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CINQUENTA TONS DE CINZA

Posted by Clenio on 19:43 in
Tudo bem que uma pessoa que começa a ler "50 tons de cinza" não está disposta a mergulhar nos prazeres da boa literatura - mesmo porque um livro que surgiu como uma fan fiction de uma das piores coisas jamais escritas no mundo ocidental (a série "Crepúsculo", de Stephanie Meyer) não poderia ser coisa que prestasse. Mesmo assim, apesar de sua mediocridade, a trilogia de E. L. James vendeu milhares e milhares de exemplares mundo afora, comprovando o poder de uma boa estratégia de marketing e confirmando o velho axioma de que "sexo vende" - ainda que embrulhado mal e porcamente em uma historinha de amor vagabunda e psicologicamente rasa. E como em Hollywood tudo que reluz É ouro, não demorou muito para que os direitos da obra de James passassem a ser disputadas a tapas - nenhum estúdio queria abrir mãos das filas que se formariam diante das salas que exibissem o "romance" entre Anastasia Steele e Christian Grey (e dos dólares que elas renderiam, é claro). O inevitável resultado dessa equação - livro ruim + ganância dos produtores - não poderia ser diferente do que é mostrado no filme assinado pela artista plástica Sam Taylor-Johnson, que anteriormente havia dirigido o sensível "O garoto de Liverpool", sobre a juventude de John Lennon: "50 tons de cinza", o filme, é nada menos que constrangedor, a despeito dos nomes ilustres que desfilam pelos créditos de abertura.

Sim, nomes consagrados fazem parte da equipe do filme, como o compositor Danny Elfman - colaborador constante de Tim Burton -, o diretor de fotografia Seamus McGarvey - indicado ao Oscar por "Desejo e reparação" - e o desenhista de produção David Wasco - que assinou trabalhos com Quentin Tarantino. Nem eles, no entanto, conseguem elevar a obra de Taylor-Johnson a um capítulo menos inocente de "Malhação". Os diálogos - como no livro - são sofríveis. As atuações - em especial da dupla central, cuja química inexiste - são de fazer corar de vergonha alheia. A trama, então - que tanto encantou uma multidão de mulheres divididas entre os contos de fadas que sempre foram obrigadas a admirar e os romances pornográficos a que jamais tiveram acesso por machismo e preconceito - é nunca menos que inverossímil, mostrando a relação "amorosa" entre um milionário com gostos sexuais peculiares (aka sadomasoquismo) e uma patinho feio desajeitada e até então virgem que o conquista sabe-se lá por qual motivo - ecos da origem da obra, talvez, já que em "Crepúsculo" a pamonha vivida (modo de expressão) por Kirsten Stewart também conquistava o cobiçado (é ficção, lembrem-se) Robert Pattinson.

O fato é que nada funciona em "50 tons de cinza". A fidelidade ao romance pode agradar às fãs, mas de certa forma acaba com toda e qualquer possibilidade de melhorar ou aprofundar o que quer que seja na história. O erotismo é morno - afinal a censura não poderia ser muito alta, sob pena de muito dinheiro ser perdido nas bilheterias - e não excita. O romance não convence e os atores centrais são escolhas totalmente equivocadas. Jamie Dornan não tem o magnetismo sexual necessário para interpretar um papel que depende exclusivamente disso e Dakota Johnson sofre com um papel a que nem mesmo Natalie Portman conseguiria imprimir verdade - como ainda por cima ela é má atriz, as coisas só pioram. Some-se a isso o fato de que o filme ultrapassa as duas de projeção e tem-se um legítimo pesadelo para os fãs de bom cinema.

No final das contas, a versão para as telas de "50 tons de cinza" só pode mesmo agradar a quem leu os livros e gostou. A história de James não era literatura quando foi impressa e não é cinema agora que foi filmada. É um embuste puro e simples. Se quiserem insistir mesmo assim não digam que não avisei.

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