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A PELE QUE HABITO

Posted by Clenio on 11:08 in
Deve ser difícil ser Pedro Almodóvar. Um dos cineastas europeus mais celebrados das últimas décadas, o espanhol sempre se vê cercado de enormes expectativas em relação a seus projetos, sendo cobrado a realizar uma obra-prima atrás da outra (e o fez, "Tudo sobre minha mãe" e "Fale com ela" que o digam). O problema é que nem só de obras-primas vive um cineasta e quando ele entrega aos fãs (e aos detratores) filmes como "Abraços partidos" (que tem momentos espetaculares, diga-se de passagem) todo mundo acha que é "um filme menor". O que talvez essa gente nem perceba é que até mesmo os filmes "menores" de Almodóvar são sensacionais. Uma prova dessa afirmação? "A pele que habito", seu novo longa, foi recebido com certa frieza no Festival de Cannes, apesar do frisson de promover a reunião do diretor com seu antigo colaborador Antonio Banderas. Mas o filme, baseado em um romance de Thierry Jonquet, é uma bela fábula sobre obsessão e vingança (temas tão caros ao cineasta).

Trabalhando pela segunda vez sobre o material alheio - a primeira foi em "Carne trêmula", em que adaptou livremente um romance policial da americana Ruth Rendell - Almodovar realiza, em "A pele que habito", um filme de gênero, ou seja, segue alguns padrões pré-estabelecidos, mas nunca deixa de lado algumas de suas características mais marcantes (a desinibição de mostrar o sexo como ele é, a imprevisibilidade, a opção por personagens complexas, o gosto pelo melodrama). Apesar de não deixar muito espaço para gargalhadas, a trama ainda consegue permitir a ele que enxerte seu tradicional humor negro, mesmo que ele não ocupe (talvez infelizmente) muito tempo. "A pele que habito" é um conto sombrio e talvez justamente este lado negro de Almodóvar é que tenha assustado parte de seus fãs (que deveriam dar uma revisada em "Matador" para lembrar que o diretor nem sempre foi engraçado....)

Como sempre nos filmes do autor de "Mulheres à beira de um ataque de nervos", é difícil resumir a trama - mesmo porque qualquer coisa que seja dita a mais pode estragar as reviravoltas do roteiro - mas o que se pode ser dito sem prejuízo à história é que o protagonista é Robert Ledgard (um Banderas amadurecido e controlado), um famoso e bem-sucedido cirurgião que está no estágio final de uma experiência de criar uma pele humana nova, imune a queimaduras e picadas de inseto, por exemplo. Sua cobaia no experimento é a bela Vera (Elena Ayala), que vive trancada dentro de sua mansão, sendo vigiada pela copeira Marilia (Marisa Paredes, outra habitual parceira do realizador). Quando o filho de Marilia, o foragido Zeca (Roberto Álamo) reaparece, ele traz de volta um trágico passado envolvendo a esposa e a filha de Robert, assim como o do jovem Vicente (Jan Cornet), que se torna vítima da fúria do médico.

É bom chegar ao cinema sem maiores informações sobre "A pele que habito". Como toda a obra de Pedro Almodóvar, é delicioso, é surpreendente, é sensual, é talvez chocante. Mas é, acima de tudo, grande cinema, como somente ele e poucos outros cineastas em atividade conseguem proporcionar.

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2 Comments


Excelente texto Clenio. Deve ser mesmo difícil para Almodóvar saber que tem que entregar sempre uma obra-prima, quando na verdade, isso é praticamente impossível. Estou pra ver este filme....


Eu sou um fã de Pedro Almodóvar. Mas desta vez eu sai cabisbaixo do cinema. Matador, Kika, Má Educação, Carne Trêmula, são filmes melhores. Olha me senti num clima péssimo assistindo " A pele" e achei a trama bem mastigada, soluções bobas e final aborrecido.
Dizer que Almodóvar evita a comédia e o melodrama de vez em quando é balela, "Matador" como vc aponta é tão dark quanto, porém não é mastigado nas resoluções dos personagens e acaba sendo um filme que exala mais tesão e não faz uma ruptura tão abrupta no estilo dele. Certeza é um filme que inspirou muitos como "Instinto Selvagem"

Não gostei de "A pele". Pode acreditar Clênio! Primeiro Almodóvar de que não curti mesmo. É até difícil de explicar, mas nem por isso Pedro perde pontos comigo, aliás, é até interessante eu não ter gostado de um filme dele e concordo com vc que é complicado ser Pedro Almodóvar, mas nem por isso os gostos pessoais são unânimes. Mas a fita tem elementos bem evidentes do diretor e que agrada outros espectadores. Esta mesmo dividida as críticas. A minha sai em breve.

Ótimo texto
Abs.
Rodrigo

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