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O CONSELHEIRO DO CRIME

Posted by Clenio on 18:29 in
O roteiro - primeiro trabalho diretamente para o cinema do escritor Cormac McCarthy, que escreveu os romances que deram origem aos filmes "Onde os fracos não tem vez" e "A estrada" - é repleto de diálogos inteligentes e fortes. A direção do veterano Ridley Scott é inspirada, com cenas de grande impacto visual. O elenco é composto por atores que não precisam provar nada a ninguém (Michael Fassbender, Brad Pitt, Javier Bardem, Penelope Cruz e vá lá, Cameron Diaz). Então por que "O conselheiro do crime" não chega nem perto do grande filme que poderia ser?

Criando mais uma trama onde a amoralidade é a mola-mestra, McCarthy usa e abusa de seu talento em forjar frases de efeito e diálogos crus e diretos, mas esbarra justamente em sua maior qualidade como escritor: a prolixidade. Não são poucos os momentos no filme em que os personagens tecem longas elocubrações filosóficas a respeito de destino, violência e morte, o que não seria nada mal se tal artifício não soasse redundante e, pior ainda, não truncasse o ritmo. Além disso, em sua tentativa de dar densidade dramática a seus personagens, McCarthy acaba deixando de lado o que mais importa em um produto cinematográfico: um conflito dramático de consistência (e junto com ele, a clareza narrativa imprescindível para que o público compre o drama proposto).

Começando com uma longa sequência de alta voltagem erótica entre o advogado vivido por Michael Fassbender e sua bela namorada Laura (Penelope Cruz), "O conselheiro do crime" já demonstra que sua prioridade são os personagens e suas sensações, em detrimento da uma trama sólida. O protagonista vivido magistralmente por Fassbender - e cujo nome nunca é citado - é ambicioso e amoral, características que acabam sendo atrativos para que ele caia na teia do excêntrico Reiner (Javier Bardem), que o convence a tomar parte em um milionário esquema de tráfico de drogas via México. Mesmo alertado pelo misterioso Westray (Brad Pitt) de que um erro junto aos traficantes mexicanos pode significar a diferença entre vida e morte - a sua e a de quem ama - o advogado aceita os termos da transação apenas para, em seguida, ver-se envolvido em uma trama de extrema violência e crueldade.

O problema maior em "O conselheiro do crime" é que sua trama é tão confusa - com personagens novos surgindo a cada momento e às vezes sem muita relevância - que o público fica tentando compreendê-la, ao invés de envolver-se no drama do protagonista, por mais que Fassbender entregue outra interpretação impecável. Tal indecisão - entre um drama quase filosófico e um filme de ação sem ação até seu terço final - compromete até mesmo o pretenso clímax, quando a identidade do real vilão é revelada sem maior impacto junto à plateia e o desfecho poderoso, que sublinha o tom pessimista impresso pela bela fotografia de Darius Wolski e pelos discursos espalhados pela história. Uma pena que tal desfecho - valorizado pelo desempenho de Michael Fassbender - seja uma tentativa tardia de Scott de salvar seu filme, a essa altura já abandonado por uma plateia exausta de tentar encontrar sentido em uma trama carente deles.

Dentro da carreira repleta de sucessos de Ridley Scott - "Alien, o oitavo passageiro", "Blade Runner", "Thelma & Louise", "Gladiador" - "O conselheiro do crime" deverá figurar entre seus maiores fracassos. Mas isso não significa que, com o tempo, não possa vir a ser valorizado justamente por sua coragem em romper com as expectativas que o cercavam.

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