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MINHAS MÃES E MEU PAI

Posted by Clenio on 19:27 in
Mais uma vez o título nacional é vergonhoso. "Minhas mães e meu pai" soa como uma daquelas baboseiras dos estúdios Disney estreladas por uma Lindsay Lohan pré-rehab, sendo que o filme da diretora Lisa Chodolenko é um drama adulto, que lida com temas sérios de maneira bem menos conservadora do que Hollywood é acostumada a proporcionar ao público. Veterana de episódios de séries de TV como "The L World" e "A sete palmos", além de alguns longas independentes que receberam elogios mas são poucos conhecidos no Brasil, Chodolenko comanda de forma leve e agradável uma interessante história sobre uma família "alternativa" que vê sua harmonia desestabilizar-se com a chegada de um elemento inesperado.

A médica Nic (Annette Bening) e a paisagista Jules (Julianne Moore) vivem um casamento estável e amoroso há quase vinte anos. Carinhosas e dedicadas, elas são os pais perfeitos mas um tanto rígidos de um casal de adolescentes, Joni (Mia Kasikowska, a Alice de Tim Burton) e Laser (Josh Hutcherson). Às vésperas de sair de casa para cursar uma universidade, Joni aceita o pedido de seu irmão e, aos 18 anos, tem a oportunidade de saber o nome do homem que doou esperma para as duas gestações de suas mães. Curiosos, os dois jovens vão atrás de Paul (Mark Ruffalo), um solteirão, dono de um restaurante natural e de uma cooperativa. A novidade cai como uma bomba no lar antes pacífico, e tanto Nic quanto Jules tentam lidar com ela de maneira racional, iniciando uma amistosa relação com o "pai" de seus filhos. Porém, as coisas se complicam quando a controladora Nic passa a perceber que sua prole está próxima demais dele e sua insegurança começa a atrapalhar seu casamento com Jules, que, sentindo-se pouco valorizada pela parceira, inicia com ele um romance heterossexual.

O roteiro de "The kids are all right'" (título bem mais apropriado) é feliz em jamais julgar ou questionar com condescendência suas personagens. Nic é uma chata dominadora, sim, mas é uma mulher dedicada a manter a harmonia da sua família a custa de muito trabalho. Jules é um tanto passiva em relação a suas próprias escolhas profissionais, é claro, mas suas dúvidas e desejos de amor são legítimas e nunca vulgares. Paul é um homem que, em vias de entrar na meia-idade, tem um vislumbre de um real relacionamento e não se faz de rogado em correr atrás dele. E até mesmo as reações de Joni e Laser diante do furacão em que se transforma suas vidas são verossímeis e nunca forçadas. Até mesmo o senso de humor do filme não peca por piadas grosseiras, sustentando-se basicamente na ironia e no tanto de surreal da situação proposta pela trama central.

E nada como um bom elenco para sustentar um filme calcado basicamente em personagens e diálogos sobre gente de verdade! Há muito tempo Annette Bening não tinha um papel tão bom para defender, e sua atuação elogiada unanimente pode render-lhe até mesmo uma quarta indicação ao Oscar do ano que vem. No entanto, ela deve boa parte de seu trabalho à excelente química com Julianne Moore, mais uma vez entregando uma interpretação corajosa e desprovida de artifícios e Mark Ruffalo, um dos atores mais subapreciados do cinema americano, que consegue convencer na difícil transição de sua personagem sem cair no clichê. E como os filhos confusos com as desventuras de seus pais, tanto Mia Kasikowska quanto Josh Hutcherson mostram que podem ter futuros alvissareiros na indústria - se souberem fazer as escolhas corretas.

Claramente simpático à causa gay, mas sem nunca chegar a ser panfletário, "Minhas mães e meu pai" é um belo exemplo de como filmes simples podem encantar apenas versando sobre pessoas e sentimentos.

Mais cinema em www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com e www.cinematotal.com.br

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2 Comments


Vergonhoso mesmo! Até escrevi um post no meu blog de cinema sobre as traduções mais infiéis do cinema e Minhas mães e meu pai está na lista!

Ainda não vi o filme, mas estou bem curiosa. Segundo a crítica, as atuações de Julianne Moore e Annette Bening são dignas de Oscar. Vamos ver :D


Nem me incomodei, nem achei vergonhoso o título brasileiro...enfim.

É um belo filme, mais por ser REALISTA!

Acho que a forma como Bening evidencia sua personagem pode premia-la com um Oscar mesmo...

O tom realista, os diálogos ágeis e a trama bastante tangivel torna esse filme necessario...eu gostei demais!

abs

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