vão. Ou melhor ainda - ou pior, dependendo do ponto de vista - que seu "melhor amigo" não tem a força na personalidade que você achava que ele tinha. Aliás, você passa a descobrir que não só ele não tem a personalidade forte que você julgava que ele tinha - ele também sabe ser grosseiro, injusto, ingrato e transmitir uma imagem de vítima que sempre o acusou de ter. Vai confiar em alguém mais depois de tudo isso?

Sim, romances quando acabam fazem aflorar nos amantes lados que nem mesmo eles se saberiam possuidores - e eu não sou diferente, tenho pena da vítima dos meus ataques pós-rompimento (I love you, by the way) - mas descontar pés-na-bunda nas pessoas que em tese poderiam lhe ajudar a superar o trauma não me soa honesto nem tampouco inteligente. Cada um lida de um jeito com a dor da perda, mas fingir uma alegria oca não me parece uma tática válida, assim como não o é tentar consertar erros cometendo outros ainda maiores. Amores vem e vão, amizades são mais raras - mas isso, pelo jeito, não importa tanto assim para certas pessoas.

Sim, estou órfão de um melhor amigo. Talvez mesmo nunca o tenha tido, porque um melhor amigo não se sente feliz em lhe botar pra baixo, em fazer piadas a seu respeito ou não ter o menor respeito pelos seus sentimentos. E, principalmente, um melhor amigo não abandona uma amizade por motivos ridículos sem nem ao menos conversar sobre eles. Talvez todos esses anos o meu melhor amigo tenha sido imaginário...

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6 Comments


Olha, Clenio, eu tenho um coração estranho e sou estranho. Sou seletivo, e quando sinto que meu amor - digo de todo o tipo de amor [amigos, namoro] - eu apenas sigo adiante. Sem medo de ser feliz.
Sim, uma vez eu sofri por causa de um "melhor amigo", mas depois dele aprendi que eu sou o melhor amigo que posso ter, e sim, eu posso viver sem eles se me fizer bem.
Espero que nãos e sinta orfão, mas livre de alguém que, na verdade, não te fazia bem.
Abraço


cara, cheguei aqui através do pé de feijão e já gostei do blog.
quando ao que você escreveu, concordo que confiança é uma torre de cartas de baralho que a gente leva tempo e dedicação construindo. mas quando cai, aí fica difícil confiar de novo.
eu já perdi amigos assim, como você falou, que estavam ao meu lado mas quando puderam me deram uma rasteira. a gente aprende, a gente cresce. os verdadeiros vão ficando, mesmo se a gente passa tempo sem falar com eles, quando a gente fala é como se fosse ontem. com o tempo a gente, e a vida, os seleciona. pena o que aconteceu contigo. realmente descobrir que foram 'imaginários' não é fácil. é uma descontrução interna que a gente tem que fazer.
mas não precisa se sentir órfão. olhe em volta e vai ver que tem mais gente por aí bem elegível para o cargo.


Clenio, eu passei por isso em 2007, quando uma "melhor amiga", dos tempos de colegial, se mostrou arrogante e tratou com frivolidade a morte da minha mae. Uma outra amiga nossa, tambem do colegial, estava perdendo o pai (internado na UTI) e liguei para essa "amiga", convidando para irmos fazer companhia à outra, quando, por telefone, essa "amiga" me diz: ah, vai voce pq vc jah tem historico (ela, se referia a minha falecida mae). E aí?! o que fazer diante de tal "comentario"?! Sabe que eu sempre prezei muito as minhas relacoes (amigos e namorados), e, infelizmente, tive alguns maus retornos. Mas sou como "Visao", eu consigo dar "o proximo passo", "virar a pagina", porque afinal, como ele mesmo disse: o meu melhor amigo, sou eu e somente eu. Claro que fiquei decepcionado com ela. Depois de um tempo, ela me mandou um correio e escreveu "o que sentia" em relacao aquele nosso telefonema e eu respondi, é claro! Naquele momento, vi que "a minha amizade" estava num plano inferior para ela. Nao me arrependo de cortar vinculo, pois foi ela que nao entendeu a dádiva que existia entre nós. É uma pena, pra ela! Mas enfim, a vida é assim: pessoas vem, pessoas vao. Deixe o novo chegar, Clenio. E se isso, significa pessoas novas: que venham! nao tenha medo ou receio, gaucho! Receba essas novas pessoas com um sorriso! Descobri que para chorar, é preciso mais musculos, o que na pratica, quer dizer: mais rugas!

Ainda nao! Bjs.


Li tudo e quase entrei em depressão, Clenio. Não sou um cara de grandes amigos. Aliás, tenho pouquíssimos... Dá até pra contar nos dedos da mão. A pessoa com quem eu tive uma amizade mais consolidada já não está mais ao meu lado. Viajou em fevereiro do ano passado e não mais retornou. Fomos (ou somos, sei lá) grandes amigos, daqueles que choram no colo um do outro e despejam todos os problemas nos seus ouvidos. Perco as contas de quantas vezes dei conselhos à ela (é uma garota, seu nome é Deborah) sobre seu relacionamento com um carinha de caráter mais ou menos (hehe)... Na verdade, fui apaixonado por ela. Convivemos por três anos e nunca tive coragem de dizer que a amava. Sentia medo de perder a sua amizade, dela querer afastar-se de mim ao saber dos meus reais sentimentos... Ela foi embora e nunca ficou sabendo da dimensão do meu amor. Não sei ao certo, mas acho que ainda sinto algo especial por Deborah... Triste, não?! Tomara que minha namorada não leia isto, hehe... Obrigado pelo post... Me senti a vontade para desabafar, hehe... Até mais!


Oi Clenio, estou em dívidas com meus melhores blogs, os de cabeceira como este. Minha tese tem me roubado o tempo.
Eu já havia lido este texto assim que publicou, mas agora (às 3h30) voltei a lê-lo. Senti-me triste... e a noticia de uma ex-amizade não é nada boa; mas há de se convir: acho que você ganha com isso, sempre se aprende a confiar menos nas pessoas quando algo assim acontece. Não que seja bom, o fim de algo que nos faz bem é sempre uma perda; mas se não te faz mais bem, será a partir de agora um ganho, pense assim. Eu o admiro por tamanha sensibilidade de falar sobre assuntos tão corriqueiros de modo original, e este assunto certamente vivenciado me passou esta originalidade. Desejo muito força na vida e que novas amizades surjam... mas amizade para toda a vida, se for para terminar, que nem o outro nem comece...
Ah, voltarei para ler os outros postes com mais atenção. Grande abraço!


NAO ACREDITO NISSO!!! Bj Grace

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