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O QUARTO DE JACK

Posted by Clenio on 21:55 in
Já é tradição que, dentre os indicados ao Oscar de Melhor Filme, sempre sobre espaço para um filme pequeno, de preferência de fora do circuito hollywoodiano e que conquista primeiro os críticos até que finalmente seja descoberto pela Academia - mesmo que nem sempre encontre uma resposta positiva nas bilheterias. Foi assim com "Inverno da alma" (na cerimônia de 2011), "Indomável sonhadora" (em 2013), "Clube de compras Dallas" (em 2014) e "Whiplash, em busca da perfeição" (ano passado). A bola da vez é uma produção canadense que viu sua cotação subir como um rojão desde que sua atriz central arrebatou o prêmio do respeitado National Board of Review, no final do ano passado. Baseado em um romance de Emma Donoghue "O quarto de Jack" chegou às categorias principais do Oscar (filme, direção e roteiro adaptado) carregado basicamente pela interpretação da jovem Brie Larson, que, depois de vencer o Golden Globe, o Screen Actors Guild e o Critic's Choice Awards, é a aposta mais certeira para a estatueta de melhor atriz.

Sem grandes créditos no currículo - esteve no elenco de filmes como "Anjos da lei" e "Como não perder essa mulher" sem chamar muita atenção - a norte-americana de 26 anos conquistou a liderança na corrida pelo Oscar por seu desempenho correto e maduro como Joy, uma jovem que, raptada aos 17 anos e mantida em cárcere privado por seu sequestrador, tem um filho com ele e passa sete anos em um minúsculo quarto sem ventilação, tendo contato com o mundo somente através de um aparelho de televisão e de uma claraboia que os impede de permanecer totalmente à parte do mundo. Forte e determinada, ela consegue fugir do cativeiro e, junto com o pequeno Jack (o surpreendente Jacob Tremblay, roubando a cena), se vê obrigada a reaprender a conviver com um mundo a que não mais reconhece. Sua força, porém, se vê diminuída quando percebe que a readaptação não é tão fácil quanto ela poderia esperar - mas seu pequeno e arredio filho é quem irá lhe obrigar, mais uma vez, a sobreviver.

Apesar dos elogios unânimes da crítica, "O quarto de Jack" está longe de ser um filme perfeito. Sua mudança de foco na segunda metade - quando Joy e Jack conseguem finalmente escapar de seu captor - enfraquece o ritmo, até então sufocante e claustrofóbico. Os conflitos enfrentados pela protagonista - com o pai (William H. Macy), com a mãe (Joan Allen) e até mesmo com a imprensa, que questiona sua decisão de ter mantido o filho ao seu lado mesmo no sofrimento de um quartinho apertado - não são satisfatoriamente resolvidas pelo roteiro (adaptado pela própria autora do romance que lhe deu origem) e o suspense do terço inicial (bem como o drama da convivência forçada entre mãe e filho) desaparece assim que a câmera do cineasta irlandês Lenny Abrahamson muda seu olhar para um drama familiar interessante mas tratado como um telefilme. Nem mesmo a atuação quase milagrosa do pequeno Jacob Tremblay é o suficiente para tirar a sensação de que algo falta no resultado final.

A química entre Tremblay e Brie Larson é excepcional, não há como negar, e são os momentos que os dois compartilham que dão alma e emoção a "O quarto de Jack". Porém, a atuação de Larson não é tão impactante e genial como todos os seus prêmios dão a entender: apesar de transmitir a angústia e o sofrimento de sua Joy, ela não chega a surpreender ou fascinar a plateia - coisa que Cate Blanchett faz em "Carol" e Saoirse Ronan em "Brooklyn", apenas para citar duas de suas rivais. Seu Oscar é quase certo e até não será tão absurdo quanto aquele entregue à Sandra Bullock em 2010. Mas seu trabalho não é o melhor do ano, definitivamente. E, em uma temporada onde inúmeros filmes muito melhores - "Os oito odiados", "Carol", "Steve Jobs" - não encontraram uma vaga entre os finalistas da Academia, não deixa de ser frustrante ver um trabalho apenas ok sendo tão louvado e aplaudido.

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