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SOMOS TÃO JOVENS

Posted by Clenio on 20:51 in
O que se pode esperar de um filme dirigido por um cineasta capaz de cometer atrocidades contra o cinema nacional como "Espelho da carne", "Uma aventura do Zico" e "Gatão de meia idade"? Pois é o mesmo Antonio Carlos da Fontoura que assina "Somos tão jovens", que conta a história dos primórdios de uma das mais amadas bandas de rock do Brasil, a Legião Urbana. Centrando-se na figura de seu líder e vocalista, Renato Russo, o filme de Fontoura acerta em não tentar espremer uma vida inteira em menos de duas horas, mas esbarra no mais constante dos problemas do gênero: a superficialidade.

Mesmo contando com um roteirista competente como Marcos Bernstein - que tem "Central do Brasil" no currículo - "Somos tão jovens" peca por não se aprofundar na personalidade de seu protagonista, contentando-se em apenas costurar cenas rápidas que mostram a origem de algumas das canções mais conhecidas da banda. O que não deixa de ser bastante interessante para os fãs, porém - e eles são muitos e extremamente fiéis - torna-se repetitivo e raso em pouco tempo. Da forma como está retratado no roteiro, Russo soa apenas como um rebelde sem causa, arrogante e mimado, cujas atitudes, longe de encantar, apenas o afastam da identificação do grande público. Não fosse o cuidadoso trabalho de Thiago Mendonça - que foge com talento das armadilhas que aparecem a cada diálogo mal escrito e situação mal desenvolvida - o filme de Fontoura seria daqueles que passariam sem qualidades a louvar.

Mendonça interpreta Renato Russo com garra e dedicação - ele chegou a gravar as músicas que tocam no filme, com a voz impressionantemente parecida com a do cantor - e encontra em Laila Zaid a colega de cena ideal. Quando estão juntos, os dois conseguem tirar leite de pedra, quase fazendo esquecer muitos dos equívocos da produção - entre eles a péssima personificação do músico Herbert Vianna e o retrato patético dos pais do protagonista (vividos por Marcos Breda e por Sandra Corveloni numa atuação que em absolutamente nada lembra o grande trabalho em "Linha de passe", que lhe rendeu uma Palma de Ouro em Cannes). Todas as cenas parecem existir somente para passar informações a respeito da história do surgimento da banda, sem que haja nenhum aprofundamento tanto das personagens quanto das relações entre elas. Isso pode não incomodar a quem procura apenas um vislumbre da vida de seu ídolo, mas para quem gosta de bom cinema é muito, muito perturbador.

Quem gosta da música de Renato Russo não tem do que reclamar: a trilha sonora inclui todos aqueles clássicos que fizeram a cabeça da juventude do final dos anos 80 e do início dos 90 e que fizeram da Legião Urbana quase uma religião - a despeito dos detratores que acusam Russo de copiar o estilo de Ian Curtis (Joy Division) e Morrissey (The Smiths). Como cinema, porém, deixa muito a desejar.


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