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DRIVE

Posted by Clenio on 14:47 in
A atmosfera sombria e melancólica é a mesma, apesar dos cenários distintos (Nova York em um, Los Angeles em outro). O protagonista, solitário e idiossincrático, idem. A violência que explode sangrentamente do nada é idêntica. E até mesmo o título tem uma semelhança direta. É impossível assistir-se à "Drive" - um dos mais fortes candidatos a cult dos últimos anos - sem que as poderosas imagens criadas por Martin Scorsese venham à mente. "Taxi driver", escrito por Paul Schrader e fotografado por Michael Chapman em 1976 está no cerne do filme do dinamarquês Nicolas Winding Refn que arrancou elogios entusiasmados no último Festival de Cannes. Pro bem e pro mal.

Logicamente, ser comparado com um dos mais importantes filmes da carreira de um dos mais íntegros cineastas em atividade não é nada mal, mas "Drive" vai muito além das comparações. Baseada em um livro de James Sallis recém publicado no Brasil, a obra de Refn é um policial denso e envolvente que mistura o ritmo compassado do cinema europeu com uma violência quase devastadora que somente os mais corajosos diretores americanos ousam experimentar. Pode-se dizer sem medo que "Drive" é um filme de ação SEM ação (ao menos aquele tipo de ação que convencionou-se chamar de "ação" em termos hollywoodianos). E não seria errado afirmar também que é um drama avassalador sobre a solidão e sobre a sensação de deslocamento e impotência. Mas, acima de tudo, "Drive" é cinema de primeira qualidade.

Ryan Gosling (conduzindo sua carreira de maneira exemplar) vive o protagonista com economia de recursos, dando a seus silêncios o peso de um discurso. Seu nome nunca é mencionado, o que aumenta ainda mais o sentimento de desimportância que lhe oprime. Trabalhando de dia como dublê de cenas perigosas e à noite como motorista de bandidos que precisam de um carro, ele passa seus dias sem maiores ambições. Assim como Travis Bickle (que Robert DeNiro eternizou em "Taxi driver"), ele encontra uma razão para viver quando uma mulher entra em sua vida. Irene (Carey Mulligan, doce e emocionante) é uma vizinha de prédio, que cria sozinha o filho pequeno desde que o pai do menino foi preso. É justamente Irene (e o sentimento que ela lhe desperta) que fará com que ele aceite fazer parte de um assalto que o jogará em rota de colisão com gente barra-pesada (inclusive um mafioso que poderá render um Oscar ao veterano Albert Brooks). Para proteger Irene e seu filho, o calado motorista descobrirá, em si mesmo, uma fúria incontrolável.

"Drive" é um grande filme. Visualmente impecável (desde a fotografia distante até o figurino que virou referência) e com uma trilha sonora extremamente adequada (que mescla temas próprios e densos com canções delicadas que acentuam seu tom triste), é também um show à parte para Ryan Gosling. Um dos melhores atores de sua geração, o canadense é nome certo entre os indicados ao próximo Oscar por seu trabalho em "Tudo pelo poder", de George Clooney, mas sua atuação aqui é nada menos do que antológica. Gosling é o corpo e a alma de "Drive". Ao público resta se chocar (com algumas cenas realmente surpreendentes) e aplaudir.

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Ótima dica, gosto do tema.

Pretendo assistir.

Abraço

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