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CAVIAR É UMA OVA

Posted by Clenio on 21:55 in
Gregório Duvivier é uma peça rara dentre as novas vozes pensantes da literatura (ou da imprensa, ou do humor, escolha a área de sua preferência). Desagrada a direita - na figura de políticos metidos a estrelas e conservadores teleguiados pela mídia - e volta e meia é apedrejado até mesmo pelos mais radicais defensores da democracia - que não perdoam, entre outras coisas, o fato de ele clamar aos quatro ventos suas opiniões políticas de esquerda enquanto escreve para a Folha de São Paulo, um ícone do conservadorismo mais torpe do país. Quando se põe contra o machismo, encontra detratoras entre as feministas que o acusam de procurar o protagonismo na luta que é delas. Quando escreveu uma crônica de amor relacionada à ex-mulher, não foram poucas as leitoras que o acusaram de constranger o objeto de tal declaração. Se fala de religião, ofende. Se fala de política, causa controvérsia. Polêmico mesmo quando não quer, Duvivier tem, felizmente, um grande senso de humor. E é justamente essa sua característica que faz com que "Caviar é uma ova" (Cia das Letras), compilação de algumas de suas crônicas para a Folha, seja uma leitura quase obrigatória como antídoto ao mau-humor e à burrice galopante que vem tomando conta dos meios de comunicação.

Falando de assuntos tão prosaicos quanto o acordo ortográfico, lembranças da infância, política, família, amizade e mesclando textos doces e francamente engraçados, Duvivier conquista o leitor sem precisar apelar para malabarismos estilísticos ou tentativas patéticas de transmitir erudição. De linguagem direta e simples, ele faz rir ao imaginar trechos apócrifos da Bíblia e demonstra coragem ao peitar pastores gananciosos e o próprio jornal para o qual escreve - assim como para alguns de seus colegas cronistas que divergem radicalmente de seus pontos de vista. Transitando confortavelmente entre a leveza de temas corriqueiros e a melancolia de algumas palavras dedicadas a uma certa dose de nostalgia, o autor também não tem o menor sinal de medo ao declarar sua familiaridade com drogas e desafiar o conservadorismo de uma ruidosa parte da sociedade. Não faltam farpas ao Rio de Janeiro e sua política, aos frequentadores de redes sociais, à dita elite brasileira, a seus críticos frequentes e até a si mesmo. Herdeiro de um estilo de prosa que fez a fama e a glória de gente como Luiz Fernando Veríssimo - com uma ótica muito especial a respeito do mundo - Gregório é o tipo de autor que aproxima o leitor de suas palavras sem parecer fazer muito esforço. Admirado por gente como Wagner Moura e Chico Buarque - cujas palavras enfeitam a contra-capa da edição nacional - Duvivier é um dos porta-vozes de uma parcela inteligente e lúcida de uma geração que está pagando o alto preço de um golpe branco. Uma leitura divertida e essencial para quem não se deixa enganar pela velha mídia tradicional.

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