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UM NOVO DESPERTAR

Posted by Clenio on 19:34 in
Atriz respeitada e cineasta bissexta, Jodie Foster é um dos nomes de maior prestígio e confiabilidade dentro da indústria hollywoodiana. Inteligente e sensível, é uma das poucas atrizes que dispensam notícias na mídia para manter-se sempre em evidência, mesmo que de vez em quando entre em um período sábatico que priva o espectador de sua presença. Tendo tudo isso em vista não deixa de ser surpreendente que ela tenha escolhido justamente "Um novo despertar" para marcar seu retorno à cadeira de diretora - depois do delicado "Mentes que brilham" (92) e do leve "Feriados em família" (96). Dono de uma trama um tanto quanto surreal, o filme co-estrelado por ela e por seu amigo Mel Gibson naufragou nas bilheterias - muito devido às polêmicas do astro, envolvido em violência doméstica - e dividiu a crítica. Mas, apesar da bizarrice da ideia central - e de um certo ar de autoajuda - é um filme que merece uma conferida, principalmente devido à delicadeza com que Foster comanda o espetáculo.

Mel Gibson está bem na pele de Walter Black, o executivo de uma fábrica de brinquedos que, segundo a brilhante sequência inicial, está passando por uma séria depressão. Seu casamento com Meredith (Jodie Foster, discreta em seu papel quase coadjuvante) está na corda bamba e seu relacionamento com o filho adolescente Porter (o ótimo Anton Yelchin) não é o que pode ser chamado de saudável - o rapaz passa os dias listando suas semelhanças com o pai, na tentativa de extirpá-las de si. Uma noite, depois de uma bebedeira por ter se separado da mulher, ele encontra o fantoche de um castor e, conversando com ele, descobre uma nova maneira de encarar a vida. Exigindo que todos que o rodeiam passem a se comunicar com o animal - inclusive seus empregados e a própria família - ele não apenas descobre um novo sentido para a vida (??) como tira a empresa da crise financeira e criativa pela qual esta passava. Ao mesmo tempo, logicamente, preocupa todos à sua volta, inclusive a mulher e o filho mais velho, que, por sua vez, está envolvido com a problemática colega de escola Norah (Jennifer Lawrence), que tenta lidar com a morte trágica do irmão.

Não deixa de ser irônico que Foster - estrela de filmes barra-pesada como "Taxi driver", "Acusados" e "O silêncio dos inocentes" - seja tão delicada em seus trabalhos como diretora. Em "Um novo despertar", é seu olhar carinhoso e sensível que transforma uma fábula surreal e quase boba em um filme não apenas plenamente assistível mas também capaz de emocionar aos mais sensíveis (e aqueles que entrarem no clima da trama um tanto absurda). É notável também o talento da atriz em conduzir seus atores - em especial os jovens Anton Yelchin e Jennifer Lawrence, cuja história de amor retratada no filme dá sentido ao roteiro e a seus clichês. A própria Foster brilha mesmo em um papel relativamente pequeno e Mel Gibson está convincente em um papel difícil que quase foi parar nas mãos de Steve Carrell e Jim Carrey, o que, com certeza, acentuaria o tom cômico da história - que torna-se, em determinado momento, bastante sombria.

"Um novo despertar" é um filme curioso, criado por gente extremamente talentosa. Certamente não é um filme que vai agradar a todo mundo - principalmente devido a seu tema - mas não deixa de ser honesto e alto-astral (e que faz um belo uso da melancólica "(Exit music) for a film", da banda inglesa Radiohead em uma cena crucial). Jodie Foster é uma diretora que tem muito a dizer, mas ainda não nos presenteou com sua obra-prima.

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A FLOR DE OBSESSÃO FARIA 99 ANOS

Posted by Clenio on 20:47 in
Espeto, minha filha, espeto! O tempo passa e, estivesse vivo hoje em dia, o anjo pornográfico Nelson Rodrigues estaria completando 99 anos de idade. Quase um século desde que nasceu em Recife. Quase um século desde sua primeira expulsão de uma casa de família quando ainda era um inocente "cabeçudo como um anão de Velasquez". Quase um século de vida do homem que testemunhou mais tragédias familiares que qualquer membro do clã Kennedy - e exorcizou-as nos palcos, sendo atacado como uma ratazana prenhe. Quase um século desde que o Brasil viu nascer um de seus maiores e mais importantes jornalistas, dramaturgos, polemistas e escritores. Quase um século desde que nasceu o pai de criações inesquecíveis que se tornaram parte do inconsciente coletivo nacional, como a sensual Engraçadinha (mais amoral que um bichinho de avenca), a complexa Alaíde, o gângster marginal Boca-de-Ouro, o jornalista sensacionalista Amado Ribeiro... Mas como será que Nelson - na verdade um defensor aguerrido do núcleo familiar a ponto de ter tido duas diferentes em sua trágica vida - enxergaria o mundo como está hoje?

Com seus olhos críticos e com sua aridez de três desertos, provavelmente Nelson teria um choque ao presenciar no que se transformou a sensualidade nacional. Se em sua época ele já achava que a nudez feminina havia perdido todo o seu suspense e mistério é de imaginar o que ele diria ao presenciar a invasão sistemática das vulgares mulheres-frutas. E é possível imaginá-lo com sua voz grave e arrastada a declarar a respeito de coisas como Calypso, Restart e afins: "O que se está fazendo aqui é uma música popular brasileira, que não é popular nem brasileira e vou além: - nem música." E é provável que  ainda estivesse esperançoso com a 9ª colocação de seu Fluminense no Campeonato Brasileiro - e sobre o empate com o Vasco talvez declarasse em alto e bom som que "o empate é um resultado mais depressivo do que a própria derrota."

Nelson Rodrigues faz falta. É de se imaginar o que ele poderia aprontar em nosso teatro se vivo ainda fosse e produzindo ainda estivesse. É sorte de um povo ter à sua disposição uma obra vasta e tão importante quanto a de Nelson, felizmente mais à mão hoje em dia do que em seus dias de vida. Graças a Ruy Castro, autor da bela biografia "O anjo pornográfico" e organizador da reedição da obra do dramaturgo pela Companhia das Letras no início dos anos 90, atualmente ler Rodrigues é fácil. Mais do que isso, é obrigatório. Se, como ele mesmo declarou, "a morte é um grande despertar", sua passagem, em dezembro de 1980, despertou o público para sua genialidade e força dramática. Comemoremos a eternidade de sua obra! Feliz aniversário, flor de obsessão.

PS - Para quem ainda não leu "O anjo pornográfico": tá esperando o que???????????

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A ÁRVORE DA VIDA

Posted by Clenio on 22:13 in
Confesso: não sou fã de Terrence Malick. Não faço parte do fã-clube de um dos cineastas mais incensados pela crítica especializada, principalmente por não conhecer a fundo sua (pequena) obra. Acho "Além da Linha Vermelha" bastante enfadonho. E não tenho muita paciência para filmes-cabeça. Por isso, quando entrei na sessão de "A Árvore da Vida", seu mais novo e recente trabalho, eu estava desprovido de expectativas exageradas e  também de qualquer opinião pré-formada (apesar de muitas críticas negativas que pipocavam à minha volta). Sentei na poltrona com a mente aberta, esperando ser tocado de alguma forma pela história proposta pelo cineasta. E não me arrependi. Ainda que não seja a obra-prima alardeada a quatro ventos pelos mais entusiásticos seguidores de Malick tampouco é o soporífero descrito por seus detratores. "A Árvore da Vida" é um belo exercício de estilo, uma comovente história familiar, uma poderosa reflexão sobre a vida e a morte. Poderia ser menos lento e menos longo em alguns momentos? Em uma primeira visão, sim. Mas mexer na estrutura e até mesmo no ritmo do filme o aniquilaria. "A Árvore da Vida" é o que é. Alguns aplaudem, outros vaiam. Todos precisam ver para dar a sua opinião.

Narrado de maneira fragmentada, "A Árvore da Vida" conta, basicamente, a história de uma típica familia americana de classe média dos anos 50, liderada por um pai um tanto déspota e sem maiores arroubos de carinho (interpretado por um surpreendente Brad Pitt) e uma mãe delicada e juvenil que aguenta calada a forma quase tirana com que o marido comanda a casa (a ótima Jessica Chastain). Narrada pelo filho mais velho, Jack (vivido por Sean Penn na maturidade e pelo impressionante Hunter McCracken na infância), a trajetória da família é intercalada por imagens que remetem às origens da vida no planeta, enquanto os personagens questionam Deus a respeito de suas dúvidas sobre a vida, a morte e a justiça.

 A bem da verdade não dá para recriminar a parte da plateia que vem rechaçando "A Árvore da Vida" de forma tão violenta. Malick não faz concessões em seu trabalho, e por vezes seus objetivos estéticos e metafísicos não são claros o bastante para agradar a um público cuja predisposição a filmes mais contemplativos está cada vez mais atrofiada - e muita gente de bom-gosto também não comprou as ideias do cineasta, alimentando ainda mais a polêmica sobre a qualidade artística do projeto. No entanto, mesmo que as discussões que o filme tenta levantar não cheguem a entusiasmar de forma geral, é inegável que, quando fala de sentimentos em seu filme, o diretor de "Terra de Ninguém" é capaz de emocionar até mesmo o mais insensível dos mortais.

É quando deixa de lado suas intenções filosóficas que Terrence Malick atinge um ponto nevrálgico no coração do espectador. É a complexa relação entre Jack e seu pai (cuja frieza se alterna com raros momentos de delicadeza e carinho) e sua vida em família (seu relacionamento com a mãe quando bebê é adorável) que eleva "A Árvore da Vida" a um nível emocional de rara pungência e verdade. Qualquer pessoa que teve uma infância em família, que tem lembranças a partilhar, que tem traumas guardados e/ou tem aquela sensação nostálgica no peito tem tudo para desabar em lágrimas. É um paradoxo que, justamente quando o filme se afasta de suas ambições de ser pretensamente original que consegue captar o coração do espectador - e fazer mais sentido do que busca suas imagens da natureza (belissimamente fotografadas, diga-se de passagem). E para isso conta com atuações inspiradíssimas de Brad Pitt (fazendo todo mundo esquecer que ele é Brad Pitt, com um personagem crível e bem desenvolvido), Jessica Chastain e do menino Hunter McCracken, que não precisa nem falar para transmitir o turbilhão de sentimentos pelos quais passa seu personagem. Apenas Sean Penn soa deslocado, mas é um pecado menor em um filme tão repleto de qualidades - que incluem a edição espetacular e o visual de tirar o fôlego em algumas sequências.

O conceito de "A Árvore da Vida" pode não ter agradado a gregos e troianos. Mas a coragem de Terrence Malick em levar adiante um projeto tão pessoal já merece aplausos. Seu novo filme é um clássico instantâneo.

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ADEUS À "INSENSATO CORAÇÃO"

Posted by Clenio on 23:23 in
Houve um tempo em que uma novela de Gilberto Braga era sucesso certo. Porém, o homem que legou à teledramaturgia obras marcantes como "Dancin' Days", "Água viva", "Corpo a corpo" e principalmente "Vale tudo" - escrita em parceria com Leonor Bassères e Aguinaldo Silva antes que este se tornasse um blogueiro venenoso e metido a polêmico - parece estar passando por uma severa crise de criatividade. Tudo bem que novela nunca é exatamente algo surpreendente, mas "Insensato Coração", que acabou sua carreira na última sexta-feira mostrou que Braga, apesar de ainda manter algumas características que lhe deram fama, precisa urgentemente se reinventar. Logicamente, a trama foi muitíssimo melhor do que sua antecessora  - a insuportável "Passione" - mas o criador de nomes antológicos da TV, como Julia Mattos, Odete Roitman, Maria de Fátima Aciolly, Felipe Barreto e Laura Prudente da Costa já teve melhores momentos. Abaixo, um resumo sobre o que deu e o que não deu certo em "Insensato Coração".

OS ERROS

1. A DUPLA CENTRAL - Está para existir um par romântico central mais intragável do que Pedro Brandão e Marina Drumond. Além de extremamente chatos, foram interpretados (força de expressão) por uma duplinha lamentável. Paola Oliveira não fez nada além de choramingar o tempo todo e Eriberto Leão... bom, o rapaz poderia voltar à Oficina da Globo para aprender que, quando um personagem fica furioso ele não precisa necessariamente bufar, arregalar os olhos e se babar. Paola culpou sua falta de talento à pressa com que teve que assumir o papel, abandonado por Ana Paula Arósio. Imaginem se Gabriel Braga Nunes tivesse sido escolhido para ser Leo desde o início do projeto...

2. JONATAS FARO - Em "Malhação" ainda vá, mas escalar atores só pela carinha bonita para o horário nobre é de chorar. O ex-marido de Danielle Winits chocou o espectador com sua total falta de preparo para viver Rafa, o filho de bom coração do banqueiro corrupto Cortez e da socialiate politicamente correta Clarisse (os ótimos Herson Capri e Ana Beatriz Nogueira). Era constrangedor ver Jonatas forçando o choro em cenas dramáticas ou tentando convencer o público em seus momentos romãnticos com Cecilia (Giovana Lancelotti, relativamente bem). E no início da novela ele ainda por cima estava de uma magreza assustadora...

3.DEBORAH SECCO - Chega, né? Já é hora da audiência perceber que Deborah Secco é atriz de um papel só. Seja como Darlene ou Bruna Surfistinha ou Sol ou Céu (ou qualquer outro papel, mas qualquer mesmo, qualquer qualquer, como diz a música de Caetano e Gil), Secco é sempre a mesma coisa. Só mesmo quem não tem senso crítico ainda consegue se divertir com suas repetições monótonas. Em "Insensato Coração" ela ainda teve a sorte de contracenar com Ricardo Tozzi e Leonardo Miggiorin (como Douglas e Roni, respectivamente), que tornaram suas cenas menos difíceis de aturar. Mas alguém realmente gostou do final feliz de sua Natalie Lamour?

4. O FREIO ÀS REFERÊNCIAS SOBRE HOMOSSEXUALIDADE - Quando a novela estreou muito se falou sobre a exposição que teria do tema da homossexualidade, com um número recorde de personagens gays e discussões a respeito de homofobia, preconceito e descoberta do desejo. Até depois de pouco mais da metade da trama, tudo transcorria normalmente, com respeito e delicadeza. Aí a hipocrisia reinou: a emissora mandou maneirar no tratamento do assunto, cenas foram cortadas e a discussão ficou restrita à violência. Foi importante, sim, e um passo à frente. Mas a censura da Globo foi um retrocesso feio e vergonhoso. Beijo gay não pode, mas assassinar um homossexual a pontapés não tem problema. Vai entender esse país!

5. O FINAL PREVISÍVEL - Culparam a Internet pelo vazamento dos capítulos finais da novela, mas o fato é que todo o mistério acerca da morte de Norma e os pretensos finais-surpresa deixaram o espectador na mão. Ainda que o motivo que levou Wanda (Natalia do Vale em ótimo momento) a dar cabo de Norma na última semana da trama tenha sido relativamente compreensível, ficou no ar a sensação de "eu já sabia". Foi-se o tempo em que assassinatos nas novelas eram realmente misteriosos (e a reprise de "Vale Tudo" no Canal Viva apenas confirma a teoria) e, além disso, acabaram a história com uma morte anti-climática do vilão Leo. E nem é bom comentar clichês como Marina começando o trabalho de parto em um casamento (dos bons Camila Pitanga e Antonio Fagundes) e as festas que sempre batem ponto nos últimos capítulos.

OS ACERTOS

1. GLÓRIA PIRES - Se alguém ainda tinha dúvidas a respeito do talento imenso de Glorinha ela calou a boca de todos. Ainda que sua Norma tenha demorado a concretizar a vingança que prometia desde o princípio da trama (e que nem de longe tenha enterrado as vilanias de Maria de Fátima, como declarou a atriz antes da estreia) é inegável o domínio da técnica televisiva de Glória, que tornou-se dona da novela assim que sua história passou a dominar o Twitter e outras redes sociais. Sua química com Gabriel Braga Nunes, Juliano Cazarré e Cristina Galvão comprova a teoria: bons atores, em companhia de outros bons atores, apenas crescem e brilham ainda mais. Uma pena foi seu final patético... Ela merecia bem mais por ter carregado a novela nas costas.

2. GABRIEL BRAGA NUNES - Há males que vem pra bem. A saída de Fábio Assunção da novela no início das gravações acabou provando-se uma bênção. Gabriel Braga Nunes aproveitou seu primeiro papel de destaque na Globo para implodir toda e qualquer concorrência. Seu Leonardo Brandão foi o vilão mais interessante e fascinante dos últimos tempos e o ator deu conta do recado com visível satisfação. Suas cenas com Eriberto Leão eram de dar dó pela discrepância de talentos, mas quando estava ao lado de Glória Pires, Antonio Fagundes e Natália do Vale, o filho da atriz Regina Braga não deixava pedra sobre pedra. Sua recompensa já veio: ele assinou um generoso contrato com a emissora.

3. ANA LÚCIA TORRE - Não era preciso muita coisa para que Ana Lúcia Torre roubasse as cenas com a sua venenosa Tia Neném. A veterana atriz foi tão feliz na composição da personagem que os autores resolveram mantê-la na história até o final (ela morreria esfaqueada pelo personagem do português Ricardo Pereira). Palmas para Gilberto Braga e Ricardo Linhares por darem espaço a uma atriz tão brilhante!

4. OS NOVATOS - Sempre que uma novela estreia há espaço para novos talentos. Em "Insensato Coração" não foi diferente. Logicamente que coisas como Jonatas Faro estão no lote, mas boas surpresas também esperam os espectadores. Dessa vez, tivemos revelados os ótimos Juliano Cazarré (excepcional como Ismael), Bruna Linzmeier (como a bela Leila) e Kiko Pissolato (como o malandro Manolo), além da consagração de dois atores já com alguma experiência que atingiram o sucesso merecido: o hilariante Ricardo Tozzi como Douglas e o impressionante Thiago Martins como o pitboy Vinícius, que comprovou que ainda vai muito longe.

5. O RITMO ÁGIL - "Insensato Coração" meio que inaugurou uma nova forma de contar histórias em novelas, contando com a participação especial de dezenas de atores em papéis cruciais mas efêmeros. Passaram pela trama nomes como Tarcísio Meira, Vera Fischer, Ana Beatriz Nogueira, Nívea Maria, Cristiana Oliveira, Fernanda Paes Leme, Bia Seidl e Angela Vieira, dando um ritmo novo à trama. A agilidade da história compensou em vários momentos a pasmaceira do casal principal.

Entre mortos e feridos, salvaram-se todos. "Insensato Coração" não foi nem de longe a melhor novela de Gilberto Braga, mas foi interessante o bastante para manter a atenção da audiência e consagrar aqueles que merecem. O pior é saber que nos próximos meses o público vai ter que aturar mais uma história sem graça de Aguinaldo Silva.... Bom saber que, pelo menos até março de 2012 minhas noites estarão livres....

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SUPER 8

Posted by Clenio on 21:00 in
É impossível assistir-se à "Super 8" - nova incursão de J.J. Abrahams, o criador de "Lost" nas telas de cinema - sem perceber claramente a influência de seu produtor Steven Spielberg. Todo mundo que foi criado seguindo uma dieta recheada de filmes como "ET", "Poltergeist, o fenômeno", "Os Goonies" e "Contatos Imediatos de Terceiro Grau" vai ficar fascinado com a forma com que Abrahams conseguiu atingir a essência do cinema-pipoca do maior representante do estilo e depurá-la para realizar uma obra que, a despeito de seu tom nostálgico e quase infanto-juvenil, é uma delícia para aqueles que ainda acreditam que cinema é entretenimento acima de tudo.

"Super 8" se passa em 1979, em Lillian, Ohio, uma pequena cidade americana que se parece exatamente com os subúrbios de "ET" e "Poltergeist". É lá que vive o pequeno Joe Lamb (o sensacional Joel Courtney), que acaba de perder a mãe em um trágico acidente de trabalho. Filho de Jackson Lamb (Kyle Chandler, um Robert Forster mais jovem), Joe tenta superar a tristeza ajudando seu melhor amigo Charles (Riley Griffiths) a realizar um filme em super-8, um thriller sobre mortos-vivos. Especialista em maquiagem e efeitos especiais, Joe é peça fundamental na equipe do parceiro, que acaba de convidar a bela Alice Dainard (Elle Faning) a juntar-se à trupe. Durante uma filmagem noturna, o grupo (formado ainda por outros quatro colegas) testemunha um espetacular acidente de trem que desencadeia na cidade uma sucessão de acontecimentos bizarros (os cães desaparecem, a eletricidade vai e volta e pessoas somem sem deixar vestígios). A história se complica quando Charles descobre que sua câmera continuou filmando apesar do desastre e a dupla de pré-adolescentes descobre que tudo foi causado por um ser alienígena que, ao que parece, tem contas a acertar com a Força Aérea que invade o local (liderados por Noah Emmerich).

Uma das maiores diversões de "Super 8" é tentar descobrir elementos em comum entre o filme em si e a filmografia referencial de Spielberg (ainda que o próprio Abrahams diga que foi quase tudo inconsciente). Basta prestar atenção que muita coisa pode ser percebida (o protagonista solitário, os rituais de passagem, a violência inofensiva e até o final que resvala no clichê melodramático). Mas ainda assim o novo filme do cineasta que deu vida nova à "Jornada nas Estrelas" tem uma personalidade própria, que o impede de ser considerado uma cópia ou apenas uma homenagem competente. Abrahams tem domínio narrativo, sabe sustentar o suspense, é exímio diretor de atores (o elenco infantil é fabuloso) e, melhor ainda, não trata o público como bobo (coisa que outros filmes produzidos por Spielberg recentemente, como "Transformers", faz explicitamente). Além do mais, dá bons sustos na plateia e apresenta um desastre de trem filmado de maneira impressionante, capaz de fazer cair o queixo do mais blasé dos espectadores.

"Super 8" é uma sessão da tarde às antigas, para reunir os amigos e assistir comendo pipoca. Até se estende mais do que deveria, mas é um oásis de criatividade perto das bobeiras que o cinema adolescente anda produzindo. E não deixa de ser também muito engraçado assistir - durante os créditos finais - o filme de zumbis criado por Charles e Joe. Às vezes é bom voltar à infância cinematográfica.

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CONFIAR

Posted by Clenio on 22:42 in
Depois de dez anos na pele do nerd Ross Geller na série "Friends" a última coisa que se poderia esperar de David Schwimmer é que ele fosse dirigir um filme tão difícil quanto "Confiar". Seguindo o caminho inverso do mais fácil - comandar comédias ou manter-se no gênero como ator - ele construiu um drama familiar sóbrio e contemporâneo que foge das lágrimas fáceis e dá espaço a seus atores brilharem. Ainda que vez ou outra soe como um filme feito para a TV (pela falta de ousadia visual em comparação com a escolha do tema), a segunda incursão de Schwimmer como cineasta - a primeira foi a comédia romântica "Maratona do amor" - mostra uma surpreendente sensibilidade e uma discrição sempre bem-vinda.

A protagonista de "Confiar" é Annie (Liana Liberato), uma adolescente de 14 anos de Chicago, parecida com todas as adolescentes de sua idade e classe social. Promissora atleta do time de vôlei da escola, inteligente e filha carinhosa, ela sofre também com todas as inconstâncias e dúvidas da puberdade. Sua falta de auto-confiança só diminui quando ela está diante da tela do computador, conversando apaixonadamente com Charlie, um jovem de sua idade que mora em outro estado. Conforme sua relação com o rapaz vai tornando-se mais íntima, ela começa a descobrir que ele mentiu sua idade e que é mais velho do que dizia. Isso não a impede de conhecer seu namorado virtual, na verdade um homem de mais de 35 anos (vivido por Chris Henry Coffey) que a leva a um motel e a força a manter relações sexuais. Quando descobre que foi abusada por um pedófilo, Annie entra em conflito com os próprios pais (interpretados por Clive Owen e Catherine Keener), porque não deixa de sentir-se atraída de uma maneira pouco convencional por seu agressor.

O roteiro de "Confiar" tem a inteligência de escapar das várias armadilhas em que poderia cair ao tratar de um assunto tão polêmico. Em momento algum Schwimmer cai na tentação de apelar para o mórbido ou o chocante, preferindo deixar quase tudo na mente do espectador (ainda que a cena da "sedução" seja bastante claustrofóbica e opressiva) e de Will, o pai da vítima, em uma atuação soberba de Clive Owen. É através de Will que o filme se desenvolve, mostrando a angústia de um pai ao perceber a própria impotência diante de um crime tão brutal e ao culpar-se de erros que nem sequer sabia estar cometendo (e que talvez nem estivesse). Essa linha de não tentar impor uma verdade é o que há de mais valioso em "Confiar". As relações entre Annie e a família (marcadas por uma distância paradoxal após a agressão) e entre ela e o criminoso (em quem jamais deixa de acreditar mesmo diante de provas) são complexas, honestas e dramaticamente convincentes, em especial graças ao talento do elenco escolhido pelo jovem diretor.

Se foi a adolescente Liana Liberato quem levou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Chicago, ela deve muito da força de seu trabalho a seus colegas de cena, todos muito além do comum. Viola Davis nem precisa se esforçar muito na pele da psicóloga Gail Friedman para mostrar que merece urgentemente um filme como protagonista (sua colega de "Dúvida", ninguém menos que Meryl Streep, já afirmou isso). E Clive Owen e Catherine Keener estão no tom exato como os pais amorosos e dedicados que veem sua estrutura familiar começar a ruir devido a um ato de violência. É na força do elenco e do tema forte mas nunca apelativo - e que se presta a inúmeras discussões sobre o papel da Internet na sociedade e na família nos dias que seguem - que "Confiar" se sustenta. E um futuro alvissareiro se mostra diante de David Schwimmer.

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QUERO MATAR MEU CHEFE

Posted by Clenio on 19:57 in
Às vezes, para se divertir realmente em uma sala de cinema é preciso deixar do lado de fora alguns preconceitos e embarcar na proposta do diretor sem criar muita expectativa, em especial quando se trata de uma comédia. Fazer rir é uma arte, e infelizmente nem todo mundo ri das mesmas coisas (se assim fosse, coisas como "Vovó...zona" e "As branquelas" seriam banidas de exibição no planeta). De vez em quando, porém, alguns filmes atingem aquela zona comum entre vários públicos e, mesmo que não possam ser considerados exatamente diversão de alta classe, conseguem fazer rir desde fãs de Woody Allen até seguidores de Jim Carrey. Foi isso que aconteceu, por exemplo, com "Se beber, não case", que virou febre e rendeu continuação. E é isso que também ocorre com "Quero matar meu chefe", uma divertidíssima bobagem que segue a linha do já citado "Se beber", mas com um humor menos grosseiro. Quer dizer, UM POUCO menos grosseiro. A fórmula é quase a mesma (três protagonistas talentosos mas pouco conhecidos jogados em uma situação extrema), mas aqui dois elementos fazem a grande diferença: um roteiro mais desenvolvido e um elenco coadjuvante hilariante.

Tudo bem: antes que me atirem pedras, devo esclarecer que, quando digo que o roteiro é mais desenvolvido eu estou falando sobre a trama mais redonda, personagens secundários mais interessantes e um final mais satisfatório do que "Se beber, não case" (referência maior por ter sido o deflagrador de maior sucesso da onda de comédias adultas atuais). O script não é estarrecedor nem inovador, é uma sequência de piadas muito engraçadas - em níveis diferentes mas sempre hilárias, seja em referências culturais (e até mesmo Alfred Hitchcock é citado) ou apelando para o baixo nível (convenhamos, é uma comédia que não quer aumentar o QI de ninguém, apenas fazer rir). Mas é um roteiro defendido com garra por um elenco impecável.

O discreto Jason Bateman vive Nick Hendricks, que acaba de ter sua promoção roubada pelo próprio patrão, o egocêntrico, ciumento e venal Dale Harken (Kevin Spacey deitando e rolando em um papel que lembra seu trabalho no pouco visto "O preço da ambição"). O pouco conhecido Jason Sudeikis interpreta Kurt Buckman, homem dedicado ao trabalho que vê o herdeiro da empresa, o viciado em cocaína e mulherengo Bobby Pellitt (um irreconhecível Colin Farrell tirando sarro da própria imagem) com intenções de dilapidar o patrimônio de seu falecido pai. E o sensacional Charlie Day faz o papel de Dale Arbus, um assistente de dentista que, recentemente noivo, é assediado sexualmente pela chefe, a ninfomaníaca Julia Harris (Jennifer Aniston), que ainda por cima o chantageia. Sofrendo com o ódio que sentem por seus superiores, os três amigos tem a ideia de eliminá-los. Contando com a ajuda do misterioso Motherfucker Jones (Jamie Foxx, também ótimo), eles bolam um plano infalível que os livrará para sempre do jugo cruel dos poderosos chefões.

É para entrar na sala de cinema com uma única coisa na cabeça: é uma comédia, e como tal deve ser apreciada. A química entre o elenco central - e os brilhantes coadjuvantes - e o ritmo ágil que nunca deixa a plateia descansar entre uma situação bizarra e outra são qualidades gritantes, mas é essencial que o público compre a brincadeira. Se não é seu tipo de comédia, fuja, vá rever "Meia-noite em Paris" sem problema. Mas quem gosta de rir sem preocupação com o politicamente correto ou quem está disposto a deixar a sisudez de lado por pouco menos de duas horas, é um prato cheio. E é melhor que "Se beber, não case", um perfeito exemplo de alucinação coletiva. Tenho dito!

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O CASAMENTO DO MEU EX

Posted by Clenio on 22:34 in
Ok, tudo bem que todo mundo adora jogar pedras em comédias românticas, acusando-as de serem umas iguais às outras, sem criatividade e sem mudar nem mesmo os elencos. Mas nem isso justifica que um filme como "O casamento do meu ex" seja feito. Talvez com o objetivo de dar mais densidade a um gênero tão criticado, a diretora/roteirista/produtora Galt Niederhoffer optou por polir sua trama com um falso verniz intelectualóide, como se citar John Keats fosse o bastante para disfarçar um roteiro incongruente e gratuito. Também autora do romance que deu origem ao filme, Niederhoffer tencionou entregar ao público um drama geracional, mas só o que consegue é provocar bocejos.

A trama nem é tão original quanto deveria: um grupo de amigos de faculdade se reúne para celebrar o casamento da delicada Lila (a insuportável Anna Paquin). Uma das madrinhas do casamento é sua melhor amiga, Laura (Katie Holmes), que tem suas próprias razões para não estar nada empolgada com a cerimônia: ela ainda é apaixonada pelo noivo, o charmoso Tom (Josh Duhamel), com quem manteve um caloroso romance que acabou de forma abrupta. Enquanto o noivo tenta tomar coragem em levar adiante sua decisão e Laura força seus sentimentos para não ofender a amiga, os demais convidados fazem um balanço de suas vidas até então e uma troca de casais começa a insinuar-se.

O maior problema de "O casamento do meu ex" (cujo título nacional força a semelhança com outras bobagens ao menos mais divertidas) é a absoluta falta de sentido de seu roteiro. Os personagens criados por Niederhoffer não tem carisma e suas atitudes são imaturas e não dão espaço para maiores discussões ou interesse. A "troca de casais" sugerida pela trama - que acontece apenas pela metade - é gratuita e deslocada e até mesmo o triângulo amoroso central é sofrível. Katie Holmes substituiu Liv Tyler (e assumiu um papel de produtora executiva) mas não consegue convencer como atriz dramática. Josh Duhamel se esforça mas funciona melhor como o galã bobalhão de filmes menos ambiciosos como "Juntos pelo acaso". E Anna Paquin consegue ser irritante mesmo quando está em silêncio nas cenas. Seu trabalho é tão fraco e sua personagem tão chata que fica difícil imaginar o que alguém como Tom poderia querer casando-se com ela, e isso fragiliza toda a estrutura da trama central.

Resumindo, "O casamento do meu ex" é a prova cabal de que comédias românticas previsíveis, ainda que não acrescentem nada à história do cinema, ao menos divertem sua audiência cativa. O drama raso proposto por Gail Niederhoffer só serve para provocar sono no público. Tentar ser eruditoe profundo sem o ser chega a ser vergonhoso.

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CAPITÃO AMÉRICA

Posted by Clenio on 22:27 in
O cineasta Joe Johnston tem no seu currículo alguns filmes que podem ser tranquilamente encaixados na categoria "entretenimento rápido e eficaz", como o longínquo "Querida, encolhi as crianças" e o divertido "Jumanji", mas também consegue ficar muito aquém das expectativas, como o comprovam "Jurassic Park III" e "O lobisomem". De certa forma a sua visão de um ícone ianque, o Capitão América, pode ser considerado um meio-termo entre seus dois extremos. Não é um show de filme como "X-Men" mas também não chega a ser tão risível quanto "Quarteto fantástico" (sintomaticamente com o mesmo Chris Evans no elenco). É um passatempo honesto, escapista e, que, apesar de parecer mais longo do que realmente é (corriqueiros 124 minutos) consegue ser bem-sucedido o suficiente para não fazer feio diante de pesos-pesados como "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2" em termos de bilheteria.

A primeira parte de "Capitão América" é a melhor. Johnston consegue criar um bom clima de tensão ao mostrar o comportamento dos EUA diante da guerra e da ameaça nazista e apresenta seu protagonista Steve Rogers de maneira simpática e convincente (em especial graças à computação gráfica que transformou o fortinho Chris Evans em um esquelético aspirante a soldado). Apaixonado pela ideia de defender seu país contra Hitler e seus asseclas, ele é rejeitado inúmeras vezes devido a seu físico franzino e à fragilidade de sua saúde. Só quem vê nele alguém capaz de colaborar no conflito é Abraham Erskine (Stanley Tucci), um cientista que criou um soro com possibilidade de transformar pessoas comuns em super-soldados. O problema é que o soro também está nas mãos de Johann Schmidt (Hugo Weaving), um oficial nazista que tem ambições ainda maiores que as do III Reich. Transformado em herói, Rogers vira o Capitão América, um ídolo nacional, mas, cansado de ser apenas um fantoche em apresentações artísticas, ele resolve partir pro ataque quando vê seu melhor amigo, Bucky (Sebastian Stan) ser prisioneiro de guerra.

Os fãs mais xiitas do Capitão América tal como é visto nos quadrinhos da Marvel provavelmente não gostaram do filme de Johson, uma vez que ele não tem a aura de seriedade dos filmes dos mutantes de "X-Men", por exemplo. Aqueles que vão às salas de cinema com o objetivo de curtir duas horas de diversão, porém, terão pela frente tudo aquilo que o cinemão-pipoca de Hollywood pode oferecer: cenas grandiosas de ação, humor um tanto duvidoso, romance em doses homeopáticas (entre o protagonista e a militar vivida pela fraquinha Hayley Atwell) e um vilão com pretensões megalomaníacas (apesar da maquiagem de Hugo Weaving fazer a audiência lembrar de "O Máskara", com Jim Carrey a cada momento). Chris Evans faz o que pode com uma personagem bastante unidimensional e a aparição de Samuel L. Jackson na cena final remete imediatamente a "Os Vingadores", que estreia em 2012 (e é a maior aposta da Marvel para o ano que vem). É diversão! E como tal pode ser elogiado. Mas não esperem maiores elocubrações filosóficas ou psicológicas. É pegar a pipoca e um bom lugar na sala de exibição.

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HARRY POTTER E AS RELÍQUIAS DA MORTE - PARTE 2

Posted by Clenio on 00:01 in
Mais de dez anos separam as estreias de "Harry Potter e a Pedra Filosofal" e "Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2". Sendo assim, as adaptações da série literária criada pela inglesa J. K. Rowling são mais do que simplesmente produtos cinematográficos: são companheiros de toda uma geração, que criou-se acompanhando, primeiro nos livros e posteriormente na telona, as aventuras de um bruxinho de bom coração que precisa lidar com seu talento para a magia e com as ameaças de um vilão cruel e assustador. Logicamente os fãs devem estar inconsoláveis com o final da saga, mas em compensação eles podem se gabar de algo que é bastante raro nesse árido deserto de ideias que é Hollywood: seus filmes foram melhorando com o tempo e seu capítulo final é, sem dúvida, um filme de orgulhar até o mais cético dos leitores.

A ideia da Warner Bros de dividir o último livro em dois filmes soou, a príncipio, uma forma de explorar até o final a galinha dos ovos de ouro do estúdio. Quem assistiu aos dois filmes, porém, foi obrigado a dar a mão a palmatória. Da forma que está, separado em dois capítulos, "As relíquias da morte" é o perfeito exemplo de adaptação que respeita os convertidos e não esnoba os espectadores eventuais: é filmado com cuidado, tem uma técnica de cair o queixo, uma trilha sonora impecável e, mais do que tudo, um elenco afinado e que mergulha na fantasia sem medo de parecer ridículo. Ao lado dos ótimos e fiéis Daniel Radcliffe, Emma Watson e Rupert Grint, estão atores do porte de Alan Rickman, Julie Walters, Gary Oldman, Emma Thompson, Helena Bonham-Carter e Michael Gambon. Em nenhum momento eles se comportam como se estivessem em um blockbuster raso: em cena, eles estão tão à vontade quanto em um palco britânico declamando Shakespeare. E é essa seriedade, essa entrega, essa verdade que fazem de "As relíquias da morte" o filmaço que é.

Para quem não sabe, é nesse filme que Harry Potter finalmente tem seu embate final com seu nêmesis, o Lord Voldemort (em uma assustadora e antológica atuação de Ralph Fiennes) - e, como seus fãs cresceram como ele, o diretor David Yates não tem medo de apelar para criaturas apavorantes, cenas violentas e efeitos visuais de arrepiar. Foi-se o tempo em que Potter e seus colegas corriam risco apenas nas partidas de quadribol: agora é a morte que está à espreita (e filmada como foi, é realmente empolgante substituir jogos inocentes por duelos fatais). Podem até reclamar que o filme poderia ter sido um só, mas ver Harry Potter no cinema é um prazer tão ingênuo e divertido que certamente todos os espectadores que já deixaram mais de um bilhão de dólares nas bilheterias desde sua estreia poderiam tranquilamente aguentar terceira, quarta e quinta partes...

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DOIS FILMES COM JENNIFER ANISTON

Posted by Clenio on 20:15 in
Jennifer Aniston é uma boa atriz. Ficar dez anos no ar com o mesmo sucesso não é pra qualquer um, e os fãs saudosos de "Friends" que o digam. Mas a ex- sra. Brad Pitt não se acerta no cinema. Tudo bem que está muito melhor do que seus colegas de elenco, mas não tem coragem de ousar e se arriscar em outro gênero que não comédias românticas - e quando fez isso, com o soturno "Por um sentido na vida", recebeu muitos elogios da crítica. Porém, enquanto ela não ousa e parte pro ataque, o público é obrigado a se contentar em vê-la sempre fazendo o mesmo papel, mudando apenas o colega de cena. Quem duvida que assista a esses dois filmes.

CAÇADOR DE RECOMPENSAS - O diretor Andy Tennant tem bons filmes no currículo - como o belo "Anna e o rei" e o divertido "Hitch", com Will Smith - mas aqui errou feio. Aniston vive a jornalista Nicole Hurley que, em vias de desvendar um caso de homicídio que pode impulsionar sua carreira, passa a ser perseguido por Milo Boyd (Gerard Butler), um caçador de recompenas que pretende capturá-la e levá-la para a delegacia, onde ela está sendo procurada por ter faltado a uma audiência referente à agressão de um policial. O agravante da perseguição: Milo é o ex-marido de Nicole, e logicamente ambos ainda estão apaixonados um pelo outro, ainda que nem pensem em assumir o fato. A química entre Aniston e Butler é agradável, o ator pinta e borda com uma personagem que é a sua cara, mas o roteiro inventou de acrescentar uma desnecessária trama paralela (a investigação policial de Nicole) que tira o ritmo do filme a cada vez em que é lembrada. Vale como sessão da tarde, mas nada mais do que isso.

ESPOSA DE MENTIRINHA - Adam Sandler chamou seu comparsa Dennis Dugan para comandar essa comédia bobinha que perde o rumo em sua segunda metade, mas ainda assim pode arrancar algumas gargalhadas (em especial em seu terço inicial, antes que as personagens partam em viagem para o Havaí). O humorista interpreta Danny Maccabee, um cirurgião plástico que, depois de abandonado no altar, nunca mais se interessou por compromissos sérios, pulando de cama em cama durante anos usando a velha desculpa da aliança de casado. Quando ele cai de amores pela fútil Palmer (Brooklyn Decker) a coisa muda de figura, mas, para conquistá-la, ele precisa convencê-la de que a aliança que ela encontrou em seu bolso não significa nada e que ele está se divorciando. Para fazer o papel de sua esposa nessa patética representação, ele pede ajuda à sua secretária, a bela Katherine (Aniston em pessoa), uma jovem divorciada e mãe de dois filhos pequenos. Logicamente ela aceita a proposta, todos viajam para o Havaí (em uma ideia sem muito cabimento) e lá encontram uma ex-colega de Katherine, a esnobe Devlin (Nicole Kidman totalmente perdida), que pode por tudo a perder. Quem assiste à novela "Insensato coração" talvez tenha percebido a semelhança da trama central com o romance entre as personagens de Petrônio Gontijo e Isabela Garcia, mas o fato é que o filme, apesar de ter seus momentos (em especial graças à menininha Bailee Madison, que vive a filha de Aniston, que sonha em ser atriz) é bastante derivativo e sem graça. Mais uma vez, o que vale é a presença sempre cativante de Aniston e a simpatia de Sandler.

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