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DANCIN' DAYS

Posted by Clenio on 00:59 in
Houve um tempo em que a Rede Globo não precisava se preocupar com a concorrência. Durante os anos 70 - antes, portanto, do advento da TV a cabo, da Internet e de outras tecnologias tais como DVD, Blu-Ray ou até mesmo controles remotos - a emissora carioca tinha uma audiência cativa e a audiência de suas novelas era algo assustador: não era difícil uma trama das oito (que realmente era transmitida às oito horas da noite) parar o país, como bem podem confirmar os telespectadores que não perdiam um capítulo de "Irmãos Coragem", "Selva de pedra", "Pecado Capital" ou "O astro" (todas elas sintomaticamente regravadas anos depois). No final da década, no entanto, um fenômeno do chamado folhetim eletrônico chegou até mesmo à revista americana "Newsweek": escrita por Gilberto Braga (estreando no horário nobre), "Dancin' days" marcou época, lançou moda, tornou-se antológica e, melhor ainda, ficou na memória afetiva de uma geração inteira. Lançada em DVD no final de outubro, a trama, dirigida por Daniel Filho, está agora ao alcance de todos aqueles que querem relembrar um período marcante da cultura televisiva nacional ou mesmo daqueles que tanto ouviram falar das aventuras e desventuras de Júlia Mattos, a protagonista vivida por uma Sônia Braga no auge da beleza e do talento.

Condensada em doze discos, a versão de "Dancin' days" passou, logicamente, por uma restauração de imagem e som para não assustar às audiências acostumadas com imagens digitais e em HD. Mesmo assim não deixa de ser muito estranho perceber o salto de qualidade técnico da programação nos últimos trinta anos. Ainda que se perceba o capricho da produção em tentar uma estética moderna para a época, hoje em dia tudo soa antigo, obsoleto, até mesmo cafona. O figurino (que inclui as famosas meias de lurex que viraram marca registrada da novela), os cenários e as cenas externas são, comparadas com o luxo dos nossos dias, de uma pobreza franciscana. E o que dizer das gírias ("segurar uma barra", "ficar baratinado", "transar as coisas numa boa")? E dos hábitos que foram exterminados da tela pelo politicamente correto (como fumar abundantemente em qualquer lugar e qualquer situação)? E da falta de preocupação com qualquer outra coisa que não fosse contar uma boa história?

E boa história "Dancin' days" tem, ainda que o próprio autor não a consider a melhor de sua carreira recheada de sucessos ("Escrava Isaura", "Água viva", "Vale tudo" estão entre seus maiores êxitos). Para quem não sabe (e nunca assistiu ao "Vídeo show" ou acessou o Youtube), a novela começa quando a protagonista Júlia Mattos sai da cadeia, onde passou onze anos por homicídio involuntário. Seu maior desejo é reconquistar o amor da filha adolescente, Marisa (Glória Pires aos quinze anos e mostrando que talento não tem idade), mas para isso ela precisa entrar em conflito com sua irmã mais velha, a socialite Yolanda Pratini (Joana Fomm assumindo em cima da hora o papel que seria de Norma Bengell), que criou a menina. Enquanto as irmãs brigam feito cão e gato pela atenção da jovem (que só vai saber da verdade no dia do casamento, em uma cena clássica), Júlia se apaixona pelo diplomata Cacá (Antonio Fagundes), um rapaz que não vê na carreira imposta pela mãe, Celina (Beatriz Segall já exercitando a arrogância de Odete Roitman) seu maior sonho profissional. A luta de Júlia pela felicidade ao lado da filha e de Cacá move a novela, que aproveitou o sucesso do filme "Embalos de sábado à noite" - estrelado por John Travolta - para dar um ar mais moderno à trama.



Para tirar o ranço melodramático da história central da novela - sugerida pela mestra do horário nobre, Janete Clair - o diretor Daniel Filho e o autor criaram um artifício que fez toda a diferença. Depois de ser humilhada e voltar à cadeia, Júlia aceita casar-se com o milionário Ubirajara (Ary Fontoura) e, depois de uma temporada na Europa, volta linda, sexy e cosmopolita justamente quando seu amigo Hélio (Reginaldo Faria) está inaugurando uma discoteca, a Dancin' days do título (cujo nome foi explicitamente copiado da real discoteca de Nelson Motta). E não existe cidadão que não conheça a famosa cena em que, ao lado do dançarino Paulette, Júlia cai na gandaia e solta suas feras ao som de Bee Gees - rodeada de propagandas nada sutis de algumas das marcas mais famosas da época, como Pirelli e jeans Staroup

Assistir "Dancin' days" é fazer uma viagem de volta no tempo, não apenas por seu visual retrô mas também para matar a saudade de um elenco fabuloso de nomes que não estão mais entre nós: Cláudio Corrêa e Castro, Mário Lago, Yara Amaral, Lauro Corona fazem muita falta, assim como Lídia Brondi, na flor de seus dezoito anos. E atire a primeira pedra quem não se deixar seduzir pela química esplêndida entre Sônia Braga (linda, boa atriz e carismática) e Antonio Fagundes (que povoou, com seu Cacá, os sonhos de muitas mulheres, inclusive minha mãe....) Mas, acima de tudo, é um tanto triste perceber que, com tantos avanços técnicos, ainda se pode acreditar que um texto pobre e medíocre como o de "Fina estampa" tenha um mínimo de qualidade... Saudosos dancin' days...

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Comprei Roque Santeiro e Irmãos Coragem o novo lançamento faz parte de meu objetivo ainda para 2011. kkk

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