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ADEUS AO OI OI OI....

Posted by Clenio on 03:12 in
Ok, o último capítulo foi um atropelo só e decepcionou 9 entre 10 fãs. Ok, o final do Adauto foi patético. Ok, o núcleo Cadinho não precisava nem constar da sinopse. Mas é inegável que, até que a palavra FIM aparecesse junto à bandeira do Divino F.C. a trama de João Emanuel Carneiro foi muitos patamares acima das novelas apresentadas nos últimos anos. "Avenida Brasil" não apenas parou o país. Foi comentada à exaustão em redes sociais, nas ruas, em locais de trabalho. Conquistou parcelas da população normalmente avessas ao gênero telenovela. E comprovou que é possível, sim, equilibrar inteligência com gosto popular. Ousou de cabo a rabo, embaralhando os papéis de vilã e heroína e mostrando um cuidado admirável ao visual - fotografia, edição, movimentos de câmera - que deu o que falar entre cinéfilos do Oiapoque ao Chuí. E, melhor ainda, criou uma comoção como não se via há muito tempo entre os telespectadores. Podia-se falar mal, sim, mas falava-se. Foi impossível, nesses sete meses em que a novela esteve no ar, fugir de Carminha, Nina (ou Rita), Tufão e todas aquelas personagens que invadiram o imaginário popular como o fazem criações dramatúrgicas que aliam bom texto e bons (e no caso de alguns, extraordinários) atores.


A trama central da novela era lugar-comum? Sim, histórias de vingança existem há milhares de anos. O roteiro teve furos quase imperdoáveis? Sim, mas que novela não os tem? Em alguns momentos ficava a impressão de que alguns núcleos não estavam adequados à qualidade dos outros? Óbvio, mas pergunte aos espectadores que gostam de humor mais explícito se isso não funcionava. "Avenida Brasil" tinha um pouco pra todo mundo. Todos os estereótipos estavam lá: a periguete, o gay enrustido, o mulherengo, o par romântico, a vilã cruel, o comparsa meio burro, as empregadas cômicas, as amigas da mocinha. Os clichês também: segredos, traições, vinganças, assassinato misterioso, redenções inesperadas. Mas João Emanuel Carneiro misturou todos esses ingredientes de uma maneira pouco convencional, dando à história um ritmo alucinante (que sofreu uma queda em alguns momentos mas nunca deixou de estar presente) e criando alguns diálogos já destinados a antológicos. Que o digam os fãs que ficavam ansiosos pelo dia seguinte a cada congelamento de final de capítulo. De quantas novelas pode-se dizer o mesmo ultimamente?

A barra era pesada? A violência em alguns momentos chegou a assustar aos mais sensíveis? Que bom, novela das nove da noite não é pra criança, mesmo. Existia negatividade, adultério, maldade? Sim, felizmente. Novela das nove não é conto de fada água-com-açúcar. O exagero às vezes dava as caras? Claro, novela é ficção - e não deixa de ser irônico ouvir os detratores falando mal da falta de verossimilhança da trama e acorrendo às cegas para assistir a produtos importados que, a despeito de sua qualidade, são bem mais fantasiosos, como "Game of thrones" e "The walking dead".  Mas quem negar a excelência da produção da novela - e aí inclui-se a direção de arte, a trilha sonora apropriada, a fotografia, a edição e a direção inspirada de Amora Mautner e José Luiz Villamarim - pode-se considerar no mínimo injusto e radical.

E isso que nem falamos ainda do elenco magistral. Cada núcleo de "Avenida Brasil" tinha um ou mais trunfos em termos de texto e interpretação. Os veteranos estiveram brilhantes: Marcos Caruso criou um Leleco triunfante, José de Abreu imprimiu seu nome na história com seu extraordinário Nilo, Vera Holtz deu um banho como Mãe Lucinda, Juca de Oliveira chegou matando como o pérfido Santiago, Marcello Novaes foi um Max acertadamente asqueroso e Murilo Benício foi um Tufão apaixonante e doce. Os novatos roubaram a cena: Juliano Cazarré foi um Adauto cujas pérolas aliviavam o clima pesado da mansão, Claudia Missura e Cacau Protásio foram empregadas geniais, cada uma com seu estilo (as grandes cenas dramáticas de Janaína e o humor certeiro de Zezé), Daniel Rocha Azevedo foi um Roni no tom certo e Emiliano D'Ávila fez seu Lúcio crescer a cada capítulo. Isis Valverde confirmou seu talento para interpretar gostosonas de índole duvidosa e José Loreto ganhou a chance de sua vida como o apaixonado Darkson. E o que dizer dos sensacionais diálogos entre a guerreira Monalisa (Heloisa Perissé) e a sexy Olenka (Fabíula Nascimento arrasando)?

Mas, mesmo com todo o sucesso do elenco como um todo (vamos ignorar o núcleo Cadinho?) é impossível negar que "Avenida Brasil" tem uma dona absoluta: calando a boca de todos os críticos que detonaram sua Mariana da novela "Renascer" (de 1993), Adriana Esteves simplesmente não deixou pedra sobre pedra com sua atuação devastadora como Carminha, a grande vilã da trama. Desde o primeiro capítulo - em que não poupava nem sua enteada criança - até sua redenção final (e coerente, apesar de muitos clamarem o contrário), Esteves brilhou com uma interpretação repleta de complexidades, demonstrando em um olhar e uma entonação toda a vastidão de sentimentos que atormentava sua personagem. Nunca aquém de espetacular, ela nem deixou espaço para sua colega de cena Débora Falabella, que penou com uma personagem chata e desagradável que despertou mais raiva e tédio do que entusiasmo. Os confrontos entre as duas já podem tranquilamente figurar em qualquer antologia séria sobre teledramaturgia.

Resumindo, "Avenida Brasil" acaba com um saldo pra lá de positivo. O final foi um tanto decepcionante pela obviedade da revelação do assassino de Max, pelo final infantiloide de Adauto e pelas perguntas sem respostas que deixou (culpa da mania de todos os novelistas de deixar absolutamente TUDO pra última semana de exibição). Mas vai ser difícil uma outra novela conquistar tão ferozmente seu público quanto ela. Tenho pena da Glória Perez!!!

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2 Comments


Concordo em 1 coisa com você - Nina também me deixou com muito mais ódio do que a própria Carminha. Mas adorei essa "dupla" de vilãs como eixo da novela. Uma em que você tende a gostar (mesmo sendo má "pra mais de metro" kkkk) e outra que você leva para o lado do desprezo.

Discordo em 1 coisa também: ahhh que mal tem o núcleo Cadinho? Tudo bem, não gostava dele. Mas AMEI as 3 mulheres. Adorei o entrosamento delas. Ok, a atuação não muda muito. (Se bem que, a da Camila Morgado, pra mim, foi a que mais diferiu e brilhou ali)

Quanto aos demais assuntos, nem preciso dizer que concordo com vc né? Espero outra assim. Que fez alguém como eu (última novela assistida dificultosamente: Paraíso Tropical) voltar a ver e se interessar.

Bjo



Novelona mesmo e com o elenco pequeno, diferente de Salve Jorge que tem o elenco inteiro na Globo lá, é o que parece...

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