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REENCONTRANDO A FELICIDADE

Posted by Clenio on 00:07 in
Nicole Kidman estava a um ponto de sucumbir à famosa "maldição do Oscar", que vitimou Mira Sorvino, Marisa Tomei, Helen Hunt e Hale Berry - só pra citar as mais recentes. Depois do trabalho espetacular em "As Horas", que lhe rendeu a estatueta, Kidman colecionou fracassos de crítica e bilheteria e parecia que sua carreira estava entrando em um beco sem saída. Depois de ter que abdicar, por causa da gravidez, do papel que deu a Kate Winslet o Oscar, no filme "O Leitor" - e que poderia ter recuperado seu prestígio - ela teve uma nova chance de demonstrar seu talento com "Reencontrando a felicidade", adaptação de uma peça teatral que estreou em 2006 na Broadway. Adicionando a função de produtora a seu trabalho como atriz, ela voltou à mídia e às boas graças da imprensa. Indicada ao Oscar, ao Golden Globe e ao Screen Actors Guild Award, Nicole está novamente em alta em Hollywood. Merecidamente!

Menos deformada pelo botox - que estava destruindo a beleza clássica e delicada que amealhou paixões do público em filmes como "Moulin Rouge" - ela entrega um das atuações mais viscerais de sua carreira. No filme, adaptado por David Lindsay-Abare de sua própria peça de teatro, ela vive Becca, uma mulher torturada pela perda do filho de 4 anos de idade, morto oito meses antes. Sem saber como lidar com a tragédia, ela se recusa a compartilhar sua dor com um grupo de pais na mesma situação, o que acaba a afastando do marido, Howard (Aaron Eckhart), que, por sua vez, também precisa suportar a dor de ter perdido o único filho. Cada um à sua maneira, o casal encontra subterfúgios para sobreviver: ela inicia uma série de encontros com Jason (Miles Teller), o rapaz que atropelou seu filho e ele começa um relacionamento de profunda amizade com Gaby (Sandra Oh), integrante do grupo de apoio a que o casal pertence.

Diretor do subversivo "Hedwig" e do polêmico "Shortbus" - que usavam e abusavam, de maneira quase anárquica, da sexualidade como forma de prazer e rebeldia - John Cameron Mitchell está surpreendentemente comportado em "Reencontrando a felicidade", o que apenas comprova sua versatilidade e maturidade. Sem apelar para a lágrima fácil ou cenas feitas com o único objetivo de emocionar a plateia, ele confia plenamente no talento de seus atores e na força do texto - cortesia de sua origem teatral. Não há, aqui, nenhum resquício de seu estilo espalhafatoso ou controverso, o que dá espaço a uma melancolia que soa real e absolutamente humana. Até mesmo o ritmo vagaroso da primeira meia-hora de projeção difere da edição ágil de seus trabalhos anteriores, como se, sendo delicado e discreto, ele respeitasse a dor do casal de protagonistas. A trilha sonora também pontua com correção o desenvolvimento da história, nunca opulenta ou exagerada, mas explodindo sempre que necessário, assim como a interpretação de Kidman.

Ainda que esteja atuando ao lado de Aaron Eckhart - que merece o devido reconhecimento a seu talento ainda pouco explorado - e da veterana Dianne Wiest (em poucas mas marcantes cenas), é Kidman quem realmente comanda o show em "Reencontrando a felicidade". Seus silêncios dolorosos e suas explosões desequilibradas - em especial na cena em um supermercado que termina em uma catarse física - são vividos com um perfeito misto de introspecção e desespero. Suas conversas com o surpreendente Miles Teller - que estará na refilmagem de "Footloose" - são recheadas de uma tristeza profunda e é impossível não ficar impressionado com a maneira com que ela conduz a complexidade de sua personagem. Que essa nova fase de sua carreira seja duradoura....

Enfim, "Reencontrando a felicidade" é um filme triste, inadequado para quem procura diversão pura e simples em uma sala de cinema. Mas é uma opção interessantíssima para quem gosta de interpretações fortes e uma trama consistente.

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4 Comments


Segunda crítica que leio desse filme......Adoro Kidman, apesar dos últimos tropeços, e não consegui assistir a produção. Estou curioso.


Fico imensamente feliz que kidman tenha se recuperado. So espero que ela não volte para as produções de gosto duvidosos... Enfim, mais um filme que "estou pra ver"...

Abs :]


Olá! Primeira vez aqui comentando...

Pretendo assistir a este filme mais por casa de seu diretor do que pelo elenco em si. É sempre bom ver um artista sair de sua "zona de conforto" e fazer algo diferente, mesmo porque o reconhecimento que ele tinha era por filmes mais segmentados, por assim dizer.

No mais, excelente blog, tanto nas críticas quanto nos momentos mais íntimos e reflexivos.


Belo texto que descreve como densa e triste é essa trama do filme. Eu me senti mal ao ver a personagem de Kidman despedaçada, na maneira como o roteiro evidencia ela e Eckhart sem chão, inconsoláveis com a perda de um filho. Não existe coisa pior que isso. E o filme é simples mesmo, mas íntegro e autêntico. O roteiro é delicado, mas intimista e mostra com veracidade a dor humana...a perda...esse aprendizado tão sufocante do casal...e é impossível não nos emocionarmos, né mesmo? Gostei muito do filme, da atuação de Kidman e é uma pena que Aaron Eckhart também não tenha sido reconhecido no Oscar. É um ator perfeito!

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