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À BEIRA DO CAMINHO

Posted by Clenio on 03:00 in
Em 2005 o cineasta Breno Silveira conquistou o Brasil com "2 filhos de Francisco" que, a despeito de tratar-se da história da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano - o que poderia suscitar muito preconceito - conseguiu ultrapassar a barreira crítica e intelectual que normalmente se impõe a filmes populares, em grande parte graças ao tom emocional de contar sua história. Essa característica tão especial é que dá também o rumo a "À beira do caminho", novo trabalho do diretor, que busca um novo vínculo com a plateia ao utilizar como uma das personagens principais uma trilha sonora composta de canções de Roberto Carlos. Pontuando uma história de afetos perdidos e a reconciliação com a esperança, a bela música do Rei embala o protagonista João (em um grande desempenho de João Miguel) em seu caminho rumo ao autoperdão e emociona o público mesmo chegando bem perto do piegas.

A estrutura de "À beira do caminho" lembra bastante outro road-movie seminal do cinema nacional, o premiado "Central do Brasil": o caminhoneiro João é um homem um tanto ríspido e isolado, que tem em seu passado um trauma aparentemente irreparável que envolve duas mulheres por quem foi apaixonado (Dira Paes e Ludmila Rosa). Durante um trabalho ele encontra o pequeno Duda (Vinícius Nascimento), que, órfão de mãe, sonha em chegar em São Paulo para encontrar o pai que nunca conheceu (Angelo Antonio). A princípio avesso à ideia de ter um companheiro de viagem curioso e carente, aos poucos João vai se afeiçoando ao menino, enquanto tenta lidar com as lembranças doloridas de sua vida pré-estrada.

Não há grandes lances criativos na trama de Breno Silveira, que prefere contar sua história de forma delicada e quase clichê, ainda que se utilize de uma edição interessante que mantém em segredo a tragédia de João até o terço final da projeção. Apesar de pecar pela falta de ousadia, porém, "À beira do caminho" tem a seu favor aquilo que fez de "2 filhos de Francisco" um sucesso: a falta de medo do diretor em emocionar sua audiência. Se a história de João já é suficientemente comovente - assim como sua amizade inusitada com Duda - a trilha sonora é um capítulo à parte. Poucos artistas brasileiros conseguem ser tão tocantes quanto Roberto Carlos e suas músicas mais belas estão à disposição durante a trajetória do protagonista - desde "A distância" e "O portão" às eternas "Outra vez" e "Amigo" - dando o clima popular necessário à identificação popular. Mesmo que muitas vezes a trama escorregue no exagero sentimentaloide é difícil não se deixar envolver, principalmente pela honestidade dos trabalhos de João Miguel e do menino Vinícius Nascimento (além da sempre ótima Dira Paes).

"À beira do caminho" é emocionante, engraçado e belo. Simples como a vida deveria ser. Merece ser descoberto e admirado.

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