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GONZAGA, DE PAI PRA FILHO

Posted by Clenio on 18:45 in
Primeiro foi "2 filhos de Francisco", em que contava a história de Zezé di Camargo & Luciano. Depois foi a vez de "À beira do caminho", onde utilizava o cancioneiro de Roberto Carlos para ilustrar a trajetória de um caminhoneiro em busca de seu passado. Agora o cineasta Breno Silveira apresenta ao público brasileiro mais um candidato a sucesso afetivo: "Gonzaga, de pai pra filho" ilustra a compliada relação entre o Luiz Gonzaga e seu filho mais velho, o cantor e compositor Gonzaguinha. Mesmo que nos dias de hoje o nome do Rei do Baião não chegue perto da popularidade da dupla sertaneja que protagonizou o primeiro filme de Silveira - o que talvez atrapalhe seus planos de levar multidões às salas de exibição - o tom emotivo impresso pelo diretor, a história humana e brasileira e o impressionante trabalho do ator gaúcho Julio Andrade na pele de Gonzaguinha são motivos mais do que suficientes para uma conferida.

Tudo bem que em diversas ocasiões o roteiro de Patricia Andrade soe como um especial de tv, e que a divisão dos protagonistas em vários atores (três para cada um) acabe sublinhando a irregularidade das interpretações (e justamente o mais fraco de todos, Chambinho do Acordeon é quem fica mais tempo em cena, na pele de Luiz Gonzaga adulto), mas no final das contas o resultado final é de uma felicidade ímpar. Lindamente fotografado pelo argentino Adrian Tejido - que eleva o Nordeste brasileiro como uma personagem de grande importância para a narrativa - e editado de forma a mesclar imagens de arquivo com as cenas do filme, "Gonzaga" mostra mais uma vez que, em termos técnicos, não há motivos para vergonha no cinema nacional. Soma-se a essa qualidade de importância vital uma história emocionalmente forte, personagens carismáticos que estão no imaginário popular desde sempre e uma fórmula testada e aprovada previamente e pronto: mais um belo e comovente trabalho de um cineasta que, se não ousa em temática e estilo, ao menos vem mostrando uma constância e uma coerência admiráveis.

O filme de Breno começa em 1981, quando o cantor Gonzaguinha (já interpretado de forma quase mediúnica por Julio Andrade) está no auge de sua popularidade, sendo capa de revistas nacionalmente conhecidas. Sabendo das dificuldades que seu pai vem passando, ele vai até ele, na pequena cidade de Exu (sertão do Pernambuco) e o encontra negando seus problemas financeiros e de saúde. Depois de algumas discussões a respeito de seus problemas de relacionamento, pai e filho finalmente começam a se entender quando o veterano músico passa a contar a sua história de vida, voltando ao ano de 1929, quando abandonou sua cidade natal depois de se ver impedido de consumar sua paixão pela bela Nazinha (Cecília Dassi), filha de um coronel da região (Domingos Montagner). A partir daí, sua trajetória é contada de forma linear pelo roteiro - voltando ocasionalmente para o "presente". Ao contar uma história que atravessa mais de cinco décadas, é notável a reconstituição de época e o cuidado com o visual e até mesmo com as caracterizações. O que realmente atrapalha um pouco é, conforme afirmado antes, a irregularidade do elenco.

Protagonizado por atores desconhecidos do grande público - e até por músicos sem experiência anterior em cinema - "Gonzaga, de pai pra filho" esbarra inevitavelmente nessa pedra no meio do caminho. Se Julio Andrade entrega uma atuação quase mediúnica de Gonzaguinha, o mesmo não pode ser dito, por exemplo, do novato Chambinho do Acordeon, que tem a maior responsabilidade de todas ao encarar Gonzagão pela maior parte do filme - e passar por sentimentos díspares como amor, tristeza, solidão e entusiasmo. Adélio Lima, que assume a reta final da personagem se sai melhor, talvez por ter um desafio um tanto menor. E o elenco coadjuvante salva o espetáculo de forma magistral. Silvia Buarque e Luciano Quirino estão ótimos como os pais adotivos de Gonzaguinha (e melhores amigos de Luiz em sua chegada ao Rio). Roberta Gualda brilha como Helena (a segunda mulher do pai de "Asa Branca"). E Claudio Jaborandy e Cyria Coentro dão um baile como seus pais, em cenas emocionantes na medida certa. Uma pena que Nanda Costa exagere nas caras e bocas na pele de Odaleia, justamente a mais importante personagem feminina da trama...

Mesmo que não dê a devida importância à obra e música de Gonzaguinha tanto quanto dá a de seu pai - afinal, segundo o diretor o enfoque é a relação paternal entre eles - "Gonzaga, de pai para filho" cumpre boa parte de suas promessas e comove a audiência, proporcionando a ela uma viagem sentimental e musical como pouco se faz no Brasil. Um filme que merece ser visto e apreciado!

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