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CAMINHOS DA FLORESTA

Posted by Clenio on 23:51 in
A ideia até que é boa e seu sucesso na Broadway desde 1987 não nega: um musical que revisita os contos de fadas dos irmãos Grimm, virando do avesso seus personagens e mostrando deles um lado nunca dantes visto, com a música do veterano Stephen Sondheim comentando a ação. Escalar a sempre fabulosa Meryl Streep como a bruxa má cuja maldição lançada em um casal ansioso por um filho também é uma tacada de mestre. E ter Rob Marshall - que adaptou de maneira irretocável o musical "Chicago" para o cinema, revigorando o gênero e levando-o a conquistar o Oscar de melhor filme de 2002 - na direção também apontava para um êxito certo. Por que então a transposição de "Caminhos da floresta" para as telas desapontou tanta gente, a ponto de passar quase em brancas nuvens pelo Oscar apesar da bilheteria polpuda?

Não é preciso ser especialista em cinema nem tampouco em musicais da Broadway para saber que nem sempre o que funciona em um palco é transferido com eficácia para o cinema. Marshall se deu bem com "Chicago", mas Joel Schumacher naufragou feio com seu pretensioso "O fantasma da ópera", assim como o aplaudidíssimo "Os miseráveis" bombou feio na sua adaptação, apesar de ter conseguido enganar a frequentemente falível Academia e conquistado indicação à estatueta de melhor filme. "Caminhos da floresta" não chega ao extremo de ser tão intragável quanto o filme de Tom Hooper - tem momentos encantadores e um elenco competente o bastante para impedir que tanto aconteça - mas fica bem aquém do que poderia ser, principalmente em sua segunda metade, quando a trama tem uma virada tão improvável e desnecessária quanto a escalação de Johnny Depp para viver o lobo mau da Chapeuzinho Vermelho, em uma participação que não soma mais do que cinco minutos em cena.

Como é comum nas produções de Rob Marshall - ele também tem o premiado "Memórias de uma gueixa" no currículo - o desenho de produção de "Caminhos da floresta" é excepcional, assim como a fotografia sombria que contrasta inteligentemente com a ideia pré-concebida de que histórias infantis devem ser coloridas e etéreas. Aliás, é elogiável a decisão da Disney em manter o tom adulto da narrativa teatral em detrimento de uma amenizada que poderia tirar a personalidade do espetáculo de James Lapine: o filme não tem medo de matar personagens importantes ou desconstruir com uma boa dose de ironia as fantasias românticas criadas ao redor dos príncipes encantados, assim como também não faz da bruxa de Meryl Streep uma vilã maniqueísta e unidimensional, dando a ela as possibilidades necessárias para mais um show da atriz: sua construção da personagem lhe rendeu a vigésima indicação ao Oscar - única lembrança do filme pela Academia além de direção de arte e figurino, seus maiores méritos - e, mais do que por hábito, sua nomeação vem por justiça, já que é ela quem domina as melhores sequências da obra.

Mas, mais do que os problemas ao alterar a linguagem teatral para a das telas, mais do que a queda brusca de ritmo e interesse na segunda metade e mais do que a pressa em contar sua história, o pior pecado de "Caminhos da floresta" está justamente onde deveria estar seu maior trunfo: na música. Por mais que Stephen Sondheim seja um veterano mestre da Broadway - e já tenha um Oscar em casa pela bela "Sooner or later", do filme "Dick Tracy" - suas canções para a peça de Lapine talvez funcionem no palco, mas nas telas soam repetitivas e monótonas. Não existe uma melodia que fique na cabeça do espectador, que o faça cantarolar após a sessão - o que não deixa de ser um tanto frustrante quando se trata de um musical tão esperado, com um elenco tão especial e de um diretor tão talentoso. Ainda assim, sem maiores expectativas, pode divertir aos menos exigentes.

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1 Comments


O que me incomodou desde o começo no filme foi o repertório musical. Não tem outro jeito de dizer isso, se eu tivesse gostado das músicas, mesmo que na 2ª metade tenha uma irregularidade inexplicável, eu nem teria percebido. Mas ainda assim, tem a Meryl e o filme como um todo é muito bonito (cenário, caracterização e etc). Compraria em bluray.

Zukm.t
ppb
bjoooooo

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