6

A ORIGEM

Posted by Clenio on 11:13 in

Há quanto tempo que você não tem a sensação de, ao assistir a um filme, ser sequestrado e levado para um mundo à parte, como se tivesse sido hipnotizado? Se parou pra pensar é porque faz muito tempo que um filme como "A origem" não surge nas telas de cinema, tão mal acostumadas a uma dieta anêmica de bobagens para consumo rápido e esquecível. Dirigido por Christopher Nolan - que ressuscitou a franquia "Batman" de forma assombrosa -, o filme estrelado por Leonardo DiCaprio e um elenco dos sonhos é uma das mais impressionantes manifestações cinematográficas dos últimos anos, capaz de dar um nó na cabeça do mais perspicaz dos espectadores e surpreendê-lo com um final não apenas emocionante como coerente e de uma inteligência rara no cinemão americano.

O próprio Nolan é o roteirista de "A origem" - e levando-se em conta que ele também criou "Amnésia", em 2001, o sujeito tem fetiche por confundir a mente das plateias. Aqui ele criou um universo tão, mas tão surreal que só resta ao público fechar os olhos e embarcar sem cinto de segurança em uma trama fascinante que mistura cenas de ação inacreditáveis, uma história de amor realmente comovente e um clima abstrato de dar inveja a David Lynch - sem as bizarrices do pai de Laura Palmer.

A história de "A origem" é difícil de resumir. Basicamente, pode-se dizer, sem estragar as surpresas do impecável roteiro, que DiCaprio (que não ajuda nem atrapalha) interpreta um profissional que vive de invadir os sonhos das pessoas para roubar-lhes os segredos mais íntimos. Impedido de entrar nos EUA devido a trágicos acontecimentos passados que envolvem sua esposa (a sempre bela e ótima atriz Marion Cottilard), ele cede à tentação de desafiar a si mesmo e ir além do corriqueiro, plantando na mente de um empresário ideias que favorecerão seu rival profissional. Contando com a ajuda de uma equipe talentosa e bem treinada, ele entra no perigoso terreno dos sonhos dentro dos sonhos.

Sim, é complexo. Sim, é uma viagem total. Sim, é necessária uma atenção total. Mas vale a pena cada minuto. "A origem" é criativo, diferente, empolgante. E é talvez o melhor filme do ano até agora. Corra já para o cinema!

Mais cinema em www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com

|

6 Comments


Mandou bem no comentário!!!

Um dos melhores filmes de todos os tempos!!!
Tomara que dessa vez a Academia não seja injusta com Christopher Nolan!


Quero ver essa viagem
Quero estar nessa viagem
Só falta o ingresso do embarque mas creio que será em breve

Parece ser ótimo
!!!


Ainda estou num misto de êxtase e incredulidade...realmente, é do tipo de filme que tem toda uma subjetividade e simbolismo que se tornam mais impressionantes que as próprias cenas de efeitos visuais ou de ação.

Confesso que tive que pensar muito em diversas cenas - ainda mais no segundo ato do filme, quando um sonho se submete ao outro(os estágios das camadas do subconsciente)...

por isso, me perdia constantemente...deixei passar certos diálogos e contextos...é, as primeiras impressões não bastam e preciso rever o filme, creio que vá ainda hoje...ontem a sala lotou...

Achei DiCaprio merecedor de uma certa estatueta dourada, mas acho difícil...mais fácil Marion Cotillard ter indicação. Page, além de graciosa, teve momentos de pura inspiração na atuação. O elenco funcionou muito bem, de fato...e concordo que há cenas que são impactantes, mas pra mim o psicológico falou mais alto e o simbolismo, enfim.

Bem, o filme mexeu comigo e muito...sem palavras!


Abraço, você anda bem sumido, rs


Gostei de sua abordagem no teu texto Clenio...e cada vez mais que leio sobre A origem nos blogs, adoro ver cada reflexão particular. Isso mostra o quanto a obra de Nolan é cheia de nuances e significados.

Um filme inteligente. Original e sumido das telas há muito tempo, concordo com você. Fazia tempo que eu não tinha uma experiência diferente no cinema.

Abs,
Rodrigo


excelente filme. também falei dele no railer online. confira!


“A origem”

Mesmo que levássemos em conta apenas a superfície imediata do entretenimento, o filme superaria a média industrial hollywoodiana. Nem tanto por mérito do jovem e talentoso Cristopher Nolan, mas graças ao arrojo técnico empregado para contar sua história mirabolante. Os efeitos visuais atingem um grau de ilusionismo assombroso. A edição é exemplar. Prêmios técnicos não faltarão ao filme.
Há, no entanto, um pequeno detalhe.
A música “Je ne regrette rien”, cantada por Edith Piaf, surge freqüentemente, servindo a necessidades dramáticas. Os protagonistas a utilizam como uma espécie de gatilho para retornar das viagens pelos sonhos. Depois que os inconscientes foram devidamente treinados, basta-lhes ouvi-la e todos despertam imediatamente, salvando-se de apuros eventuais.
Mas trata-se também de uma referência exterior ao próprio filme: a canção desloca nosso raciocínio da personagem-chave “Mal” para sua intérprete, a francesa Marion Cotillard. Pois é impossível não lembrar a própria Cotillard no papel de Edith Piaf, cantando exatamente “Je ne regrette rien”.
Enquanto “Mal” só existe no mundo onírico, a identificação da atriz com seus trabalhos anteriores faz sentido apenas no plano dos espectadores conscientes. A citação extrai os personagens de suas imersões pela fantasia e ao mesmo tempo nos retira de “A origem” (ou do “sonho” representado pelo filme) para devolver-nos à realidade exterior.
Se qualquer outra canção preservasse o mesmo sentido conveniente à trama (“não lamento nada”), as lucubrações acima virariam delírios absurdos. Mas a escolha dessa música, entre inúmeras possíveis, é precisa e enriquecedora demais para soar casual. E assim descobrimos a essência do código metalingüístico em sua plena realização.

http://guilhermescalzilli.blogspot.com/

Copyright © 2009 Lennys' Mind All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive. Distribuído por Templates