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LIVRE

Posted by Clenio on 20:07 in
Em primeiro lugar é preciso reconhecer o quanto o cineasta Jean-Marc Vallé melhorou desde "Clube de Compras Dallas", seu trabalho anterior que, apesar de ser bastante medíocre, conquistou uma vaga entre os indicados ao Oscar de melhor filme do ano passado - além de ter sido laureado com as estatuetas de melhor ator e coadjuvante masculino (Matthew McConaughey e Jared Leto, respectivamente). Depois, faz-se necessário deixar de lado a impressão de que sua nova obra é uma espécie de "Na natureza selvagem" feminino. Sim, "Livre", baseado em um livro escrito por Cheryl Strayde e publicado no Brasil pela editora Objetiva , lembra bastante o espetacular filme que Sean Penn lançou em 2007, mas apesar das inúmeras semelhanças, consegue alcançar uma identidade própria, graças principalmente ao desempenho de sua atriz central, Reese Witherspoon.

Witherspoon, que ficou com o papel principal batendo nomes fortes como Jennifer Lawrence, Scarlett Johansson e Emma Watson, merece a indicação ao Oscar de melhor atriz que recebeu este ano: sua performance corajosa e cheia de garra mostra uma intérprete madura e sensível que confirma o talento dramático com que acenava em "Johnny & June" - que lhe rendeu uma estatueta talvez precoce demais, em 2006. Desviando com maestria das inúmeras armadilhas de um roteiro repleto de clichês - que ocasionalmente funcionam - ela é o corpo e a alma do filme de Vallé, e segura nos ombros, mais do que o peso de sua bagagem, a responsabilidade de transformar o que poderia ser mais um daqueles "filmes de estrada com mensagem no final" em uma experiência senão inesquecível, ao menos agradável e interessante o bastante para manter a plateia presa na poltrona até os créditos finais.

Assim como acontecia em "Na natureza selvagem", com o perdão da inevitável comparação, é um drama pessoal que empurra a protagonista para a estrada - no caso de Cheryl, a confusão psicológica que tornou-se sua vida depois da morte prematura da mãe, vivida por Laura Dern em papel que lhe rendeu uma inexplicável indicação ao Oscar de coadjuvante. Repentinamente privada da companhia materna, a jovem inicia uma jornada veloz rumo à autodestruição - drogas, sexo promíscuo - até que, por uma dessas iluminações que o cinema tanto ama, resolve recuperar a sanidade empreendendo uma viagem - a pé - pela costa do Oceano Pacífico . No caminho, logicamente, ela não apenas encontra animais selvagens - cruzando com outros viajantes, com quem troca experiências e apoio, Cheryl descobre o quanto a vida ainda pode lhe oferecer.

Seguindo a mesma linha de "Comer, rezar, amar" - livro de Elizabeth George que chegou às telas com Julia Roberts no papel principal - "Livre" é um filme que se concentra basicamente em sua protagonista e em sua trajetória rumo ao final, seja ele feliz ou trágico. Jean-Marc Vallé percebeu essa característica da história e assinou um filme bem superior a seu "Clube de Compras Dallas", que pecava em não desenvolver a contento seus personagens. Mesmo que por vezes ainda falte um aprofundamento na história de Cheryl - contada basicamente através de flashbacks fora de ordem cronológica, uma tentativa um tanto discutível de ditar um ritmo mais ágil ao filme - é oferecido ao público um panorama bastante satisfatório dos fatos do passado que levaram-na à decisão de buscar o auto-encontro espiritual que dá o empurrão inicial à história. O cineasta também tem o mérito de evitar o drama fácil, optando, em sua narrativa, por um caminho menos apelativo e mais sóbrio, o que conduz com mais eficiência à bela e inspiradora sequência final.

"Livre" é, afinal, um belo filme. Dispa-se do preconceito de achar que é uma cópia de "Na natureza selvagem" e arrisque uma sessão. Se nada lhe interessa na história, há ao menos a atuação primorosa de Witherspoon e a bela fotografia de Yves Bélanger para encher os olhos.

E para quem se interessar, aqui estão as resenhas de "Clube de Compras Dallas" e "Na natureza selvagem".

 http://www.lennysmind.blogspot.com.br/2014/01/clube-de-compras-dallas.html#

http://clenio-umfilmepordia.blogspot.com.br/2013/03/na-natureza-selvagem.html

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2 Comments


Concordo contigo, Clênio. O filme consegue mesmo se 'desvincular' de Na Natureza Selvagem, apesar da semelhança. E também achei a Reese sensacional! :D

Alan,
de1929.blogspot.com


Logo na abertura do filme já dá pra ver que pode ser bem superior ao Clube de Compras Dallas... É é!

Concordo com tudo que tu disse e fiquei curioso pra ler o livro que inspirou, já que o Na Natureza Selvagem eu não consegui passar do 2º ou 3º capítulo (tão diferente do filme).

Zukm.t
ppb
bjooooooo

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