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A TEORIA DE TUDO

Posted by Clenio on 21:45 in
Para um filme conquistar admiradores dentre os eleitores da Academia e consequentemente receber estimadas indicações ao Oscar - e junto com elas uma boa dose de prestígio, dinheiro e notoriedade - existe uma receita quase infalível que "A teoria de tudo", dirigido por James Marsh - autor do documentário "O equilibrista", premiado com uma estatueta dourada em 2009 - segue à risca. Existe o protagonista vítima de uma doença degenerativa. Existe sua força de vontade que o faz superar suas limitações. Existe uma história de amor e lealdade. Existe um cuidado com a produção, impecável nos mínimos detalhes. Existe o ator fisicamente irreconhecível em um trabalho consagrador. E existe o golpe de misericórdia: o fato de ser uma história real. Não é à toa que o filme - que conta a história do físico Stephen Hawking - chega à cerimônia do Oscar deste ano indicado em 5 categorias, incluindo melhor filme, ator, atriz e roteiro adaptado: ele tem todos os ingredientes corretos para o sucesso. No entanto, falta a ele o toque do bom cozinheiro, o segredo que transforma uma refeição trivial em um banquete. Em "A teoria de tudo" sobra fórmula, mas falta um pouco de coração.

Não que o filme, adaptado do livro de Jane Hawking - que foi casada com Stephen e lhe deu três filhos - seja ruim, muito pelo contrário. O capricho de sua realização, desde a fotografia inspirada do francês Benoit Delhomme até a premiada trilha sonora de Jóhann Jóhansson (que levou o Golden Globe deste ano para casa) é evidente até ao mais distraído dos espectadores, e a interpretação de Eddie Redmayne como Hawking é daquelas capazes de mudar a carreira de um ator - ele também foi agraciado com um Golden Globe e caminha para ganhar o Oscar por seu intenso e fascinante desempenho. Mas tanto o roteiro de Anthony McCarten quanto a direção de Marsh carecem de ousadia. Sua narrativa é acadêmica em excesso, quase simplória, não permitindo ao público o envolvimento que sua história - forte e emocionante por si só - poderia oferecer. Até mesmo a relação entre Hawking e Jane soa um tanto superficial do modo como a história é conduzida: mesmo que fique claro o amor entre eles, não existe aquele elo potente que, por exemplo, Russell Crowe e Jennifer Connelly transmitiam em "Uma mente brilhante", de Ron Howard - um belo exemplo de filme que, mesmo seguindo uma engrenagem bem perceptível, conseguiu extrapolar seus limites e surpreender a plateia com um roteiro criativo e uma direção intensa.

Acompanhado a vida de Stephen Hawking desde o momento em que conheceu Jane (Felicity Jones em uma atuação eficaz mas que não justifica uma indicação ao Oscar) até sua condecoração pela Rainha Elizabeth, oferecida graças a seu extraordinário trabalho como físico e suas teorias que o levaram a ser considerado o novo Einstein. No meio do caminho, o roteiro trata de explorar a degeneração progressiva do cientista, que vai perdendo a locomoção, o equilíbrio e, depois de um ataque quase fatal que o obrigou a fazer uma traqueotomia, a fala e a capacidade de engolir. Com extrema resiliência, porém, ele mantém-se vivo e lutando, trabalhando em suas teses e contando com o apoio da esposa mesmo quando ela sente-se tentada a viver a vida que deixou de lado para manter-se a seu lado. Nesse momento, quando Jane assume o posto de protagonista é que Jones demonstra que, apesar de convincente, não tem a força necessária para deslumbrar o público. E essa mudança de foco, ao invés de ajudar ao filme, apenas diminui seu impacto final.

O maior problema de "A teoria de tudo" - um filme correto, bonito, até comovente em certas passagens - é que ele não sacode a plateia. A plateia talvez nem mesmo queira isso, uma vez que nem todo mundo vai ao cinema querendo assistir a um filme revolucionário por noite, mas falta a ele um tempero a mais, um toque a mais de personalidade. Eddie Redmayne merece todos os aplausos por seu trabalho, e idem Stephen Hawking, um dos mais brilhantes homens de nosso tempo. Mas ambos mereciam um filme mais impactante.

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1 Comments


Fiquei meio frustrado ao assistir ao filme. Não é ruim, mas... O problema é justamente o "mas". Tento lembrar que é mais justificável estar lá do que o American Atirador.

Mas vale a pena ver pelo ator Eddie Redmayne.

Zukm.t
ppb
bjooooooo

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