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AS CENTENÁRIAS

Posted by Clenio on 22:38 in
Tive a oportunidade, ontem, de assistir, da primeira fila, duas das minhas atrizes preferidas, Marieta Severo e Andréa Beltrão. Juntas no palco, elas encantaram a plateia que lotava o Teatro Bourbon Country com a peça "As centenárias", escrita por Newton Moreno especialmente para elas. Ao contrário de muitas peças de teatro do eixo Rio-São Paulo que lotam os teatros devido à presença de atores globais no elenco, aqui a coisa é bem diferente. Atrizes espetaculares que são, Marieta e Andréa comprovam, sem espaço para dúvidas, que o que teatro bom é teatro feito por quem entende do riscado.

Dirigida pelo criativo Aderbal Freire Filho, "As centenárias" conta a história de duas carpideiras do sertão nordestino que, como o título sugere, já passaram dos cem anos de idade. Sua longevidade advém do fato de terem enganado a morte muito tempo antes, o que as faz fugir de um novo encontro com "a mulher da foice". Enquanto aguardam o desenlace de um falecimento em vias de acontecer, Socorro (Marieta) e Zaninha (Andréa) bebem pinga e relembram toda a sua trajetória em chorar pela morte de desconhecidos em troca de comida e um pouco de dinheiro. Suas lembranças são repletas de acontecimentos surreais e hilariantes, como um encontro com Lampião e o velório de uma mulher assassinada pelo marido coronel que quer morrer para acertar as contas com ela até mesmo no além. Além de reverzar-se nos seus papeis na velhice e na juventude, as duas atrizes incorporam também inúmeras outras personagens, contando com a ajuda valiosa do ator Sávio Mello.

Imersas em um imenso e belíssimo cenário, mas que apesar de impressionar pelo tamanho mostra-se extremamente simples e funcional, elas simplesmente comandam um espetáculo que fala de morte sem nunca escorregar para o dramalhão. O texto, engraçadíssimo e imprevisível, soa como música ao ser declamado por elas, em um trabalho de construção física e vocal nunca aquém do impecável. Marieta e Andrea estão em constante movimento pelo palco, ao som de uma inspirada trilha sonora e de um figurino simples mas exato. Retratando a cultura do sertão nordestino através dos tempos - as protagonistas encaram assustadas a lâmpada e o rádio, por exemplo - a história de "As centenárias" consegue ser, ao mesmo tempo, muito divertida para a plateia e um exercício fenomenal para suas intérpretes, que são aplaudidas entusiasticamente por onde passam. Com todo o merecimento, diga-se de passagem.

"As centenárias" é teatro da mais alta qualidade. É uma hora e meia de deleite para os fãs de boas atuações, direção inspirada e texto criativo. E apenas aumentou minha admiração incondicional às duas atrizes.

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2 Comments


Inveja boa......eu quero muito assistir as duas... Se em A Grande Familia elas roubavam a cena eu imagino no teatro como deve ser saboroso.


Adoro ambas!

Bela resenha teatral, abs.

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