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JOY: O NOME DO SUCESSO

Posted by Clenio on 20:59 in
Se existe algum mistério no mundo do cinema é como o cineasta David O. Russell conseguiu se transformar, em pouco mais de cinco anos, em um dos diretores mais queridos da Academia, tendo três filmes seus ("O vencedor", "O lado bom da vida" e "Trapaça") indicados ao Oscar máximo, além de somar onze indicações para seus atores - três deles chegaram a levar estatuetas pra casa, inclusive. Deixando de lado a máquina promocional dos famigerados irmãos Weinstein - ex-donos da Miramax e ainda com grande poder de marketing dentro da indústria - não há explicação para que os filmes de Russell, nunca além de razoáveis, fizessem tanto sucesso. Se sua intenção esse ano era voltar a ficar entre os finalistas, porém, ele deve ter caído das nuvens com a esnobada gigantesca sofrida por seu "Joy: o nome do sucesso". Com apenas uma solitária (e pouco merecida) indicação ao Oscar de melhor atriz para sua parceira habitual Jennifer Lawrence, a história verdadeira da mulher que inventou a Magic Mop (uma espécie de esfregão mais incrementando e que a deixou milionária) acabou com a sequencia de êxitos do diretor - e finalmente mostrou ao público que sua fórmula aparentemente infalível (elenco de amigos + histórias simplistas + direção sem foco) não consegue sustentar-se sem o mínimo de qualidade narrativa.

Aparentemente, a história contada em "Joy" é a da hoje empresária Joy Mangano, que superou inúmeros percalços em seu caminho para patentear sua invenção, nascida da necessidade financeira de manter sua família e quase roubada por empresários mal-intencionados. Porém, sua trajetória, que já daria um filme por si só, não pareceu o suficiente para Russell, que, ao assumir o projeto, resolveu adicionar à trama personagens secundários inexistentes e misturar à vida da protagonista situações ocorridas em vidas alheias - também de mulheres batalhadoras e empreendedoras - como forma de fazer uma homenagem à classe. A ideia até seria louvável se tal decisão não acarretasse um grave problema de ritmo e foco: em inúmeros momentos é impossível saber com certeza se o que se passa na tela é uma comédia sem graça e forçada na maior parte do tempo, um drama superficial e previsível ou uma cinebiografia que exagera na dramaticidade de seus eventos para atingir seus objetivos de inspirar o público. De qualquer forma, é um filme longo demais que falha no mais básico quesito: provocar a empatia de sua personagem central com a plateia.

A culpa nem é de Jennifer Lawrence, que faz o que pode para dar consistência a uma personagem que exigiria uma atriz mais velha, nem do elenco de atores talentosos como Robert De Niro, Isabella Rossellini, Diane Ladd e, vá lá, Bradley Cooper. O problema é realmente do roteiro esquizofrênico - sempre uma questão preocupante nos filmes de Russell - e da direção hesitante, que parece deixar os atores à vontade para improvisações que nem sempre dão certo e volta e meia músicas aleatórias em cenas que soam avulsas à narrativa. Tentando se equilibrar entre um tom naturalista e uma veia surrealista (a mãe da protagonista, vivida por Virginia Madsen passa os dias assistindo a telenovelas que ocasionalmente comentam a ação), o cineasta perde a mão em ambos os terrenos, conseguindo até mesmo neutralizar seus trunfos (a atuação competente mas nunca brilhante de Lawrence e sua química com Édgard Ramírez, por exemplo) e irritar o espectador menos paciente, que não vê a hora dos créditos finais surgirem na tela.

É um alívio saber que "Joy: o nome do sucesso" não conseguiu enganar nem aos frequentemente ingênuos membros da Academia (capazes de engolir tranqueiras como "Sniper americano" e "O discurso do rei"). Talvez seja o prenúncio de que o tempo de David O. Russell e suas mediocridades cinematográficas está finalmente chegando ao fim.



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