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NA ESTRADA

Posted by Clenio on 01:18 in
Demorou mais de meio século para que a obra-símbolo da cultura beatnik chegasse às telas. Depois de projetos frustrados de gente como Francis Ford Coppola - que teria Johnny Depp no papel central - "On the road", adaptado do romance homônimo de Jack Kerouak finalmente saiu do papel, com a direção do brasileiro Walter Salles (e com a assinatura de Coppola como um dos produtores executivos) e com a desnecessária "tradução" de "Na estrada". A boa notícia? Poucos cineastas seriam tão apropriados quanto Salles para contar a epopeia de Kerouak (haja visto sua paixão por road movies, como os merecidamente incensados "Central do Brasil" e "Diários de motocicleta"). A má notícia? O resultado é bem chatinho.

Para quem não leu o livro - e talvez até mesmo para eles - fica difícil entender as motivações de Sal Paradise (o competente Sam Riley, que encarnou o roqueiro Ian Curtis na cinebiografia "Control") para sair de casa e cair no mundo ao lado do carismático e inconsequente Dean Moriarty (em uma interpretação visceral de Garrett Hedlund, visto ao lado de Gwyneth Paltrow como um cantor country em "Onde o amor está"). Em tese, ele o faz para dar asas à imaginação e finalmente escrever seu livro. Para quem assiste ao filme, a impressão que se tem é que ele quer mesmo é se divertir, bebendo todas, se drogando e participando de noites selvagens regadas a sexo (e que incluem até mesmo a mulher de Dean, a liberada Marylou, interpretada por Kristen Stewart). Nem Sal nem Dean são desenvolvidos satisfatoriamente pelo roteiro de Jose Rivera (que concorreu ao Oscar pela conversão às telas dos diários de viagem de Che Guevara, no filme anterior de Salles): enquanto o primeiro surge como uma mera testemunha quase apática de sua própria jornada, o segundo nunca mostra sua real personalidade, soando como um estereótipo dos mais batidos. E nem mesmo a narrativa episódica - que muitas vezes ajuda a impor um ritmo mais ágil em filmes do gênero - consegue ser feliz: assim como os protagonistas, os coadjuvantes que cruzam seu caminho são igualmente irritantes, apesar dos trabalhos dos sempre competentes Viggo Mortensen, Terrence Howard, Kirsten Dunst e Amy Adams.

É inegável que os valores de produção são merecedores de amplos elogios, desde a fotografia de Eric Gautier até a trilha sonora de Gustavo Santaolalla (colaboradores habituais do diretor). Mas, com exceção dos fãs do livro - e da literatura beatnik em si - é pouco provável que os frequentadores eventuais das salas de exibição consigam se emocionar com a "jornada espiritual" do protagonista, alter-ego do próprio Kerouak. Excessivamente longo e com personagens sem maior empatia, é um filme que merece a divisão que causou entre os críticos. A expectativa era grande e a decepção foi proporcional. Walter Salles é um diretor de extremo talento. Mas seu filme é muito chato.

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