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ARGO

Posted by Clenio on 00:57 in
Desde que estreou nos EUA, em outubro do ano passado, o terceiro longa-metragem do ator medíocre tornado diretor talentoso Ben Affleck,  começou as especulações a respeito de suas possíveis indicações ao Oscar. Nada mais justo. Enxuto, sóbrio e contando uma inacreditável história real bastante relevante à época em que o país vive ainda hoje em dia, "Argo" conquistou a crítica e merecidos Golden Globes de melhor drama e diretor. Infelizmente a Academia não foi assim tão generosa, deixando o amigo de Matt Damon de fora do páreo e diminuindo as chances da vitória na categoria principal. Indicado em 7 categorias, "Argo" é um dos melhores candidatos do ano, sendo superior inclusive ao favorito, o superestimado "Lincoln", de Steven Spielberg.

Tendo entre seus produtores o ator George Clooney - que tinha planos de dirigir e estrelar o filme desde 2007 - "Argo" encontrou em Ben Affleck um comandante dos melhores. Assumindo também o papel principal (que quase ficou com Brad Pitt), ele consegue a proeza de deixar a vaidade de lado para focar-se totalmente na história, ocorrida em 1980 e que se manteve secreta até meados da década seguinte. Sem querer tornar-se maior do que os acontecimentos, ele dá também a oportunidade a seus atores brilharem sem fazer muito esforço - o que inclui o ótimo Bryan Cranston e o veterano Alan Arkin, indicado ao Oscar de coadjuvante. Dono de um belo roteiro - também lembrado pela Academia - que não obriga o espectador a ter prévio conhecimento dos fatos que retrata, explicando-os de forma clara mas nunca exageradamente didática, o filme apresenta a seu público uma história bem contada e discreta em suas ambições, mas que acaba sendo fascinante justamente por isso.

A história começa em 1979, quando um grupo de mais de 50 diplomatas americanos é mantido refém na embaixada dos EUA no Irã por um grupo de revolucinários que exigem o repatriamento de seu xá deposto. No entanto, um grupo de seis colegas consegue escapar e encontra proteção na casa do embaixador canadense Ken Taylor (Victor Garber). Alguns meses depois, ao perceber que as coisas não parecem se encaminhar para um final feliz imediato, a CIA pede ajuda a Tony Mendez (Affleck), especialista em repatriamentos de emergência. Depois de pensar em várias possibilidades, o agente tem a ideia - a príncipio tida como absurda, mas depois aceita com ressalvas por seus superiores - de disfarçar os reféns como uma equipe canadense de filmagens em busca de locações para um filme de ficção científica chamado "Argo". Contando com o apoio do produtor de cinema Lester Siegel (Alan Arkin) e do maquiador John Chambers (John Goodman), Mendez cria uma verdadeira operação de guerra que inclui campanha de marketing em jornais temáticos, passaportes falsos e biografias inventadas. Com tudo pronto, ele embarca para Teerã com o objetivo de trazer todos os seis conterrâneos sãos e salvos para casa.

O maior mérito do roteiro de Chris Terrio - baseado em um livro escrito pelo próprio Mendez, que foi um dos apresentadores do Golden Globe deste ano - é manter o ritmo e o suspense durante todo o tempo de projeção, mesmo contando uma história cujo final hoje em dia é amplamente conhecido. Mesmo que exagere um bocadinho na sequência final, aumentando a tensão de forma a tornar o filme mais palatável como entretenimento hollywoodiano, o script de Terrio acerta em intercalar com maestria os preparativos para a fuga com as dúvidas dos reféns e a constante ameaça dos revolucionários sem apelar para heroísmos baratos ou vilanias maniqueístas. Ainda que seja claro quem é quem - americanos do bem contra iranianos do mal - não existe, no resultado final, aquele ranço tão ufanista que estraga boa parte do cinema que se propõe político. A ideia de Affleck não é levantar bandeiras e sim contar uma bela história. E isso ele consegue com louvor.

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