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O GRANDE HOTEL BUDAPESTE

Posted by Clenio on 21:54 in
Dentre os filmes pouco convencionais selecionados pela Academia de Hollywood para concorrer ao principal Oscar deste ano - "Birdman" e "Boyhood", por exemplo - nenhum é tão radicalmente a cara de seu autor quanto "O Grande Hotel Budapeste", escrito, dirigido e produzido por Wes Anderson, um dos cineastas menos afeitos a concessões comerciais que o cinema norte-americano gerou nos últimos quinze anos, desde que lançou o elogiado - e ignorado pelo público - "Três é demais", em 1998. Dono de um estilo facilmente reconhecível que equilibra com rara inteligência personagens excêntricos, histórias inusitadas e um visual milimetricamente planejado, Anderson faz parte de um time de poucos realizadores que tem uma marca própria dentro do cinema, como Tim Burton, Woody Allen e Pedro Almodovar. No entanto, ainda faltava a ele uma espécie de reconhecimento oficial por parte da indústria, que lhe desse o passaporte definitivo para a elite dos cineastas. Com as surpreendentes nove indicações conquistadas por seu novo filme, tal passaporte já está carimbado, independente de sua vitória - quase certa em algumas categorias como direção de arte e até roteiro original (já que foi o vencedor do sindicato) - ou derrota - bastante provável no páreo de melhor filme e direção. Só o fato de lutar de igual pra igual com produções bem menos criativas (e por conseguinte mais facilmente digeríveis pelos tradicionais e vestutos eleitores da Academia), "O Grande Hotel Budapeste" já pode ser considerado um campeão.

A trama - contada através de uma história dentro de uma história, em uma opção narrativa arriscada mas extremamente bem-sucedida - é aparentemente simples, mas repleta de bifurcações inusitadas e personagens surreais: quem começa a contá-la é um escritor consagrado (vivido por Tom Wilkinson na maturidade e Jude Law na juventude), que transmite ao público a história do misterioso Mr. Moustafa (F. Murray Abraham), dono do decadente Hotel Budapeste, localizado em um país fictício da Europa que teve seu auge no período entre-guerras. Solitário e discreto, Moustafa relembra, através de flashbacks, as reviravoltas que fizeram com que a imensa propriedade fosse parar em seu nome. Tais reviravoltas tem início quando ele, ainda jovem (e interpretado por Tony Revolori) consegue emprego como empregado do hotel, sob o comando do rígido e dedicado Gustave H. (Ralph Fiennes), que, além de ser o melhor concierge da região, não hesita em agradar as hóspedes de mais idade com noites regadas a champagne e sexo. Quando uma dessas visitantes frequentes, a milionária Céline Villeneuve Desgoffe und Taxis (Tilda Swinton irreconhecível sob pesada maquiagem), morre aos 84 anos em sua mansão, ele resolve prestar suas últimas homenagens, atendendo a seu funeral. Para sua surpresa, porém, ele fica sabendo - junto com a ambiciosa família da falecida - que herdou um quadro de valor milionário, o que acaba lhe colocando em sérios apuros com a polícia: recusando-se a aceitar que a mãe tenha deixado tão valioso bem para um mero serviçal, o psicótico Dimitri (Adrien Brody) o acusa de assassinato e parte em sua captura, ao lado de seu violento capanga Jopling (Willem Dafoe). Quando eclode a II Guerra, cabe a Gustave provar sua inocência - contando, para isso, com o apoio de um clube secreto de concierges espalhados pelo mundo.

Dotado de um humor sofisticado que provoca mais sorrisos do que gargalhadas e de uma trama tão cheia de informações visuais que uma segunda sessão é mandatória, "O Grande Hotel Budapeste" é, tranquilamente, o melhor filme de Wes Anderson, refinando as características narrativas de "Os excêntricos Tenenbauns" e estilísticas de "Moonrise kingdom" e unindo-as em um espetáculo de qualidade estética ímpar. Único dos candidatos ao Oscar de fotografia a ser filmado em película - um feito digno de nota, especialmente quando se percebe a qualidade irretocável do meticuloso trabalho de Robert Yeoman - a obra de Anderson também é um triunfo de desenho de produção, tão impressionante com seus cenários grandiosos quanto a segurança do cineasta em equilibrar narrativas múltiplas sem perder o fio da meada ou confundir o espectador. Contando com um elenco acima de qualquer crítica - com destaque para Ralph Fiennes em raro registro cômico e Edward Norton em sua segunda parceria com o diretor, além da revelação Tony Revolori - o filme ainda se beneficia da inspirada trilha sonora (mais uma) de Alexandre Desplat, que comenta a ação como se fosse um personagem a mais e pode dar a ele uma merecida estatueta dourada no próximo domingo. Ela é mais uma peça essencial em um dos mais empolgantes produtos cinematográficos dos últimos anos, um filme capaz de encantar qualquer fã da sétima arte e a prova cabal do talento de seu criador, até então escondido em pérolas de cinemateca - vulgo filmes amados por uma parcela de espectadores que não tem medo do diferente.

"O Grande Hotel Budapeste" surpreendeu ao tirar o Golden Globe de Melhor Comédia/Musical das mãos de "Birdman", em janeiro. Não seria injusto - ainda que seja pouco provável - se a Academia também se rendesse à sua genial excentricidade.


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1 Comments


Não consigo pensar em nenhum outro comentário que não tenha um "quero muito em bluray" no meio.

Ainda que eu fique um pouco cansado lá pela metade do filme, dado o tamanho de informações, a fotografia, os cenários e o modo como a história é contada... me deixam com vontade de ver e rever. Sempre dá pra pescar uma coisa diferente.

Zukm.t
ppb
bjoooooooo

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