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HISTÓRIAS CRUZADAS

Posted by Clenio on 18:30 in
É preciso ser honesto: somente essa quase histeria em relação ao politicamente correto pode justificar todo o oba-oba em torno do drama "Histórias Cruzadas", adaptado do romance de Kathryn Stockett (publicado no Brasil pela editora Bertrand com o título "A resposta"). Apesar de seu elenco impecável, de alguns momentos realmente emocionantes e do assunto sempre relevante (independente de época e geografia), o filme de Tate Taylor não consegue escapar de seu estilo filme-fórmula, esbarrando em clichês e, pior ainda, apelando para uma desnecessária escatologia. Sua calorosa receptividade, tanto em termos comerciais - mais de 170 milhões de dólares arrecadados somente nos EUA - quanto críticos - cinco indicações ao Golden Globe e fortes possibilidades de estar entre os candidatos ao próximo Oscar - parece dizer muito mais sobre o sentimento de culpa da América sobre a forma com que os negros sempre foram tratados em sua história (e na do cinema em si) do que sobre suas qualidades cinematográficas. Então o filme é ruim? Não, claro que não. Mas também não é essa maravilha que tanto se anda alardeando por aí.

Na verdade é fácil gostar de "Histórias Cruzadas". Suas personagens são carismáticas (ainda que em nenhum momento consigam ser mais do que vítimas de um maniqueísmo quase banal) e seu tom leve é um alívio, em especial quando a história poderia tranquilamente descambar para o melodrama pesado. Porém, ao tentar não ser tão exagerado no dramalhão, Taylor incorre em um pecado bastante grave, dando um espaço maior do que deveria ao humor. Em alguns momentos, histórias como a vingança de Minny Jackson (vivida pela ótima Octavia Spencer, vencedora do Golden Globe e provável concorrente ao Oscar de coadjuvante) desviam a atenção da plateia para tramas bem mais interessantes, como a relativa à morte do filho de Aibileen Clark (a sempre sensacional Viola Davis) e a luta de Skeeter (Emma Stone) por sua liberdade de expressão e pensamento. Some-se a isso o fato de o filme ser mais longo do que precisava (146 minutos são um exagero) e fica difícil se apaixonar por ele como tanta gente fez.

Logicamente "Histórias cruzadas" tem muitas qualidades, sendo o elenco a principal delas. Emma Stone é uma delícia de se ver, assim como Viola Davis e Octavia Spencer (que tem presença garantida na festa da Academia deste ano) e Bryce Dallas Howard, surpreendente como a jovem vilã Hilly Holbrook. No entanto, a festejada Jessica Chastain sai um pouco do tom com sua perua Celia Foote, apesar dos elogios e dos prêmios que vem conquistando (talvez mais devido à sua comprovada versatilidade do que a seu trabalho aqui). E, justiça seja feita, a produção é delicada e eficaz, em especial a trilha sonora, que pontua cada cena com discrição e força e sua fotografia ensolarada, que contrasta com a violência psicológica sofrida por suas protagonistas.

Resumindo, "Histórias cruzadas" é um bom filme, ideal para emocionar àqueles que gostam do gênero. Mas está a anos-luz da intensidade e da crueza de "A cor púrpura", por exemplo. Emociona, mas não marca.

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2 Comments


Olá Clênio, apesar de ver o seu pé atrás com relação ao filme, vejo que você ao mesmo tempo o vê com bons olhos. Contraditório? Não! Não pelo fato, que também concordo, que ele nunca será uma película como a Cor Púrpura, citado por você, ou um Mississipi em Chamas. No entanto, é uma nova forma, interessante, de contar o mesmo problema.

Abraço!


estreiou aqui no rio hoje. vou ver este filme assim que puder.
gostei do texto.

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