ROXETTE E AS CANÇÕES DE AMOR
It was all that I wanted, now I'm living without..."
Minha relação com a música é bem menos racional do que passional. Não sou de ficar analisando rimas, métricas e quetais das canções que gosto, uma vez que o que me importa nelas é o que elas passam, tanto em termos emocionais quanto de ritmo. Obviamente amo letras fortes e dilacerantes (daí minha paixão por Chico Buarque e Alanis Morissette), mas também me rendo a batidas dançantes e contagiantes (por isso adoro Madonna, REM e música pop quase em geral). Não quero julgar competências musicais, quero apenas ser arrebatado pelo som, seja pra dançar uma noite inteira ou rasgar meu coração. Dito isso, afirmo que não sou capaz (ao menos em termos críticos) de fazer uma apreciação formal do show dos suecos do Roxette, ontem à noite, aqui em Porto Alegre. Não fui ao show esperando uma revolução musical mas sim uma volta ao passado, a uma adolescência que, se não foi extremamente feliz também não foi marcada por nenhum grande trauma. Acredito que a maioria esmagadora das pessoas que lotaram o Pepsi On Stage buscava a mesma coisa que eu: a sensação de trazer de volta boas lembranças (ou não tão boas assim, mas marcantes de qualquer jeito...) Sendo assim, tenho certeza que a missão foi cumprida: em quase duas horas de show, a plateia cantou, pulou, gritou, vibrou, aplaudiu e se emocionou (enfim, tudo que se faz num bom espetáculo pop) ao cantar sucessos como "It must have been love" (quem nunca assistiu a "Uma linda mulher" que atire a primeira pedra), "Spending my time" (saudades das reuniões dançantes movidas a refrigerante...) e as energéticas "Joyride" e "How do you do?" (que levantou de vez a galera). Foi uma experiência muito boa, mas ao voltar pra casa dois pensamentos aparentemente sem conexão tomaram minha cabeça (e eis aqui a verdadeira razão e objetivo desse post). Explicá-los-ei agora.
O primeiro deles diz respeito ao poder da música. Diferentemente das outras formas de arte como o teatro (que atinge um número relativamente pequeno de espectadores), cinema (cujos produtos são consumidos rapidamente e muitas vezes com uma efemeridade atroz) e literatura (que ainda tem menos adeptos do que o teatro), a música é capaz de atingir uma quantidade imensa de pessoas, de diferentes credos, culturas, sexos, faixas etárias ou times de futebol (como canta Madonna, "music makes the people come together"...) Uma única canção é capaz de atingir o coração de pessoas daqui, do Cazaquistão, do Acre, da Bósnia e daquele pequeno país cuja existência ninguém tem conhecimento. Quantos relacionamentos felizes/infelizes/incompletos/obsessivos uma boa canção pop não é capaz de embalar? Vai saber se "It must have been love" não fez uma indiana chorar desesperadamente ao mesmo tempo em que uniu um casal na Coréia do Norte? A mesma música pode trazer lembranças maravilhosas a um mecânico da França e uma dor excruciante a um executivo de Genebra. Essa democracia - que nivela todo e qualquer ser humano, assim como o amor - é o que mais me fascina na música. Imagino a sensação que é, para um artista, ver uma plateia de milhares de pessoas entoar uma composição sua... Deve ser de arrepiar qualquer cidadão...
E por fim, o último pensamento da noite: é estranha a sensação de, mesmo cercado de centenas e centenas de pessoas, rodeado de amigos e com a alma massageada por um festival de recordações sonoras, sentir-me a mais só das criaturas. Felizmente Marie e Per não cantaram "You don't understand me" porque senão seria insuportável. E ainda bem que não tenho mais o número de certo telefone...
T... miss you....