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BRUNA SURFISTINHA

Posted by Clenio on 13:22 in
É difícil afirmar o que é pior: um povo que não lê nada ou um povo que transforma coisas como "O doce veneno do escorpião" em best-seller. Em um país que é o berço de Machado de Assis, Guimarães Rosa, Erico Veríssimo, Nelson Rodrigues e Rubem Fonseca chega a ser constrangedor perceber que milhares de pessoas gastaram o seu suado dinheiro comprando algo tão baixo, mal escrito e sem conteúdo quanto o livro de Bruna Surfistinha, uma prostituta que tornou-se famosa ao criar um blog e contar suas aventuras sexuais - e que hoje está confinada a uma merecida vida de subcelebridade no reality show "A fazenda". Mas se o livro fez sucesso - e, pasmem, gerou duas continuações tão sofríveis quanto - é ainda mais vergonhoso que tenha sido adaptado para o cinema e levado milhões de pessoas às salas de exibição. A única conclusão que pode se chegar é a que brasileiros realmente precisam urgentemente de uma aula sobre cultura de qualidade.

Nem dá pra questionar os motivos que levaram o filme a ser feito. Um livro que vendeu tanto obviamente é material pronto para ser levado às telas e chamar a atenção da plateia e render uma grana preta - e ganhar dinheiro, afinal de contas, é o objetivo primordial de qualquer produtor. Se esse filme ainda puder incluir sexo e drogas (dois ingredientes que, sabemos todos, vendem) e ser estrelado por uma atriz popular (ainda que não seja exatamente um primor de talento) não tem erro: sucesso de bilheteria. Dito e feito. "Bruna Surfistinha" foi um grande sucesso de bilheteria, com mais de 1 milhão de espectadores lotando as salas pelo país afora. A pergunta que não quer calar é apenas uma: vale a pena? A resposta é também monossilábica: não.

"Bruna Surfistinha" é ruim. Como cinema e como ideologia. Como cinema, falta um roteiro melhor e personagens mais bem estruturados - a personalidade da protagonista é de uma pobreza franciscana... como ato de rebeldia resolve se prostituir (??!!??) e depois se entrega ao vício da cocaína e entra em declínio (bocejo). As cenas de sexo são rápidas e vulgares, que não excitam nem chocam. A trajetória de Bruna (que descobre todas as verdades da vida depois de ir pra cama com centenas de homens) é narrada de forma monótona e com um certo tom de moralismo que não combina com a personagem. E, convenhamos, Deborah Secco de garota de programa não é novidade pra ninguém... Em cena como Raquel Pacheco (de adolescente de baixa autoestima à piranha de alta classe) a atriz até tenta convencer que é dotada de talento, mas não acrescenta nada a sua coleção de caras e bocas a que todos que assistem a novelas tem acesso. Afirmaram que ela foi corajosa de tirar a roupa e fazer as cenas ousadas do filme. Coragem tem todos que pagaram pra assistir a isso...

"Bruna Surfistinha" tem apenas uma qualidade: seu elenco de apoio. Mas é triste ver nomes como Drica Moraes e Cássio Gabus Mendes (que tem muito mais talento em uma mão do que Deborah no corpo todo) como coadjuvantes - e chega a dar vergonha alheia assistir à própria Bruna em uma pequena participação como hostess de um restaurante, tamanha sua falta absurda de talento. O cineasta estreante Marcus Baldini começou bem em termos comerciais. Mas ainda vai ter que provar que sabe contar uma história de forma decente. "Bruna Surfistinha" é como sua protagonista: não tem carisma nem personalidade. E é ruim de doer.

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3 Comments


Seu primeiro parágrafo é perfeito. No país que nasceu Machado de Assis entre tantos outros de talentos, chega a ser constrangedor perceber o sucesso do livro O Doce Veneno do Escorpião".

O filme é ainda pior. Uma vergonha cinematográfica.


Concordo com vc Clenio, quanto ao livro,a apática Raquel Pacheco e sua direta crítica quanto a cultura desse país (só não vamos gerenalizar), mas devo discordar quanto ao filme. Ele é bom, em minha opinião, somente 3 estrelas.

A Secco me convence como atriz, o filme derrapa, sim, mas se não tivesse um elenco interessante e a Deborah segurando as pontas tudo seria mais desastroso. Acho que ela até deu um jeito mais interessante nesta personagem real que tem essa contradição quanto a escolha de virar do dia pra noite uma prostituta (Raquel dando entrevistas me envergonha). Faltou mencionar a Fabiula Nascimento, que é ótima tbm. Baldini sabe como fazer a máquina funcionar. Para mim foi uma estranha surpresa gostar deste filme. Estava cheio de proconceitos, alguns estúpidos e hipócritas da minha parte e no fim não achei o filme de todo o mal.

Bom, com relação a verdadeira Bruna Surfistinha...quero que ela se foda! Rs! Ruim é saber que brasileiros tbm assistem reality shows como BBB e A Fazenda, mas acho que ela esta no lugar certo.

Abraços
Rodrigo


O livro não pode ser considerado literatura em lugar algum. O sucesso de vendas foi em virtude do tema polêmico e do marketing.

A adaptação é até razoável na primeira metade, graças aos coadjuvantes, mas assim que ela começa a "carreira solo" no flat o filme desanda.

Mesmo Deborah Secco sendo fraquinha como atriz, ela se entrega a cenas que poucas famosas aceitaram fazer.

Abraço

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