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JOBS

Posted by Clenio on 20:31 in
Falta mais do que simplesmente um diretor experiente, um roteiro inteligente e um ator central competente para que "Jobs" seja um bom filme: falta-lhe alma. Dirigida pelo desconhecido Joshua Michael Stern - cujo trabalho mais conhecido é a semidesconhecida comédia "Promessas de um cara-de-pau", estrelado por Kevin Costner e ignorado em larga escala - a cinebiografia do criador da Apple esbarra em um roteiro didático e sem emoção, em uma direção acadêmica e sem inspiração e um Ashton Kutcher que, se não chega a constranger, também não atrapalha (além de estar fisicamente bastante parecido com o empresário). Apesar disso, não é tão ruim como parece: se não chega aos pés de "A rede social", de David Fincher - que conta a criação do Facebook com uma energia que Stern apenas sonha - ao menos serve para ilustrar a vida de uma das mais influentes personalidades do século XX.

O roteiro de "Jobs" é linear, começando em 1971 - quando o protagonista ainda era um estudante quase relapso - e vai até 2000, quando ele reassume o poder na Apple, que ele cria no meio do caminho. Assim como no filme de Fincher, o genial Steve tem sérios problemas de socialização e não hesita em trair os melhores amigos em prol do sucesso, mas a forma com que tudo é contado não permite ao espectador mais do que o papel de testemunha passiva. Porem, enquanto Aaron Sorkin brincava de ir e vir no tempo para montar o quebra-cabeças das relações de Mark Zuckerberg com seus associados, contando com a ajuda da excepcional montagem, Matt Whiteley, em seu primeiro roteiro, não ousa, preferindo seguir um caminho mais direto e talvez por isso, menos interessante. A impressão que fica, na verdade, é que o filme é uma série de cenas quase independentes, contando anedotas a respeito das criações mais famosas do protagonista sem preocupar-se em dar a ele uma personalidade. Como está no filme, Steve Jobs é quase unidimensional e desinteressante, não permitindo ao público que realmente se importe com seus problemas nem mesmo quando ele prova o próprio veneno e se vê afastado do que criou. E talvez boa parcela dessa apatia venha do que poderia ser seu maior trunfo: Ashton Kutcher.

O ex-marido de Demi Moore já provou que, quando quer, sabe sair da persona meio debilóide que lhe fez a glória na série "The 70's show" e em filmes como "Cara, cadê o meu carro?". Sua performance no suspense "O efeito borboleta" mostrou que por trás do corpo de galã há um ator com potencial. Mas o que poderia ser o seu pulo do gato rumo à respeitabilidade artística acabou sendo um tiro n'água: apesar da semelhança física com Steve Jobs e de seu perceptível empenho em fazer o melhor trabalho possível, Kutcher tropeça no roteiro quadrado e na direção sem inspiração. São essas falhas cruciais que impedem que o filme decole e seja mais do que apenas correto. Podia ser pior, mas também podia ser bem melhor.


 

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