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PERFECT
E quando você é criança seus pais lhe passam a ideia de perfeição. Um menino perfeito acredita em Deus, obedece aos pais, escova os dentes antes de dormir, tira boas notas, é bem-educado, limpa bem as orelhas, faz direitinho o sinal da cruz e não deixa os brinquedos espalhados pelo chão. Você faz tudo isso e lhe passam a mão pelos cabelos dizendo: "Você é uma criança perfeita!"
Quando você é adolescente seus amigos dizem que ser perfeito é saber jogar futebol como um Pelé ensandecido, dançar feito um Patrick Swayze, ter a lábia de um vendedor de telemarketing, se vestir com a roupa da moda e assistir a filmes onde as legendas são desnecessárias (explosões e tiros soam iguais em qualquer língua). Você segue as regras e seus amigos lhe apertam a mão, louvando: "Você é um colega maneiro!"
Quando você entra na faculdade, quer ser perfeito. Então se dedica a ler todos os livros recomendados, não falta a nenhuma aula (nem mesmo as de ensino religioso aos sábados pela manhã), entrega os trabalhos em dia, deixa a vida social de lado por anos, tira dez em todas as disciplinas, se forma em primeiro lugar e ouve do paraninfo: "Você foi um aluno exemplar!"
No mercado de trabalho, exige-se perfeição. Leituras, atualizações, pontualidade, competência, liderança... E tudo você cumpre, com o corpo suado e um sorriso no rosto.
E seus amigos querem o melhor amigo de todos. E lá vai você abraçar o mundo com as pernas: ouve um, ouve outro, chora com um, ri com outro, empresta dinheiro pra um, ajuda na mudança de outro. Amigos são um momento de eternidade, afinal, como bem disse Nelson Rodrigues.
E sua namorada, é claro, quer um par perfeito. Um bom amante, um genro atencioso, uma companhia agradável, alguém que pague os jantares e os cinemas, alguém que entenda suas necessidades de solidão, um homem que seja um gentleman na mesa e um garanhão entre suas pernas. E lá vai você exercitar mais uma esquizofrenia opressiva.
Mas alguém algum dia lhe perguntou o que é perfeição pra você? Alguém um dia quis saber se dentro da sua cabeça infantil todas aquelas regras eram seguidas por vontade ou medo? Seus colegas porventura sabiam com certeza se você queria ser popular? Os professores da universidade sabiam ao menos o seu nome? Seu chefe vai pensar duas vezes antes de te mandar embora e contratar alguém mais barato só porque você leu os livros do Peter Drucker? E sua namorada? Será que ela vai levar em consideração todo seu esforço em ser O NAMORADO se por acaso se apaixonar por um cara que a trata como lixo?
Quando você é adolescente seus amigos dizem que ser perfeito é saber jogar futebol como um Pelé ensandecido, dançar feito um Patrick Swayze, ter a lábia de um vendedor de telemarketing, se vestir com a roupa da moda e assistir a filmes onde as legendas são desnecessárias (explosões e tiros soam iguais em qualquer língua). Você segue as regras e seus amigos lhe apertam a mão, louvando: "Você é um colega maneiro!"
Quando você entra na faculdade, quer ser perfeito. Então se dedica a ler todos os livros recomendados, não falta a nenhuma aula (nem mesmo as de ensino religioso aos sábados pela manhã), entrega os trabalhos em dia, deixa a vida social de lado por anos, tira dez em todas as disciplinas, se forma em primeiro lugar e ouve do paraninfo: "Você foi um aluno exemplar!"
No mercado de trabalho, exige-se perfeição. Leituras, atualizações, pontualidade, competência, liderança... E tudo você cumpre, com o corpo suado e um sorriso no rosto.
E seus amigos querem o melhor amigo de todos. E lá vai você abraçar o mundo com as pernas: ouve um, ouve outro, chora com um, ri com outro, empresta dinheiro pra um, ajuda na mudança de outro. Amigos são um momento de eternidade, afinal, como bem disse Nelson Rodrigues.
E sua namorada, é claro, quer um par perfeito. Um bom amante, um genro atencioso, uma companhia agradável, alguém que pague os jantares e os cinemas, alguém que entenda suas necessidades de solidão, um homem que seja um gentleman na mesa e um garanhão entre suas pernas. E lá vai você exercitar mais uma esquizofrenia opressiva.
Mas alguém algum dia lhe perguntou o que é perfeição pra você? Alguém um dia quis saber se dentro da sua cabeça infantil todas aquelas regras eram seguidas por vontade ou medo? Seus colegas porventura sabiam com certeza se você queria ser popular? Os professores da universidade sabiam ao menos o seu nome? Seu chefe vai pensar duas vezes antes de te mandar embora e contratar alguém mais barato só porque você leu os livros do Peter Drucker? E sua namorada? Será que ela vai levar em consideração todo seu esforço em ser O NAMORADO se por acaso se apaixonar por um cara que a trata como lixo?
Perfeição não existe. Pelo menos não no sentido literal, do dicionário. Ser perfeito é ser íntegro, é ter uma personalidade própria (não quer dizer que não se possa mudar de ideia, muito pelo contrário), ter uma ideologia mesmo que idiossincrática. Ser perfeito é acreditar em si mesmo, nos outros, não cobrar o que não pode oferecer. É ser transparente, generoso, educado, culto e tudo isso, mas por escolha e não por obrigação. É seduzir pela alma, pelo sorriso e pelo coração e não apenas pelas marcas, pela cultura de almanaque, pela conta bancária e pelos diplomas pendurados em paredes estéreis. Ser perfeito é ter a certeza de que a perfeição, se existe, é um troço chato pra caralho...
Pensando bem, perfeição existe, sim. Mas ela só aparece quando você desiste de ser perfeito.