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PARA SEMPRE ALICE

Posted by Clenio on 01:18 in
Pode parecer brincadeira que até gente como Sandra Bullock tenha um Oscar em casa e Julianne Moore ainda esteja na lista das eternas perdedoras. Indicada em quatro ocasiões - em 2003 chegou a concorrer tanto na categoria principal por "Longe do paraíso" quanto na de coadjuvante por "As horas" - parece que finalmente chegou a hora em que seu nome será vinculado à expressão "Academy Award winner". O responsável por tal feito é seu desempenho fenomenal como uma linguista de 50 anos que se descobre portadora de um tipo raro do mal de Alzheimer no delicado "Para sempre Alice". No mesmo ano em que foi premiada no Festival de Cannes pelo filme "Mapas para as estrelas", de David Cronenberg - onde vive uma atriz frustrada tentando dar a volta por cima - Moore deixa o espectador com o coração nas mãos, com uma interpretação nunca aquém de perfeita. Sem apelar para o melodrama excessivo e evitando com discrição as armadilhas de um papel tão propenso a exageros, ela brilha justamente pela economia dramática com que transmite toda a dor e a angústia de uma mulher que depende de seu cérebro ao perceber que justamente ele a está destruindo.

Alice Howland é uma professora de linguística renomada e respeitada. Bem casada com John (Alec Baldwin), por quem ainda é apaixonada, mãe de três filhos e a caminho de tornar-se avó, ela, aos 50 anos, começa a perceber pequenos mas assustadores sintomas de perda de memória. Julgando ser apenas um stress passageiro, ela acaba recebendo o diagnóstico de um tipo precoce de Alzheimer. Contando com o apoio da família - inclusive da filha rebelde, Lydia (Kristen Stewart surpreendentemente deixando de lado a apatia que lhe é característica) - ela aos poucos vai mergulhando nas águas traiçoeiras da doença, perdendo todas as referências de sua vida, desde o caminho do banheiro até o nome dos filhos. Sua força de vontade, porém, faz com que ela insista em manter o controle sobre a própria vida, mesmo quando tudo parece fugir de seus domínios.

Mesmo que não fuja do previsível e por muitas vezes quase escorregue nos clichês - fato que o talento de Moore equilibra com maestria - é admirável a forma como os diretores de "Para sempre Alice" conseguem prender a atenção da plateia do início ao fim, conduzindo-a delicadamente para dentro do pesadelo da protagonista aos poucos, gradualmente como a doença que lhe ataca. É poético, inclusive, como a escuridão de seu mal é iluminado pela aproximação com as pessoas a quem ama, que lhe servirão de apoio em um caminho sem volta - e que é retratado por vezes de forma cruel e aterrorizante. Em uma sequência especialmente aterrorizante, por exemplo, uma Alice já em fase avançada da doença encontra um vídeo gravado por ela mesma em tempos menos desesperados e, seguindo suas instruções, vai em direção ao suicídio: ao público resta prender a respiração no aguardo do desfecho da sufocante situação. Esse controle no ritmo e na opção por ater-se principalmente nas reações das pessoas mais próximas à Alice são dois acertos do roteiro, assim como a escolha de Alec Baldwin para viver John, o marido da protagonista: poucas vezes Baldwin esteve tão bem no cinema dramático, deixando antever um lado sensível e sério que suas atuações cômicas escondem tão bem.

Não deixa de ser comovente saber que um dos diretores de "Para sempre Alice", Richard Glatzer, sofre de ASL, um tipo de esclerose que não o deixa falar e fez com que ele comandasse as cenas através de mensagens escritas em um iPad. Junto com seu companheiro de trabalho, Wash Westmoreland, ele realizou um filme sensível e emocionante que, em mãos menos competentes, cairia facilmente no piegas. Ancorado no trabalho excepcional de Julianne Moore, seu filme já é um vitorioso antes mesmo da cerimônia do Oscar justamente por tratar de um assunto tão triste sem cair no tom depressivo ou negativo. É triste, mas jamais exageradamente sentimental.

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Esse filme também é sensacional! Torço por Julianne Moore no Oscar!

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