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AVENTURAS AMOROSAS/SEXUAIS DE THEO - CAP. 02

Posted by Clenio on 21:34 in
- Bar com sinuca??? Você tem noção do que vai encontrar lá?

Eu deveria ter dado ouvidos à Fernanda. Mulher hetero sabe o que se espera em um bar com sinuca. Mulher hetero frequenta bar com sinuca e se diverte. Mais ainda, mulher hetero caça em bar com sinuca. E se dá bem (dentro daquele conceito em que se dar bem é sair acompanhada de um determinado lugar, sem importar-se se a companhia sabe conjugar um verbo ou combinar as peças de roupa). Por isso, eu deveria ter seguido os conselhos da minha amiga e desistido de tentar surpreender o Rafael. Aliás, todas as vezes em que eu tento sair da minha zona de conforto e ser minimamente espontâneo eu só me fodo. Pensando bem, toda vez que eu tento fazer QUALQUER coisa eu me fodo. Se eu fosse ligeiramente inteligente eu jamais faria qualquer coisa em qualquer lugar com qualquer pessoa e ficaria esperando que as coisas acontecessem comigo, porque sempre que eu tento alguma coisa, o universo espera eu me empolgar pra me dar uma linda rasteira.
 
Antes de seguir narrando minha longa jornada noite adentro em um assustador bar de sinuca, no entanto, é mandatório que eu explique quem é Rafael e o que me fez ter a ideia (ridícula, assumo) de procurá-lo no tal bar. Bem (sempre que vamos tentar dar razão às merdas que fazemos começamos com um "bem", como se essa preposição justificasse nossos erros... vai entender...) Bem, eu poderia simplificar tudo e dizer simplesmente que é um homem dos bons, o que já seria explicação suficiente para quem entende do riscado. Mas é preciso também dizer que, entre outras coisas, Rafael me deu todas - TODAS, vejam bem - as indicações de que estava muito disposto a levar adiante os beijos que havíamos trocados em uma quarta-feira à noite. Quem, no meu lugar, não daria uma chance ao acaso e apareceria - absolutamente sem querer, por acaso, por estar passando pela vizinhança e ter dado uma puta sede - no mesmo bar de sinuca onde ele daria uma canja como cantor? Sim, Braseeel, ele canta. E daria uma cantadinha de leve no tal bar no sábado. E me convidou a aparecer. Você não iria? Mentira sua.

- Nesses lugares só vão periguetes que se vestem na Duda Dreams!

Mais uma pérola de sabedoria que eu, iludido (meu nome do meio, diga-se de passagem), ignorei terminantemente. Eu deveria saber que Fernanda, mesmo pairando elegante acima de todas as mulheres heterossexuais solteiras da cidade, tem conhecimento de causa. Ela já frequentou bares com sinuca, karaokês, postos de gasolina, forrós, rodas de samba, pagodes e todos esses lugares em que os heteros costumam se reunir em seus rituais pré-acasalamento, e conhece suas regras de convivência e indumentária.
 
Um bar de sinuca é um ambiente estranho. Entrando, eu me senti como se estivesse no cenário de algum filme americano cuja trama inclui estupro coletivo - eu fiquei seriamente tentado a procurar Jodie Foster dançando bêbada perto de uma máquina de pinball antes de me lembrar que aquilo era um lugar real, daqueles que não frequentava desde os tempos da faculdade, quando ainda tinha ilusões de que tinha um pé na heterossexualidade e que poderia me divertir sem encher a cara de álcool.

O que as pessoas fazem em um bar de sinuca? Jogam sinuca, certo? Errado! Todas as mesas de sinuca do bar estavam às moscas quando entramos. Aliás, quase todo o bar estava vazio, parecia que éramos os únicos que tínhamos tido a feliz ideia de gastar uma noite de sábado tomando cerveja em canecos e cercados por música ruim.

- A única coisa que me fará ir embora antes de encontrar o Rafael é tocarem "Hotel California"!

É impressionante a desenvoltura com que heterossexuais se movimentam em locais como aquele. Tão logo chegou, Fernanda já estava se sentindo em casa. Parecia que nem toda a superexposição a festas gays havia lhe tirado a essência de seu verdadeiro ser. Em poucos segundos ela parecia ter feito sempre parte daquele antro de cantadas sofríveis, risadas guinchadas e mulheres todas iguais. Sim, elas são todas iguais. TODAS. E nem nome elas tem, pelo jeito, uma vez que se tratam apenas por "amiga". Todas tem tatuagem, todas tem o cabelo da mesma cor, todas gostam de Jack Johnson e reggae. Todas se parecem com Franciele, uma ex-colega de trabalho que gastava suas noites seguindo o "homem da sua vida" pelos bares da capital. Até isso Rafael fazia. Me colocava em um lugar repleto de Francieles, dominado por Francieles, adorado por Francieles. Mas valeria a pena, não valeria? Não. Não valeria.

Quando Rafael chegou eu já estava meio bêbado - só muita cerveja pra me fazer aguentar aquela versão oxigenada do inferno de Dante - e logicamente não esperava que ele viesse me beijar apaixonadamente. Mas não entendi a surpresa dele em me ver (você me convidou, lembra??) nem tampouco fiquei feliz em saber que tinha um ex-namorado em volta... Logicamente algum sentido despertou (sexto, sétimo, oitavo, qualquer que tenha sido) e percebi que aquela experiência cruel seria a mais inútil da minha vida. Uma conversa que nem parecia conversa e c'est fini.... Sério??? Fui até lá só pra isso? Sim, Braseel. Mal fui percebido e o pior... dias depois soube que o infeliz casal estava se reconciliando... Não é lindo???

Dizem que toda e qualquer experiência serve pra alguma coisa. Essa experiência, em uma noite de outono de 2010, serviu pra que eu percebesse que sinais não devem ser lidos ao pé da letra. E pra eu começar a ter medo de um mundo onde somente as Francieles conseguem se divertir em um sábado à noite.

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1 Comments


Oi Clênio, como sempre, os seus textos são ótimos! Esse, apesar de ser triste, se serve de consolo, é divertidíssimo. Realmente, você retratou perfeitamente os personagens que frequentam esses espaços. Se fosse em um filme, diríamos que eles foram transformados em caricaturas, mas é exatamente isso que eles são! Para completar o 'teatro dos horrores', só faltou ter uma briga, coisa que é normal acontecer em um bar com sinuca, com 'héteros machões' alcoolizados.


Grande abraço,
Rodrigo.

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