2

AMORES IMAGINÁRIOS

Posted by Clenio on 22:05 in
"Amores imaginários" é o filme que todo fã de cinema independente que curte comprar em brechós, que ouve Yelle, que encontra no cigarro a válvula de escape para seus males e que pretensamente despreza o cinema comercial americano sempre pediu a Deus. Escrita e dirigida pelo jovem (meros 22 anos) Xavier Dolan, essa comédia romântica foi exibida na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo de 2010 e finalmente chega ao circuito comercial brasileiro, cercada de polêmica: para cada crítica azeda a seu respeito pipocam fãs encantados com o estilo modernoso do cineasta - autor também do cultuado "Eu matei minha mãe", grande sucesso no Festival de Cannes de 2009. É justo, portanto, encontrar um ponto de equilíbrio nesta controvérsia toda. "Amores imaginários" nem é espetacular como fazem crer os convertidos nem tão oco quanto querem provar seus detratores. É um filme leve e quase superficial, sim, que privilegia o visual ao conteúdo. Mas é também delicioso como um croissant quentinho.

A ideia de um triângulo amoroso moderno não é novidade no cinema - que o digam François Truffaut ("Jules e Jim, uma mulher para dois") e Bernardo Bertolucci ("Os sonhadores"), só para citar os mais célebres diretores que investigaram essa modalidade de relacionamento. Em seu filme, o canadense Dolan não faz questão de soar revolucionário ou ousado, preferindo o caminho da sutileza e da delicadeza, deixando ao espectador o prazer de descobrir aos poucos o rumo de sua trama. O próprio cineasta interpreta um dos protagonistas, o jovem homossexual Francis, que se apaixona perdidamente pelo belo, inteligente, sexy e liberal Nicolas (Niels Schneider). O problema é que sua melhor amiga Marie (Monia Chokri) também cai de amores pelo rapaz, e nenhum dos dois sabe exatamente para quais dos dois ele está inclinado a dar seu amor (e SE está interessado nisso): Nicolas os trata com igual atenção e carinho, embaralhando cada vez mais as pistas que levam a seu coração - e à sua cama.

Se peca em não aprofundar a contento a psicologia de suas personagens, Dolan acerta em cheio em tratar seu filme como uma espécie de inventário visual de sua época. É perceptível o cuidado do diretor com cada detalhe de sua mise-en-scène, desde os objetos de cena até o figurino absurdamente antenado com sua ambientação, assim como a bela fotografia e alguns enquadramentos belíssimos que nem mesmo o quase exagero em sequências em câmera lenta conseguem atrapalhar. O olho de Dolan para as pequenas coisas e reações é admirável, assim como seu talento em explorar ao máximo a potencialidade de cada tomada. Não há, em "Amores imaginários", nenhuma cena que não seja minuciosamente preparada por sua visão esteticamente apurada. E foi justamente essa atenção talvez exagerada ao visual  - em detrimento de um desenvolvimento maior dos protagonistas - que incomodou tanta gente.

O que talvez muitos dos críticos não tenham percebido em "Amores imaginários" é a sua absoluta falta de compromisso com o realismo. Dolan trata sua história como uma espécie de sátira a seu próprio universo, onde as pessoas querem se parecer com James Dean e idolatram Audrey Hepburn, frequentam cafés e festas com gente bonita e descolada e transitam em cenários coloridos e absurdamente fotogênicos. A beleza exterior é equilibrada apenas pelas histórias dolorosas/engraçadas/patéticas contadas por outras personagens diretamente para a câmera (um artifício que funcionou em "Harry & Sally, feitos um para o outro" e que volta a ser bastante interessante aqui): são essas personagens sem nome que dão suporte ao roteiro, mostrando ao espectador que amar dói, sim, mas não mata ninguém.

"Amores imaginários" não é, definitivamente, um filme feito para aqueles que consideram o cinema como a arte da reflexão séria e densa. Pode soar raso, sim, e talvez até o seja. Mas todos aqueles que já se apaixonaram entendem perfeitamente as situações pelas quais Francis e Marie passam. E essa empatia, essa compreensão pela dor dos outros - ainda que coberta por um sutil senso de humor - não é qualquer filme que desperta.

|

2 Comments


Eu gostei mais de "Eu matei minha mãe". Dolan tem estilo... Opa, ao menos bom gosto se ele gosta e aprecia o cinema do Wong Kar Wai e até Godard, por exemplo. Na verdade não me balancei muito com este filme, até achei ele meio chatinho, mas é gosto mesmo. Sei que ele vai fazer um cinema mais brilhante em breve ("Laurence Anyways" vem aí... e ele só vai dirigir) pela pouca idade não é pouca coisa a bagagem do menino lindinho de cabelo clubber, rs!

Juro que não achei comédia romântica Clênio... sei lá...um dia quando tiver paciência vejo o filme novamente. Esta até em cartaz aqui no cine Frei Caneca de Sampa.

Abs.


Será que vejo ou não no cinema?

Copyright © 2009 Lennys' Mind All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive. Distribuído por Templates