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CISNE NEGRO

Posted by Clenio on 23:14 in
Há que se louvar que um filme como "Cisne negro" tenha encontrado lugar entre os finalistas ao Oscar de melhor filme deste ano, ao lado de obras certinhas como "O discurso do rei" e "O vencedor". Complexo, pesado, ousado e aterrorizante, o mais novo trabalho de Darren Aronofsky (autor do inacreditável "Réquiem para um sonho") é milhares de vezes mais excitante (em todos os sentidos) do que qualquer um de seus nove rivais na luta pela estatueta mais cobiçada do cinema - com a possível exceção de "A origem". Porém, justamente por essa qualidade muito acima do convencional, suas chances de levar o prêmio são quase nulas. E para entender essa afirmação é preciso que se assista a ele. Aliás, é preciso que se assista a ele de qualquer maneira. "Cisne negro" é imperdível e uma obra extraordinariamente madura de um cineasta ainda bastante jovem (que fará meros 42 anos no próximo 12 de fevereiro) e que parece ter ainda muito a dizer.

Já é lugar comum dizer que "Cisne negro" é um terror psicológico, mas de certa forma essa é a definição mais próxima da verdade, uma vez que é difícil rotular um filme tão repleto de nuances e que se presta a tantas leituras, todas elas fascinantes e por vezes cruéis. No auge de seu talento dramático, Natalie Portman caminha célere rumo a um merecidíssimo Oscar que será inconcebível em outras mãos."Cisne negro" pode ter um roteiro caprichado, uma parte técnica impecável e psicologismos de inteligência rara, mas Portman é o corpo e a alma do filme, em uma atuação impressionante que hipnotiza e choca qualquer espectador, por mais indiferente que este seja.

Na trama concebida por Andres Heinz, Mark Heyman e John McLaughlin - injustamente esquecida entre os finalistas ao Oscar de roteiro - Natalie vive (literalmente) a jovem Nina Sayers, uma bailarina dedicada e esforçada que tem como maior objetivo na vida assumir a protagonização da versão de "Lago dos cisnes" a ser dirigida por Thomas Leroy (Vincent Cassel). Talento ela tem, mas segundo o rígido Leroy, lhe falta alma, ou, em outras palavras, a vivência necessária para dar vida ao sedutor e vil cisne negro da obra de Tchaikovsky. Esse lado mundano existe em quantidade suficiente na bela Lily (Mila Kunis), que se torna a rival de Nina na disputa do papel. Para convencer a todos que é capaz de interpretar as duas facetas da obra, Nina inicia uma jornada perigosa rumo a destruir suas limitações físicas e emocionais.

Ora em forma de um aterrador filme de suspense ora em um absoluto e belíssimo drama sobre balé, "Cisne negro" é imprevisível e corajoso. É impossível saber de antemão todos os caminhos que o roteiro irá tomar, assim como é pouco provável que a plateia fique impassível diante de algumas das cenas mais dignas de comentários do cinema americano dos últimos anos. Muito se falou da cena lésbica entre Portman e Kunis (e eu tento imaginar o porquê de um casal levantar-se da sessão quando ela acontece...), mas o que se fala menos é toda a complexidade que envolve a psique de Nina Sayers. Presa em um tenebroso universo de repressão sexual, emocional e afetivo, ela caminha em direção à loucura absoluta ao som tonitruante da melodia adaptada por Clint Mansell da obra de Tchaikovsky. A inspirada fotografia de Matthew Libatique (que concorre ao Oscar no próximo dia 27) sufoca em determinadas sequências, explode em luz em outras e deslumbra em várias cenas. É nada menos do que hipnotizante a longa sequência final, em que finalmente a doce e reprimida Nina transforma-se em um belo e assustador cisne negro, dando absoluto sentido ao filme como um todo.

As nuances psicológicas de "Cisne negro" são muitas e podem gerar mil e uma discussões - e provavelmente todos os argumentos serão acertados. Nina Sayers, assim como todo mundo na audiência, tem os dois cisnes dentro de si, mas infelizmente para a protagonista de Aronofsky eles não convivem pacificamente dentro de sua deslumbrante roupa de bailarina.

Mais cinema em www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com e www.cinematotal.com.br

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6 Comments


Tava louco pra ver tua opinião sobre este filme, não me aguentei de tanta excitação e baixei na net já que demorou pra estreiar no Brasil. Já vi 3x e nesse findi vo assistir no cinema.
Belíssimo o filme, o final onde a platéia levanta e brada "Nina, Nina, Nina" olha, é a resposta do público do cinema, só pode.
"Doce menina"..rs


Ah clênio concordo contigo. Cisne Negro possui alma e consegue levar a platéia no delírio... Uma pena que a Academia não pensa assim. Pra mim, este é o melhor dos indicados deste ano... Espero que ao menos Portman leve a estatueta!

[]s


Um dos melhores filmes do século XXI, sem dúvida.


Grande filme!!!

Aronofsky acertou de novo. E se natalie Portman não ganhar o Oscar (toc-toc-toc) vai ser muito decepcionante.

http://brazilianmovieguy.blogspot.com/2011/02/cisne-negro.html

Abraço,
Thomás


belo filme e belo texto, cara.


Obra belíssima Aronofskiana!

Bela crítica Clenio, este filme estará para sempre na memória e Prateleiras de muitos cinéfilos.

Abs.
Rodrigo

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