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MARIA BETHÂNIA E A ARTE DE EMOCIONAR

Posted by Clenio on 02:32 in
Não lembro exatamente a primeira vez em que escutei Maria Bethânia, mas posso afirmar que foi bastante cedo. Graças ao bom gosto musical do meu pai, sempre tive contato generoso com a melhor parte da música popular brasileira e a irmã de Caetano sempre fez parte da minha trilha sonora. Posso arriscar-me a dizer que a primeira vez que sua voz me atingiu foi com "Grito de alerta", do grande Gonzaguinha, quando eu deveria ter uns oito anos de idade (e estava na aurora da minha vida, na minha infância querida que os anos não trazem mais...) Logicamente que eu não tinha noção do tamanho da importância e do talento de Bethânia, mas eu sabia, desde então, que eu gostava.. E muito.

Com o tempo a adolescência chegou, novos ídolos chegaram e foram embora. Mas Bethânia continuava no meu coração, às vezes mais tímida, às vezes potente. E conforme mais adulto eu ficava - e o coração aprendia a sofrer - mais Bethânia me fazia sentido, mais a sua voz me soava divina, mais as suas personalidade e integridade me pareciam admiráveis. Em um business onde o dinheiro dá as cartas, ela nadava contra a corrente, fazia o que queria, gravava quem desejava e, melhor ainda, transformava lataria - "É o amor, que mexe com a minha cabeça e me deixa assim..." - em ouro. Deu o devido valor a Roberto e Erasmo Carlos, deu espaço a Chico Cesar, Ana Carolina, Adriana Calcanhotto, manteve a fidelidade a Caetano e Chico. Se manteve a melhor e mais forte cantora do Brasil. E eu, fiel assumido, finalmente tive a chance - o privilégio - de vê-la pessoalmente. E tocá-la. E falar com ela.

Assistir a um show em que Maria Bethânia canta Chico Buarque é presenciar, mais do que uma sessão de entretenimento, uma aula de domínio técnico e emotivo. É estar diante de uma plateia de devotos encantados, extasiados e passionais, sorvendo cada acorde, cada tom, cada palavra. É vibrar com as canções políticas - "Roda viva", "Apesar de você", "Cálice". É se emocionar com as românticas - "Olhos nos olhos", "Teresinha", "Gota d'água". É sambar com as clássicas - "Quem te viu, quem te vê", "Noite dos mascarados". É ouvir, com as lembranças correndo a mil por hora, a mais bela canção brasileira de todos os tempos, "João e Maria".  É saber que, se Deus existe, é a união da voz de Bethânia com as letras de Chico - e o vídeo em que ambos dividem o palco para cantar "Sem fantasia" é a prova viva dessa afirmação.

Saí do show extasiado, querendo mais umas três horas de delírio. Toquei nas mãos de Bethânia. E falei com ela depois, sendo atendido com paciência, carinho e extrema delicadeza. Divas também sabem ser educadas e gentis. Que aprendam as subcelebridades de plantão!

Foto by Carol Cozzatti

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