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TERAPIA DE RISCO

Posted by Clenio on 20:17 in
No final dos anos 90, o diretor Steven Soderbergh tornou-se sinônimo do mais bem-sucedido cinema independente americano quando abocanhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes com "sexo, mentiras e videotape" - estiloso a partir do título, sempre grafado em minúsculas a seu pedido. De lá pra cá alternou sua carreira entre projetos ousados temática e visualmente - como "Kafka", "Full frontal" e a refilmagem de "Solaris" - e obras mais comerciais - como a trilogia iniciada por "Onze homens e um segredo", o sexy "Irresistível paixão" e o elogiado "Erin Brockovich, uma mulher de talento". Vencedor de um Oscar - pelo potente "Traffic" - o diretor há tempos vem enfrentando um período menos brilhante de sua carreira, com produtos bem inferiores a seu talento, como "Contágio" e "Magic Mike". Essa curva descendente, porém, encontra uma pausa com "Terapia de risco", que ele anunciou como sendo seu penúltimo filme - uma falácia, uma vez que já divulgou um novo projeto para a TV americana. Misto de drama de tribunal com suspense, o filme estrelado por Jude Law e Rooney Mara pode não ser uma obra-prima, mas passa bem longe (felizmente!) dos piores momentos de Soderbergh.

Elegante e dirigido com sobriedade, "Terapia de risco" começa devagar, apresentando aos poucos a situação principal de seu roteiro. A protagonista é a jovem Emily Taylor (Rooney Mara, excelente e irreconhecível), que, depois de tentar o suicídio jogando seu carro contra um muro, é aceita como paciente do conceituado Jonathan Banks (Jude Law, eficiente e discreto), que lhe receita um medicamento com fortes efeitos colaterais - sugerido pela psiquiatra anterior da moça, Victoria Siebert (Catherine Zeta-Jones). Em pouco tempo, Emily passa a ter severas crises de sonambulismo e, em uma dessas crises, comete um assassinato. A partir daí, a trama muda de rumo e as questões surgem diante do espectador: quem é culpado pelo crime? A jovem, seu médico ou o remédio?

Mesmo que não se mantenha nessa interessante questão - que tinha tudo para resultar em um filmaço - o roteiro de Scott Z. Burns, colaborador habitual do cineasta, prende a atenção do espectador até mesmo quando tudo se transforma em um suspense com direito a reviravoltas um tanto forçadas. Boa parte da responsabilidade vem da habilidade de Soderbergh em contar sua história - vale lembrar que ele também assina a fotografia e a edição do filme. Dono de um grande talento em explorar seus atores, ele extrai de seu elenco atuações inspiradas que fazem com que até mesmo a mais inacreditável virada da trama soe menos artificial. É inacreditável que o mesmo homem que melhora tanto um roteiro simples pode ser o mesmo que cometeu aquela baboseira chamada "Magic Mike"...

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SOMOS TÃO JOVENS

Posted by Clenio on 20:51 in
O que se pode esperar de um filme dirigido por um cineasta capaz de cometer atrocidades contra o cinema nacional como "Espelho da carne", "Uma aventura do Zico" e "Gatão de meia idade"? Pois é o mesmo Antonio Carlos da Fontoura que assina "Somos tão jovens", que conta a história dos primórdios de uma das mais amadas bandas de rock do Brasil, a Legião Urbana. Centrando-se na figura de seu líder e vocalista, Renato Russo, o filme de Fontoura acerta em não tentar espremer uma vida inteira em menos de duas horas, mas esbarra no mais constante dos problemas do gênero: a superficialidade.

Mesmo contando com um roteirista competente como Marcos Bernstein - que tem "Central do Brasil" no currículo - "Somos tão jovens" peca por não se aprofundar na personalidade de seu protagonista, contentando-se em apenas costurar cenas rápidas que mostram a origem de algumas das canções mais conhecidas da banda. O que não deixa de ser bastante interessante para os fãs, porém - e eles são muitos e extremamente fiéis - torna-se repetitivo e raso em pouco tempo. Da forma como está retratado no roteiro, Russo soa apenas como um rebelde sem causa, arrogante e mimado, cujas atitudes, longe de encantar, apenas o afastam da identificação do grande público. Não fosse o cuidadoso trabalho de Thiago Mendonça - que foge com talento das armadilhas que aparecem a cada diálogo mal escrito e situação mal desenvolvida - o filme de Fontoura seria daqueles que passariam sem qualidades a louvar.

Mendonça interpreta Renato Russo com garra e dedicação - ele chegou a gravar as músicas que tocam no filme, com a voz impressionantemente parecida com a do cantor - e encontra em Laila Zaid a colega de cena ideal. Quando estão juntos, os dois conseguem tirar leite de pedra, quase fazendo esquecer muitos dos equívocos da produção - entre eles a péssima personificação do músico Herbert Vianna e o retrato patético dos pais do protagonista (vividos por Marcos Breda e por Sandra Corveloni numa atuação que em absolutamente nada lembra o grande trabalho em "Linha de passe", que lhe rendeu uma Palma de Ouro em Cannes). Todas as cenas parecem existir somente para passar informações a respeito da história do surgimento da banda, sem que haja nenhum aprofundamento tanto das personagens quanto das relações entre elas. Isso pode não incomodar a quem procura apenas um vislumbre da vida de seu ídolo, mas para quem gosta de bom cinema é muito, muito perturbador.

Quem gosta da música de Renato Russo não tem do que reclamar: a trilha sonora inclui todos aqueles clássicos que fizeram a cabeça da juventude do final dos anos 80 e do início dos 90 e que fizeram da Legião Urbana quase uma religião - a despeito dos detratores que acusam Russo de copiar o estilo de Ian Curtis (Joy Division) e Morrissey (The Smiths). Como cinema, porém, deixa muito a desejar.


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UM BOM PARTIDO

Posted by Clenio on 19:56 in
O diretor italiano Gabriele Muccino tem no currículo no mínimo um grande filme - "O último beijo", que ganhou roupagem hollywoodiana estrelada por Zach Braff - e algumas obras simpáticas - como "À procura da felicidade" e "Sete vidas", com Will Smith. Depois de revisitar as personagens de seu filme mais famoso na Itália com o belo "Beije-me outra vez", Muccino voltou aos EUA para assinar este "Um bom partido", que em nada lembra seus melhores momentos. Apesar do carisma de seu ator central Gerard Butler e do elenco coadjuvante recheado de astros (Dennis Quaid, Catherine Zeta-Jones, Uma Thurman e Jessica Biel), seu novo trabalho é apenas mais uma comédia romântica previsível e morna que tira partido da fotogenia dos atores e tem como diferencial ter o futebol - o brasileiro, mesmo e não o americano - como pano de fundo.

Fracasso de bilheteria nos EUA - que não dá a mínima para futebol - "Um bom partido" não chega a incomodar, uma vez que é não tem maiores pretensões, mas fica muito aquém do que se poderia esperar de um filme com Butler - que deu muito certo no gênero, em "PS eu te amo" e "A verdade nua e crua". Ele interpreta com o mesmo gosto de sempre o jogador de futebol aposentado George, que, em uma fase negra de sua vida, vê uma luz no fim do túnel quando recebe o convite para treinar o time de futebol de seu filho pequeno, que vive com a mãe, Stacie (Jessica Biel). Charmoso e metido a conquistador, George imediatamente chama a atenção das mães dos alunos, entre elas a carente Barb (Judy Greer), a fogosa Denise (Catherine Zeta-Jones) e a dedicada Patti (Uma Thurman), que passam a disputá-lo acirradamente.

E é só isso. O filme todo é uma sequência de cenas que mostram as tentativas de George em administrar sua carreira decadente, seu novo emprego e sua profusão de amantes - enquanto não deixa de amar a ex-mulher. As piadas não tem graça, não existe química entre Butler e Biel e o roteiro não explora a contento nenhuma das relações do protagonista. Como passatempo ligeiro e para fãs pouco exigentes do ator escocês funciona até bastante bem. Mas para o resto do público, é só mais um programa sonolento. Gabriele Muccino funciona melhor na Itália.

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UM LUGAR SEGURO

Posted by Clenio on 23:43 in
Não é preciso ser nenhum gênio de marketing ou especialista em cinema para reconhecer uma adaptação para as telas de um livro de Nicholas Sparks já a partir de seu cartaz: via de regra ele estampa um casal apaixonado e fotogênico abraçado ou aos beijos, diante de um cenário bucólico. Se a dúvida persiste, basta dar uma espiada na sinopse, que raramente sofre maiores alterações: se a história se passa em uma pequena cidade litorânea (ou qualquer localidade do interior, com habitantes que conhecem a vida de todo mundo), se trata de um amor proibido, se o obstáculo entre os amantes for banal e se houver a possibilidade de transformar o espectador (em especial o feminino) em um pudim de lágrimas, pode ter certeza de que se trata de um legítimo Sparks.

Um dos mais bem-sucedidos escritores românticos da atualidade, Sparks vê seus romances serem adaptados para as telas sistematicamente nos últimos anos, quase sempre com resultado sofrível - o que não impede, porém, seu sucesso financeiro e a devoção das fãs. Se filmes como "Diário de uma paixão" e "Uma carta de amor" ainda conseguem ter qualidade dramática (em boa parte devido ao cuidado com a escalação de elenco e com a direção), o mesmo não pode ser dito de coisas como "A última música", "Querido John" e "Um homem de sorte", que optaram por colocar como protagonistas rostinhos e corpos bonitos e queridos entre a molecada americana (Myley Cyrus, Channing Tatum e Zac Efron) em detrimento de contar com atores de verdade. O mesmo pode ser dito, infelizmente, de "Um lugar seguro", novo produto da série, que apresenta os mesmos problemas de seus piores exemplares.

O roteiro de "Um lugar seguro" é repleto de furos, mas provavelmente isso não deverá incomodar os espectadores fiéis a Sparks, que tem mais chances de reprovar algumas mudanças na adaptação do que na falta de profundidade de todas as personagens da história. A protagonista é Katie (a péssima Julianne Hough, do igualmente péssimo "Rock of ages"), uma jovem que chega a uma pequena cidade do interior da Carolina do Norte fugindo de um obcecado policial - que vem a ser seu marido violento e agressivo, talvez eco de "Dormindo com o inimigo". Logo que chega à cidade (de cabelo mais curto e loiro), ela arruma emprego como garçonete, compra uma casa (tudo muito fácil) e, apesar de estar escondendo-se de todo mundo, resolve aceitar o flerte do charmoso viúvo Alex (Josh Duhamel, o sr. Fergie), que vive sozinho com seus dois filhos pequenos desde a morte da esposa. Apaixonada pelo rapaz, Katie vê seus sonhos de paz destruídos quando seu ex-marido descobre seu paradeiro, mas o amor de Alex e a amizade de uma vizinha solícita (Cobie Smulders, da série "How I met your mother") a fazem enfrentar seus medos e seus segredos.

E é isso. O romance entre Katie e Alex não emociona, o suspense em relação aos segredos da protagonista inexiste, o elenco coadjuvante não serve para nada a não ser proporcionar às personagens principais um interlocutor e até mesmo o ritmo é claudicante - em nada lembrando os melhores momentos de seu diretor, o sueco Lasse Halstrom (que deu um tempo em seu país de origem para dirigir "O hipnotista" mas voltou para Hollywood com a mesma preguiça com que comandou "Chegadas e partidas" e "Querido John"). Tudo bem que a reviravolta final é interessante - ainda que soe mais uma tentativa de buscar a emoção do público - mas é pouco perto do que se pede de um drama romântico. Do jeito que está, é mais um filme que deverá tornar-se reprise constante nas madrugadas televisivas. Nicholas Sparks está milionário. Mas a que custo!

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