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O CONVIDADO SURPRESA

Posted by Clenio on 23:28 in

Seguindo a tendência não-consciente de literatura francesa contemporânea que me assolou nesse último mês acabei ontem de ler "O convidado surpresa" (Ed. Cosac Naify), escrito por Grégoire Bouillier. Em formato de romance, o autor conta como conheceu a artista plástica Sophie Calle em uma das festas de aniversário promovidas por ela, justamente quando ele buscava compreender o final de seu romance com uma antiga namorada. Narrado com um fluxo de consciência por vezes exasperante e de um fôlego só, o livro consegue ao mesmo tempo seduzir, fazer pensar e mais do que tudo, tem um impressionante estilo que revela em Bouillier um arguto observador da natureza humana e das relações interpessoais.

Quando o livro começa, o narrador está falando do traumático final de um relacionamento que o deixou em depressão profunda. Recebe, então, o telefonema da ex-namorada, que o convida para uma festa de aniversário onde ele será o "convidado surpresa". Explique-se: a aniversariante é Sophie Calle, uma artista plástica que todo ano recebe convidados no número exato de sua idade e mais um convidado de um convidado, para representar o ano vindouro. O protagonista acaba sendo esse convidado, e não só a vida da aniversariante, mas a dele também será transformada a partir daí.

"O convidado surpresa" não é um livro para qualquer leitor. Seu estilo quase truncado - que lembra, em certos momentos, o argentino "O passado", de Alan Pauls - quase assusta em algumas passagens, seja pela profundidade que o autor imprime seja pela maneira pouco convencional de analisar suas ações e pensamentos. Citar Virginia Woolf e seu "Mrs. Dalloway" - ainda que Woolf já não seja hoje em dia tão hermética quanto há uns anos - também não ajuda a alcançar a popularidade oca de uma lista de mais vendidos de revistas semanais. Isso, no entanto, não atrapalha o prazer de ler uma obra verdadeira, visceral e inteligente, que mistura sentimentos e literatura de qualidade em uma época em que livros como os da série "Crepúsculo" surgem como verdadeiros pesadelos intelectuais.

"... e pensei então que o verdadeiro convidado surpresa não havia sido eu, mas esse romance inglês escrito no anos 20 que entrou secretamente na vida dela para mudar o seu curso, e o curso da minha indiretamente, e aliás desde sempre foi a literatura que se convidou misteriosamente na história dos homens e acreditamos pensar em tudo e esquecemos o livro em cima da mesa de cabeceira."

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PARA UMA AMIGA CATALISADORA

Posted by Clenio on 12:14 in

Para Eleonora

Então você nunca teve uma amiga que desde o primeiro momento soube coisas a seu respeito que nem mesmo você tinha coragem de saber? Nunca dividiu porres tremendos, de vomitar na rua, cair no meio-fio e ainda por cima dar risada da situação? Nunca obrigou nenhuma amiga a ler um livro horroroso só pra ter assunto com o "grande amor da sua vida"? Nunca saiu do trabalho no meio da semana com ela pra assistir Almodovar, rir até doer a barriga e depois tomar uma cerveja? Nunca ficou de madrugada sentado na portaria do prédio dela pra rir dos vizinhos?

Vai dizer que nunca na sua vida você dividiu segredos com sua grande amiga, que lhe dava conselhos, ria da sua cara e te conhecia só de olhar? Sim, aquela amiga que sabia que, quando você bebia Keep Cooler ficava mais alterado do que se bebesse um inocente whisky com guaraná... Nunca teve que discutir horas a fio porque ela gosta de Bergman e você prefere "Sociedade dos poetas mortos"? Ou ainda, nunca teve uma amiga/parceira de festas que sempre ouvia "Friday I'm in love" antes de sair pra uma noite em que tudo poderia acontecer?

Nunca teve a oportunidade de ter uma amiga que, ao tentar arrumar um romance pra você acabou arrumando pra ela? Ou que te apresentou Michael Cunningham e achava a Nicole Kidman mais bonita em "As horas" do que em "Moulin Rouge"? Sua amiga nunca se apaixonou por uma criatura horrorosa e você teve a liberdade de dizer isso na cara dela? Ou ainda, nunca ficou no meio do tiroteio cruzado entre ela e desafetos amorosos?

Você nunca deu gargalhadas no meio do horário de trabalho justamente quando não podia, só porque olhou pra ela? Nunca a convenceu a sair pra dançar cantando Vengaboys? Nunca viu o dia nascer feliz enquanto pensava na vida ao lado dela, com uma garrafa nas mãos e a vida inteira pra viver? Nunca dividiu com essa amiga os seus pensamentos mais obscuros, mesmo que eles fossem só seus? Nunca entrou em um ano novo bebendo piña colada usando uma caneta como canudinho? (Tem que tapar o buraquinho de ar com o dedo, senão não rola...)

Essa sua amiga nunca foi embora do estado por amor, te deixando à mercê de amigos de ocasião? E nunca te deixou sem notícias por meses a fio? Você realmente não tem uma amiga com quem fica meses sem falar e quando encontra tem a impressão de que o tempo não passou? Nenhuma amiga sua compreende perfeitamente quando você assina seus emails de tempos de crise sentimental como "Werther"?

Sua melhor amiga nunca conheceu alguém especificamente pra te apresentar e acabou transformando a dupla em trio? Nunca se enganou de andar e tentou entrar no apartamento errado? Nunca foi dançar com você depois de uma sessão de "54" quando a meteorologia previa um tornado? Sua melhor amiga nunca lhe deu um beijo a três em um bar metido a cult só pra se divertir com a cara de choque dos presentes?

Você nunca teve uma melhor amiga assim? Então você não conhece a Lelê...

FELIZ ANIVERSÁRIO, ALMA GÊMEA!!!!!

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INVICTUS

Posted by Clenio on 10:22 in

Época de Oscar, época em que os filmes com ambições mais sérias começam a aportar na capital, época de Clint Eastwood. Já faz alguns anos que o veterano Dirty Harry já é figurinha fácil nas festas da Academia, portanto não é nenhuma surpresa que seu filme mais recente - que estreou em Porto Alegre ontem - esteja cotado para concorrer a algumas estatuetas. No entanto, acho que é dífícil que "Invictus" passe do limite de ser indicado. Além de provavelmente ter que encarar "Avatar" (a falta de originalidade dos membros da Academia é de chorar!) ainda terá que lutar contra si mesmo: apesar de tecnicamente impecável, a adaptação do livro de John Carlin (na verdade uma história real) carece de emoção, mesmo tratando de um assunto palpitante e socialmente relevante.

A grosso modo, "Invictus" conta como Nelson Mandela, presidente da África do Sul, contou com a seleção de rugby de seu país para unir todos os seus conterrâneos - brancos ou negros - em uma mesma sintonia. Porém, não é apenas a história, forte por si mesma que interessa a Eastwood. Ao falar de tolerância, união e persistência, o cineasta entrega à plateia mais do que simplesmente um filme sobre esporte ou uma propaganda pacifista: assim como em grande parte de seu currículo como diretor - premiado duas vezes com o Oscar da categoria - seu trabalho mais recente discorre, nas entrelinhas, sobre pessoas e suas interrelações, sobre sentimentos nobres e boa vontade a respeito das diferenças. Mas, para contrabalançar o baixo-astral de suas obras-primas "Os imperdoáveis", "As pontes de Madison", "Sobre meninos e lobos" e "Menina de ouro" - que versam, entre outras coisas, sobre o lado mesquinho do ser humano, sobre o peso das decisões, sobre a inevitabilidade do destino - Clint desta vez se permite um otimismo raro em sua filmografia.

Mesmo com todas as suas boas intenções e suas cenas de esporte esplendidamente fotografadas e editadas, falta a "Invictus" um coração. Morgan Freeman é um ator excelente, não há dúvidas quanto a isso, mas seu Mandela parece demais com todos os outros personagens interpretados por ele - diferentemente do trabalho de Forrest Whitaker em "O último rei da Escócia", por exemplo - e em nenhum momento chega a arrebatar. E Matt Damon nem tem muito a fazer na pele do capitão da equipe de rugby sul-africana François Pienaar, mesmo que tenha sido indicado ao Globo de Ouro por sua atuação.

Em suma, "Invictus" é um filme com a qualidade que se espera de um filme de Clint Eastwood. Bom gosto, sensibilidade, uma parte técnica irrepreensível - a partida final disputada pela seleção da África é mostrada de forma eletrizante - e um elenco formidável. Mas não chega nem perto da emoção de seus maiores acertos.

PS - Considerações sobre os trailers assistidos hoje:

NINE - Rob Marshall ("Chicago" sensacional e "Memórias de uma gueixa" lindo visualmente mas fraco em conteúdo - essa será a prova dos nove), Daniel Day-Lewis (why???) e um elenco fabuloso de atrizes: Nicole, Penelope, Marion, Judi, Kate, Sophia e Fergie... Bela fotografia e muita curiosidade... só não vi hoje porque queria companhia.

HOMEM DE FERRO 2 - Downey Jr. é incrível e Gwyneth Paltrow é maravilhosa, mas jamais perderia meu tempo assistindo (e nem é por causa de Mickey Rourke e Scarlett Johansson, é porque tenho mais a fazer com meus momentos livres).

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I WAS HOPING

Posted by Clenio on 11:22 in ,


Em homenagem a um aniversário de cinco anos...

Sinceramente eu esperava mais de você. Não que você tenha me enganado, muito pelo contrário, lembro como se fosse hoje do nosso terceiro encontro, quando, olhando nos meus olhos você disse: "Posso ser uma filha da puta da pior espécie." E, sim, eu me arrisquei, porque achava, ingenuamente, que poderia mudar isso, que as coisas poderiam ser diferentes entre nós, diferentes das suas histórias traumáticas e das minhas relações problemáticas. Você era tão jovem, tão cheia de planos, tão cheia de ideias, tão cheia de si e era tão consciente de tudo isso que não tive outra alternativa a não ser me apaixonar perdidamente e aceitar que você pudesse realmente ser uma filha da puta da pior espécie. Mea culpa!

É verdade, eu queria ter tido mais de você. Mais amor, mais dedicação, mais alegria, mais sexo, mais tempo... Eu queria ter aproveitado mais nossos beijos, nossas noites enrolados um no outro, nossas sessões de dvds, nossos silêncios íntimos... Eu esperava ter de você mais do que tive, ainda que as lembranças do pouco que recebi tenham sido o meu porto seguro em tempos de águas revoltas. Eu esperava, ansiava, desejava ter de você o seu melhor, mas acredito que você não me julgava merecedor de tanto.

Eu esperei de você mais compaixão. Esperei um telefonema amigável, um email consolador, um recado carinhoso, um abraço pacífico. Foi uma tormenta quando tudo acabou e mais do que dinheiro, fama, sucesso, sexo e a possibilidade de ver e saber de tudo, eu precisei de um sinal seu. Um sinal que me dissesse até mesmo sem palavras que eu era um cara legal, que a culpa era sua, sim, e que você nunca mais iria conseguir encontrar alguém como eu. Eu precisava de uma mentira sincera, migalhas me serviriam naquele momento. E eu esperei por elas. Em vão.

Eu esperava que um dia passasse. Era o que todos sempre diziam. "Vai passar, você é mais forte que tudo isso, ninguém merece esse sofrimento todo..." Eu queria acreditar, porque acreditar talvez me ajudasse a continuar. Eu queria ter a inabalável certeza de que um dia tudo estaria para trás e a tempestade teria passado. Eu esperava que mais cedo ou mais tarde eu, por méritos meus mesmo, me olhasse no espelho e me visse não através dos olhos de quem me abandonou e sim através dos olhos de alguém que vê em mim as qualidades que você nunca viu, ou se viu, não se importou em rejeitar.

Eu esperava desesperadamente superar a raiva que senti de você, do mundo, de mim mesmo, de todos os casais felizes que insistiam em cruzar meu caminho. Esperava perdoar você - de verdade e não como uma palavra vazia - por todas as noites aos prantos, embriagado de álcool e de angústia, que eu atravessei em silêncio. Por todas as ocasiões em que tentei enfrentar o vazio que você deixou ocupando minha cama com nada mais que corpos inertes e tesões fugazes. Por cada objetivo meu que abdiquei quando decidi, conscientemente ou não, viver minha vida em função da sua. Por ter perdido a fé não na humanidade - isso não seria tão trágico assim, levando em consideração que nunca a tive - mas em mim mesmo, na minha capacidade de acreditar que alguém pudesse perceber o quanto de amor eu posso dar.

Acima de tudo, no entanto, eu esperava que passasse. Que depois de um tempo - dias, semanas, meses - eu pudesse olhar pra trás e dar risada de todo o meu excesso de dramaticidade. Eu precisava acreditar que outros olhos fariam os meus brilharem, outras bocas preencheriam a minha com beijos e outros toques me acordariam do torpor em que mergulhei naquele inverno. Eu esperava, sim. Mas hoje só o que espero é nunca mais te esquecer, porque bem ou mal, você foi a melhor e a pior coisa que poderia ter me acontecido. E o que é a vida senão uma constante espera por Godot, uma eterna espera de um milagre e, no meio disso tudo, um grande e devastador amor?

Feliz aniversário...

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ZUMBILÂNDIA

Posted by Clenio on 00:46 in

Nada como uma boa e debochada comédia para tirar alguns gêneros cinematográficos de sua mesmice e de sua possibilidade de levar-se a sério demais. Apesar da avalanche de filmes que buscam o riso fácil e por isso abusam da falta de criatividade, de vez em quando surge uma ideia empolgante, o que se reflete nas críticas e nas bilheterias. É o caso de "Zumbilândia", divertida comedia dirigida pelo desconhecido - pelo menos pelo grande público - Ruben Fleischer, e que rendeu, somente nos EUA, mais de 75 milhões de dólares, o que imediatamente lhe empurrou a uma sequência, já em produção.

"Zumbilândia" não se leva a sério em momento algum, desde suas primeiras cenas, onde o protagonista vivido por Jesse Eisenberhg dita as regras de como sobreviver em um mundo infestado de mortos-vivos até a última, que brinca docemente com os finais felizes mandatórios em filmes que objetivam rendas generosas. O roteiro - cuja ideia era de ser o piloto de uma série de TV - alterna momentos de ação com piadas muito bem sacadas, em especial na breve mas impagável participação especial de Bill Murray como ele mesmo. A participação de Murray, aliás, só comprova que o filme tem, entre seus grandes méritos, o de contar, em seu elenco, com nomes que não se levam a sério, a começar pelo ótimo Woody Harrelson e até mesmo a pequena Miss Sunshine Abigail Breslin.

Talvez a maior qualidade de "Zumbilândia" seja justamente essa. Sua falta de maiores ambições - além da de divertir sua plateia durante seus curtíssimos 80 minutos - a afasta do lugar-comum e nem mesmo sua queda de ritmo no que deveria ser seu clímax - em um parque de diversões tomado por zumbis - prejudica o resultado final. É uma comédia que se propõe a fazer rir sem maiores elocubrações intelectuais e entrega à sua audiência exatamente o que prometeu. De quantos filmes se pode falar o mesmo ultimamente?

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WAKE UP

Posted by Clenio on 20:24 in ,

Acorda, bebê! Saia já deste útero! Eu sei que aí dentro está quentinho, confortável e silencioso, mas a sua hora de conhecer o mundo chegou... Abra esses olhinhos mínimos pra enxergar tudo que te espera. Essa é a sua mãe... Linda, não? Esse aí orgulhoso e tremendo é seu pai. Não se preocupe, o mundo não é apenas essa sala de parto esterilizada e sem formas definidas. O mundo é enorme, você vai ver... Isso, abra o berreiro, é saudável...

Acorda, menino! Já é hora de ir pra escola! Eu não disse que se ficasse acordado até tarde assistindo a filmes pra adultos ficaria com sono pela manhã? Não adianta resmungar nem se fazer de doente porque já faltou demais esse semestre. Espero que tenha feito direito as lições de casa, não quero mais ouvir reclamações dos professores. E eu quero essa cama arrumada quando sair... Tá me ouvindo? O café está na mesa...

Acorda, acorda, acorda!!! O despertador não tocou e estamos atrasados.... Puta merda, não podemos chegar atrasados senão vamos ser descontados. Já ganhamos uma porcaria, não tem a menor condição de ficarmos com menos dinheiro no final do mês... Pagamos aluguel, esqueceu? Toma banho rápido, depois eu vou... Não fecha a porta do banheiro, enquanto você toma banho eu escovo os dentes. Que cheiro de queimado é esse? Porra, o leite ferveu! Acorda, infeliz!!!

Benzinhoooooo... dormi como um anjo e você? Hum, que carinha de sono é essa? Ah, finalmente um sorriso... Não mereço um beijo de bom dia? Nossa, pra quem estava dormindo pesadamente há meio minuto você bem que se animou, hein? Nossa, todo mundo acordou junto com você... Será que temos tempo, amor? Eu sei que é cedo, mas por mim a gente ficava aqui a manhã toda. A vida toda? O que você quer dizer com isso? Que caixa é essa? Meu Deus, isso deve ter custado uma fortuna...

Acorda, pai, a mãe já está chamando. Não quero chegar tarde no jogo senão o treinador me põe na reserva e eu prometi fazer um gol pro maninho que vai chegar. Você quer que eu traga uma xícara de café pra você acordar melhor? Depois do jogo a gente pode ir comer algodão-doce na praça? Pai, por que você está sempre com sono?

Não adianta fingir que está dormindo, nós vamos ter essa conversa nem que eu tenha que falar sozinha. Faz anos que faço isso, mesmo... Anos que você não me escuta, não me surpreende, não se importa comigo. Isso, finge que está dormindo, é só o que você vem fazendo nos últimos anos: dormir, até mesmo com os olhos abertos.

Papai, acorda... daqui a pouco a mamãe chega com o tio Marcelo e eu não quero que ela pense que você dormiu o fim-de-semana todo. Eu sei que não devo falar que a gente saiu com a tia Magali ontem, mas e se escapar? Você acha que ela vai brigar comigo? Ou com você? Ou com o mano? Acho melhor não falar nada, então... Ih, papai, o interfone está tocando, acho que eles chegaram.

Acorda, deixa eu abrir essas janelas, fazer entrar um pouco de ar. Faz mais de duas semanas que você não sai dessa cama, já ultrapassou todos os limites. Acabou acabou, fazer o que? Não é seu primeiro relacionamento, até parece criança! Sim, ela foi embora, sim, ela te trocou por alguém mais jovem. Mas e daí? A vida continua. Chega, levanta já daí, vamos dar uma corrida, que tal? Conhecer umas novas mulheres... Se não levantar agora dessa cama eu juro que te jogo um balde de água gelada.

Isso são horas de ainda estar dormindo? Que avô mais preguiçoso eu fui arrumar pro meu filho... E ainda roncou a noite toda. Devo estar com mais olheiras que vampiro de filme mudo... Dormindo ao meu lado um bebê de seis meses e no outro quarto um pai que ronca feito um trovão!! Quem quer dormir agora sou eu!

Dormindo em plena primeira comunhão do neto? Que vergonha! Ainda bem que o coitadinho não viu, senão até imagino a desolação... O que tem feito agora, depois de aposentado? Aposto que dorme o dia inteiro... Eu sei que estou sendo desagradável, me desculpe. Só acho que podia aproveitar tanto tempo livre pra ficar mais perto das crianças. Você sabe como elas crescem rapidamente!

Vovô, acorda! Acorda, vovô! Não quero mais brincar disso. Faz um tempão que você está aí, deitado no chão, parece que nem está mais respirando... Se você não levantar agora eu vou chamar o papai! Vovô... vovô...

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A DOCE BÁRBARA - 11º PORTO VERÃO ALEGRE

Posted by Clenio on 10:49 in

Recentemente publiquei um texto em que falava sobre a programação quase idêntica em todas as edições do Porto Verão Alegre, em que as mesmas peças são apresentadas ano após ano, o que, de certa forma, desgasta o formato. No entanto, como nada é definitivo, volto a escrever sobre o festival de teatro da capital e dessa vez pra reiterar a minha admiração por um dos espetáculos mais tradicionais do evento: "A doce bárbara", show musical de humor estrelado pelo sensacional Antonio Carlos Falcão.

Seguindo uma estrutura simples, Falcão, na pele da cantora, diverte seu público com histórias hilariantes e interpretações de algumas de suas músicas mais conhecidas, além de brindar a plateia com imitações excepcionais de Chico Buarque e Ney Matogrosso. É o suficiente para agradar a quem procura boa música e boas gargalhadas.

"A doce bárbara" está em cartaz há alguns anos - eu mesmo já assisti a uma meia dúzia de vezes, sempre levando gente pra prestigiar e dividir alguns momentos de bom humor. Parabéns a Falcão pelo sucesso e espero ainda poder apresentar para muito mais amigos o seu incrível trabalho.

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FILMES QUE MUDARAM A MINHA VIDA - CLUBE DOS CINCO

Posted by Clenio on 17:08 in

CLUBE DOS CINCO (The Breakfast club, 1985) Direção e roteiro: John Hughes. Elenco: Emilio Estevez, Anthony Michael Hall, Judd Nelson, Molly Ringwald, Ally Sheedy, Paul Gleason

"We're all pretty bizarre. Some of us are just better at hiding it, that's all."

Quando se é adolescente qualquer probleminha vira uma desgraça absoluta. Isso nem é uma crítica e sim uma constatação, também já fui adolescente e sei como é (aliás, se eu pensar bem acho que minha porção adolescente vez ou outra volta a me atormentar). Ver a adolescência com meus olhos de hoje chega a me comover. Naquela época, tudo o que me preocupava - e a meus amigos e colegas - era ser aceito. Pela família, pelos amigos, pelo sexo oposto, pelos professores, pela sociedade em geral. Com o passar dos anos, o objetivo continua o mesmo, sempre, mas em esferas diferentes: no fundo, as pessoas nunca deixam de tentar PERTENCER, de mostrar seu valor, sua inteligência, sua beleza, sua espirituosidade... E é justamente sobre esse desejo premente de aceitação que fala um dos filmes mais marcantes da minha pré-adolescência, a obra-prima de John Hughes, o mestre do gênero: "Clube dos cinco".

Visto de um ponto de vista puramente cinematográfico/artístico/intelectual, a comédia dramática criada por Hughes beira o trivial: em uma escola de segundo grau, cinco adolescentes completamente diferentes entre si são obrigados a passar um sábado de castigo, por razões igualmente díspares. A princípio, o rebelde (Judd Nelson), a patricinha (Molly Ringwald), o CDF (Anhtony Michael Hall), o esportista (Emilio Estevez) e a esquisita (Ally Sheedy) nada tem em comum, exceto o fato de dividirem a mesma institução educacional. Conforme o dia vai passando, entretanto, as aparentemente sólidas diferenças entre eles vão se desvanecendo e, livres da pressão exercida sobre uma sociedade que exige a excelência em cada quesito da vida, eles descobrem uns aos outros e revelam toda a angústia escondida dentro de cada batom, agasalho de corrida, cigarros, silêncios e livros.

O roteiro de "O clube dos cinco" não foge de alguns clichês dos mais vergonhosos, mas a direção de Hughes e o carisma de seu elenco - formado por atores promissores que não fizeram muito por sua carreira posterior - elevam o produto final a uma deliciosa sessão de catarse juvenil, muitos anos-luz à frente dos conflitos pasteurizados de uma "Malhação", por exemplo. Os medos e ambições de suas personagens soam verdadeiros, reais, concretos e principalmente naquela época sombria onde tudo parecia uma ameaça à minha felicidade (exageros dramáticos de um pré-adolescente entediado com a vida) pareciam refletir com exatidão tudo que eu queria demonstrar mas não tinha nem coragem nem oportunidade.

Talvez os adolescentes de hoje em dia, acostumados com a velocidade das coisas e com a facilidade de comunicação proporcionada pelos ares liberais de um mundo globalizado - vejam bem, ainda falo de maneira geral - achem "Clube dos cinco" uma peça de museu, ou no máximo uma curiosidade cultural. Mas eu duvido que, entre aqueles que o assistiram nos anos 80, em plena efervescência hormonal e intelectual, não seja de emocionar ouvir os acordes iniciais da bela "(Don't you) Forget about me", que, na interpretação do Simple Minds marcou uma geração como uma tatuagem indelével.

AVISO: Essa seção não tem a menor intenção de reiterar escolhas de críticos ou babar ovo em cima das maiores bilheterias da história (aliás, bilheteria é o que menos importa aqui). Todos são filmes que, por um motivo ou outro fizeram da minha vida algo melhor, por razões mil. É uma lista bastante aleatória, democrática e os títulos que dela participam tem apenas uma coisa em comum: são filme que vi, revi, trevi e verei sempre que meu coração mandar.

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O PAU

Posted by Clenio on 10:55 in

Primeiro, uma consideração: eu ADORO Fernanda Young. Gosto dela como escritora, roteirista, entrevistadora e principalmente suas atitudes (posar nua em um país onde se valoriza mais a bunda do que o cérebro é definitivamente uma atitude corajosa pra caramba...) Tendo dito isso e explicitado minha admiração incondicional a ela, nada mais me resta senão tecer elogios a "O pau" (Ed. Rocco), seu mais recente romance, que eu li em menos de 48 horas (dizer devorar seria o mais correto, mas tratando-se de um livro com esse título pode soar como uma piada de duplo sentido de péssimo gosto...). Talvez seja uma das mais divertidas, insanas e paradoxalmente coerentes obras nacionais dos últimos anos, mixando cultura pop com geniais insights a respeito das relações entre esses dois eternos inimigos (??), o homem e a mulher.

É praticamente impossível dissociar a escritora Fernanda de sua protagonista, Adriana, assim como é um trabalho hercúleo não imaginar que a roteirista Young seja tal e qual Vani, sua mais famosa personagem (da saudosa série "Os Normais"). Adriana é uma mulher de 38 anos, culta, bem de vida, descolada e inteligente que se envolve com um homem de 24 anos, ator (motivo para sacadas admiráveis sobre os bastidores do mundo do entretenimento), bonito, sedutor mas carente de um cérebro razoável e dono de uma parca cultura. Ao descobrir, da pior maneira possível, que é traída, Adriana sente-se humilhada (quem não se sentiria?), vasculha o orkut do namorado (em um capítulo particularmente tragicômico) e resolve se vingar através da castração. Não uma castração física, mas psicológica, que segundo ela, é bem mais eficaz.

Ler Fernanda Young é um prazer enorme. Seu texto bem-humorado (de um bom-humor azedo, mas de uma ironia irresistível) atinge diretamente a identificação dos leitores, sejam eles homens ou mulheres, devido a sua aguçada percepção das relações amorosas e/ou romântico-sexuais. Os homens provavelmente vão pensar duzentas vezes antes de trair suas namoradas e as mulheres... certamente irão dar altas gargalhadas acompanhando o falar incessante de Adriana (imagino o quão divertido seria ver o texto em um palco, em um monólogo estrelado por digamos, Fernanda Torres ou Drica Moraes).

"O pau" é um livro curtíssimo (meras 180 páginas que soam como 30), mas diz muito mais a que veio do que dezenas de outras bíblias literárias pretensiosas e ocas. Para terminar com um trocadilho infame, mas de certa forma apropriado, nesse caso o tamanho não importa: importa é o prazer que proporciona. E prazer é uma coisa que o pau de Fernanda Young oferece generosamente.

"Paus sempre me lembraram o Hitler... agora entendo a profundidade desse lapso. Aqueles alemães todos, enormes, louros, fortes, desfilando em homenagem àquele nanico, de topete e bigodinho. Todo nervosinho. É exatamente igual. Exatamente igual ao que vocês, homens, fazem com seus paus. Vocês obedecem a ele como cachorrinhos amendrontados. Por que esse temor todo? Vocês tem medo que o pau fique puto e vá embora? Esposam ficam putas e vão embora, e vocês nem ligam. Vocês até preferem."

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NOT THE DOCTOR

Posted by Clenio on 23:43 in ,

Tá, vamos deixar combinado assim? Quando você se curar dos seus traumas você me procura, pode ser? Não sou seu terapeuta, nem seu pai. Não sou formado em medicina nem pretendo um dia ter filhos, portanto, vá lamber suas feridas bem longe de mim.
Não tenho culpa se quando você era criança não sentia amor da parte de sua família nem muito menos sou responsável se seus pais tinham brigas homéricas frente a seus olhos assustados. Se você não gosta do que vê no espelho quando se examina só posso aconselhar-lhe uma cirurgia plástica ou melhor ainda, uma cirurgia na auto-estima. Como se faz isso? Boa pergunta, também a faço frequentemente... mas a mim mesmo, só a mim.

Eu não posso tentar curar seus medos de abandono, de rejeição, de infelicidade. Também tenho meus medos, e eles me ocupam tempo o bastante pra que eu deseje fugir de nuvens negras vindas de outras paragens. Não posso me permitir analisar seus problemas quando minha própria cabeça vive em um emaranhado de pensamentos oblíquos que sugam meu intelecto e confundem minhas lembranças com meus sonhos.

Não posso permitir que você deposite em mim todas as suas esperanças de felicidade. Quem sou eu pra ter a vida de alguém nas minhas mãos se nem mesmo a minha eu consigo levar com uma mínima certeza? Tenho meus próprios pesos na alma e pretendo ir deixando-os pelo caminho e não acumulando outros mais que, perdoe-me a franqueza, não me dizem respeito.

Não, não é egoísmo... não exijo uma criatura sorridente e sem problemas perto de mim, pra isso inventaram robôs e bonecas infláveis. Mas posso - e vou - exigir pessoas saudáveis a minha volta. Tenho o direito e o dever para comigo mesmo de buscar o sol, a luz, a saúde, em vez de voltar a me embrenhar na chuva, na escuridão e na doença física e psicológica.

Talvez sejamos parecidos demais, sedentos demais por uma cura rápida e milagrosa. Mas o tempo me ensinou, e ensinará a você também, que o caminho para a sanidade só pode ser feito solitariamente. E lá, no fim da estrada, nos encontraremos certamente, com um sorriso a iluminar nosso rosto...

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FORA DO AR - 11º PORTO ALEGRE EM CENA

Posted by Clenio on 23:26 in

Se tem uma coisa que meio que me incomoda nos Porto Verões Alegres é que normalmente são as mesmas peças de teatro todo ano. Tudo bem, "Bailei na curva" dá pra ver, rever e se emocionar por anos e anos ainda, assim como as duas personagens de "Se meu ponto G falasse". Mas dentre as dezenas de atrações que voltam todo ano surge, discretamente, alguns projetos novos que merecem atenção. Um deles eu assisti hoje e recomendo, ainda que só mais uma apresentação esteja marcada, para amanhã, 27/01 na Sala Álvaro Moreyra: a comédia "Fora do ar", escrita e dirigida por Felipe Mônaco.

"Fora do ar" não tem uma trama propriamente dita, utilizando do artifício de pequenos sketchs para brincar com as inúmeras agruras da carreira difícil daqueles que optam em ser atores. Programas de auditório, novelas mexicanas, reality shows... nada escapa do olhar irônico mas carinhoso do texto de Felipe, que dá espaço de sobra para atuações impagáveis dos ótimos Leonardo Barison e Patrícia Soso (ambos do elenco de "Manual prático da mulher moderna").

Altamente recomendável para quem gosta de boas risadas, "Fora do ar" merece uma temporada maior no decorrer de 2010. O meu aval eu dou com louvor!

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IRONIC

Posted by Clenio on 01:21 in ,

Não é irônico perceber que justamente agora que você desistiu de conquistá-lo, o amor da sua vida resolveu se apaixonar por você? Não é uma incrível ironia constatar que depois de tanto rir de seus amigos que sofriam por amor, você mesmo esteja consumido por dentro com o final de um namoro? Não é de rir o fato de que no momento em que você completa a coleção de "Friends" saia uma caixa com todas as temporadas, e com um preço bem mais modesto?

Não é de enlouquecer notar que depois de ter emagrecido mais de oito quilos seu ex-namorado te trocou por uma gorda? Ou pior ainda, ter estudado feito um louco, perdido noites de diversão e afundado relacionamentos pra se formar em jornalismo e ter a notícia de que o diploma da categoria não é mais exigido? Ou, seguindo o mesmo raciocínio, ter lido TODOS os clássicos da literatura, conhecer toda a obra de Mozart, Beethoven e Bach e se apaixonar por alguém que gosta de Calypso?

Não é de dar raiva se formar em publicidade para agradar seus pais e ouvir deles no dia da formatura: "Se fosse em Direito, dava pra fazer um concurso e virar juiz..."?
É de rir ou chorar saber que aquela criatura que parece ser sua alma gêmea namora seu melhor amigo? Não dá vontade de xingar São Pedro quando você chega encharcado da chuva no trabalho, olha pela janela e vê o sol começar a brilhar?

Não é o cúmulo da ironia você ser perseguido por mulheres e mais mulheres justamente quando descobriu que é gay? Ou pagar um ano inteiro de ingressos para jogos no Beira-rio e ler a notícia de que o Nilmar foi vendido? Ou esperar anos e anos pelo show de uma banda que você ama e receber um telefonema de sua melhor amiga convidando pro casamento no mesmo dia?

Ironia é foda... e ninguém escapa. Mostre-me uma pessoa que nunca passou por uma situação de ironia do destino e mostrar-te-ei uma pessoa que ainda vai passar. No dialeto do Paraíso (lá onde dizem que Deus mora), ironia provavelmente quer dizer algo como: "hahaha, se fodeu, mané..." E o que nos resta fazer, a não ser rir???

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AMOR SEM ESCALAS

Posted by Clenio on 00:46 in

"Não se enganem, seus relacionamentos são os componentes mais pesados de sua vida." Esse é, basicamente, o pensamento de Ryan Bingham, o protagonista de "Amor sem escalas" (título cafoninha para o original e bem mais apropriado "Up in the air"). Vivido por um George Clooney cada vez mais afiado, ele trabalha demitindo pessoas cujas empresas não tem mais interesse em manter na sua folha de pagamento. É um emprego aparentemente desagradável, mas que permite a ele viajar 320 dias por ano e que o impede, convenientemente, de estabelecer uma conexão mais íntima com quem quer que seja - e isso inclui até mesmo suas duas irmãs. Absolutamente convicto de sua liberdade emocional, ele conhece Alex Goran (Vera Farmiga), que também trabalha constantemente viajando pelo céu dos EUA e inicia com ela o mais próximo possível de uma relação amorosa. Acompanhar e tutorar a novata Natalie Keener (a excepcional Anna Kendrick) em seu emprego e visitar as irmãs para o casamento de uma delas acaba forçando o empedernido Ryan a rever seus conceitos e começar a perceber que talvez, como ele mesmo diz, aconselhando seu futuro cunhado, "todos precisam de um co-piloto".

COm boas chances de concorrer a uma penca de Oscar - o que seria absolutamente justo, uma vez que consegue a façanha de unir humor com sensibilidade - o novo filme de Jason Reitman (de "Juno" e "Obrigado por fumar") conquista aos poucos, com uma sutilieza rara no cinemão americano. O emprego fora do normal do protagonista surge como o pano de fundo de uma história que versa sobre solidão, sonhos despedaçados e a velha ilusão de é possível ser feliz sozinho. Ryan Bingham é um ser humano que criou uma carapaça em volta de si e, bem sucedido em sua carreira, não consegue perceber - talvez até tarde demais - que acumular milhas aéreas não é tão importante quanto acumular amor, carinho, companhia e laços afetivos. Os nossos relacionamentos são, sem sombra de dúvida, nossa bagagem mais pesada, mas sem essa bagagem como conseguiríamos sobreviver? Uma mochila vazia pode ser mais confortável, é claro, mas novamente parafraseando o personagem de Clooney, "nos momentos mais importantes de sua vida, você estava sozinho?"

O roteiro - adaptado do romance de Walter Kirn e vencedor do Globo de Ouro - é uma pérola. Diálogos engraçados e profundos se revezam, sem deixar que o ritmo caia ou que seus personagens soem rasos e/ou inverossímeis. Clooney brilha em mais um de seus carismáticos papéis, mas é a jovem Anne Kendrick que rouba o filme - qualquer cena em que ela aparece é impossível tirar os olhos dela. Na pele da equivocada Natalie, Kendrick demonstra segurança seja para fazer rir ou emocionar - uma indicação ao Oscar de atriz coadjuvante é certeza quase absoluta.

"Amor sem escalas" é mais do que simplesmente uma comédia romântica - um rótulo que normalmente rebaixa filmes de qualidade a meros caça-níqueis. É o melhor trabalho de Reítman até a data e seu final anti-hollywoodiano (que lembra o do sub-apreciado "Alfie, o sedutor") proporciona ao espectador bem mais do que ele consegue ao assistir coisas como "A proposta". Ainda é um pouco cedo, mas minha torcida pro Oscar já tem um forte candidato!

PS - Considerações sobre o trailer de "Um olhar do paraíso" (The lovely bones): Peter Jackson mais "Almas gêmeas" do que "O Senhor dos Anéis", graças a Deus; lembranças do visual de "Amor além da vida" (que eu adoooooooro) e um elenco de primeira linha (Susan Sarandon, Mark Whalberg, Rachel Weisz, Stanley Tucci e a menininha de "Desejo e reparação", Saoirse Ronan). Veredicto: quero ir na estreia!!!

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MARY JANE

Posted by Clenio on 01:10 in , ,

Para Rodrigo

E aí, como estão as coisas? Sei que nunca pergunto isso, mas não é por mal, quem mandou você sempre botar banca de durão e insensível? Gostaria muito de saber o que realmente se passa na sua cabeça, mas será que você mesmo a entende? Será que você quer que eu saiba?

Existe uma casca aí, que eu sei. Isso percebe-se de longe, não é preciso ser gênio pra perceber. Mas você já pensou que essa casca não dura pra sempre e uma casca quando cai às vezes libera o sangue que estava segurando? Sabia que chorar faz bem? Ninguém é menos homem por demonstrar que sofre, as pessoas são menos humanas apenas quando não se permitem sentir. Meu ombro está aqui, fácil de alcançar. Apesar da fachada egocêntrica, existe dentro de mim um amigo verdadeiro, um ouvido paciente e um conselheiro experiente. Já estive em seu lugar, posso te mostrar o caminho das pedras, ou, se você preferir, segurar sua mão enquanto você luta por ar.

Posso te ajudar assistindo a "24 horas" com você, ou simplesmente te ouvindo expor seu ponto de vista um tanto tortuoso. Posso ver "Os Tudor", falar das minhas desgraças romântico/sexuais, entender que suas crises de raiva tem significados outros que não os motivos banais e prosaicos que as provocaram. Posso boicotar minha dieta pra beber cerveja de trigo durante a semana e apesar de não querer falar nada nas primeiras horas da manhã isso não quer dizer que eu não te ame, que não te veja como meu melhor amigo, meu irmão, meu confidente e meu principal objeto de reclamações (custa muito colocar o isqueiro no devido lugar??)

É difícil entender como chegamos até aqui. É improvável que um dia pudéssemos prever o quanto aquele alemão metido a conquistador e que gosta de filmes de terror trash seria tão importante na minha vida. Mas eis que, divetidas noites regadas a whisky com guaraná e músicas dos anos 80 depois essa amizade tão imprevisível entre um escorpiano azedo e depressivo e um libriano hiperativo e genioso nem parece mais tão sem sentido. Algumas brigas, vários porres, inúmeros filmes vistos juntos - e bem poucos com igualdade de opiniões - e dois empregos conjuntos depois, Batman e Robin, Chandler e Joey, Fred e Barney continuam de pé, firmes e fortes. Um segura o outro, ainda que um deles dificilmente assuma que precisa de apoio. Não importa como nem onde nem porque. Estou aqui... basta bater na porta do quarto ao lado...

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HEAD OVER FEET

Posted by Clenio on 22:53 in ,

Eu amo estar apaixonado, é fato! Não adianta eu negar, querer mentir dizendo que estou cansado e me aposentei do esporte. Eu gosto, sim, e gosto que me enrosco... A questão nem é tentar fazer de conta que sofri tanto que agora quero mais é distância de relacionamentos, uma moratória, como canta Alanis Morissette. Meus períodos de luto pós-decepção amorosa existem, logicamente, e alguns são assustadores. Mas chega da conversa de "nunca mais!" Dizer que nunca mais vai se apaixonar, depois de um término de relação é a mesma coisa que jurar nunca mais beber depois de um porre violento, com a diferença que no coração não se manda. Podem dizer o que quiser e considerar a frase um chavão de quinta categoria, mas o coração tem razões que a própria razão desconhece, sim.

E por que eu gosto de estar apaixonado? Ora essa, ainda preciso explicar? Quando estou apaixonado eu acho a vida mais bela, o céu mais azul, as pessoas mais bonitas e agradáveis. No período áureo da paixão nada me incomoda, tudo é passível de boas risadas, minha paciência tem um limite infinito. Apaixonado por outra pessoa eu mesmo me torno uma pessoa melhor, mais ambiciosa, mais esforçada, mais otimista. O que, além de uma paixão pode nos arrastar para uma academia? O que mais nos apresenta um mundo novo, cheio de detalhes coloridos senão uma boa e avassaladora paixão?

Quando estou apaixonado nada mais me importa. Não quero dinheiro, só quero, só quero amar, só quero amar. Adoro o período em que tudo na outra pessoa é novidade, é fascinante, é engraçado, é terno. Amo a sensação de saudade depois de dez minutos. Quase choro de prazer quando um telefonema dura horas porque nenhum lado quer desligar. A conta? Pode vir do tamanho que quiser, eu estou apaixonado, ora bolas...

Estar apaixonado é estar fora de si. E o que pode ser melhor do que estar fora de si? Passamos dias, meses, anos, dentro de nós mesmos, aturando nossos defeitos, ouvindo nossas lamúrias, aguentando nosso péssimo gosto musical... Quando nos apaixonamos deixamos de lado esses pequenos defeitos para nos concentrarmos nas qualidades da pessoa amada - e normalmente nessa primeira fase, ela os tem pra dar e vender. Problemas? Meu amor, não temos problemas, nós estamos apaixonados um pelo outro.

Se apaixonar é abrir um capítulo novo na história da nossa vida. Um capítulo emocionante, com encontros inesquecíveis - ao menos para nós -, com novidades diárias, com uma bela trilha sonora e beijos que jamais outras pessoas conseguiram dar: um dos sintomas da paixão é achar que somos o primeiro e único casal da história da humanidade. Adão e Eva? Fala sério, nós não somos muito mais bonitos??

Uma paixão nova é como um livro novo, com um cheiro particular e agradável. É uma garrafa de vinho que você guardou para uma ocasião especial. É uma bela noite de sono quando você tinha problemas de insônia há meses. É um filme a que você nunca assistiu e descobre que precisa urgente estar entre seus "Dez mais". É um beijo quente que não para e nem dá sinais de cansaço. Estar apaixonado é estar em vias de levitar, é sorrir à toa e correr o risco de virar objeto de deboche dos amigos. E principalmente, estar apaixonado é achar que, mesmo depois de tantas relações que acabaram pessimamente, esta vai dar certo.

Sou viciado em paixão. Fico de cabeça pra baixo quando isso acontece, nem raciocinar direito eu consigo. E me apaixono fácil! Um belo sorriso, uma conversa inteligente e um beijo bom e pronto... estou no papo! Mas isso não significa que eu me apaixone por qualquer pessoa. Estar aberto a uma paixão não quer dizer "estou desesperado para encontrar alguém". Estar aberto a uma paixão quer dizer "estou suficientemente bem comigo mesmo a ponto de dividir essa plenitude com alguém nas mesmas condições". O difícil nisso tudo é encontrar esse alguém. Vai ver é por isso que quando a gente encontra fica tão... apaixonado!!!

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YOU LEARN

Posted by Clenio on 01:24 in ,

De tanto levar na cabeça é esperado que algumas coisas você aprenda. Não dá, definitivamente não é possível que você continue sendo sempre o mesmo idiota depois de ter passado por tantos desastres - e nem estou falando da experiência que o acúmulo de anos deveria ter lhe dado, e sim dos tenebrosos momentos frustrantes, humilhantes e/ou broxantes pelos quais você certamente passou. Ah, nunca passou por nenhum? Qual é a hora do próximo vôo para a Terra do Nunca, mesmo??

Do primeiro namoro você levou a certeza de que é muito raro, se não impossível, que as duas pessoas amem uma a outra ao mesmo tempo. É uma certeza matemática: você está apaixonado por sua cara-metade e ela nem tchuns pra você; quando ela se apaixona por você e tem a burrice de contar que, naquela semana em que passou na praia em janeiro te traiu - "era uma questão que precisava ser resolvida, eu e você estávamos começando, não havia envolvimento apesar de eu ter dito que te amava umas trezentas vezes" - quem perde o tesão é você. Gangorra emocional na certa!

Do namoro seguinte a conclusão óbvia: NUNCA, JAMAIS se apaixone por alguém que ainda não sabe o que quer, ou não pode fazer o que quer porque depende de outras pessoas (pai, mãe, avó, terapeuta). Um relacionamento não se faz sozinho e amar por dois acontece por um tempo, mas não dura pra sempre. Dessa relação fica também outra importante lição: beleza não põe mesa, não, mas namorar jaburu é foda...

A terceira alma gêmea que cruzou seu caminho transformou-se em poucos meses em um encosto dos fortes. Mas entre as assustadoras e obsessivas crises de ciúme que lhe fez enfrentar também teve seus dias professorais: foi a partir daí que você soube que não se deve nunca envolver-se com quem não tem uma vida própria - e por vida própria entenda-se trabalho, família, amigos e hobbies que não sejam os mesmos seus. Tudo bem, o sexo aqui foi dos melhores, mas ensinou que uma ação carnal não apaga as cicatrizes emocionais nem tampouco é o bastante para manter um namoro que deve ser sacrificado.

O quarto amor foi o mais doce e tocante possível, mas a excruciante dor que causou provou que nunca se está preparado emocionalmente para o sofrimento. Foi essa mesma criatura que te fazia cantar na chuva que também lhe demonstrou o tamanho do amor que você é capaz de sentir e mesmo sem querer, te magoou ao assustar-se com sua dimensão. Os meses que passaram juntos provaram, sem sombra de dúvida, que o amor existe, é lindo e tem as pernas finas e um rosto emburrado.

A quinta tentativa de ser feliz ao lado de alguém lhe ensinou que uma ferida só cicatriza quando não está tapada, ou seja, ninguém tem o direito de usar outra pessoa para substituir o que não pode ser substituído. E mostrou, acima de qualquer suspeita, que ser amado pode parecer ser fácil, mas é igualmente trabalhoso e necessita de muita manutenção.

E vem os mestres de número 6, 7 e 8, que lhe ensinam respectivamente que: a pressa é inimiga da perfeição, que distância não funciona, que erros de português arruinam um relacionamento, que diferentes níveis de tolerância ao álcool afastam as pessoas, que ciúme tem limite e que não se pode esperar que a outra pessoa adivinhe seus pensamentos, mesmo que no fundo você saiba que esse seria o "Abre-te Sésamo" do seu coração.

A única coisa que nunca se aprende em relacionamentos é justamente o que deveria ser a principal lição: por mais que se sofram, que se incomodem, que se destruam emocionalmente, as pessoas nunca aprenderão a fórmula mágica que as levariam a desistir de buscar uma alma gêmea. Vai ver é porque nessas aulas todas que tomamos, o recreio sempre vale a pena...

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DEUS É MEU CAMARADA

Posted by Clenio on 00:52 in

Que minha mãe nunca leia esse post, mas já faz algum tempo que minhas relações com Deus estão seriamente estremecidas. Respeito, tudo bem, não quero arrumar briga com ninguém, mesmo porque religião sempre é um assunto muito delicado. Mas eu, na boa, na boa, não consigo entender certas atitudes dEle, não só em relação a mim, o que seria no mínimo bastante egoísta mas também em relação ao mundo em geral. Talvez por isso, por essa minha ululante lacuna de fé, eu tenha gostado tanto do livro "Deus é meu camarada" (Ed. Suma de letras), do escritor francês Cyril Massarotto. Com muito bom-humor e um senso de ritmo invejável (talvez por ser letrista de rock nas horas vagas), Massarotto construiu uma narrativa que beira o surreal mas que, estranhamente, faz todo o sentido do mundo.

O protagonista, cujo nome em nenhum momento é citado, é um homem comum de 30 anos que trabalha como vendedor de sex-shop. Vivendo uma existência absolutamente prosaica, um belo dia ele passa a ver e ouvir Deus, sem nenhum motivo aparente. Depois de acostumar-se com a ideia, ele começa a ter uma relação de amizade e confiança com o Ser Supremo, que lhe explica o universo, a vida, e, o que não é nada mal, lhe aproxima de Alice, que virá a ser a mulher de sua vida. O livro acompanha a amizade entre os dois por trinta anos, período no qual Deus tentará fazer com que seu novo pupilo entenda o motivo pelo qual foi escolhido e compreenda de maneira racional os fatos que alteraram drasticamente sua vida.

Na verdade, "Deus é meu camarada" não pode ser considerado um livro essencial para aqueles que procuram ler apenas clássicos, ou os mais vendidos da Veja. É bem provável, aliás, que passe quase em brancas nuvens dentre as dezenas de lançamentos que chegam às livrarias semanalmente. Sua linguagem não é rebuscada - muito pelo contrário, é de uma simplicidade franciscana -, não tem lances romanescos de suspense e tampouco super-heróis como protagonistas - a não ser que se veja Deus como tal. É simplesmente um livro bastante agradável, leve e nem mesmo seus momentos mais emocionantes chegam a tirar o prazer da leitura. Algumas passagens beiram o piegas, mas é quase impossível não comover-se com as boas intenções do autor em conquistar pelo humor para dar a sua visão de Deus da maneira menos dogmática possível.

Pelo bem, pelo mal, vale a pena conhecer "Deus é meu camarada". Senão pelos deliciosos diálogos ou por alguns insights bastante interessantes, ao menos para que se comece - ou no meu caso volte a - tentar entender os motivos pelos quais essa força superior chamada Deus quase sempre parece ignorar nossos pedidos e fazer as coisas a Seu modo.

"Acho que os soníferos que a gente engole depois de adulto são as canções de ninar que não cantaram pra nós quando éramos crianças."

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A SERPENTE - 11º PORTO VERÃO ALEGRE

Posted by Clenio on 21:35 in

Por mais que eu vá ao teatro, por mais que eu ADORE ir ao teatro, por mais que teatro sempre me fascine - pelo cheiro das salas, pela atmosfera contagiante, pela possibilidade de ser transportado a outras vidas, lugares e acontecimentos - existe um elemento no teatro que eu não consigo gostar: por que, meu Deus, por que certos grupos, diretores e/ou produtores insistem em inventar moda onde não há necessidade? Digo isso porque, de dezembro pra cá tive a oportunidade de assistir a montagens de três peças de Nelson Rodrigues e em todas as elas tive a mesma sensação de desconforto misturado com indignação. E não estou falando do desconforto e indignação que o público de Nelson certamente sentia quando da estreia de suas polêmicas obras, muito à frente de seu tempo. Falo é do sentimento de impotência frente à quase destruição de seus textos, admirados por muitos e venerado por esse que vos fala. Tenho adoração pela obra de Nelson desde que li "Álbum de família", escondido, aos 12 anos de idade - com 12 anos de idade, no interior, em colégio de freiras ler uma peça dessas era ato tão grave quanto cometer um homicídio. De lá pra cá, li muita coisa escrita por ele, assisti a deploráveis adaptações cinematográficas de sua obra (como esquecer Lucélia Santos em "Bonitinha mas ordinária", Vera Fischer em "Perdoa-me por me traíres", Sonia Braga em "A dama do lotação" e Darlene Glória em "Toda nudez será castigada"?) e vibrei com a qualidade excepcional de "A vida como ela é" dirigida por Daniel Filho e "Engraçadinha" estrelada por Claudia Raia e Alessandra Negrini. Li, reli e treli "O anjo pornográfico", de Ruy Castro. Me atrevi até mesmo a escrever uma peça de teatro inspirada em sua obra e sua vida chamada "Pouco amor não é amor". Ou seja, modéstia à parte, posso dizer que sou um fã de carteirinha e isso me dá não o direito, mas o dever de me indignar com montagens tão "mudernas" de algumas de suas peças.

Primeiro veio Gabriel Vilella com a montagem paulista de "Vestido de noiva", com Leandra Leal e Marcello Antony. Pois bem, "Vestido de noiva" é, na minha opinião, a maior peça de teatro jamais escrita no Brasil até hoje - imaginem então em 1942!! Alaíde, sua protagonista, é, pra mim, o Hamlet nacional, o maior papel que uma atriz pode almejar. A estrutura do texto, a genial ideia de misturar os planos da realidade, do passado e da alucinação e os diálogos enxutos podem ser o sonho de qualquer diretor, menos de Vilela. Ele misturou elementos de teatro de rua, clowns e um visual de cinema dos anos 20 pra criar um espetáculo risível - não por se tratar de uma comédia, mas por merecer mais deboche do que aplausos.

Depois, veio "O beijo no asfalto", que pelo menos na montagem porto-alegrense foi disfarçado com o título "Um Nelson". Até poderia ter se salvo se o diretor - cujo nome não guardei nem faço questão de lembrar - não tivesse tido a infeliz ideia de acrescentar à trama da peça (uma das melhores, diga-se de passagem) uma cena inexistente no roteiro original que reproduzia - pasmem! - um vídeo do youtube protagonizado por um travesti que exigia o pagamento de um programa. Juro, foi uma situação constrangedora que me deu vontade de, parafraseando Nelson, sentar na calçada e chorar lágrimas de esguicho.

Por fim, hoje assisti a uma montagem de "A serpente", última peça do dramaturgo. Não é uma de suas obras mais conhecidas nem tampouco uma de suas melhores. No entanto, nada justifica a histeria apresentada no palco, misturando esquizofrenicamente a história de duas irmãs (as atrizes, justiça seja feita, são ótimas) com gente correndo com véus de noivas (incluindo os atores), comentários externos à ação e uma trilha sonora que põe no mesmo balaio Elza Soares, Madonna e Ana Carolina.

Respeito quem gosta desse tipo de teatro, afinal a diversidade cultural existe e quem sou eu pra impor opiniões? Mas eu definitivamente não consigo me acostumar com o que considero falta de confiança no texto e na ação descrita pelo autor. Teatro construtivista, pós-moderno, de vanguarda... nada disso me inspira mais do que tédio e sono. Parabéns à entrega dos atores e a algumas (poucas) boas ideias, mas ainda preciso ver uma montagem fiel e decente de Nelson Rodrigues em um palco gaúcho.

PS - Para ser justo, aplaudo "Fragmentos rodrigueanos", que pelo menos parte de textos não-teatrais para atingir a seu objetivo. Não inventa a roda, mas pelo menos não faz com que o autor de "O casamento" se revire no túmulo.

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FORGIVEN

Posted by Clenio on 23:23 in ,

Não sei a opinião geral, mas eu acho a palavra "perdão" uma das mais bonitas da língua portuguesa. Não só o som e a forma escrita da palavra, mas tudo que ela representa me deixa emocionado. Sério, sem cinismo de nenhuma espécie! Sou um perdoador (essa palavra existe?) contumaz. Posso demorar a desculpar o que me fazem, mas um belo dia eu acordo com a benevolência em alta e deixo o rancor pra trás. Tá, não digo que não tenho nenhuma pendência do passado, mas quando isso acontece é porque realmente certas coisas realmente não me desceram. Sim, pra mim, quase tudo dá pra relevar depois de um tempo, mas alguns atos são, digamos, imperdoáveis.

O que é imperdoável pra mim? Vejamos... no âmbito social, acho imperdoável que tanta injustiça social esteja gritando pelo mundo enquanto o Vaticano, por exemplo, esbanja riqueza e luxo (e estamos falando da sede do que deveria ser a casa de Deus...). Acho imperdoável violência contra crianças, corrupção no governo, falta de apoio à cultura, trocar a Alanis Morissette pela Scarlett Johansson, dar o Oscar de melhor filme à "Crash" em vez de a "O segredo de Brokeback Mountain"...

Acho que não tem chance de perdão quem rouba por ganância, quem é ignorante por opção, quem não tem ambição de melhorar a cada dia. Não merece absolvição quem consegue apagar o melhor de si em nome de sentimentos negativos como inveja, raiva e preconceito. Não dá pra perdoar racistas, homofóbicos, genocidas, torturadores, ditadores (mas é obrigação de qualquer um não condenar uma geração pelos erros das anteriores).

Ser perdoado é impossível quando se machucou uma pessoa deliberadamente, quando se matou o amor, a admiração e a confiança que ela poderia ter sentido. Perdoar uma traição é difícil, mas não impraticável. Impraticável é perdoar a quebra daquele pequeno elo que ligava duas pessoas. Enterrar uma mentira se consegue. O que não se consegue mais é olhar da mesma forma inocente e desprovida de malícia dentro dos mesmos olhos - que aliás, nem parecem mais os mesmos... E perdoar alguém que conseguiu matar um amor talvez seja a forma de perdão mais difícil de todas.

Perdoar e esquecer são coisas diferentes. Quase tudo pode ser perdoado. Esquecer já é mais difícil. Requer mais trabalho, mais tempo, mais transcendência. Conseguimos perdoar boa parte do que nos é feito, mas com certeza aquele fantasma sempre estará em nosso sótão, esperando o momento certo para nos assustar. E cabe a todos, ao perdoador e ao perdoado, cuidar para que ele nunca mais saia de lá.

E uma coisa é certa. Como bem já dizia Vinícius de Moraes, "quem não pede perdão não é nunca perdoado". O poeta estava - mais uma vez - coberto de razão. No fundo quem realmente não merece perdão é aquele que não o pede.

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TALVEZ UMA HISTÓRIA DE AMOR

Posted by Clenio on 23:41 in

Tudo bem, tentei ler "O símbolo perdido", de Dan Brown, mas esbarrei na semelhança exagerada com suas obras anteriores. Confesso, li, em meros três dias os deliciosos "32" e "O diabo que te carregue!", da brasileira Stella Florence, dicas do meu amigo recente Fernando (valeu, cara, me diverti pra caramba!!). Mas a impressão que eu tenho nesse momento é que o primeiro livro de verdade que eu li em 2010 é um romance curtinho (157 páginas), de um escritor francês que fez sucesso há alguns poucos anos com "Como me tornei estúpido". Seu terceiro livro publicado no Brasil, "Talvez uma história de amor" (Ed. Rocco) é uma fascinante e divertida viagem para dentro da mente de um homem comum em um momento bastante estranho de sua vida.
Virgile, o protagonista, trabalha em uma agência de publicidade, mora em um prédio onde convive com prostitutas e outros membros da escória, tem uma amizade invejável com uma bela homossexual e depende incondicionalmente (e racionalmente) de sua terapeuta. Quase um misantropo, ele não se envolve de verdade com mulher nenhuma, apaixonado mais pela Paris que ama apaixonadamente do que por relações românticas estáveis. Sua vida pacata e tediosa dá uma virada quando, um dia, chegando do trabalho, ele ouve, na secretária eletrônica, o recado de uma mulher chamada Clara, que termina o relacionamento entre eles.
Sem saber nem ao menos quem é Clara, ele entra em choque. A princípio decidido a descobrir quem é ela, Virgile aos poucos assume perante a sociedade sua condição de vítima de abandono e, paradoxalmente, acorda pra vida.

O texto bem-humorado de Page é a maior qualidade de seu livro. Acompanhando Virgile pelas ruas de Paris e no emaranhado de seu cérebro repleto de ideias bastante estranhas sobre amor, família, trabalho e sociedade, o leitor fica tão ansioso quanto ele para chegar ao final de sua incansável busca. Por Clara, por sua memória e principalmente pelo resgate de sua porção ser-humano.

Um livro engraçado, inteligente e ligeiro. Um livro de férias que não exige o desligamento do cérebro.

"Amamos da mesma forma como viajamos, por períodos curtos e seguindo roteiros predeterminados. Apaixonamo-nos para ter lembranças, cartas, um conjunto de sensações, novas cores em nossas íris; para ter o que contar no escritório, aos nossos amigos, ao nosso psicanalista. Não existe diferença entre o amor e as viagens, pois sempre voltamos a eles."

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NOVA YORK, EU TE AMO

Posted by Clenio on 23:12 in

Filmes que tem Nova York como cenário já me seduzem de cara. Das paranóias de Woody Allen às claustrofóbicas imagens de Martin Scorsese - passando pelo romantismo de "Harry & Sally" e pelo glamour de "Sex and the city" - a Grande Maçã tem sido personagem constante de qualquer sonho de consumo que eu porventura tenha ou possa vir a ter. Não é de estranhar, portanto, que eu tenha corrido ao cinema para assistir a uma declaração de sentimentos nobres à bela cidade. "Nova York, eu te amo" é uma colagem de pequenas histórias de amor (de todos os tipos) que tem como pano de fundo o cosmopolitismo, a exuberância e a beleza da cidade que nunca dorme(sim, as ruas violentas de filmes como "Taxi driver" foram relegadas a um plano inexistente, afinal, a ideia aqui é uma homenagem carinhosa). No entanto, ao contrário de seu irmão mais velho, "Paris, te amo", esse segundo capítulo de uma série que fará do Rio de Janeiro sua próxima parada, tenta unir, ainda que timidamente, suas personagens. Infelizmente, que soa boa ideia - dar uma unidade ao projeto - acaba sendo seu ponto mais fraco.

Como naturalmente acontece em filmes episódicos, algumas histórias são bastante interessantes e com personagens bem delineados. O curta dirigido por Natalie Portman (que atua no segmento da indiana Mira Nair) é um exemplo de concisão, delicadeza e sensibilidade, por exemplo. O episódio que une os sensacionais Chris Cooper e Robin Wright Penn consegue ser sexy, surpreendente e comovente, além de contar com uma bela e conhecida canção do Radiohead. E a rápida história de amor entre Orlando Bloom e Christina Ricci encanta pela simplicidade e simpatia do casal.

O problema maior em filmes como "Nova York, eu te amo" é que algumas vezes a necessidade de contar histórias em tão curto espaço de tempo prejudica o desenvolvimento das personagens. A bela química entre a veterana Julie Christie e o jovem Shia LaBeouf, por exemplo, dá um gosto de quero-mais e as aparições-relâmpago do ótimo Justin Bartha também aguçam a curiosidade.

No balanço final, "Nova York, eu te amo" se sai bastante bem. É um filme agradável, inteligente, bem editado, com um elenco impecável e um cenário invejável. Não é tão bom quanto seu congênere francês, mas é uma opção sadia e elegante a filmes-evento como "Avatar".

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RIGHT THROUGH YOU

Posted by Clenio on 22:40 in ,

Sei bem o que se passa na sua cabeça quando me olha assim, seriamente, bebericando sua cerveja - a quinta, pelas minhas contas. Você pensa exatamente isso: "Por que esse cara gosta tanto de mim? Em que momento da nossa relação tão curta ele foi capaz de ver em mim o que ele procurava? Será que ele realmente me ama ou projetou em mim a pessoa ideal? E ideal, eu? Tenho milhões de defeitos... e ele sabe disso, fiz questão de expô-los em um dos nossos primeiros encontros..."
Tenho certeza o que você pensa enquanto levanto para ir ao banheiro, depois da oitava cerveja. "Ele é carente, só pode ser. Nunca fiz nenhum grande esforço pra conquistá-lo, muito pelo contrário, fui sempre eu mesmo, e nem sei se sou uma pessoa muito agradável... Nunca me abri muito, sempre fiquei fechado no meu mundo, impedindo qualquer pessoa - ele inclusive e principalmente - de penetrar muito profundamente nos meus pensamentos. Quando faço um gesto de carinho é verdadeiro. Raro, mas verdadeiro, e nesses momentos sinto que ele se abre de felicidade. Só pode ser carência, é a única explicação."
Quando chegamos na décima-primeira cerveja - quase um recorde, que legal!! - já nem preciso mais adivinhar o que você pensa. Vejo diretamente através de você: "Ele é um cara bacana! Inteligente, atraente, engraçado... nos damos muito bem, nos beijamos muito bem, ele gosta da minha família, me entende. Por que então a paixão que ele sente por mim não é correspondida? Será que o problema é comigo? Até quando eu vou ser capaz de manter essa relação? Será melhor terminar de uma vez enquanto dá tempo de poupar dores maiores? Mesmo porque sou muito jovem, não sei se quero ficar com alguém que gosta tanto assim de mim. Isso me assusta."
Sou capaz, sim, mesmo depois da décima-quinta cerveja - a saideira, nós dois juramos - de perceber o que se passa na sua cabeça, talvez até no seu coração. O que me confunde e enlouquece é o que se passa na MINHA cabeça, no MEU coração. Afinal, pra tentar entender você eu parei de me conhecer.

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HAND IN MY POCKET

Posted by Clenio on 20:48 in ,

Tirar a roupa depois de uma noitada sempre fora uma ação inconsciente para ele. Algumas vezes - e até que eram ocasiões bem frequentes, graças a Deus e ao corpo trabalhado arduamente na academia - nem era ele mesmo quem a tirava e sim alguma conquista efêmera, que a arrancava furiosamente como se disso dependesse sua sobrevivência. Em outros momentos nem se dava ao trabalho de tirá-la: dependendo do teor etílico em seu sangue despir-se era um sacrifício inenarrável. Mas naquele dia algo o fez observar detalhadamente o conteúdo de seus bolsos. Quem disse que existe explicação pra tudo??

Na verdade ele decidiu-se por esse tour pelos bolsos porque queria evitar a chuva de moedas que sempre acontecia quando ele tirava as calças atabalhoadamente. Tranquilamente, então, sentou-se à beira da cama e começou a inspeção, delicadamente levando ao chão tudo que encontrava. No bolso direito dianteiro, estava o celular, com a bateria acabando e mais três nomes adicionados à agenda - Raquel seria a loira de aparelho nos dentes ou a sósia de Fernanda Takai? Um dia ele descobriria, qualquer uma delas serviria para uma noite de solidão.

No bolso esquerdo, o kit básico noturno: chiclete de menta, um isqueiro importado - ele nunca havia fumado, mas nos filmes quem acende o cigarro da mocinha sempre leva vantagem - e camisinhas. Engraçado, ele tinha mais de trinta anos e não sabia a sensação de trepar sem camisinha. Maldita AIDS!

No bolso traseiro direito, a carteira, naturalmente. Uma espiada de leve e a mesma visão de sempre: algumas notas pequenas, cartões de crédito, cartão do banco, carteira da academia, carteira da videolocadora, carteira de habilitação, carteiras e mais carteiras... Pode um ser humano viver e ser feliz sem uma dúzia de cartões no bolso, para identificar a ele mesmo e suas conquistas financeiras?

No último bolso... bem, o último bolso exigia atenção redobrada. Papéis e mais papéis. Bilhetes, anotações, ingressos de cinema. O novo endereço de e-mail da irmã; um número de telefone anotado às pressas apoiado na coxa; o nome daquele livro cujo personagem central dizem que se parece com ele; uma nota de R$ 50, oba....; a entrada para assistir pela quarta vez a "Bastardos inglórios" - dessa vez sozinho, para poder assimilar cada detalhe da sequência final...

Mas na verdade o que ele mais procurava estava bem escondido, misturado à bagunça de seu bolso esquerdo traseiro. Ali, junto com todos aqueles objetos estranhamente pessoais, estava ela... a foto, amarrotada, já quase sem cor, dela... Ela, que volta e meia lhe assombrava a vida, como uma Catherine Linton em busca de um Heathcliff. Ela, que de uma fotografia desbotada, lhe olhava com os olhos de ressaca de uma Capitu. Ela, que lhe mostrou a felicidade e tirou-a sem dizer uma palavra continuava a lhe olhar. Era um olhar profundo, misterioso, quase hipnotizante. Mas era dela.

Ele havia perdido a conta de quantas vezes quis rasgar aquela foto, queimá-la, jogar tudo fora... Mas o mau-estado que ela apresentava o lembrava de que sempre havia desistido. Era como se jogar fora aquele pedaço de papel fosse jogar fora parte do seu passado, uma parte pequena mas importante.

Sem tirar os olhos da foto, ele escorou-a em seu abajur, deitou-se na cama e ficou olhando fixamente para aquele olhar. Logo o sono viria. E no dia seguinte ele arrumaria a bagunça no chão do quarto. O chão era um lugar fácil de arrumar...

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PERFECT

Posted by Clenio on 23:09 in ,

E quando você é criança seus pais lhe passam a ideia de perfeição. Um menino perfeito acredita em Deus, obedece aos pais, escova os dentes antes de dormir, tira boas notas, é bem-educado, limpa bem as orelhas, faz direitinho o sinal da cruz e não deixa os brinquedos espalhados pelo chão. Você faz tudo isso e lhe passam a mão pelos cabelos dizendo: "Você é uma criança perfeita!"
Quando você é adolescente seus amigos dizem que ser perfeito é saber jogar futebol como um Pelé ensandecido, dançar feito um Patrick Swayze, ter a lábia de um vendedor de telemarketing, se vestir com a roupa da moda e assistir a filmes onde as legendas são desnecessárias (explosões e tiros soam iguais em qualquer língua). Você segue as regras e seus amigos lhe apertam a mão, louvando: "Você é um colega maneiro!"
Quando você entra na faculdade, quer ser perfeito. Então se dedica a ler todos os livros recomendados, não falta a nenhuma aula (nem mesmo as de ensino religioso aos sábados pela manhã), entrega os trabalhos em dia, deixa a vida social de lado por anos, tira dez em todas as disciplinas, se forma em primeiro lugar e ouve do paraninfo: "Você foi um aluno exemplar!"
No mercado de trabalho, exige-se perfeição. Leituras, atualizações, pontualidade, competência, liderança... E tudo você cumpre, com o corpo suado e um sorriso no rosto.
E seus amigos querem o melhor amigo de todos. E lá vai você abraçar o mundo com as pernas: ouve um, ouve outro, chora com um, ri com outro, empresta dinheiro pra um, ajuda na mudança de outro. Amigos são um momento de eternidade, afinal, como bem disse Nelson Rodrigues.
E sua namorada, é claro, quer um par perfeito. Um bom amante, um genro atencioso, uma companhia agradável, alguém que pague os jantares e os cinemas, alguém que entenda suas necessidades de solidão, um homem que seja um gentleman na mesa e um garanhão entre suas pernas. E lá vai você exercitar mais uma esquizofrenia opressiva.
Mas alguém algum dia lhe perguntou o que é perfeição pra você? Alguém um dia quis saber se dentro da sua cabeça infantil todas aquelas regras eram seguidas por vontade ou medo? Seus colegas porventura sabiam com certeza se você queria ser popular? Os professores da universidade sabiam ao menos o seu nome? Seu chefe vai pensar duas vezes antes de te mandar embora e contratar alguém mais barato só porque você leu os livros do Peter Drucker? E sua namorada? Será que ela vai levar em consideração todo seu esforço em ser O NAMORADO se por acaso se apaixonar por um cara que a trata como lixo?

Perfeição não existe. Pelo menos não no sentido literal, do dicionário. Ser perfeito é ser íntegro, é ter uma personalidade própria (não quer dizer que não se possa mudar de ideia, muito pelo contrário), ter uma ideologia mesmo que idiossincrática. Ser perfeito é acreditar em si mesmo, nos outros, não cobrar o que não pode oferecer. É ser transparente, generoso, educado, culto e tudo isso, mas por escolha e não por obrigação. É seduzir pela alma, pelo sorriso e pelo coração e não apenas pelas marcas, pela cultura de almanaque, pela conta bancária e pelos diplomas pendurados em paredes estéreis. Ser perfeito é ter a certeza de que a perfeição, se existe, é um troço chato pra caralho...

Pensando bem, perfeição existe, sim. Mas ela só aparece quando você desiste de ser perfeito.

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YOU OUGHTA KNOW

Posted by Clenio on 12:05 in ,

Pois é, você deveria saber que a primeira imagem que me vem à cabeça quando acordo é o seu sorriso, meio de lado, meio tímido, bastante misterioso. Falando nisso, é essa nítida imagem que também é a última que me acompanha antes que o sono chegue. No sonho você também está presente - não foi uma única vez que sonhei com você quando você precisava realmente de mim na dura vida real.

Então... você deveria saber que quando foi embora levou junto com você não só meu sorriso como a Rita do Chico: levou também meus sonhos, minha auto-estima, minha paz, meu tesão, minha vontade de viver. Foi embora com você, junto com as roupas e o seu carinho, os filmes que não vimos de mãos dadas, as músicas que não ouvimos no silêncio da intimidade, as piadas que ainda seriam feitas. Só não foi embora seu cheiro, sua lembrança, sua presença gigantesca que existia mesmo com você fora de casa.

Mais do que tudo, você deveria saber que eu te odiei muito nos primeiros meses. Odiava o fato de ter te dado tanto poder sobre mim, odiava cada ocasião em que me fragilizei tentando te fazer ver o amor que gritava dentro de mim e que te assustava a ponto de te afastar a cada dia um pouco mais. Odiava o relógio que nunca parou, porque cada minuto que passava mais distante de mim você ficava. Odiava o sol porque anunciava que a vida continuava mesmo sem você dormindo ao meu lado. Mas mais do que tudo odiava a mim mesmo por não conseguir te odiar mais do que cinco minutos.

Tenho que dizer e você precisa saber que te procurei em muitos corpos, mentes e corações rua afora. Não é preciso reiterar, no entanto, que em nenhum desses corpos, mentes e corações você estava. Gostaria sinceramente de dizer que isso não aconteceu porque eu não tentei de verdade, mas eu sei, do fundo do meu ser, que minhas tentativas foram legítimas. Talvez através de mim fosse possível ver meu amor incondicional por você e isso tenha assustado todo mundo. Talvez nenhum desses corpos, mentes e corações tenha merecido mais do que uma mera tentativa. Talvez.

Você precisa saber que mais do que amor eu tenho admiração por você, tenho tesão por você, tenho ciúme louco de você, tenho vontade de te beijar insanamente, de deitar sua cabeça no meu colo e assistir a "Friends" com você. Quero te lamber o pescoço até arrepiar, dormir de conchinha, corrigir o português de seus trabalhos (não que precise, mas enfim...), te ouvir falar, te ouvir dormir, te ouvir cantar, te curar de porres, te curar de surras, te curar de gripes, te curar das dúvidas, te curar do medo de se entregar.

E mais do que tudo, você precisa saber, tem que saber: te olhar direto nos olhos ainda me bambeia as pernas. Ouvir tua voz continua me deixando tonto. Sentir teu cheiro ainda me embriaga. Pensar em você ainda me alucina. Te amar ainda me fortalece.

Talvez nunca mais possamos nos encontrar da maneira com que quero. Mas nos meus sonhos - aqueles que me procuram depois que eu fecho os olhos de você - ainda estamos juntos. E sonhos são particulares, pessoais... Ninguém pode tirá-los de mim, nem mesmo você.

Eu acho que você deveria saber.

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ALL I REALLY WANT

Posted by Clenio on 00:10 in ,

Tudo o que eu realmente quero? Quero um beijo que me faça levitar, um corpo que me complete, um cérebro que conecte com o meu.... quero dormir sem ter que pensar em nada além do sonho que virá. Quero comer chocolate, beber água de coco, assistir filmes que me enlouqueçam de prazer, ler palavras que me sacudam, ouvir músicas que me entendam.

Quero ter não um milhão de amigos, mas uma boa meia dúzia com quem eu possa realmente contar - e não preciso que eles me adulem ou divirtam, simplesmente, e sim que me vejam como eu sou e que sejam meus amigos assim mesmo. Quero suar de prazer, quero chorar de felicidade, quero rir até perder o fôlego. Quero dinheiro, sim, porque o mundo exige. Quero que as pessoas assistam às minhas peças, leiam meus textos, discutam comigo, troquem ideias, me dêem dicas de como levar a vida de maneira mais leve e menos perigosa.

Quero sexo. Mas não um sexo meia-boca, apenas para relaxar a tensão. Quero um sexo que me bambeie as pernas, que me deixe com a boca seca, com o coração acelerado e aquela vontade de morrer de tesão. Um sexo que me faça acreditar que sim, Deus existe e essa é a melhor maneira de chegar até ele.

Quero ar. Ar literal, pra respirar. Ar metafórico, para que eu possa respirar liberdade - de expressão, física, emocional - e devolver energia. Quero paz. De espírito, principalmente, mas também aquela paz de que o mundo também precia - não me farei de politicamente correto, mas alguém no mundo não a quer?

Quero amor. Amor de amigos, amor de família, amor, amor, amor... Mas principalmente o amor de alguém especial, que me faça perder o horário, que me faça corar, que me faça dançar na chuva, cantar Elton John e cagar pra tudo de errado que dá na minha vida e na dos outros. Quero acordar sorrindo e dormir feliz. Quero ter uma voz carinhosa dizendo que me ama e que essa mesma voz esteja sussurrando obscenidades no meu ouvido nos momentos certos.

Quero ser um amigo de verdade, aquele que ri, chora, xinga, dá conselhos e divide a cerveja pra brindar uma felicidade ou afugentar uma tristeza arrasadora. Quero aprender a conviver maduramente com o inevitável. Entender que a vida nem sempre é como a gente quer - quase nunca é, na verdade - e saber utilizar esses tombos pra me equilibrar melhor.

Quero deixar de enterrar a cabeça na areia quando tudo dá errado. Sair da cama pra dar a cara a bater, ter mais coragem de enfrentar a vida e as responsabilidades. Ter a minha idade de verdade, pelo menos quando é necessário. Quero nunca deixar de ser um tanto esquizofrênico, que se divide entre a cultura apropriada - Chico Buarque, Elis Regina, Frank Sinatra, Oscar Wilde, John Steinbeck, Machado de Assis - e a chanchada - Madonna, Meg Ryan, Gilberto Braga, Nick Hornby.

Não quero jamais parar de acreditar que o amor é que me empurra pra frente, mesmo quando aparenta justamente o contrário. Não quero parar de acreditar que as pessoas são genuinamente boas e solidárias, apesar de constantemente ser obrigado a encarar provas opostas. Jamais quero ter que dizer certas verdades doloridas, mesmo que seja exatamente isso que algumas pessoas precisam ouvir pra cair na real.

Sim, quero viver num mundo ideal, num mundo perfeito, em um mundo com céu de brigadeiro, gente bonita e sem culpa católica, financeira ou moral. E quem tiver coragem de ser feliz que me siga!

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