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LIVE FAST, DIE YOUNG

Posted by Clenio on 16:59 in


Não sei exatamente quando começou meu fascínio por James Dean. Só sei que foi há muito tempo, provavelmente depois que assisti, de madrugada, a um de seus três filmes. Desde então, o sentimento nunca arrefeceu, recrudescendo vez ou outra, como uma espécie de "paixão sazonal". Sempre que me cai nas mãos algum material sobre o eterno Cal Trask de "Vidas amargas", imediatamente sou tragado por ele, voltando a mergulhar no seu universo particular. Foi assim ano passado com o livro "Boulevard of broken dreams: life, times and legend of James Dean", de Paul Alexander - que centrava sua atenção na vida sexual do ator - e foi assim nessa última semana, quando estive absorto na leitura de "Live fast, die young: the wild ride of making 'Rebel without a cause'", de Lawrence Frascella e Al Weisel. Inédito em português, o livro, como o título explicita, conta, com detalhes, o processo de realização do filme "Juventude transviada" e a forma como ele transformou - para muito melhor - a maneira com que Hollywood via seus jovens e adolescentes.

Em 1955, o nível de delinquência juvenil atingia índices alarmantes nos EUA, chegando até mesmo a obrigar à criação de uma comissão encarregada de estudá-la e tentar diminuí-la. Paradoxalmente, o cinema da época parecia não se importar com o público jovem, retratando-o sempre de maneira superficial e/ou equivocada. Com o objetivo de mudar esse panorama e realizar o definitivo filme sobre a geração imediatamente posterior à sua, o cineasta Nicholas Ray convenceu a Warner Brothers a financiar o projeto, não sem antes tomar o cuidado de ser o principal responsável por todas as decisões artísticas relacionadas a ele. Esse seu insight teve dois efeitos distintos: ele tornou-se um queridinho da revista francesa "Cahiers du cinèma" - que o considerou um dos principais "autheurs" do cinema americano anos depois -, mas, em compensação, teve muitas - MUITAS - dores de cabeça durante as filmagens.

A principal dor de cabeça que o diretor teve chamava-se Natalie Wood, que, até então, aos meros dezessete anos, tinha uma carreira de estrela infantil. Para conseguir o principal papel feminino do filme, que ela considerava sua grande chance de ingressar pra valer no mundo dos atores adultos a jovem Wood não se fez de rogada e usou de todas as armas que possuía, e isso incluía dormir com o diretor de 43 anos. Fugindo da marcação cerrada da mãe, Natalie não só teve um caso com Ray - que lhe deu o empurrão necessário para o sucesso - mas também com seu colega de elenco Dennis Hopper e só não dormiu também com James Dean porque ele não era exatamente chegado na coisa - o que fica bem explícito no livro, quando os autores revelam, sem meias-palavras que a bissexualidade do jovem astro nunca foi segredo para ninguém que conviveu com ele. Dean chegou inclusive a propor que seu amigo/namorado/amante da época, o ator Jack Simmons fosse escolhido para o crucial papel de Plato, o terceiro protagonista do filme. Simmons ficou com um papel menor - quase de figuração - de integrante da gangue de transviados, porque a produção achou que ele era efeminado demais para o papel. Levando-se em consideração que quem interpretou Plato foi Sal Mineo é de se imaginar o grau de delicadeza de Simmons, não??

"Live fast, die young" detalha as filmagens de cada uma das cruciais cenas de "Juventude transviada", deixando claras todas as intenções de Ray e de seu roteirista Stewart Stern em cada sequência, cada enquadramento, cada escolha feita, desde o elenco (que reunia veteranos do teatro a uma equipe de jovens buscando o estrelato) até cada movimento de câmera. Depois de ler o livro é impossível assistir-se ao filme da mesma maneira, uma vez que até mesmo suas mensagens mais subliminares ficam patentes e comprovam o talento e a visão de futuro de Ray, que conseguiu realizar não apenas um pedaço de bom - e eterno - entretenimento, mas também um documento de uma época e um objeto de culto que cresce sem dar sinais de cansaço.

E o culto a "Juventude transviada" é o assunto do capítulo final do livro dos jornalistas Frascella e Weisel. Eles citam cada influência que o filme de Ray causou na cultura mundial - algumas óbvias outras nem tanto. Ficamos sabendo que Dean e sua turma tem ídolos do porte de Bob Dylan, Bruce Springsteen e Morrisey, que Elvis Presley sabia de cor os diálogos do filme - e até namorou Natalie Wood por um tempinho... Natalie, inclusive, é motivo de um dos mais interessantes dos trechos finais do livro. Para encerrar sua narrativa, os autores resumem os anos restantes de Wood e Mineo (que sofreram mortes violentas, conforme previra Dean durante as filmagens), analisando suas carreiras e vidas pessoais de forma imparcial e objetiva.

Fofocas de bastidores existem aos borbotões em "Live fast, die young". Mas cuidadosamente colocadas entre informações pertinentes e análises inteligentes elas não soam como parte de uma edição especial de uma "Contigo" da vida. É um livro essencial para fãs de James Dean, de "Juventude transviada" e de cinema em geral.

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UM SONHO POSSÍVEL

Posted by Clenio on 09:59 in

E eu que achava que um filme não poderia ser pior do que "A caixa"... Doce ilusão. O cinema, assim como tem o dom de me maravilhar constantemente também consegue me decepcionar amargamente, vez ou outra. E nos últimos dias, o vem fazendo com uma frequência assustadora. Primeiro, o suspense pseudo-intelectual de Richard Kelly (se bem que usar a palavra "intelectual" para referir-se a um filme com Cameron Diaz é forçar muito a barra). E agora, "Um sonho possível", um inacreditável drama edificante que deu um inpensável Oscar de melhor atriz a Sandra Bullock. E uso o adjetivo "impensável" pra não dizer "imerecido", "injusto" e "ridículo", porque todas essas características seriam apropriadas, no caso.

É difícil crer que os membros da Academia não conseguiram encontrar 10 filmes decentes no ano de 2009 para indicar ao prêmio máximo - a única justificativa plausível para que o filme tenha encontrado uma vaga entre os finalistas. Baseado em uma história real, o resultado final é um drama vagabundo, que carece de emoção e empatia e, pior do que tudo, é longo, arrastado e caricato ao extremo. Bullock, vestida de perua (cadê o desafio interpretativo aí??) faz o papel de Leigh Anne Tuoyh, uma socialite fútil e vazia que, um belo dia, do nada, resolve cuidar e proteger um jovem de 17 anos problemático, negro, enorme e criado em um bairro violento. Contando com o apoio da família, ela não apenas o salva de um trágico destino como ainda consegue colocá-lo na universidade, graças a seu dom como esportista. Lindo, não? Pena que esse conto de fadas moderno é contado de forma burocrática, pra não dizer preguiçosa.

É inacreditável que Sandra Bullock tenha levado o Oscar por uma atuação tão canhestra e limitada, tendo em vista que disputava o prêmio com Meryl Streep, Helen Mirren e a promissora Carey Mulligan. Em nenhuma - NENHUMA - cena ela mostra mais do que as caras e bocas com que vem "premiando" o público desde que pegou carona no ônibus desgovernado pilotado por Keanu Reeves em "Velocidade máxima". Em comédias românticas até que ela funciona - em algumas, porque "A proposta", por exemplo, já é de chorar - porque não é muito exigida. Mas aqui, tentando se reinventar como atriz séria só o que desperta é pena. Sua personagem - ainda que inspirada em uma pessoa real - não convence absolutamente. É difícil acreditar, por exemplo, que uma mulher como ela possa botar medo em um grupo de marginais apenas ameaçando verbalmente. E isso que nem vou falar das tentativas pífias do roteiro em fazer humor. Todas - TODAS - as piadas são requentadas, patéticas e só podem fazer rir todos aqueles americanos sem noção de qualidade artística que lotaram os cinemas para assistir a essa porcaria. Como diria Nelson Rodrigues, o clichê "pinga do teto e escorre pelas paredes", em diálogos que fariam corar o elenco de "Malhação".

É quase certo que o Oscar pra Sandra Bullock foi uma espécie de prêmio porque ela foi a atriz mais rentável do ano passado (seus dois filmes foram campeões de bilheteria - nem vou citar um terceiro, pelo qual ela levou um provavelmente merecido Framboesa de Ouro). Mas para isso eles poderiam ter lhe dado um carro, um cheque ou um Rolex. Tudo bem que até mesmo Roberto Benigni tem um Oscar, mas é por coisas assim que a cada ano que passa o prestígio da Academia diminui consideravelmente entre aqueles que realmente amam Cinema (com C maiúsculo).

PS - Sandra Bullock consegue fazer outra cara além da mesma que ela apresenta durante todos os excruciantes 130 minutos de projeção?

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MANGLICK OU O AMALDIÇOADO

Posted by Clenio on 15:43 in


Lembram quando Maya, a personagem de Juliana Paes na novela "Caminho das índias" teve que se casar com uma árvore para acabar com a maldição que carregava? Sim, na novela ela era uma "manglick", ou seja, amaldiçoada para o amor, e teve que se casar com uma árvore para fugir de seu trágico destino. Bom, pra ela funcionou... casou com Raj (Rodrigo Lombardi) e, mesmo tendo comido o pão que a Glória Perez amassou teve um final feliz. Pois acho que eu também sou um manglick... não é possível, só isso pode explicar tanto azar na minha vida amorosa. Do jeito que a coisa anda terei que casar com a Floresta Amazônica inteira pra mandar a maré embora... Hare baba!!

Aliás, que saudade de "Caminho das índias"... que novelinha bem chata essa "Viver a vida", credo!!!!

E se não bastasse tudo isso ainda existe a possibilidade daquele escroto-mor Marcelo Dourado ganhar o BBB 10. Depois que a Lia foi eliminada ontem, contra a sem-sal da Fernanda (que só está na casa ainda porque provavelmente esqueceram dela lá dentro) perdi todas as esperanças que o Cadu saia vencedor. Mas juro - e está registrado aqui - que, se o Cadu não levar o milhão e meio nunca mais perderei meu precioso tempo assistindo a essa palhaçada chamada BBB.
Torcer pela vitória do Dourado seria compactuar com um indivíduo preconceituoso, falso, que representa o que de pior um ser humano pode ser (não que outros na casa também não o fossem, mas não estão entre os finalistas...) E não me venham com a bobagem de "torcer pra ele porque ele é gaúcho". Esse tipo de bairrismo tosco e ignorante me revolta o estômago. Então, seguindo o mesmo raciocínio eu teria que achar o Ricardo Macchi um bom ator ou Fresno uma banda digna de nota? Por favor, um pouco de inteligência e identidade não faz mal a ninguém. Uma criatura que tem o desplante de dizer em rede nacional que "homens hetero não pegam AIDS" e que grita em alto e bom som "SEJE homem!" não merece 1,5 milhão de reais. Na verdade não merecia nem uma linha escrita por mim, mas fazer o que? Opiniões não dadas nascem mortas...
E nem estou defendendo nenhum tipo de bandeira porque Dicesar e Serginho também não foram exemplos de conduta dentro do jogo. Reconheço que a situação dos confinados é jogo duro, mas se você não tem condições psicológicas e/ou emocionais pra encarar a parada... assista pela TV! Quem não tem competência que não se estabeleça!
Não vou dizer que não gosto dos barracos que o BBB nos proporciona (e essa edição em particular nos proveu muito bem nesse quesito) ou que torço o nariz porque considero um entretenimento pobre, mesmo porque TV aberta nunca foi sinônimo de qualidade artística, salvo raríssimas exceções. Mas dar a vitória a alguém tão pobre de espírito e com a soberba tão em alta é demais até pra mim que adoro testemunhar bate-boca.

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A CAIXA

Posted by Clenio on 12:57 in

Em 2001, Richard Kelly, com meros 26 anos de idade, lançou o filme "Donnie Darko", um sombrio conto de suspense estrelado pelo então quase desconhecido Jake Gylenhaal que tornou-se cult com o passar dos anos. Apesar de parecer confuso, o filme tinha uma conclusão coerente e, mais do que tudo, prenunciava um auspicioso futuro a seu diretor, que aparentemente tinha muito a dizer e sabia como poucos criar uma atmosfera interessante. Digo "aparentemente" porque, a julgar por "A caixa" (The box), lançado agora no Brasil, "Darko" foi um lapso de talento. "A caixa" não é apenas um filme ruim. Ele chega às raias do insuportável.

Baseado em um conto do escritor Richard Matheson, o filme até que começa bem. Um misterioso homem que tem a metade do rosto queimada terrivelmente (Frank Langella) bate à porta do casal Lewis, Arthur e Norma (James Mardsen e Cameron Diaz) e lhes faz uma proposta aparentemente irrecusável: eles tem que apertar um botão em uma caixa para ganhar 1 milhão de dólares. Acontece que, se fizerem isso, uma pessoa, que eles não conhecem e com quem não tem nenhum contato, morrerá na hora. Logicamente o casal fica intrigado com a proposta, mas como sua vida financeira não está em seus melhores dias, eles acabam aceitando o desafio. Aparentemente está tudo bem, mas o que eles não sabem é que fazem parte de um experimento misterioso que julgará a humanidade através de sua resposta ao teste.

A partir daí é descer ladeira abaixo. Entram em cena portais de água para outras dimensões, conspirações misteriosas, viagens à Marte e tudo o que de mais tenebroso um episódio ruim de "Arquivo X" poderia proporcionar se tivesse roteiristas movidos à ácido. O roteiro de Kelly apresenta milhares de questões e não resolve nenhuma delas a contento (isso QUANDO resolve alguma delas), levando o espectador a uma viagem tão longa quanto confusa. A edição é sofrível (não há unidade visível entre uma cena e outra), as discussões éticas que tenta levantar não passam de um nível rasteiro (também, olha o casal central que escolheram...) e nada, absolutamente nada, é verossímil e/ou empolgante. Até mesmo a escolha acertada de Frank Langella fica deslocada, uma vez que ele pouco tem a fazer, recitando as frases feitas que lhe colocaram na boca.

Não é difícil entender porque "A caixa" foi tão mal de bilheteria e crítica: nem mesmo os fãs do gênero (suspense? ficção científica?) conseguiram aturar o que parece ser um Stephen King de oitava categoria (e isso comparado não a filmes como "O nevoeiro" e sim a coisas como "O apanhador de sonhos"). Isso é que dá perder tempo assistindo a um filme com a Cameron Diaz...

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FILMES QUE MUDARAM A MINHA VIDA - TRAINSPOTTING, SEM LIMITES

Posted by Clenio on 17:19 in

TRAINSPOTTING - SEM LIMITES (Trainspotting, 1997) Direção: Danny Boyle. Roteiro: John Hodge, baseado no romance de Irvine Welsh. Fotografia: Brian Tufano; Montagem: Masahiro Irakubo. Elenco: Ewan McGregor, Robert Carlyle, Ewen Brenner, Jonny Lee Miller, Kelly McDonald.

Em 1997 eu estava pronto para tudo: escolher um emprego, uma carreira, uma família. Comprar uma TV enorme, máquina de lavar, um carro, CD player... Me educar para ter uma boa saúde, baixo colesterol, plano de saúde. Tinha uma visão quase clara do meu futuro (ou pelo menos achava que tinha...) E aí surgiu um filme que sacudiu todas as minhas certezas e me fez ver tudo de cabeça pra baixo. Talvez minha mãe tenha até hoje a vontade de processar Danny Boyle, Irvine Welsh e Ewan McGregor, mas o fato é que "Trainspotting - sem limites" não só mudou minha visão de mundo como me fez descobrir que havia muito mais a explorar em termos de diversão, sexualidade e estilos de vida do que supunha minha vã filosofia.

Sexo? Sim, por favor, de todos os tipos e em todos os momentos. Drogas? Hum... posso trocar por uísque com energético? Rock and roll? Tudo bem, mas rola um techno, também??? "Trainspotting" me introduziu no mundo das festas "desregradas", onde a única regra é diversão. Me ensinou a ouvir música eletrônica sem fazer careta. Chamem-me de fraco, influenciável, sem identidade, mas por causa dele eu tive vontade de beber até cair pelo menos uma vez (e o fiz diversas vezes....), de dançar enlouquecidamente até amanhecer (e o fiz diversas vezes...) e de mandar à merda as ambições antigas que não mais me pareciam atraentes (e isso ainda o faço, constantemente...).

"Trainspotting" não me levou a usar drogas, o que provavelmente enfraquece a teoria de que filmes são culpados pela maioria das tragédias que volta e meia acontecem mundo afora. Mas também não foi o responsável por me afastar delas (e isso, contestem o quanto quiserem, é papel dos pais). O filme glamourizava o uso de heroína? Acho que não, a não ser que se considere mergulhar em um vaso sanitário dos mais imundos já mostrados na história do cinema atrás de um supositório da droga uma experiência agradável. Condenava o uso de drogas? Claro que não, ou você já viu alguma propaganda negativa de um produto (QUALQUER PRODUTO!!) dizer que utilizá-lo é melhor do que o melhor orgasmo da sua vida? O roteiro de John Hodge (adaptado de um romance cult de Irvine Welsh só traduzido para o português anos depois do lançamento do filme) não julga, não aponta dedos, não prega, não vitimiza: apenas conta a história de suas personagens e de suas escolhas. Faz rir em vários momentos (um humor nigérrimo, logicamente) e choca em diversos outros (sem nunca apelar para o gratuito). Tem um senso plástico apurado (a overdose do protagonista, por exemplo, é um primor de criatividade, fugindo dos clichês da situação) e uma ironia sempre bem-vinda. A edição inteligente de Mashiro Irakubo apenas contribui para dar estofo estético às viagens imaginadas pelo diretor Danny Boyle (que, anos depois, sairia consagrado de uma festa do Oscar por "Quem quer ser um milionário?", filme bom, mas a anos-luz de distância de seu frescor e ousadia mostrados aqui).

Graças a "Trainspotting" eu deixei de achar que as noites de sábado eram constituídas de jantar e Supercine. Por causa de Mark Renton me apaixonei pelo talento de Ewan McGregor e pelos filmes que fugiam do mainstream. Se não fosse "Trainspotting" talvez eu jamais conhecesse "Born slippy", a música que muito embalou minhas baladas regadas a todo tipo de bebida destilada (menos tequila... por enquanto). E ainda bem que o filme foi feito, senão sabe-se lá quando eu descobriria que existe uma sociedade muito mais aberta à diversidade e ao hedonismo do que eu poderia imaginar... e hoje talvez eu estivesse em casa guardado por Deus contando vil metal.

Ah... se o filme é bom cinematograficamente falando? Em primeiro lugar, não sou de ficar me deixando influenciar por porcarias. Em segundo, é pouco provável que qualquer crítico de cinema possa considerá-lo ruim: é bem escrito, bem dirigido, tem um elenco muito bem escalado e tecnicamente é bastante original (chegou até mesmo a concorrer ao Oscar de roteiro adaptado, veja só!!). Mas o que posso dizer com certeza a seu respeito é que poucos filmes captaram tão bem o espírito do final dos anos 90 quanto ele. E viva "Trainspotting"!

AVISO: Essa seção não tem a menor intenção de reiterar escolhas de críticos ou babar ovo em cima das maiores bilheterias da história (aliás, bilheteria é o que menos importa aqui). Todos são filmes que, por um motivo ou outro fizeram da minha vida algo melhor, por razões mil. É uma lista bastante aleatória, democrática e os títulos que dela participam tem apenas uma coisa em comum: são filmes que vi, revi, trevi e verei sempre que meu coração mandar.

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VALE TUDO - A MELHOR NOVELA DA HISTÓRIA

Posted by Clenio on 16:25 in

Imagine uma novela das oito que falasse, ainda que sutilmente,e em níveis variados, de prostituição masculina, alcoolismo, lesbianismo, corrupção. Imagine uma vilã que fosse capaz de deixar a própria mãe sem ter onde morar, que roubasse o namorado da melhor amiga, que traísse o marido, tentasse abortar, vendesse o filho recém-nascido, tentasse matar o filho de uma rival e roubasse o marido da única amiga que lhe restou depois de todo esse currículo - entre outros pecadinhos menores mas tão prejudiciais quanto. Imagine uma novela do horário nobre (com toda a família reunida para assistir) que fizesse o país inteiro parar para tentar descobrir o assassino da vilã-mor e quando revelasse seu final, o mesmo fosse coerente e surpreendente. Pense em um elenco de ATORES - e não jovens em busca de glória fácil - recitando um texto forte e vigoroso. E imagine uma obra de televisão que tivesse a ousadia de encerrar sua história com a vitória dos vilões e uma ironia profunda sobre o estado sócio-econômico do país. Imaginou? Não seria muito mais interessante do que "Viver a vida", por exemplo? Pois saiba que esta novela já existiu e foi apresentada há 22 anos (isso mesmo, mais de duas décadas atrás). Se chamava apropriadamente de "Vale tudo" e, a meu ver, é um dos marcos mais importantes (senão O mais importante) da história da teledramaturgia brasileira de todos os tempos.

Escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères, "Vale tudo" estreou em maio de 1988, substituindo a anêmica "Mandala", de Dias Gomes, que pretendia causar polêmica com uma releitura de "Édipo rei", de Sófocles, mas causou apenas sono e um pequeno escândalo com o romance entre seus atores principais (a saber, Vera Fischer e Felipe Camargo). Dirigida por Dênis Carvalho, a trama foi escrita quase às pressas quando uma sinopse de Gilberto, passada no mundo da fórmula 1, foi rejeitada pela emissora. Inspirado na trama principal do filme "Alma em suplício" (Mildred Pierce), que deu o Oscar de melhor atriz à Joan Crawford, o autor resolveu então contar uma história de "bem contra o mal" colocando frente-a-frente mãe e filha com personalidades e ideologias bem opostas. Dessa espinha dorsal aparentemente simples, surgia a novela que iria parar o Brasil pelos próximos oito meses.

Para aqueles que não assistiram ou não lembram (se bem que é difícil esquecer), "Vale tudo" começa em Foz do Iguaçu, onde Raquel Acioly (Regina Duarte, quem mais?) trabalha como guia turístico para sustentar a filha única, Maria de Fátima (Glória Pires no trabalho que a consagrou junto a público e crítica), uma jovem de 21 ambiciosa cujo maior sonho é tornar-se modelo. Seu sonho começa a parecer algo tangível quando ela conhece César Ribeiro (Carlos Alberto Riccelli em sua única atuação decente até hoje), que, antigo frequentador assíduo de passarelas e capas de revistas, se encontra em uma encruzilhada na carreira, graças a seu vício em drogas e problemas com a justiça. Influenciada por César, Fátima vende a casa onde mora com a mãe e parte pro Rio de Janeiro com dois objetivos: ser modelo ou arrumar um marido rico. Deseseperada e sem ter onde morar, Raquel também vai pra Cidade Maravilhosa, onde conhece Ivan Meirelles (Antônio Fagundes), um homem bem formado e competente que, devido a conjuntura do país, está desempregado. Os dois se apaixonam mas acabam sendo separados por Fátima, que assim joga Ivan nos braços de Heleninha Roitman (Renata Sorrah, impecável), uma artista plástica alcóolatra que vem a ser irmã da vítima de Fátima em seu caminho ao poder: o jovem empresário Afonso (Cássio Gabus Mendes), filho da poderosa Odete Roitman (Beatriz Segall em atuação antológica). Com a ajuda de Odete, Fátima se casa com Afonso, roubando-o de Solange (Lídia Brondi), sua melhor amiga no Rio. Antes do casamento, no entanto, Raquel descobre as armações da filha e tenta desmascará-la frente à futura sogra (em uma cena que merece figurar para sempre em qualquer antologia sobre televisão no mundo). Vitoriosa, com o poder à sua frente, Fátima parte para Paris com seu marido rico e Raquel, ferida em seus brios, começa uma escalada rumo ao sucesso profissional. De vendedora de sanduíches naturais ela, em um ano, torna-se a proprietária da cadeia de restaurantes Paladar, que passa a fornecer comida até mesmo para os aviões da TCA, empresa aérea de propriedade dos Roitman.

Um ano depois de seu casamento com Afonso, Fátima retorna ao Rio de Janeiro e vai morar com o marido na mansão da tia deste, Celina (Nathalia Thimberg). Desnecessário dizer que, neste meio tempo, ela nunca abandonou seu caso extra-conjugal com César, seu cúmplice em todas suas falcatruas. Seu objetivo depois do casamento passou a ficar com o marido por dois anos (o que lhe garantiria um bom dinheiro após a separação) ou engravidar dele. A primeira opção mostra-se inútil quando ela é flagrada nos braços do amante e a segunda torna-se um pesadelo quando, depois de nascido, se descobre, graças a um teste de DNA (então raro no país), que o pai do bebê é César. Mesmo escorraçada de casa, Fátima ainda consegue vender o filho para um casal estrangeiro (Raquel salva a criança na última hora) e é acolhida apenas por Leila (Cássia Kiss), que a hospeda em sua casa para descobrir, pouco depois, que sua convidada a está traindo com seu marido, o presidente da TCA Marco Aurélio (Reginaldo Faria). Seu inferno astral parece não ter fim, principalmente quando ela descobre que César está tendo um romance com a poderosa Odete Roitman, que morre assassinada logo a seguir. Mesmo sendo claramente inocente do crime, Fátima é acusada do homicídio e não tem como se defender sem implicar Ivan (novamente envolvido com Raquel) em um tenebroso caso de corrupção. Pela primeira vez fazendo uma boa ação, ela só pode ser salva pelas pessoas que mais prejudicou em sua vida.


O final da novela não poderia ser mais acertado. Raquel confessa o assassinato de Odete e para não ver a mulher que ama presa, Ivan assume sua corrupção, sendo condenado a um ano de prisão (aliás, todos os que são castigados com a cadeia no final são bandidos pequenos, de empregadas domésticas a assessores pessoais). Marco Aurélio acaba sendo acusado do crime por ter fugido do país com 12 milhões de dólares roubados da empresa (a assassina era sua esposa, Leila, que matou Odete por engano, pensando tratar-se de Fátima). E Maria de Fátima?? Acaba se casando, apenas no papel, com um príncipe italiano amante de César, uma jogada que lhe rende 5 milhões de dólares.


Se não bastasse sua trama perfeita e personagens memoráveis, "Vale tudo" apresentou, em seu tempo de exibição, atuações que jamais poderão ser superadas em quaisquer níveis (nem mesmo a versão latina da novela chegou aos pés). Qualquer cena com Regina Duarte e Glória Pires é pra se assistir de olhos fascinados (e são cenas que duram, às vezes, mais de dez minutos SEM CORTES). Beatriz Segall, como Odete Roitman marcou seu nome no rol das vilãs mais odiadas da história das novelas. Renata Sorrah tornou-se inesquecível como a bêbada Helenina Roitman, cujos porres são até hoje objeto de culto (os acessos aos vídeos no Youtube estão aí para provar o que eu digo). O casal fictício vivido por Cássio Gabus Mendes e Lídia Brondi tornou-se casal na vida real também (e Lídia fez apenas mais duas novelas para depois aposentar-se precocemente da TV). E o que falar do mordomo cinéfilo vivido por Sérgio Mamberti? Ou da emergente Aldeíde Candeias de Lília Cabral? Ou do fiel amigo Poliana, interpretado por Pedro Paulo Rangel? Saudades do tempo em que uma novela poderia ser considerada uma forma de arte e que o politicamente correto ainda não estragava o prazer de se assistir a uma boa vilã em ação (e Odete Roitman chantageou, envenenou maionese, fez negociatas escusas, separou casais e chegou ao cúmulo de matar o próprio filho e botar a culpa na filha alcóolatra).


Aliás, a distância de 22 anos separando a estreia de "Vale tudo" dos dias de hoje nos possibilita outros prazeres: hoje em dia é impossível ver qualquer personagem fumando em qualquer novela de qualquer horário. Em "Vale tudo" quase todo mundo fumava (e não apenas os vilões. Inclusive eles é que quase nunca apareciam de cigarro em punho...). A maioria absoluta das cenas internas da novela tinha uma iluminação de filme noir (a saber, uma escuridão esfumaçada) e alguns ângulos de câmera eram, na época, inovadores (algumas cenas eram filmadas de cima, outras de lado, outras ainda no nível do chão). E não deixa de ser engraçado assistir a uma novela em que ter um vídeo-cassete era um luxo, aparelhos de CD eram apenas importados, celulares não faziam parte do dia-a-dia nem dos milionários e beber Keep Cooler era o que havia de mais moderno entre a juventude (até mesmo um Danton Mello criança está no elenco da novela, assim como Marcello Novaes em sua primeira aparição na Globo). E mais: até mesmo Adriana Esteves e Daniela Escobar fizeram cenas em "Vale tudo" (como modelos, mudas do primeiro ao último minuto).


E como não falar da trilha sonora? Quantas novelas tiveram o luxo de ter na mesma trilha nacional (em LPS, logicamente, com Antônio Fagundes na capa), Gal Costa, Maria Bethânia, Cazuza, Ivan Lins, Veronica Sabino, Gonzaguinha, Barão Vermelho, João Bosco? E na internacional (com Cássio Gabus e Lídia Brondi na capa) batiam ponto George Michael, Whitney Houston, Rod Stewart, Supertramp, Sade, Charles Aznavour e Tracy Chapman (quem nunca dançou agarradinho ao som de "Baby can I hold you?"). Canções como "Faz parte do meu show" e "Brasil" (ambas compostas por Cazuza) fazem hoje parte do inconsciente coletivo dos brasileiros e boa parcela de responsabilidade disso certamente vem do fato de terem embalado as personagens da novela.

Reassistir a "Vale tudo" foi um prazer pleno. Os oito meses que a novela durou passaram em quatro no meu aparelho de DVD, tamanha a ansiedade de ver o capítulo seguinte (e foram quase todos geniais, em texto, atuações e direção). Não havia crise de criatividade em "Vale tudo": nenhum capítulo era desnecessário, supérfluo ou banal. Foi uma novela que parou um Brasil que estava na euforia de sua primeira eleição para presidente em décadas (eleição que infelizmente colocaria Fernando Collor no poder) e que estava voltando a acreditar que havia uma luz no fim do túnel. Muita gente ainda acreditava que era possível ser honesto aqui, assim como Raquel Acioly. Ela era admirada por sua honestidade. Mas quem, no fundo, nunca torceu, um pouquinho que fosse, pela sensacional Maria de Fátima???

PS - Muitíssimo obrigado aos amigos queridos que me deram de presente de aniversário a possibilidade de rever minha novela preferida!!!

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A SOLIDÃO DOS NÚMEROS PRIMOS / O ESTRANGEIRO

Posted by Clenio on 12:10 in

Confesso que fui meio relapso nas últimas semanas e não me dediquei à leitura como deveria ter feito. Talvez seja a ressaca do Oscar e a volta da minha obsessão por rever filmes clássicos - para comentários no blog www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com (favor visitar e comentar) - ou talvez tenha sido preguiça, mesmo, mas não li tanto como no mês passado. Mesmo assim, não posso deixar de comentar as duas obras que me acompanharam ultimamente. São dois livros separados pela distância do tempo, das ambições e dos sentimentos que me provocaram.

O primeiro é um livro italiano recente, recomendado por amigos e que, apesar dos dois primeiros capítulos fascinantes, não chegou a me empolgar: "A solidão dos números primos", de Paolo Giordano (Ed. Rocco). O livro conta a história de amor?amizade?compreensão mútua? entre duas pessoas de certa forma marginais à sociedade (por escolhas pessoais e por traumas de infância). Alice é uma jovem que sofre de um grande complexo estético devido a um acidente de esqui que condenou-a a mancar pelo resto da vida. Mattia é um rapaz que se auto-mutila desde a ocasião em que foi responsável pelo desaparecimento da irmã gêmea com problemas mentais. Eles se conhecem na adolescência e tornam-se amigos, principalmente devido a suas deficiências emocionais e sentimentais e, mesmo seguindo suas vidas de maneiras diferentes (ele se forma em Matemática e vive em uma quase reclusão amorosa e ela se casa com o médico que tratou do câncer de sua mãe mesmo sabendo que o casamento está fadado ao fracasso) mantem-se sempre em contato um com o outro, mesmo que em pensamento.

Na verdade, "A solidão" é um livro que versa principalmente sobre "sentir-se" deslocado, desconfortável com o próprio corpo, a própria vida. Nenhum dos dois protagonistas do livro é feliz com o que tem ou o que sente, refugiando-se como podem em esconderijos pessoais: Mattia ama a Matemática mais do que os seres humanos e Alice tenta se enquadrar à sociedade com um casamento sem amor. Nem mesmo os coadjuvantes são exemplos de auto-aceitação: o amigo gay de Mattia e a colega sádica de Alice também sofrem por não enquadrar-se em padrões pré-estabelecidos (ele por sua sexualidade, ela por viver em um mundo fútil e de mentira). E talvez esse sentimento de inadequação seja o que une "A solidão dos números primos" ao outro livro que finalmente tive a decência de ler. Não me culpem, só agora li "O estrangeiro", de Albert Camus (Ed. Record).

Não sei porque, mas sempre adiava a leitura do clássico absoluto de Camus. Talvez achasse que era profundo demais, ou até mesmo chato. Mas certas coisas chegam na hora certa e, aproveitando a fase meio existencialista pela qual venho passando (questionando amizades, amores, estilos de vida, certezas até então tidas como absolutas, etc) resolvi encarar a aventura de Mersault, um argelino comum, que, devido a circunstâncias trágicas e quase surreais, acaba matando um árabe e vai a julgamento. A história contada por Camus (trágica, absurda, densa) é apenas o pano de fundo para divagações sobre a vida, sobre a liberdade, sobre o amor, sobre a falta de perspectiva do ser humano. Mersault é um ateu, um homem que não tem maiores amores ou afetos (nem mesmo a morte de sua mãe, que abre o romance e o atravessa como um eco infinito o abala consideravelmente) e que leva sua vida ao sabor do vento. Nem mesmo quando corre o sério risco de ser condenado à morte ele é capaz de levantar-se contra o destino. Para Mersault, a vida é pra ser levada, sem maiores esforços, sem grandes paixões. Na verdade, ele é apático perante tudo que lhe é apresentado, indiferente às coisas boas e más da existência, um homem levado pela correnteza dos acontecimentos, que não luta nem mesmo contra a possibilidade de ser executado.

"O estrangeiro" foi escrito em 1957, mas aparenta ter sido publicado ontem, tamanha a sua compreensão do sentimento de vazio que parece hoje ser moeda corrente. Todos aqueles que um dia, como eu, sentiram-se simplesmente cansados e/ou pessimistas, não podem deixar de identificar-se com seu último diálogo com um capelão:

"- Não tem então nenhuma esperança e consegue viver com o pensamento de que vai morrer todo por inteiro?
- Sim - respondi."


De certa forma "A solidão dos números primos" e "O estrangeiro" tem pontos em comum: são tristes, diria até pessimistas em relação à natureza do ser humano. Mas quem há de negar que a tristeza inspira muito mais do que a felicidade???

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EX-NAMORADOS... UMA AMEAÇA CONSTANTE

Posted by Clenio on 21:18 in

Situação número 1 - Ele conheceu um homem mais velho e, mesmo que não fizesse o seu tipo, achou que era melhor lhe dar uma chance, afinal, dizem por aí, "não custa nada experimentar". Foi bom, se deram bem e no dia seguinte o tal cara iria viajar - show da Beyoncé em Florianópolis (soooooo cliché, but anyway...). Dois dias depois recebeu um torpedo carinhoso - "Tocou Alanis Morissette no show e lembrei de você." O rapaz se animou, afinal poderia ser que a solução era realmente dar chance a pessoas com mais experiência e segurança. Marcaram de se encontrar quando ele voltasse, em dois dias. Os dias passaram. O rapaz mandou um torpedo convidando para uma baladinha e teve de volta a bela notícia: "Estou voltando pro meu ex-namorado!"

Situação número 2 - Ele achava o rapaz meio cheio demais de si pra aguentar, mas não é que aquela noite ele estava interessante? Algumas pinãs coladas de um lado e algumas taças de champagne de outro, começaram a conversar. O "cheio de si" tinha apenas a aparência de alguém que se achava superior aos outros. Confessou que estava de olho no rapaz há anos, que sabia quase tudo sobre sua vida, seus projetos, suas amizades... Apresentou-o a sua amiga e ouviu-o dizer que adora namorar, que é um homem sério, advogado, coisa e tal... O beijo era bom, e nos dias seguintes o rapaz chegou a preferir que ele lhe ligasse, ao invés daquele outro, que tem como "o amor de sua vida". Loucura das loucuras: chegou a desconfiar que poderia se apaixonar de novo e chegou a perder noites de sono pensando na possibilidade de um novo amor. Extremo máximo de exposição, chegou a ir a um bilhar vê-lo cantar - sim, ele cantava bem, apesar do repertório um tanto cafona - e apresentou-o a outros amigos. Estava nas nuvens, com a luz de um novo amor brilhando em seu firmamento (parece letra de pagode romântico, mas era consequência do final de semana surreal a que sujeitou-se). Alguns dias depois, com certa saudade, resolveu tomar uma atitude e mandou um recado, convidando para um programinha. Recebeu um torpedo: "Bah, foi mal, voltei pro meu namorado!" Sim, aquele ex-namorado que estava no bilhar e que, segundo palavras dele mesmo "não tinha mais nada a ver!"

Essas duas situações - reais e recentes - serviram pra me fazer questionar seriamente um ponto que volta e meia volta à tona em conversas com amigos: qual a real força de um ex? Segundo palavras sábias de uma grande amiga, "voltar pra ex é relaxamento!!". Concordo em gênero, número e grau. Voltar com ex-namorados é um retrocesso sem tamanho, mesmo porque muitas vezes isso acontece por puro comodismo. As pessoas tem medo de se jogar em relações outras, normalmente tão difíceis - e julgar, quem há de? - e acabam preferindo um relacionamento morno, sem maiores novidades, mesmo que elas não tragam mais a felicidade e os arrepios que um namoro novo proporciona. Seguindo esse mesmo raciocínio, temos que reconhecer que um namorado antigo tem certas vantagens: sabemos seus defeitos, aproveitamos suas qualidades, temos histórias a lembrar, normalmente conhecemos sua família... Fim de namoro não é das coisas mais fáceis do mundo, mesmo um namoro curto, e o conforto que um relacionamento fixo concede ao casal conta muitos pontos naqueles momentos de solidão que atingem qualquer pessoa normal. Nesses momentos de crise, o que é mais fácil, tentar encontrar alguém e recomeçar toda aquela ladainha de um novo amor ou manter o que já deu certo?

Mas se deu certo, por que acabou? Aí é que entra minha dúvida. Quando um namoro acaba é porque chegou a um ponto onde um dos dois membros do casal - ou até mesmo os dois, às vezes - percebeu que não rola mais. Existem milhares de motivos pro final de um relacionamento: traição, tédio, diferença de temperamentos, fim da paixão, distância, só pra citar os mais comuns. E vamos e venhamos: nenhuma dessas situações - talvez a distância, mas só talvez - muda com o tempo e se muda é pra pior. Se uma relação não deu certo antes não vai ser depois de uma reconciliação que vai dar. As pessoas não mudam. Podem tornar-se mais tolerantes, menos ciumentas, mais esforçadas, mas a sua essência vai permanecer a mesma e depois de um curto período de tempo as brigas vão voltar, a crise vai retornar e um novo e mais doloroso final vai acontecer. Tudo bem, nada dura pra sempre, mas se vamos sofrer as dores de um processo como o de uma separação não seria mais inteligente sofrer por uma pessoa nova? Sofrer mais de uma vez pela mesma criatura me soa como burrice insuperável. E envolver mais gente nesse processo de preguiça sentimental é provavelmente uma das mais cruéis e imperdoáveis ações que alguém pode cometer.

O rapaz que foi trocado duas vezes por ex-namorados de seus pretendentes? Também ele tinha seu ex. E não era um ex qualquer. Era O ex, aquele por quem era capaz de mover montanhas, cometer assassinatos, roubar bancos e ignorar todo e qualquer vestígio de auto-estima. Pra ele, uma reconciliação com esse ex seria não só justificável mas o mais justo depois de anos de sofrimento. Não seria, em sua opinião, uma volta por comodismo e sim por puro e verdadeiro amor. E até mesmo ele chegou à conclusão - antes tarde do que nunca - de que passado é coisa de museu. Não quer se juntar ao grupo dos preguiçosos. Prefere ser do time daqueles que buscam uma felicidade real, ainda que normalmente ela pareça existir somente pros outros.

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EDUCAÇÃO

Posted by Clenio on 17:15 in

Existem inúmeras maneiras de um filme conquistar seu público. Astros com cachês milionários, efeitos visuais de ponta, orçamentos estratosféricos, campanhas de marketing enlouquecedoras... Mas nada disso é suficiente se falta o essencial: gente. Pessoas, com sentimentos dúbios e por essa razão mesmo verdadeiros são ainda o principal motivo que faz com que duas horas no escurinho do cinema não sejam apenas 120 minutos de uma vida jogados fora. E é justamente esse senso de "humanismo" que gera filmes como "Educação", que, mesmo sem nenhum dos ingredientes citados acima conquistou seu lugar ao sol em várias listas de melhores filmes do ano passado. Glória suprema? Indicações ao Oscar de melhor filme, melhor atriz (Carey Mulligan) e roteiro adaptado (trabalho a cargo do escritor Nick Hornby). Merecia mais.

"Educação" é baseado no livro de memórias de Lynn Barber e se passa na Inglaterra do início dos anos 60, tempo do existencialismo francês e da explosão do jazz. A protagonista é Jenny Mellor (vivida por uma Carey Mulligan impecável), uma adolescente de 16 anos, filha única, extremamente cobrada pelos pais (Alfred Molina e Cara Seymour), que a querem vê-la estudando em Oxford, como maneira de melhorar de vida. Seus objetivos, no entanto, começam a sofrer alterações quando ela conhece David Goldman (Peter Sarsgaard), um homem duas décadas mais velho, que, sedutoramente, a apresenta a um mundo totalmente novo. Ao lado dele e de um casal de amigos da mesma idade, Jenny passa a frequentar clubes noturnos, concertos de jazz, leilões de arte e até mesmo conhecer a Paris de seus sonhos. A princípio contra a vontade de seus pais e posteriormente incentivada por eles, a jovem inicia seu próprio processo de educação, chegando a questionar a formação acadêmica da escola onde estuda (e batendo de frente com algumas professoras, vividas pelas ótimas Olivia Williams e Emma Thompson).

Contar mais sobre "Educação" é tirar o grande prazer que é surpreender-se com sua elegância, sua classe, seu humor sutil e britânico, pontuado por uma cálida trilha sonora e uma reconstituição de época acima de qualquer crítica. A história de amor entre Jenny e David se desenrola em seu próprio ritmo, imposto pelas convenções sociais do período e pela decisão da protagonista em manter sua pureza até os 17 anos. É uma história sem maiores sobressaltos (com exceção do último e chocante) contada com delicadeza pela estreante Lone Scherfing e interpretada com talento de gente grande por Carey Mulligan (que merecia bem mais o Oscar deste ano do que a vencedora). Ao lado de veteranos das telas, a jovem Carey irradia frescor, inteligência e abre seu caminho para futuros e maiores voos.

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MEU MUNDO E NADA MAIS

Posted by Clenio on 11:02 in


"Quando eu fui ferido vi tudo mudar
Das verdades que eu sabia só sobraram restos
E eu não esqueci toda aquela paz que eu tinha...

E eu que tinha tudo hoje estou mudo, estou mudado
À meia-noite, à meia-luz pensando
Daria tudo por um modo de esquecer.
Eu queria tanto estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia-luz sonhando
Daria tudo por meu mundo e nada mais.

Não estou bem certo se ainda vou sorrir sem um travo de amargura.
Como ser mais livre, como ser capaz
De enfrentar um novo dia??

E eu que tinha tudo hoje estou mudo, estou mudado
À meia-noite, à meia-luz pensando
Daria tudo por um modo de esquecer.
Eu queria tanto estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia-luz sonhando
Daria tudo por meu mundo e nada mais."
(Guilherme Arantes)

A cada dia mais me obrigo a fechar-me em mim mesmo. Cada pessoa que deixo entrar na minha vida sai dela devastando tudo, levando junto minha auto-estima e minha capacidade de acreditar. Estou em vias de chegar a um ponto em que estarei tão fechado, mas tão fechado que nem mesmo vou perceber que um dia fui humano.

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ILHA DO MEDO

Posted by Clenio on 11:51 in

Nenhum fã de cinema de verdade pode, em sã consciência negar o fato de que Martin Scorsese é um dos cineastas mais geniais em atividade em Hollywood. Quem duvida só precisa dar uma conferida na lista de algumas de suas obras-primas e perceber que esta não é uma declaração leviana: "Taxi driver", "Touro indomável", "A última tentação de Cristo" e "Os bons companheiros" são filmes essenciais do panorama do cinema americano dos últimos 40 anos. Por isso não deixa de ser decepcionante assistir-se a "Ilha do medo", seu primeiro trabalho pós-Oscar por "Os infiltrados". Nem mesmo o fato de basear-se em um espetacular romance de Dennis Lehane (que também escreveu "Sobre meninos e lobos", filmado por Clint Eastwood) salva o filme de ser apenas um esboço do que poderia ter sido, caso escolhas mais corretas tivessem sido feitas no processo de produção.

Talvez o maior erro do filme seja a escolha de Leonardo DiCaprio para o papel principal. Novo queridinho de Scorsese - substituindo má e porcamente sua parceria com Robert DeNiro nos anos 70 e 80 -, o astro de "Titanic" ainda não consegue convencer como adulto, sempre deixando capenga filmes que poderiam ter sido melhores com outro ator em seu lugar (alguém duvida que "O aviador" poderia ter sido infinitamente melhor com alguém do porte de Edward Norton, por exemplo?). Sendo assim, mais uma vez ele atrapalha o resultado final. (Não me entendam errado: não acho DiCaprio mau ator, apenas o acho um tanto limitado, incapaz de alçar voos maiores). Aqui mesmo ele alterna momentos de puro tédio com alguns lapsos de brilhantismo (uma pena que tão poucos).

Mas não se pode culpar apenas DiCaprio pelos equívocos do filme. A própria trama é intrincada o bastante para servir maravilhosamente bem a um romance, mas como roteiro, tropeça em seu excesso de informações, levando o espectador para tantas direções diferentes que em determinado momento a impressão que se tem é que nem mesmo a roteirista sabe pra onde está indo. O próprio clímax demora tanto a acontecer que, quando ocorre, não tem mais o impacto que teria caso tivesse acontecido uns bons minutos antes. O livro de Lehane (lançado no Brasil com o apropriado título de "Paciente 67" e relançado agora com o nome do filme - uma prova da falta de criatividade das editoras nacionais) é excepcional, com surpresas constantes e um ritmo invejável. Sua adaptação, no entanto, sofre do mesmo mal da maioria das adaptações: é fiel à trama, mas não busca soluções apropriadas à linguagem cinematográfica. Quando tenta fugir do literário, nem o próprio Scorsese consegue escapar do clichê e de um surrealismo banal e sem maiores surpresas. Até mesmo o visual de "Ilha do medo" - cujo título força uma ligação com "Cabo do medo", do mesmo diretor - sofre de certa esquizofrenia, misturando cores e texturas sem maiores explicações lógicas. E dizer que até mesmo a edição da até então infalível Thelma Schoonmaker - que edita seus filmes há décadas - tem falhas gritantes apenas comprova que algo errado está acontecendo quando se diz que esta é a maior bilheteria da carreira do diretor.

Certamente foi o nome de DiCaprio no cartaz que levou boa parte do público do filme às salas de cinema - e mesmo assim, é difícil acreditar que eles tenham gostado de um trabalho assim tão fora do padrão para o ídolo de metade das adolescentes de 1998.
Ele interpreta - com seus habituais trejeitos - o policial Ted Daniels, veterano da II Guerra que, como agente do FBI chega a uma sombria ilha onde vivem pacientes psiquiátricos graves. Acompanhado do parceiro Chuck (Mark Ruffalo) e traumatizado pela morte da esposa (Michelle Williams) em um incêndio, ele tem a missão de localizar - dentro das instalações da ilha - uma interna perigosa, que matou os próprios filhos e desapareceu misteriosamente. Enquanto investiga o sumiço da paciente, ele passa a desconfiar que sua presença no local faz parte de uma conspiração governamental. O encontro com uma ex-doutora (Patricia Clarkson, a melhor coisa do filme) apenas aumenta sua confusão, que o leva a um confronto com os principais médicos do local (vividos por Ben Kigsley e Max Von Sydow).

O fato é que "Ilha do medo" não é um material apropriado a Scorsese. Longe de seu habitat natural - leia-se sua Nova York escura e violenta - ele tateia em busca de uma assinatura visual que não condiz com a trama que se desenrola frente aos olhos do espectador. É um filme sem a energia inata a ele, sem a força que ele normalmente imprime a seus trabalhos. É um bom filme, bastante superior à média - pelo menos exige bem mais cérebro que seus congêneres - mas uma decepção em termos de Scorsese. E o que machuca mais é pensar que seu próximo projeto - uma cinebiografia de Frank Sinatra - terá novamente Leonardo DiCaprio como protagonista. DiCaprio como Sinatra? Alguém por favor inicie um processo...

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RÁPIDAS CONSIDERAÇÕES POR QUEM ESTÁ SEM COMPUTADOR...

Posted by Clenio on 15:06 in

Mais um se foi... Corey Haim morreu aos 38 anos. Lembro dele em "Garotos perdidos" e "Sem licença para dirigir", filmes que marcaram minha pré-adolescência e adolescência e fico pensando que já estou começando a me sentir como meus pais, quando ficam chateados pela morte de algum ídolo de sua juventude. Mas ao mesmo tempo fico perplexo, afinal morrer com 70 anos é uma coisa bem diferente do que morrer antes dos 40... Fica a mesma sensação que tive quando morreram River Phoenix, Brad Renfro e Heath Ledger, guardadas as devidas proporções de talento e relevância artística.

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Por falar em morte não concordo com a Academia de Hollywood, que esnobou Farrah Fawcett, não a incluindo na homenagem aos artistas falecidos em 2009 ocorrida no Oscar. Por favor, tinha relações-públicas na lista e não ela... Sinceramente, Farrah Fawcett foi muito mais importante pra minha formação do que Michael Jackson, me desculpem os fãs.

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Uma esperança no ar...sinais de cura...ou apenas mais uma ilusão infundada? Aguardemos os próximos capítulos...

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A peça de teatro "Fora do ar" está de volta no Teatro Bruno Kiefer - Casa de Cultura Mário Quintana. De 13/3 a 04/4, sábados e domingos às 20h. Não tenho relação nenhuma com o espetáculo, só recomendo porque gostei bastante, segundo post abaixo

http://lennysmind.blogspot.com/2010/01/fora-do-ar-11-porto-alegre-em-cena.html

Vale a pena conferir.

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ENTRE IRMÃOS

Posted by Clenio on 13:10 in

Rivalidade entre irmãos sempre deu pano pra manga, desde os tempos de Caim e Abel, por isso não é nenhuma surpresa que o cinema volta e meia retorne ao assunto, com enfoques diferentes e qualidades mais diferentes ainda. Uma das novas produções a tocar nesse vespeiro familiar é "Entre irmãos", refilmagem do longa dinarmaquês de Susanne Bier, dirigido pelo irlandês Jim Sheridan. Com um trio de atores em franca ascensão nos papéis principais - Tobey Maguire, Natalie Portman e Jake Gylenhaal - o filme mistura drama familiar com críticas à violência na guerra do Afeganistão e alcança resultados variados.

Quando o filme começa o jovem Capitão Sam Cahill (Tobey Maguire, macérrimo e bom ator como nunca) está prestes a voltar para a Guerra do Afeganistão, deixando em casa sua jovem e bela esposa Grace (Natalie Portman) e suas duas filhas pequenas. Nesse mesmo momento seu irmão caçula, o rebelde Tommy (Jake Gylenhaal) está saindo da cadeia, o que mostra sem espaço para dúvidas as diferenças cruciais de personalidade entre os dois. Quando, pouco depois, chega à Grace a notícia da morte de Sam em um acidente de helicóptero, Tommy, sentindo-se responsável pela família do irmão, passa a cuidar dela como se fosse sua. Amadurecendo aos poucos, ele começa a conquistar o amor do pai (Sam Shepard) e se envolve romanticamente com a cunhada. Tudo muda novamente quando Sam retorna ao lar: tido como morto, ele na verdade estava prisioneiro de soldados do Talibã, que o torturaram e obrigaram-no a matar um de seus companheiros. Paranóico e emocionalmente instável, ele passa a questionar a relação entre a esposa e o irmão, o que parece levá-los a um trágico destino.

Ao contrário dos filmes mais contundentes que fez em seu passado (como "Em nome do pai" e "O lutador", ambos estrelados por Daniel Day-Lewis), dessa vez Jim Sheridan deixou de lado sua tendência à polêmica para concentrar-se em dois focos distintos de narrativa: enquanto Tommy e Grace tentam reconstruir suas vidas à sombra do trágico desaparecimento de Sam, este sofre as consequências involuntárias de uma guerra cruel e desnecessária. No ato final todos os conflitos se unem, em direção a um clímax que tinha tudo para ser poderoso mas que esbarra, surpreendentemente, em um desfecho quase insatisfatório. A cena do jantar no aniversário de seis anos da filha caçula de Sam e Grace, por exemplo, leva o público a um suspense palpável, que explode em uma sequência de grande impacto. As cenas subsequentes, no entanto, são quase anti-climáticas - talvez culpa da edição que revela o grande trauma de Sam no meio do filme e não em seu final, o que poderia causar maiores emoções.

Apesar de não ser o melhor filme de Sheridan (título ainda pertencente a "Em nome do pai"), "Entre irmãos" conquista o público pela humanidade de seus protagonistas e pelo talento de seus intérpretes. Assim como fez em "Terra de sonhos", o diretor consegue arrancar atuações notáveis até mesmo de seu elenco infantil (a jovem Bailee Madison, que vive Isabelle, a filha mais velha do casal central transmite como poucas atrizes veteranas as sensações de medo, tristeza e raiva que seu papel exige). Esse seu dom de dirigir bons atores é que, no final, faz a diferença e eleva "Entre irmãos", tirando-o da vala comum de dramas familiares. Poderia ser um grande filme se ousasse um pouco mais. Como está, é um belo entretenimento adulto, mas longe da genialidade com que seu diretor ocasionalmente brinda seu público.

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DIREITO DE AMAR

Posted by Clenio on 10:53 in

Melancolia é um estado de espírito tão particular que dificilmente consegue ser descrito, especialmente em termos visuais. E mesmo que fosse só pelo fato de ter conseguido expressar de forma sensível e delicada essa sensação tão única, o filme de estreia do estilista Tom Ford como diretor já mereceria elogios rasgados. "Direito de amar" (ok, o título nacional mais uma vez é uma vergonha!!) é um belíssimo pontapé inicial em uma carreira que, a julgar por esse primeiro capítulo, ainda tem muito a oferecer, tanto em termos estéticos quanto emocionais.

Tudo bem que o que o mínimo que se espera de um filme dirigido por um homem de moda como Ford (e um homem de moda elegante e sóbrio, sem exageros estilísticos) é que seja igualmente classudo. E é impossível negar que "Direito de amar" conta com um apuro visual extremamente cuidadoso, seja na fotografia (seca em alguns momentos, em espetacular preto-e-branco em outros e de um calor palpável em pelo menos uma sequência) quanto na reconstituição de época (no caso, 1962). A direção de arte e o figurino impecáveis (tinha como ser de outro jeito??) são elementos-chave de uma obra que, ao contrário do que pode-se supor, nada tem de fútil ou vazia. Pelo contrário, toda a beleza estética que cerca as personagens do filme de Ford apenas reforçam a intensidade da história que ele quer contar. E é uma história de partir o coração.

30 de novembro de 1962. O professor de inglês George Falconer (Colin Firth, merecido prêmio de interpretação em Veneza e indicado ao Oscar de melhor ator) está decidido a pôr um fim em sua existência. Arrasado com a morte do parceiro com quem vivia há dezesseis anos Jim (Matthew Goode), vítima de um acidente automobilístico oito meses antes, ele não vê nada de excitante em sua vida, passando os dias a recordar dos bons momentos passados com ele. Sua decisão em acabar com a própria vida é tão definitiva que ele passa o dia preparando seu fim, preparando documentos, escrevendo cartas e escolhendo inclusive a roupa para seu funeral. Enquanto o momento final não chega, George é obrigado a conviver com outras pessoas, em especial três: a melhor amiga Charlotte (Julianne Moore, linda e boa atriz como há muito não constumamos ver), que ainda mantém esperanças de seduzí-lo; o jovem espanhol aspirante a ator Carlos (Jon Kortajarena) e principalmente o adolescente Kenny Potter (Nicholas Hoult, o menino de "Um grande garoto", aqui irreconhecível), que, seu aluno, é fascinado por suas aulas e seu modo de vida. Essas pessoas, em níveis diferentes, irão fazer com que ele repense seus conceitos de vida, amor e solidão.

Dito assim o filme (cujo título original, "A single man" é bem mais sugestivo) soa um grande exercício de depressão. Na verdade a impressão não é tão equivocada assim. O roteiro de Ford (baseado em um romance de Christophe Isherwood inédito em português) não dá espaço para frases espirituosas ou situações que poderiam dar-lhe o mínimo de senso de humor. Essa sua decisão de manter o tom melancólico mostra-se acertada, uma vez que não dilui a tensão que percorre o filme. Não se trata aqui de um arremedo de tristeza e depressão. George Falconer é um homem realmente desiludido, infeliz, solitário e saudoso que não vê nenhum sentido em sua vida e como tal, não cabe piadas em sua boca ou ironias em seu discurso. A tristeza profunda da personagem é realçada pela interpretação soberba de Colin Firth, cujo olhar vazio e quase sem expressão transmite a dor insuportável de uma perda inexplicável. O trabalho de Firth é tão bom que é difícil não acreditar nos seus sentimentos, mesmo quando ele não precisa nem ao menos falar e até mesmo Julianne Moore volta a seus mais inspirados momentos quando está a seu lado.

"Direito de amar" não é um filme de tranquila assimilação. Não apela para um final feliz, nem limita suas personagens a estereótipos fáceis (o que seria uma armadilha fatal a um diretor estreante). E são justamente esses ingredientes - que o afastam do público médio - que fazem dele uma opção mais inteligente e de mais bom gosto do que o arroz-com-feijão que atravanca as salas de cinema e impedem pessoas com um mínimo de sensibilidade de saborear um filme adulto e que trata de sentimentos humanos.

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TOMA ESSA, JAMES CAMERON !!!!!!

Posted by Clenio on 03:02 in

E graças ao bom senso tão raro no mundo do entretenimento "Avatar" não saiu da cerimônia do Oscar repleto de estatuetas como todo mundo previa. Tudo bem, não foi "Bastardos inglórios" que lhe tirou o gostinho, mas o que importa é que mais uma vez uma história sobre pessoas e não efeitos especiais caríssimos é que levou a melhor.
Sigam agora, categoria a categoria, minhas impressões sobre a noite da 82ª Cerimônia de Entrega do Oscar.

22:35 - A festa começa. Alec Baldwin e Steve Martin são ótimos. A piada sobre Meryl Streep (a mais vezes indicada ou a mais vezes perdedora?) foi certeira, assim como a sugestão a Christoph Waltz de fazer a festa (em "Bastardos inglórios" ele vivia um homem obcecado em caçar judeus... o que mais havia no auditório...). E para Zac Efron e Taylor Lautner: "nós somos vocês dois daqui a cinco anos!"

22:44 - Penelope Cruz (lindíssima como sempre) entrega a estatueta a Christoph Waltz, talvez o prêmio mais óbvio (e merecidíssimo) da noite. E esse ano voltamos ao "And the winner is..." bem mais saboroso porque competitivo do que "And the Oscar goes to..."

22:51 - Ryan Reynolds (não vou com a cara desse sujeito, que trocou Alanis Morissette por Scarlett Johansson, ou seja, conteúdo por aparência). Pra completar, ele apresenta o drama clichê máximo dos indicados desse ano, "Um sonho possível".

22:56 - Cameron Diaz e Steve Carrell (engraçado como sempre) entregam o Oscar de melhor animação: "Up", sem maiores surpresas. A surpresa é perceber que o diretor do filme, Pete Doeter é igual ao Sloth de "Os goonies".

23:01 - Steve Martin estava certo quando disse que elas não fazem a menor ideia de quem ele seja: Amanda Seyfried (de "Mamma mia") e Myley Cyrus (a Hannah Montana em pessoa) entregam o Oscar de melhor canção a "The weary kind", do filme "Coração louco". A boa notícia? As canções não serão apresentadas esse ano, poupando a audiência de ouvir músicas pra lá de chatas...

23:06 - Chris Pine (quem???) apresenta "Distrito 9". Ah, Chris Pine é do elenco do novo "Star trek". Ahhhhhhhhhhhh....

23:11 - Robert Downey Jr. e Tina Fey (adooooooooooro!) apresentam o Oscar de roteiro original. Torcia pra "Bastardos", mas "Guerra ao terror" levou, apesar das polêmicas envolvendo seu script.

23:16 - Momento mais emocionante da noite: homenagem a John Hughes, que morreu ano passado. Hughes moldou minha adolescência graças a filmes como "Gatinhas e gatões", "A garota de rosa shocking" e "Curtindo a vida adoidado". Emoção pura: o elenco quase todinho de "Clube dos cinco" reunido - Judd Nelson, Anthony Michael Hall, Molly Ringwald e Ally Sheedy. Doeu o coração. Por dentro, aplaudi de pé.

23:24 - Samuel L. Jackson (ele é o cara!) apresenta "Up" (que eu não vi nem vou ver...)

23:27 - Zoey Saldana (de "Avatar") e Carey Mulligan entregam os prêmios de curta de animação para "Logorama" e documentário curta para "Music by Prudence", que parece comovente. Sobem ao palco para receber a estatueta seu diretor e produtora, que parecem Milton Nascimento e Esther Grossi. Melhor curta live action: "The new tenants". Vai pegar mal se eu disser que essa parte sempre me enche o saco no Oscar?

23:39 - Ben Stiller fantasiado de personagem de "Avatar" entrega o prêmio de maquiagem para o novo (?) "Star trek".

23:44 - O favorito ao Oscar de melhor ator Jeff Bridges apresenta o novo filme dos irmãos Coen (com quem trabalhou em "O grande Lebowski"). "Um homem sério" ainda não chegou a Porto Alegre.

23:48 - Rachel McAdams (linda) e Jake Gyllenhaal (vou certo!!) apresentam o prêmio de roteiro adaptado. Surpresa: "Amor sem escalas" perde sua única estatueta confirmada para "Preciosa". E o elenco todo do filme não segura as lágrimas. Merecido prêmio.

23:52 - Queen Latifah relembra os premiados especiais pela carreira: Roger Corman e Lauren Bacall. A Academia acertou em entregar os prêmios em cerimônias anteriores. Não tira o ritmo da festa de hoje.

23:58 - Não deu outra: Mo'nique abocanhou a estatueta de atriz coadjuvante por seu trabalho estarrecedor em "Preciosa".

00:00 - Colin Firth (bem que ele podia ganhar, hoje) apresenta "Educação" (estou muuito a fim de assistir).

00:05 - Sigourney Weaver (ainda dá um caldo) apresenta o Oscar de direção de arte para seu filme "Avatar". É a primeira estatueta do novo campeão de bilheteria da história.

00:08 - Tom Ford (claro que pegaria!) e Sarah Jessica Parker (ícone absoluto) entregam o prêmio de... figurino, claro. Vencedor óbvio: "A jovem Victória", estrelado pela ótima Emily Blunt.

00:11 - Charlize Theron apresenta "Preciosa". Minhas amigas não gostaram do vestido... eu não tô nem aí...

00:15 - Homenagem a filmes de terror. Antes da montagem, uma divertida paródia a "Atividade paranormal". Quem apresentou a homenagem? Os "atores" da "saga Crepúsculo" Kristen Stewart e Taylor Lautner... Sono!!!!!

00:21 - Zac Efron (todo dia, só dizer onde!!) e Anne Kendrick apresentam seu primeiro prêmio, com narração de Morgan Freeman: edição de efeitos sonoros para "Guerra ao terror". Rubens Ewald Filho comete seu primeiro erro (até que demorou esse ano) dizendo ser o primeiro do filme de Kathryn Bigelow... vai ver ele esqueceu o de melhor roteiro original, entregue há mais ou menos uma hora. Mas tudo bem, é uma categoria pequena, mesmo... quem precisa de roteiro???
Prêmio de melhor som é o terceiro para "Guerra ao terror", que começa a ameaçar seriamente o reinado de "Avatar".

00:27 - Prêmios técnicos e científicos. Hora de ir na sacada pegar um ar e ir na cozinha buscar mais guaraná e um pedaço de Shot.

00:28 - John Travolta apresenta o trabalho de seu amigo Tarantino: "Bastardos inglórios". Se não me engano é a primeira aparição dele em público desde a morte do filho.

00:33 - Sandra Bullock entrega o Oscar de fotografia a "Avatar". É o segundo prêmio do filme, e nosso querido Rubens Ewald Filho comete seu segundo erro, dizendo ser o primeiro... ele tá assistindo o Oscar ou vendo a formação do paredão do BBB? Isso sem falar que ele achava que o vencedor seria "A fita branca". Um filme alemão em preto-e-branco? Querido, estamos em Hollywood, não viaja...

00:36 - Demi Moore (ainda linda) lembra dos colegas que morreram em 2009: entre os mais saudosos estão Jennifer Jones, Ron Silver, Brittany Murphy e Patrick Swayze, claro. Michael Jackson também foi lembrado. Eu particularmente nem lembrava mais dele... E James Taylor (quem é mesmo??) cantou lindamente uma canção dos Beatles...

00:44 - Jennifer Lopez (sempre gostosa, mesmo vestida dos pés à cabeça) e Sam Worthington (ótima aquisição pro cinema hollywoodiano) entregam o Oscar de trilha sonora para "Up". No alarms and no surprises, como cantaria Thom Yorke...

00:53 - Bradley Cooper e Gerard Butler (que calorão!!) apresentam a estatueta de efeitos visuais para "Avatar" (que novidade!). O placar entre os filmes de Cameron e Bigelow está empatado em 3x3.

00:55 - "Amor sem escalas" é apresentado por Jason Bateman. Depois que perdeu o Oscar de roteiro deve ficar a ver navios... ou aviões hehehe.... eu sei, piada horrível.

01:02 - Matt Damon entrega o Oscar de documentário para "The cove". Sinceridade? Não prestei atenção a nada nesses minutos.

01:06 - Tyler Perry (muito famoso nos EUA, mas um ilustre desconhecido pra mim) entrega o 4º Oscar de "Guerra ao terror": melhor edição. Acho que "Avatar" está se dando mal... eba...

01:09 - Keanu Reeves (ainda existe??) apresenta o novo provável vencedor do Oscar de melhor filme: "Guerra ao terror".

01:15 - Dois dos maiores luminares (essa foi forte!) do cinema atual juntos no palco: Pedro Almodovar e Quentin Tarantino entregam o prêmio de filme estrangeiro para um azarão: o argentino "O segredo dos seus olhos" bate o favorito "A fita branca", da Alemanha.

01:19 - Kathy Bates, a eterna Annie Wilkes de "Louca obsessão" apresenta "Avatar", que está começando a botar o rabinho azul entre as pernas.

01:25 - Oscar de melhor ator. No palco, praquela besteira do ano passado de fazer discursos antes de entregar o prêmio de uma vez estão: Tim Robbins (falando de Morgan Freeman, que ele conheceu em "Um sonho de liberdade"), Vera Farmiga (mulherzinha sem graça apresentando seu colega de "Amor sem escalas" George Clooney), Julianne Moore (elegantíssima, elogiando seu colega de "Direito de amar" Colin Firth), Colin Farrell (uau, falando de Jeremy Renner, com quem contracenou em... deixa pra lá...) e Michelle Pfeiffer (ESPETACULAR!!!! lembrando de quando fez "Susie e os Baker Boys" com Jeff Bridges). Bridges foi o vencedor, como esperado, recebendo a estatueta das mãos da cada vez mais linda Kate Winslet e sendo aplaudido de pé. Estivesse eu no recinto aplaudiria com certeza.

01:41 - Oscar de melhor atriz. Forest Whitaker falou de Sandra Bullock, Oprah Winfrey elogiou Gabourey Sidibe (que se desmanchou em lágrimas justificadas), Peter Sarsgaard falou de Carey Mulligan, Michael Sheen falou de Helen Mirren e Stanley Tucci teceu milhões de loas a Meryl Streep, dando a ideia de fazer a Academia limitar a 16 o número de indicações a um artista. E não é que mesmo com Streep no páreo os tapados premiaram Sandra Bullock? Sério!! SANDRA BULLOCK, que fez "Velocidade máxima". Que ganhou ontem o Framboesa de Ouro... 2012 realmente está chegando... Sean Penn poderia ter mentido.

01:53 - Barbra Streisand (é justo que tenha sido ela) divulga o momento histórico do ano: pela primeira vez o Oscar de direção vai para uma mulher. Kathryn Bigelow leva o prêmio, dá um tapa com luva de pelica na cara do ex-marido James Cameron e de quebra tem todas as possibilidades de levar também o prêmio principal.

01:59 - Nossa, foi rápido. Mal Tom Hanks subiu ao palco e revelou o nome do vencedor de Melhor Filme do ano: GUERRA AO TERROR. VIVAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
Não era o meu preferido, mas ganhar seis estatuetas em um ano em que "Avatar" parecia carta marcada é um feito e tanto.

Só queria saber agora de quem foi a ideia de lançar o filme no Brasil direto em DVD.... Gente com visão de mercado é que não foi.



E assistir ao Oscar sozinho não tem graça... sendo assim, obrigado pelo pessoal acima pela companhia e pelas risadas.

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O MENSAGEIRO

Posted by Clenio on 01:05 in

Em uma época do ano em que o assunto entre os fãs de cinema é o Oscar - e não poderia ser diferente - e a briga entre "Avatar" e "Guerra ao terror", não deixa de ser refrescante descobrir uma pequena pérola que, embora elogiada pela crítica, não chegou a ser incensada com um número generoso de indicações (no caso apenas duas, de ator coadjuvante e roteiro original, ambas merecidíssimas). No caso a pérola se chama "O mensageiro" e, dirigida pelo estreante Oren Moverman, é muito mais tocante e honesta do que muitos dramalhões que apelam para sentimentalismos fáceis. Talvez seja justamente sua sobriedade que tenha atrapalhado seu caminho rumo a prêmios, uma vez que é um filme discreto, sem astros milionários e nem foi adotado por formadores de opinião. "O mensageiro" é o tipo de filme que tem que ser descoberto aos poucos, para conquistar os fãs de bom cinema.

O tema de "O mensageiro" é, de certa forma, a guerra do Iraque. No entanto, ela não aparece em nenhum fotograma. Ela é, isso sim, um fantasma que assombra suas personagens, afetadas direta ou indiretamente por sua aura violenta e absurda. O protagonista do filme é o jovem Sargento Will Montgomery (em uma assombrosa atuação de Ben Foster, injustamente esquecido em cerimônias de premiação). Depois de um acidente em combate - que lhe prejudica a visão - ele recebe a missão dolorosa de, ao lado do Capitão Tony Stone (Woody Harrelson, indicado ao Oscar de coadjuvante), ser o responsável por dar as trágicas notícias de baixas na guerra aos familiares das vítimas. Sem saber como lidar friamente com todas as cenas tristes que passa a testemunhar e trocado pela namorada (Jena Malone), ele acaba se envolvendo emocionalmente com Olivia Pitterson (a sempre ótima Samantha Morton), viúva de um soldado e mãe de um filho pequeno. Enquanto luta com essa questão ética, não percebe que seu colega voltou a se entregar ao alcoolismo.

Como dito anteriormente, "O mensageiro" é um filme de guerra sem cenas de batalha. As únicas guerras mostradas na obra são aquelas travadas dentro da cabeça de seus protagonistas, que, humanamente, não sabem como acostumar-se à dor e ao desespero. A luta pela sanidade é quase inglória, que os leva ao álcool, à auto-destruição e à carência extrema. É um filme de silêncios, de dramas íntimos, construído em detalhes e grandes atuações. As cenas em que os dois protagonistas dão as tristes notícias às famílias são exemplos de sutileza e elegância. Emocionam e nunca caem no piegas.

E o elenco merece um capítulo à parte. Enquanto Woody Harrelson tenta dar um novo impulso à carreira vivendo uma personagem distante de seus adoráveis bobalhões e Samantha Morton mais uma vez mostra porque é uma atriz ainda subaproveitada, é Ben Foster que domina o filme, com um trabalho impecável. Seu olhar, seu jeito de andar, sua voz, tudo é instrumento para que ele assuma a personalidade de Will Montgomery, um jovem envelhecido pelas atrocidades de uma guerra desnecessária e cruel e que tenta encontrar uma razão para seguir a vida.

"O mensageiro" está quase saindo de cartaz nos cinemas. Mas em breve estará disponível em DVD. Será uma nova chance de encantar-se com sua beleza e qualidade.

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PRÊMIO BLOG VIP

Posted by Clenio on 22:18 in

Prêmio concedido pela minha amiga Tânia Marques, do blog DEGRAU CULTURAL. Obrigado pela gentileza, Tânia. E visitem o blog dela, que é sensacional

www.degraucultural.blogspot.com

Norma para PRÊMIO BLOG VIP: eleger dez blogs merecedores do selo.

Segue abaixo a minha lista de blogs selecionados:

www.cinemarodrigo.blogspot.com
www.chadepoejo.blogspot.com
www.apimentario.blogspot.com
www.eopedefeijao.blogspot.com
www.theywatchus.blogspot.com
www.luisfabianoteixeira.blogspot.com
www.biancafeijo.blogspot.com
www.cinefreud.blogspot.com
www.margacanabarro.blogspot.com
www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com

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O AMOR ACONTECE

Posted by Clenio on 21:58 in

Eu acho Aaron Eckhardt um cara legal. Seus trabalhos em "Na companhia de homens", de Neil LaBute e em "Obrigado por fumar", de Jason Reitman me convenceram que ele, além de boa-pinta é capaz de entregar performances bastante interessantes. Eu adoro Jennifer Aniston, mesmo porque ela me divertiu por dez anos como Rachel Greene em "Friends" - e ainda me diverte, pra ser honesto, porque volta e meia estou assistindo os episódios da saudosa série. E filmes românticos não me assustam, muito pelo contrário, sou fã do estilo, desde que ele me apresente bons produtos. Dito tudo isso, que fique claro que minha decepção com "O amor acontece", novo filme do casal de atores não tem nada a ver com eles ou com o gênero que defende. Simplesmente achei a estreia do diretor Brandon Camp sem graça e sem fôlego para manter-se na memória de sua audiência por mais que um par de horas.

Eckhardt faz o que pode na pele de Burke Ryan, uma espécie de guru de auto-ajuda depois que escreveu um livro que ensina as pessoas a lidar com suas perdas. Ele mesmo sabe do que fala, já que perdeu a esposa em um acidente de carro e nunca mais conseguiu ter uma relação decente com os sogros e com a vida. Durante um workshop em Seattle, ele conhece a bela Eloise Chandler (Aniston), que vive um relacionamento difícil com um músico nada chegado a fidelidade (Joe Anderson, de "Across the universe"). Através dela, o viúvo fechado em si mesmo irá redescobrir o amor e buscar uma convivência pacífica com o pai de sua falecida mulher (vivido por Martin Sheen).

O problema maior de "O amor acontece" é seu excesso de clichês. Quando bem dosados e utilizados com inteligência, os lugares-comuns podem ser grandes aliados em comédias românticas. Aqui surgem com uma frequência constrangedora, o que enfraquece consideravelmente sua história, por si só bastante frágil. Também incomoda o fato de alguns detalhes do roteiro nunca serem explicados à audiência. Nunca fica-se sabendo, por exemplo, as razões que levam o protagonista a ter medo de elevadores ou porque a personagem de Aniston tem mania de escrever palavras difíceis atrás de quadros. São erros assim que minam a boa-vontade do público e relegam o filme a ser apenas mais um entre tantos que chegam às salas de cinema a cada fim-de-semana. E nem mesmo a boa química do casal central consegue apagar a sensação de incredulidade quanto a seu romance.

A dupla Eckhardt/Aniston é capaz de mais. E merece mais. Bem como seus fãs.

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UNSENT

Posted by Clenio on 13:47 in ,

Para minha mãe: não se culpe. Se existe alguém nesse mundo que eu sei que tentou o possível e o impossível pra me ajudar foi você. Sei que você foi a única pessoa a me amar incondicionalmente, mesmo eu não tendo sido o filho com que você sempre sonhou. Você sempre foi meu porto seguro, ainda que eu talvez não tenha dito tantas vezes o quanto te amava. Não se culpe por nada. Talvez a única coisa que me magoava em relação a você era o fato de você nunca entender as minhas dúvidas, as minhas angústias, as minhas frustrações, tentando sempre me fazer ver pelos olhos de um Deus em que você crê mas eu não. De certa forma fico aliviado em saber que você vai ter sua fé como apoio, sempre. Te amo muito.

Para meus sobrinhos amados: amo vocês. Vocês são como meus filhos. A vantagem é que só temos momentos bons, nada de brigas em busca de dar educação. Queria ter tido mais tempo com vocês, pra que vocês nunca esquecessem o tio chato, azedo, mau-humorado que ama vocês. Conselho de quem é mais experiente: nunca esperem demais das pessoas. Lutem vocês mesmos pelo que querem, porque as expectativas nunca são cumpridas e a cada uma que fica pra trás mais desiludidos com o mundo vocês ficarão. Aproveitem cada minuto da juventude de vocês - da infância e da adolescência principalmente, porque são as melhores fases da vida. E nunca deixem que as pessoas subestimem a sua capacidade. E quando amarem alguém, digam a esse alguém, sem medo. Gritem, se for necessário. Uma palavra de amor pode salvar uma vida.

Para os meus amigos: amo vocês. Desculpem todas as vezes em que fui triste e desanimado perto de vocês. Perdão pelas horas intermináveis reclamando da vida, sofrendo por problemas que diziam respeito a mim somente. Obrigado pelos grandes momentos de diversão - e foram muitos - porque no final são eles que vão ficar na memória. Obrigado por dividirem comigo seu tempo, suas risadas, seus bons e maus momentos. Desculpem também se me fechei em mim mesmo e não acatei seus conselhos. É que no fundo eu sempre soube que só eu mesmo poderia me curar. Todos vocês, sem exceção, fizeram parte de mim, até mesmo aqueles que me decepcionaram, que me xingaram querendo o meu bem e aqueles que nunca souberam entender de verdade o que eu sentia. E obrigadíssimo àqueles que souberam. Obrigado a todos que me elogiaram, me criticaram e me fizeram crescer, minimamente que fosse. De verdade, amo vocês.

Para o meu grande amor: não preciso dizer o tamanho do amor que sinto por você. Cartas, e-mails, peças de teatro, torpedos, declarações verbais.... tudo eu já fiz pra te deixar claro o quanto você foi importante pra mim. Não há mais palavras, só espero que as lembranças que você guarde de mim sejam positivas. Te amarei pra sempre.

Para aqueles que sistematicamente me decepcionaram: vão se foder, todos. Desejo do fundo do meu coração que todos sofram como eu sofri a cada mentira, a cada promessa não cumprida, a cada rejeição cruel. Quero de verdade que passem pelos mesmos caminhos de dor pelos quais passei, e que, mais importante do que isso, a cada passo lembrem de mim, para que possam tentar entender o quão filhos-da-puta vocês foram. Torço fervorosamente para que cada um de vocês tenha o que mereça - e falo das coisas ruins, porque as boas provavelmente vocês terão, porque eu não acredito na lei do eterno retorno e acho que, se deixarmos nas mãos do universo, quem mais apronta mais sai feliz da vida...

E para aqueles que me amaram sinceramente, uma única pergunta: por que não me disseram isso com mais frequência?????

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RÁPIDAS CONSIDERAÇÕES POR QUEM NÃO ESTÁ MUITO A FIM DE ESCREVER

Posted by Clenio on 01:10 in

Ideia genial do McDonald's: compre qualquer lanche que contenha McChicken e leve um DVD de "Crepúsculo". Faz sentido: coma uma porcaria e assista uma pior ainda...

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Juraria por Deus se acreditasse no dito cujo: se eu fosse assinante da revista "Rolling Stone", abrisse o pacote e desse de cara com a capa da última edição... cancelava a assinatura na mesma hora. Não é uma revista de música? E me botam essa Ivete Sangalo wannabe na capa??? Pensem nisso: a infeliz quer ser IVETE SANGALO?????????????????

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Descobri o caminho das pedras para nunca mais me decepcionar com as pessoas: nunca, eu disse NUNCA esperar nada delas. O inferno não são os outros, como disse Sartre. O inferno são as expectativas não cumpridas. E como elas abundam em minha vida...

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Desculpem o tom deprê do blog ultimamente. É que constatei, carentemente, que não ouço um "eu te amo" direcionado à minha pessoa há muito tempo. E tenho medo de não acreditar quando me disserem....

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FILMES QUE MUDARAM A MINHA VIDA - SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS

Posted by Clenio on 17:42 in

SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS (Dead Poets Society, 1989) Direção: Peter Weir. Roteiro: Tom Schulman. Fotografia: John Seale. Música: Maurice Jarre. Produção: Steven Hart, Paul Junger Witt, Tony Thomas. Elenco: Robin Williams, Ethan Hawke, Robert Sean Leonard, Josh Charles


Não sei se essa deformação cultural advém do fato de eu sempre ter visto minha mãe cercada de listas de chamadas, provas e trabalhos a corrigir, mas eu não posso negar que desde sempre adoro filmes que falam sobre relações entre professores e alunos. E dentre as dezenas de obras que assisti dentro desse gênero à parte, uma em particular tem um lugar especial no meu coração; que atire a primeira pedra quem nunca se emocionou com "Sociedade dos poetas mortos", dirigido pelo australiano Peter Weir em 1989.

Não tive a oportunidade de assistí-lo no cinema. Na época em que foi lançado eu ainda morava no interior e meu contato com a sétima arte era mesmo através do video-cassete, uma das maiores invenções da humanidade. Quando o assisti finalmente, ele teve sobre mim quase o poder de uma epifania: ali estava, à minha frente, a história que eu queria ouvir, contada de forma inteligente, sensível e delicada, sem nunca porém deixar de ser forte e inspiradora. Ali estavam, diante de mim, personagens reais, com dúvidas reais, medos verdadeiros e sonhos que se pareciam com os meus. Ali estava, falando para mim - era para mim sim, eu tinha essa plena certeza - o professor que sempre sonhei ter, que ensinava não apenas como entender uma poesia mas também a viver (na época eu achava que era possível ensinar algo dessa envergadura).

"Sociedade dos poetas mortos" se passa em 1959, quando os EUA ainda não tinham tido seus sonhos demolidos com as mortes de Kennedy e Luther King. O cenário é a Welton Academy, uma escola para rapazes tradicional e rígida em seus conceitos de disciplina, ordem e excelência. Quando o filme começa conhecemos John Keating (Robin Williams no papel que me faria seu fã eternamente), o novo professor de literatura. Ex-aluno da Welton, logo Keating surpreende seus alunos fugindo da didática quadrada exigida na escola. Logo de cara manda todos rasgarem as páginas iniciais de um livro de teoria que continha um prefácio explicativo. Segundo ele, poesia não se explica: se sente. Entusiasmados com seus métodos nada ortodoxos, um grupo de estudantes ressuscita a Sociedade dos Poetas Mortos, fundada por Keating em seus tempos de discente. Nas reuniões do grupo, os jovens declamam poesia, tocam música, conversam sobre seus objetivos e tem momentos de liberdade que as salas de aula não permitem. Aos poucos a relação entre Keating e seus alunos atinge um novo patamar. No entanto, ao alertar para os perigos do conformismo, para a liberdade de escolha, para a necessidade urgente de aproveitar ao máximo cada dia e para a importância de lutar por seus sonhos, o professor acaba esbarrando no jeito burocrático de pensar e ensinar da fechada Academia. O conflito fica estabelecido de vez quando um dos alunos de Keating, o jovem Neil Perry (Robert Sean Leonard) resolve desafiar ordens paternas e insistir em seu desejo de ser ator, deflagrando uma tragédia que irá abalar e/ou fortalecer a admiração dos estudantes por seu mestre.

É praticamente impossível descrever em palavras o impacto que uma história como essa teve em mim, um guri de 16 anos, no auge da explosão hormonal, com muito mais dúvidas do que certezas na cabeça. Tudo no filme me inspirava: a bela música de Maurice Jarre, a fotografia espetacular de John Seale, os diálogos brilhantes de Tom Schulmann. .."Carpe diem, aproveitem o dia" dizia John Keating, enquanto citava Walt Whittman e Thoreau ("A maioria dos homens vive em silencioso desespero"), enquanto incentivava em cada aluno o que ele tinha de mais especial. Para um adolescente cdf e quase mortalmente tímido como eu, Todd Anderson (Ethan Hawke), o aluno exemplar e mega-cobrado pelos pais era o mais próximo de alguém com quem identificar-se que o cinema poderia me proporcionar. E John Keating, pra mim, era mais super-herói do que qualquer Batman ou Superman, porque humano, à flor da pele e falível.

Na minha cabeça delirante, que buscava orientações a seguir, eu era todos aqueles alunos sedentos por vida. Eu era Todd Anderson (Ethan Hawke), o filho cobrado com exagero; era também Neil (Robert Sean Leonard), que buscava extravasar suas angústias através da arte; e era também Knox Overstreet (Josh Charles), que utilizava a poesia como instrumento para vencer o medo de conquistar a mulher que amava. A vontade que eu tive, quando o filme acabou pela primeira vez na minha frente (sim, eu o assisti a dezenas de vezes e sempre me arrepio com a última cena, como se fosse uma mágica emocional) foi de começar minha vida do zero, mandar tudo às favas e viver do meu jeito. Logicamente, com 16 anos, ainda estudando e sem emprego, essa vontade não saiu da teoria. Mas continua dentro de mim - enterrada como um saco de macumba, como diria Nelson Rodrigues - a lembrança da bela poesia:

"Fui à floresta porque queria sugar a essência da vida
Eliminar tudo que não era vida
Pra não descobrir, ao morrer, que não vivi..."


Eu não gosto de poesia - fazer o que? Não consigo gostar... - mas "Sociedade dos poetas mortos" não fala apenas de poesia. Fala de amor, liberdade, auto-conhecimento, auto-estima, amizade e paixão (pela vida, pela natureza, pelas pessoas). Fala de gente, e o faz de tal maneira que fica difícil acreditar que perdeu o Oscar de Melhor Filme para o maçante "Conduzindo Miss Daisy" (pelo menos levou a importante estatueta de roteiro original, escrito com um toque de gênio por um Tom Schulman que nunca mais fez nada de marcante). No entanto, dentro do meu coração poucos filmes são tão importantes e essenciais na minha formação quanto ele.

AVISO: Essa seção não tem a menor intenção de reiterar escolhas de críticos ou babar ovo em cima das maiores bilheterias da história (aliás, bilheteria é o que menos importa aqui). Todos são filmes que, por um motivo ou outro fizeram da minha vida algo melhor, por razões mil. É uma lista bastante aleatória, democrática e os títulos que dela participam tem apenas uma coisa em comum: são filmes que vi, revi, trevi e verei sempre que meu coração mandar.

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