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VIPS

Posted by Clenio on 23:38 in
Salve Wagner Moura! Só mesmo um ator do porte e do talento imenso dele para fazer com que um filme como "VIPs" torne-se menos do que banal. Produzido pela 02 Filmes (ou seja, Fernando Meirelles) e dirigido por Toniko Melo - que tem no currículo alguns episódios da sensacional série de TV "Som e Fúria" - o filme, baseado em fatos reais, nunca se decide entre ser um drama psicológico a respeito de um homem dividido entre a vida real e todas as que imagina ou uma comédia ao estilo "Prenda-me se for capaz" sem o charme de Tom Hanks e Leonardo DiCaprio.

Ao renegar sua origem formal - a história real de Marcelo Nascimento da Rocha serviu apenas como inspiração e não como fonte fidedigna, conforme anunciaram os roteiristas Thiago Dottori e Bráulio Mantovani - o filme de Toniko correu o risco de ter sua estreia abortada pelo retratado, mas chegou às telas um tanto ofuscado pelo sucesso de público de "Bruna Surfistinha". Sem nem metade do poder midiático da história da ex-garota de programa vivida por Deborah Secco, "VIPs" corre o risco de passar batido, mesmo contando com Moura no papel principal. Na verdade, não será nem tanta injustiça assim. "VIPs" é um filme chatinho que não empolga tanto quanto poderia, haja visto que sua história beira o inacreditável.

Para quem não sabe, "VIPs" conta a história de Marcelo, um jovem com enorme talento para fraudes que, no caminho para realizar o sonho de tornar-se piloto de avião, embarca em uma série de mentiras e fraudes que o levam a trabalhar para um traficante de drogas e, posteriormente, durante um Carnaval em Recife, assumir a identidade de um dos donos da Gol - a ponto de dar uma entrevista para o programa de Amaury Jr.. O problema é que, narrado de forma episódica, o roteiro tem dificuldades em tornar crível a personalidade do protagonista. Só mesmo Wagner Moura pra conseguir tirar leite de pedra e apresentar mais uma performance memorável em sua carreira já brilhante.

No fim das contas, "VIPs" é um filme que não chega a ser ruim - tem muitos talentos individuais reunidos para isso - mas que perde uma excelente oportunidade para divertir uma audiência nacional sem falar de espiritismo ou violência policial. Mais uma vez cabe a frase que resume tudo: vale para conferir mais uma ótima atuação de Wagner Moura.

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AVENTURAS AMOROSAS/SEXUAIS DE THEO - CAP. 01

Posted by Clenio on 22:24 in ,
"Cause to lose all my senses that is just so typically me..."

Essa situação é tão típica da minha pessoa que seria trágica se não fosse um tanto cômica. Me apaixonar por uma criatura cujo nome eu nem mesmo sei e cuja vida pra mim é um mistério quase completo está no mesmo nível emocional que me apaixonar por gente que mora em outro estado. E isso eu também já fiz. Duas vezes. A primeira me destruiu. A segunda, como eu meio que já sabia como lidar com essa situação romântico-interestadual, apenas me fez bem enquanto durou. Confesso que ainda sofro. Pelos dois! Sou volúvel? Ou um apaixonado por amores que não tem como dar certo? Minha terapeuta diz que eu só me envolvo com pessoas impossíveis porque não quero estar nunca emocionalmente disponível, o que me remete a outra grande paixão da minha vida. Aliás, paixão não. Amor. AMOR em letras maiúsculas, em CAPS LOCK. Hoje somos amigos. De uma maneira especial, mas amigos, o que já é muito levando-se em consideração os desaforos que despejei em cima do coitado via e-mail na época do rompimento. Na época, diga-se, eu não via nada de coitado nele. Coitado era eu, que amava e não era correspondido. Que chorava e não tinha ninguém pra secar minhas lágrimas. Que pensei em cheirar cocaína pra me amortecer, em entrar em coma alcóolico, trepar sem camisinha com qualquer um que me quisesse, em tomar uma carteira inteira de Lexotan... Tá bom, já que a intenção aqui é ser sincero eu confesso que a cartela de Lexotan eu tomei. Com vinho pra rebater. Em duas ocasiões distintas. Na primeira vez só vomitei. Na segunda, dormi uns dois dias e acordei com uma dor de cabeça do caralho. Nunca mais tento o suicídio assim. Juro! Tenho que pensar em um método que não me deixe um trapo no dia seguinte ao evento. Mesmo porque, vamos deixar claro... além de não conseguir me matar ainda acordar de ressaca e com olheiras é o cúmulo do fracasso. Se bem que, a essa altura da vida, eu já deveria ter me acostumado com o fracasso, já que ele é uma espécie de apêndice do meu ser. Se isso não é verdade, como posso classificar o fato de que tenho 35 anos de idade e ainda trabalho em uma locadora de dvds? Era um emprego provisório aos 22 anos, mas não sou propriamente um cara muito ambicioso em termos profissionais. Toda segunda-feira minha mãe me telefona para perguntar quando eu vou parar de ser adolescente e arrumar um emprego de verdade. E toda segunda-feira a conversa acaba quando eu resolvo mudar de assunto e contar sobre minhas aventuras sexuais do fim-de-semana. É tiro e queda!

Mas que cabeça, a minha! Estou aqui divagando como um texto da Virginia Woolf e nem me apresentei. Me chamo Theodoro, um nome horroroso que herdei do meu pai quando o coitado tinha a ilusão de que eu seria seu parceiro nas partidas de futebol ou nas suas assim chamadas diversões - xadrez e canastra. Meu Deus, como pode alguém ter uma visão tão limitada sobre as possibilidades de uma noite de sábado? Isso é que dá uma criação católica e uma cidade do interior. Theodoro pai quis dividir a desgraça do nome e eu tive o azar de ser o primeiro filho. Felizmente logo na infância o nome foi reduzido a um menos trágico Theo - com H, para que eu nunca pudesse mentir que minhas origens são divinas. E não me consola saber que meu nome é o mesmo da personagem principal de um livro chatíssimo que tenta contar a história das religiões a partir de um garotinho chato e choroso que tem uma doença incurável. Aliás, não deixa de ser no mínimo coerente que eu seja homônimo de uma criatura assim tão infeliz... Hoje sou conhecido como Theo por meus amigos, Theozinho para os familiares e pelo sisudo Theodoro para todo o resto da humanidade, com o qual minhas relações são unica e exclusivamente profissionais. Moro sozinho - depois de ter passado por todas as experiências de co-habitação exceto o casamento - mas raramente sou acometido pela ameaça que paira sobre todos os solteiros do mundo, a solidão. Quando esse acontecimento funesto está com sua cabeça cheia de chifres apontando no horizonte, apelo para uma das minhas possibilidades de fuga: festa, bebida ou sexo casual. Ou filmes, porque além do vício em sofrer por amor eu também sou viciado em cinema, mas isso é assunto pra outra conversa.

Agora voltemos ao início da conversa, quando falei que estou apaixonado por alguém totalmente desconhecido. Quer dizer, desconhecido em termos, porque como eu faço sempre que isso acontece - sim, isso já é corriqueiro em minha agitada vida amorosa - eu logo dou um jeito. Não de conhecer a pessoa porque isso dá um trabalho danado e é sempre frustrante, mas de inventar toda a sua história de vida. Por exemplo, sentado em uma mesa de bar, tomando umas cervejinhas bem geladas (em minha defesa, ainda estava calor e eu havia tido um dia muito cansativo) eu e minha amiga de todas as horas Fernanda logo "descobrimos" as partes essenciais de sua biografia: seu nome é Guilherme, ele é advogado e funcionário público e, o mais importante de tudo: está à procura de um relacionamento sério. De posse dessas informações privilegiadas não é preciso dizer que estou pronto para finalmente conhecê-lo. Falta apenas um detalhe: encontrá-lo de novo. Apesar de "saber" todas as coisas que sei no momento, apenas tenho uma vaga ideia de onde ele mora, porque, vamos deixar claro, quando quero eu sou um detetive de dar inveja a Hercule Poirot. E eu sei onde ele caminha/corre/caça nos finais de tarde. Pensei seriamente em forçar um encontro com ele na semana passada, mas no fim preferi ir ao supermercado comprar coisas que faltavam em casa... Mas todo dia essa ideia me passa pela cabeça e eu jurei - pra mim mesma e pra Fernanda - que, da próxima vez que eu der de cara com ele não vou embora sem ao menos um cumprimento e algo a mais do que simplesmente olhares de desejo, porque dessa fase já passamos. Sim, prezado leitor, sou tímido mas não sou bobo, e sei que ele também está interessado nesse que vos escreve. Só espero que ele não fique em casa fazendo o mesmo que eu, porque jamais iria adivinhar meu nome...

Bom, por hoje é só... Prometo contar sobre mim e inteirar sobre minha vida amorosa a quem possa interessar todos os domingos à noite a partir de agora. Muita gente irá aflorar nesse singelo espaço, portanto, anotem os nomes para não se confundirem. Nem novela do Manoel Carlos tem tantas personagens, mas prometo sempre deixar tudo bem claro. E torçam pra que essa semana eu tenha força de vontade e sorte em quantidade suficiente para encontrar o Guilherme... ou qualquer nome que ele tenha!

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CARTA PARA ALGUÉM BEM PERTO/O EFEITO URANO

Posted by Clenio on 18:16 in
E eis que a Rocco, em uma iniciativa que empolga a todos os fãs da nova literatura brasileira, relançou dois títulos da carioca Fernanda Young. "Carta para alguém bem perto", publicado originalmente em 1998 e "O efeito Urano", de 2003, saem em uma coleção de visual clean, com cara de livros de filosofia e conteúdo do mais inteligente e estiloso (no bom sentido) possível. Escritos com a prosa moderna e inconfundível de Young - cujos créditos incluem os roteiros dos sensacionais programas de humor "Os Normais", "Os Aspones" e "Separação" - os dois livros lançam uma visão irônica dos relacionamentos interpessoais, com protagonistas femininas que, por bem ou por mal, refletem bastante a personalidade de sua autora. Qualidade ou defeito, as personagens principais de ambas as obras tem em comum um senso de humor cáustico, uma perspectiva pessimista/realista da vida e da sociedade e principalmente uma certa misantropia que, a não ser que ela engane muito bem - haja visto suas entrevistas e o programa "Irritando Fernanda Young" - são também os pontos de vista da própria Fernanda.

"Carta para alguém bem perto" é protagonizado por Ariana Lisboão, uma dondoca que não se conforma com sua vida fútil, mas que ao mesmo tempo, é incapaz de fugir do luxo que a cerca. Inconformada com sua esquizofrenia social, ela começa a escrever uma carta para um amante imaginário, na qual descreve suas dúvidas, seus pensamentos desordenados e seus anseios mais escondidos. Escrito de forma não-linear, o livro também narra a viagem de Ariana à Europa em companhia do amigo Bruno, um concertista internacional diagnosticado com o vírus da AIDS. Engraçadíssimo em vários momentos e recheado de insights geniais sobre a vida e a cultura em geral, é um livro para ser devorado em poucas horas, tão fluente e direta é sua prosa.

Já "O efeito Urano" prescinde de um pouco mais de dedicação e paciência. Conta a história de amor entre Helena e Cristiana, uma mulher bem-casada com um psicanalista compreensivo e atencioso. Narrado por Cristiana depois do fim do romance, é um livro que começa lento, difícil e triste como o término de uma relação amorosa, mas que vai tornando-se a cada página mais e mais interessante, ao descrever os mecanismos que dão início a uma avassaladora paixão e as causas - sempre dramáticas - de seu final. Poético e dolorido, é um livro pequeno (174 páginas) mas que tem uma grande qualidade literária.

Enfim, gostar ou não da escrita de Fernanda Young é uma questão de escolha. Uma voz única na literatura feminina - mas não exatamente feminista - brasileira, ela tem a inteligência e o frescor indispensáveis a uma boa escritora. É mergulhar sem medo em seu universo particular!

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JOGO DO PODER

Posted by Clenio on 23:20 in
Esqueça o Doug Liman de "A identidade Bourne". Em "Jogo do poder", novo filme do cineasta que redefiniu o cinema de ação com o primeiro filme protagonizado pela personagem criada pelo escritor Robert Ludlum, a adrenalina proveniente de perseguições automobilísticas inexiste. O mais perto de empolgar a plateia que Liman consegue é com a atuação sempre consistente de Sean Penn, em um papel que se aproxima bastante de sua real ideologia política contra o governo Bush. Baseado em uma história real - contada em dois livros escritos pelos protagonistas - o thriller político estrelado por Penn e Naomi Watts funciona apenas pela metade. E, por incrível que pareça, conquista mais quando se concentra em dramas pessoais do que quando versa sobre intrigas políticas.

A primeira parte do filme conta como funciona a rotina entre o casal Joe Wilson (interpretado por Penn, com aparência cansada, mas sempre um excelente ator) e Valerie Plame (Watts, pouco atraente, mas em mais uma ótima atuação). Ele é um embaixador aposentado que ajuda a esposa a cuidar dos filhos enquanto, vez ou outra, faz bicos em palestras e conferências. Ela é uma agente secreta da CIA, especialista em armas de destruição em massa. Quando o filme começa, logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, Joe vai até a Nigéria investigar denúncias contra o Iraque, indicado ao governo pela esposa. Ao perceber que o governo mentiu à sua população - como forma de justificar a invasão ao país de Sadam Hussein - ele escreve um artigo contando a verdade. E, a partir daí, o filme se transforma: de um suspense político, vira um drama familiar - dos bons. Como retaliação aos escritos de Wilson, a verdadeira identidade de Valerie é revelada. Ela, que sempre escondeu de todos os amigos sua verdadeira profissão, vê sua intimidade devassada e, tida como traidora da pátria, passa a sofrer ameaças físicas. Além de tudo, o casamento entre os dois entra em um severo processo de destruição.

Quando deixa de lado sua vontade de fazer um filme de ação sem ação - depois de mais de uma hora bem monótona de projeção - Liman entrega à plateia um drama politico de razoável consistência. As intrigas nos bastidores do governo americano são tratadas com inteligência e finalmente prendem a atenção do espectador. É nesse segundo ato que Sean Penn e Naomi Watts justificam sua participação no filme, com atuações passionais que salvam o filme da sensação de tempo perdido. É o bastante para que "Jogo do poder" seja recomendável? Talvez, mas não se pode deixar de levar em conta que, apesar de o tema já estar chegando a cansar, é sempre relevante, frente sua importância política e cultural. Em uma época com tanta bobagem chegando às telas, nunca é demais perceber que ainda existe gente querendo falar sobre assuntos importantes.

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DOCE VINGANÇA

Posted by Clenio on 19:28 in
Fazer remakes de filmes de sucesso, em busca de alguns trocados a mais não é difícil de entender - ainda que o seja de aceitar. O que suscita questionamentos, porém, é o que leva produtores de cinema em trazer de volta às telas obras de qualidade muito, mas muito questionável que nem mesmo em seu lançamento original fizeram mais do que receber críticas negativas. É o caso de "Doce vingança", dirigido pelo ilustre desconhecido Steven R. Monroe. Só mesmo um público com alto grau de sadismo e paixão pelo trash poderá se interessar pela refilmagem de "A vingança de Jennifer", lançado nos cinemas em 1978. Tosco do roteiro às atuações, é um perfeito exemplo de  filme feito com o intuito único de chocar o espectador. E nem isso consegue fazer direito.

Em uma época em que o público está tão mal-acostumado a testemunhar podreiras, como a série "Jogos mortais" e os filmes de Eli Roth, "Doce vingança" soa até inocente, apesar de suas ambições de ser mais um exemplar de violência explícita. Seu estilo lembra muito o cinema de terror do final dos anos 70 e início dos 80, desde sua trilha sonora até a maneira com que Monroe comanda sua câmera, muitas vezes na mão. Mas estamos no século XXI e tudo parece nada menos do que simplesmente ruim.

A péssima Sarah Butler interpreta (modo de expressão) a escritora Jennifer Hills, que se isola em uma casa no interior dos EUA para escrever seu novo livro. Sem celular e contato com o mundo exterior, ela é vítima de um estupro coletivo comandado pelo xerife do local. Violentada e espancada com ferocidade, ela é dada como morta pelos cinco agressores, dentre os quais um rapaz com problemas mentais. Cerca de um mês depois, porém, eles passam a ser atormentados pela desconfiança de que ela ainda está viva, e tem a confirmação de sua suspeita quando descobrem que ela tem um terrível plano de vingança contra eles.

É preciso admitir que a vingança de Jennifer tem uma certa criatividade, mas sua coragem tem limites que enfraquecem seu resultado final. Monroe não tem a ousadia de ir até o fim em suas pretensões, ficando no meio do caminho entre suas intenções e o que realmente apresenta à audiência. Fãs de cinema ruim podem gostar. Mas só eles.

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ADEUS À "TI TI TI"

Posted by Clenio on 21:22 in
Quando a Globo anunciou o remake de "Ti Ti Ti", uma das novelas preferidas da minha infância, confesso que fiquei desolado: por que cargas d'água estragar o que já havia sido tão bem feito? As coisas pareciam piorar com a notícia de que tramas de "Plumas & Paetês" outra novela do grande Cassiano Gabus Mendes seriam inseridas na história dos dois costureiros rivais vividos com propriedade por Luiz Gustavo e Reginaldo Faria em 1985. No entanto, com o final da adaptação de Maria Adelaide Amaral que foi ao ar hoje, preciso me retratar publicamente: apesar de alguns tropeços (fato normal com qualquer produto de televisão aberta), a novela foi um sucesso absoluto, tanto de audiência quanto de crítica. Amaral - que já havia escrito a regravação de "Anjo mau", em 1997 - conseguiu atualizar a história de Cassiano, mantendo seu bom-humor e alternando momentos cômicos e românticos. Segue agora os cinco maiores acertos e os cinco pecados da novela que vai deixar saudades aos fãs de uma boa diversão.

OS ERROS

1. ALEXANDRE BORGES - O marido de Júlia Lemmertz já provou inúmeras vezes que é um ator talentoso, mas errou feio na composição de seu Jacques Léclair. Borges carregou nas tintas de um humor exagerado e sempre sem graça nenhuma. Ao lado de Juliana Alves, protagonizou os momentos mais enfadonhos da história.

2. SOPHIE CHARLOTTE - A única coisa boa em Sophie Charlotte é Malvino Salvador! Péssima atriz e defendendo uma personagem antipática e chata ao extremo, ela atrapalhou não só a vida de Desirée (Mayana Neiva) e Jorgito (Rafael Cardoso) mas do público em geral. Sua parceria com Daniela Escobar nos capítulos finais acentuou sua absoluta falta de talento.

3. GUILHERME WINTER - Era pra ser uma disputa acirrada entre Renato e Edgar (Caio Castro) pelo amor de Marcela (Ísis Valverde), mas a apatia de Winter - um ator bonito mas sem muita expressão - prejudicou o que poderia ter sido uma baita briga. Felizmente Maria Adelaide Amaral fez a escolha certa em seu final e, além de salvar Marcela da morte (destino da personagem em "Plumas& Paetês") uniu-a de vez com Edgar e encontrou um novo par para Renato (a chatinha Debora Falabella, que nunca mais acertou depois da Mel de "O Clone").

4. COADJUVANTES VERGONHOSOS - Um erro crasso dessa nova versão foi a inclusão, em seu elenco, de alguns nomes muito fracos, que atrapalharam várias vezes o desenvolvimento da história. Juliana Paiva criou uma Valquíria insossa (diferentemente da interpretação de Malu Mader na primeira versão) e Carolina Oliveira provocava vergonha alheia com sua Gabi (cuja história com o Pedro do ótimo Marco Pigossi esvaziou-se provavelmente por sua nulidade dramática).

5. O ATROPELO NOS CAPÍTULOS FINAIS - Apesar de ter mantido um ritmo excelente nos primeiros meses da novela, a autora quase tropeçou na pressa no último mês de exibição. Além de promover um exagero de triângulos amorosos, forçou a barra em inventar um Victor Valentin de verdade (interpretado por um Nuno Leal Maia bastante deslocado) e arrumar um par romântico para cada personagem da história. Carinho pelos filhos tem limite!!!!

OS ACERTOS

1. CLÁUDIA RAIA - É impossível negar que a maior estrela de "Ti Ti Ti" foi Cláudia Raia. Linda e engraçadíssima, Jaqueline Maldonado roubou todas as cenas em que apareceu, disparando as melhores frases e referências da novela, além de ter criado uma personagem inesquecível em seu desvario. Raia provou mais uma vez seu grande talento: alguém conseguia lembrar que ela também foi a Donatela de "A favorita" há pouquíssimo tempo??

2. MURILO BENÍCIO - Ao contrário de Alexandre Borges, que errou feio com seu Jacques Léclair, Benício deitou e rolou com seu Ariclenes (ou Victor Valentin). Incentivado pelo diretor Jorge Fernando, o ator improvisou em cena, divertindo até mesmo os colegas e seu humor contagiou a todos. Era impossível não perceber o clima alto astral entre Murilo e seus comparsas Rodrigo Lopez (hilariante), Elizângela, Dira Paes e Malu Mader (que não está envelhecendo bem e raramente conseguia segurar o riso diante das loucuras do colega...)

3. ÍSIS VALVERDE & CAIO CASTRO - É preciso reconhecer que Ísis Valverde conseguiu se superar, ao criar uma Marcela forte e determinada, deixando pra trás a chata Camila de "Caminho das Índias". Heroína absoluta da trama, ela ainda criou uma química impecável com Caio Castro, que, por sua vez, também surpreendeu a todo mundo com um trabalho extremamente convincente. Ísis e Caio calaram a boca daqueles que duvidavam de sua capacidade de protagonizar uma novela. Dizem por aí que estão juntos na vida real. Julgar quem há de?

4. HOMOSSEXUALIDADE - Maria Adelaide Amaral fez um gol de placa ao tratar com delicadeza e leveza o tema da homossexualidade sem parecer didática ou panfletária. A história de amor entre Julinho (André Arteche) com Osmar (Gustavo Leão) e posteriormente com Tales (Armando Babaioff) foi contada de maneira sutil e respeitosa - ao público conservador e aos maiores interessados, a plateia GLS. Ver, no horário das sete, um homem dizer ao outro que o ama é mais importante do que esperar um beijo de língua no horário das nove. E isso que nem estou falando da relação de amor e respeito entre Julinho e sua "sogra" Bruna (Giulia Gam), religiosa fervorosa que não apenas o aceitou como amou-o como a um filho.

5. REFERÊNCIAS E HOMENAGENS - Além de unir "Ti Ti Ti" e "Plumas & Paetês", Maria Adelaide Amaral fez diversas homenagens a seu mentor Cassiano Gabus Mendes. Fizeram participações especiais na trama Luiz Gustavo (como Mário Fofoca de "Elas por elas"), Vera Zimermann (como a Divina Magda de "Meu bem, meu mal"), Eva Todor (como a Kiki Blanche de "Locomotivas") e Marília Pêra (como Rafaela Alvaray de "Brega & Chique"). Além disso, outras referências a novelas e autores globais foram notadas - caso de "Fera radical" e Manoel Carlos - e fomos presenteados com nomes há muito distantes da TV como Katia D'Angelo e Vera Gimenez (que fizeram sucesso nos anos 70 graças a seus trabalhos em "Anjo mau"). Uma ótima ideia realizada com sutileza e discrição. Parabéns à equipe.

Infelizmente a partir de segunda-feira seremos obrigados a aguentar uma trama que mistura dinossauros e robôs... Minhas noitinhas estarão livres por uns bons meses...

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ELA É DEMAIS PRA MIM

Posted by Clenio on 12:43 in
Entender o gosto do público médio americano - ao menos aquele que frequenta com certa assiduidade as salas de cinema - é missão inglória. Só mesmo um gênio para explicar os motivos que levaram o fraquinho "Ela é demais pra mim" a tornar-se tão popular na terra do Tio Sam. Formulaico e derivativo, o filme de Jim Field Smith não passa de uma sessão da tarde tão esquecível quanto dezenas de outras produções que abarrotam as prateleiras das videolocadoras (em especial no Brasil, onde saiu direto em DVD). É até agradável, mas jamais empolga.

Jay Baruchel - coadjuvante de filmes como "Menina de ouro" e "Trovão tropical" - aqui é alçado à categoria de protagonista, mas sua personagem é tão passiva que apaga as qualidades que ele vinha demonstrando em suas aparições anteriores. Ele vive Kirk, um rapaz sem graça que trabalha como guarda de segurança em um aeroporto de Pittsburgh. Desde que foi abandonado pela namorada - que além de tudo mora na mesma casa que ele e sua família - Kirk leva um vida tediosa e sem graça, cujos momentos mais divertidos são os encontros com os colegas de trabalho. Quando ele conhece a bela Molly (Alice Eve), porém, tudo se transforma. Inacreditavelmente, a deslumbrante, bem-sucedida e inteligente Molly cai de amores por ele, que não consegue entender o que a levou a se apaixonar justamente por um cara sem ambições profissionais, que mora com os pais, tem um carro caindo aos pedaços e, pior do que tudo, nem bonito é. Nem mesmo seus amigos e sua família o ajudam a resolver a incógnita...

E é isso. Filme de uma única piada - que funciona só às vezes - "Ela é demais pra mim" acerta quando usa de referências pop (expediente que sempre dá certo no gênero), mas escorrega quando tenta forçar uma empatia da audiência com seu protagonista. Kirk é um chatinho sem graça e, se o público fica ao seu lado, é somente na indagação sobre os motivos que o levaram a conquistar Molly - que, diga-se de passagem, também não é tudo isso que as personagens tanto falam. O romance entre os dois não chega a convencer, mas apesar dos pesares, é um filme simpático e com uma certa mensagem de "o que importa é a beleza interior" que, apesar de um tanto ingênua, pode agradar a quem procura relaxar o cérebro.

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NÃO ME ABANDONE JAMAIS

Posted by Clenio on 00:28 in
Misturar em um único filme uma dolorosa história de amor e uma ficção científica distópica sem confundir o espectador e, de quebra encantá-lo com a atuação de seu elenco não é trabalho dos mais fáceis. E não deixa de ser surpreendente que justo um cineasta como Mark Romanek - autor do subapreciado "Retratos de uma obsessão", suspense psicológico estrelado por Robin Williams em 2002 e que era seu único longa até aqui - tenha conseguido transformar o romance "Não me abandone jamais" em um belo filme que foi despropositadamente esquecido nas cerimônias de premiação de 2010. Diretor de alguns dos mais belos videoclipes da música pop americana - entre eles "Rain", de Madonna e "Strange curriences", do REM - Romanek foi inteligente o suficiente para deixar que a trama falasse mais do que sua tendência a criar imagens poderosas. O resultado é um drama adulto que emociona e faz pensar ao mesmo tempo em que propicia a seus jovens atores a chance de interpretações antológicas.

Autor do livro que deu origem ao filme "Vestígios do dia", estrelado por Anthony Hopkins e Emma Thompson, Kazuo Ishiguro tem uma prosa lenta e detalhista que provavelmente dificultou o trabalho do roteirista Alex Garland - que trabalhou com o cineasta Danny Boyle em duas ocasiões ("A praia" e "Extermínio") - em contar a história sem perder-se em elocubrações psicológicas mais densas do que um produto cinematográfico exige. A trama se passa em três tempos distintos, mas, para alegria daqueles que gostam de uma narrativa linear e não repleta de idas e voltas, eles são bem divididos e explicitados por letreiros explicativos. Tudo começa quando a narradora, Kathy (Carey Mulligan) ainda é uma pré-adolescente, assim como seus dois melhores amigos, Ruth (Keira Knightley) e Tommy (Andrew Garfield), um menino dado a ataques de fúria por quem ela nutre uma avassaladora paixão juvenil. Os três são alunos de uma tradicional escola inglesa que tem como único objetivo educar crianças que, ao atingirem determinada idade, doarão seus órgãos vitais para clientes ricos. Alguns anos mais tarde os amigos voltam a encontrar-se, quando Tommy e Ruth estão vivendo um romance enquanto aguardam a hora em que serão obrigados a cumprir seus destinos. O ato final acontece quase uma década depois: trabalhando como "cuidadora" (tomando conta dos doadores que já passaram por mais de uma cirurgia), Kathy reencontra Ruth à beira da morte e, ao saber que Tommy também está em vias de passar por sua terceira doação, resolve lutar por seu amor ao descobrir uma brecha no sistema de doações.

A delicadeza com que Romanek trata da história de amor entre Kathy e Tommy é a maior qualidade de "Não me abandone jamais", que evita de entrar no melodrama barato que outro cineasta menos hábil poderia escolher para trilhar. A trilha sonora discreta de Rachel Portman colabora para o clima melancólico da história narrada, pontuando cenas de uma beleza ímpar, tanto visual quanto emocionalmente. A discussão ético/filosófica sobre a doação de órgãos, apesar de não tornar-se o centro da narrativa é forte o suficiente para martelar na mente do público mesmo após os créditos finais, que certamente convidam os mais sensíveis às lágrimas. Mas nada no filme é melhor do que seu elenco, em especial a dupla Carey Mulligan/Andrew Garfield.

Se Keira Knightley não faz nada além do que já estamos acostumados a ver - ou seja, não ajuda nem atrapalha - seus colegas de cena não são nunca menos do que espetaculares. A pequena Isobel Meikle-Small faz um trabalho excelente como a jovem Kathy e é uma bela introdução à introspectiva atuação de Carey Mulligan, demonstrando ser uma atriz com um futuro brilhante, ao equilibrar com maturidade todos os sentimentos contraditórios de sua personagem. E Andrew Garfield está fenomenal como Tommy, o sensível pivô de um triângulo amoroso triste e fadado à infelicidade. Seus ataques de fúria, seus momentos de galã romântico e até mesmo sua delicadeza física são interpretados com uma entrega tão grande que o torna irresistível à plateia. Totalmente diferente de seu Eduardo Saverin de "A rede social", Garfield cala a boca de todos aqueles ainda incrédulos em seu talento para encarnar o novo Homem-aranha. É, sem dúvida, mais uma omissão imperdoável da Academia.

Aliás, a Academia foi absolutamente obtusa em ignorar o filme de Mark Romanek, que merecia, no mínimo, lembrança para seus protagonistas e seu belo roteiro - isso sem falar na trilha sonora e na fotografia discreta mas eficaz de Adam Kimmell. Mas a solução é deixar de lado as injustiças do Oscar e se extasiar com um dos melhores filmes do ano passado. "Não me abandone jamais" é uma grata surpresa!

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TOY STORY 3

Posted by Clenio on 00:50 in
Tudo bem, reconheço que não sou fã de desenhos animados. Por melhor que seja a animação - e não posso me furtar a admitir que ultimamente elas tem atingido um nível de qualidade e inteligência muito superiores a seus concorrentes em carne e osso - elas sempre me incomodam e me deixam impaciente. No entanto, resolvi conferir "Toy Story 3", que levou o Oscar de melhor animação este ano, além de ter concorrido também à estatueta principal - e, convenhamos, sua vitória seria mais justa do que dar o prêmio ao chatíssimo "O discurso do rei". O resultado foi o esperado: apesar de não ter me grudado na poltrona, o terceiro capítulo da saga do cowboy Woody e do astronauta Buzz Lightyear é engraça, comovente e tem um roteiro que dá de dez a zero em muitos filmes elogiados pela crítica. Quem foi criança um dia - e por criança eu não digo apenas em termos de idade, mas também de mentalidade - não tem como não se emocionar.

O filme começa quando Andy, o menininho do primeiro filme, está prestes a ir para a faculdade. Consequentemente, terá que desfazer-se de seus brinquedos de criança, o que inclui o cowboy, o astronauta e todos os carismáticos personagens dos dois primeiros capítulos (que assisti há tempos na companhia do meu sobrinho). Apavorados com a ideia de irem para o lixo, os brinquedos se surpreendem quando são mandados para uma creche. Sua felicidade dura pouco, no entanto: sofrendo nas mãos de crianças vândalas, eles precisam se unir para voltar à sua casa, enfrentando as sabotagens de um urso de pelúcia diabólico abandonado pela dona.

As piadas criadas pelos roteiristas são o que há de melhor em "Toy Story 3", que brinca com a identidade sexual do boneco Ken sem chocar a petizada (ainda seu maior público-alvo), retrata as crianças como pequenos monstros (com exceção da doce e encantadora Bonnie) e, de quebra faz referência às inocentes brincadeiras infantis (pobre dos seres sem imaginação...) Suas cenas finais são de enternecer e seu ritmo é invejável - as cenas de ação são realmente empolgantes e o humor é eficiente na medida certa. Não foi à toa que rendeu mais de 400 milhões de dólares somente no mercado americano.

"Toy Story 3" é o antídoto perfeito para aqueles que, como eu, tem uma certa resistência em perder duas horas vendo "filme de criança". Só mesmo um insensível total para não se deixar conquistar por sua inteligência, bom-humor e delicadeza.

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REINO ANIMAL

Posted by Clenio on 17:45 in
Se o Oscar tem alguma utilidade além da óbvia - frustrar as expectativas dos fãs de bom cinema dando seu prêmio máximo a coisas do nível de "O discurso do rei" - é dar certa visibilidade a filmes que, do contrário, poderiam passar em brancas nuvens nos cinemas (isso se tiverem a sorte de não serem lançados direto em DVD, disputando a atenção de inúmeros lançamentos com maior força de marketing). Este ano a indicação de Jackie Weaver à estatueta de atriz coadjuvante chamou a atenção dos cinéfilos para um filme policial discreto chamado "Reino animal", feito na Austrália com meros trocados e que amealhou elogios por onde passou. A própria Weaver não pode reclamar da atenção dada a ela pelas cerimônias de premiação: respeitadíssima atriz australiana, ela ganhou seu terceiro troféu do Instituto de Cinema Australiano (AFI) - além de reconhecimento pelos críticos de Los Angeles e pelo National Board of Review - por sua assombrosa atuação como a matriarca de uma família de criminosos. Sem falar alarde de seu enorme talento, ela rouba pouco a pouco o filme inteiro para si, o que não é pouco considerando todas as qualidades que o trabalho do cineasta David Michôd apresenta.

O protagonista de "Reino animal" é Joshua Cody (o bom James Frecheville), um adolescente de 17 anos que, depois da morte da mãe - por overdose de heroína - não encontra saída na vida a não ser procurar abrigo junto aos demais membros da família, de quem estava afastado há muito tempo. Sua avó, Janine (Jackie Weaver), domina seus três filhos com mão de ferro, a despeito de serem todos criminosos consumados. A chegada de Joshua ao seio desse núcleo familiar um tanto estranho a ele acontece justo no momento em que o mais velho dos irmãos, Pope (Ben Mendelsohn) está sendo caçado pela polícia, que vigia qualquer membro do clã dos Cody com quase obsessão. Fazendo pequenos serviços para seus tios, aos poucos Joshua se vê envolvido no mundo do crime, do qual tenta escapar na sua relação com a namorada, Nicole (Laura Wheelright). Porém, quando o cerco começa a apertar e a violência chega assustadoramente perto dele, o rapaz tenta descobrir uma maneira eficaz de sair da história de violência da família. Para isso, ele conta com a ajuda do policial Leckie (Guy Pearce, o nome mais conhecido do elenco).

O mais interessante no roteiro do diretor é a maneira com que apresenta suas personagens, de maneira abrupta, seca, como se o público já os conhecesse anteriormente. Nem mesmo a narração em off de Joshua diminui a sensação de que estamos sendo jogados no meio de um tiroteio, sem saber ao certo em quem devemos confiar (sensação essa que dividimos com o jovem protagonista e que a edição ajuda a reiterar). As dúvidas que permeiam todo o filme - narrado por meio de elipses que empurram o espectador à ação - são a base da trama. Mais do que simplesmente contar sua história, Michôd quer que a plateia a sinta, utilizando para isso uma crueza na forma de movimentar a câmera que foge do glamour dos policiais americanos, que distanciam a violência do público a revestindo de beleza plástica. Aqui qualquer tiro tem importância fundamental ao desenvolvimento da história (e pelo menos em duas ocasiões é capaz de deixar surpresa qualquer plateia, até mesmo a mais acostumada com o gênero).

É possível que "Reino animal" passe batido nos cinemas brasileiros, tão afoitos por bilheteria que esquecem de qualidade. Mas é uma experiência bastante intensa, em especial devido às atuações de Weaver, do ótimo Joel Edgerton (que vive o carismático bandido Barry Brown) e do jovem James Frecheville, que transmite a exata noção de angústia de sua personagem. Violento e imprevisível, é uma das pérolas que o Oscar fez o favor de apresentar - e paradoxalmente, praticamente ignorar na hora H.

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A MENTIRA

Posted by Clenio on 20:37 in
De vez em quando as comédias adolescentes - gênero pródigo em empurrar belas porcarias à audiência - geram uma ovelha negra, um filme que, além de divertido e inofensivo, consegue atingir um patamar acima de seus semelhantes utilizando de um elemento raro: a inteligência. Foi isso que aconteceu, por exemplo, com "Eleição", de Alexander Payne, realizado em 1999, estrelado por Reese Witherspoon, que lançava mão de um humor irônico e sarcástico como forma de criticar a obsessão dos americanos pelo sucesso a qualquer custo. Um dos exemplares desse grupo tão rarefeito é "A mentira", uma cáustica comédia que, do nada, tornou-se um grande sucesso de bilheteria nos EUA - rendeu quase 60 milhões de dólares - e deu à sua protagonista, Emma Stone, uma merecida indicação ao Golden Globe de melhor atriz em comédias ou musicais.

Stone - que será Gwen Stacy na nova aventura do Homem-aranha nos cinemas - deita e rola nas enormes oportunidades que o divertido roteiro lhe proporciona. Ela vive Olive Penderghast, uma estudante secundarista sem maiores atrativos que, depois de ter contado uma pequena e inocente mentira à sua melhor amiga a respeito de ter perdido a virgindade, vira o assunto da escola. Taxada de "fácil", ela torna-se popular do dia para a noite, e, quanto mais tenta ajudar seus colegas a subirem de status dentro do universo escolar - mentindo sobre noites de sexo com todos os nerds que conhece, inclusive seu amigo gay - mais ela complica sua situação, principalmente quando se descobre apaixonada por um amigo de infância.

Logicamente a trama de "A mentira" não é das mais criativas, mas a forma como a história de Olive é contada faz toda a diferença. Repleto de referências culturais - que vão do pop de "Crepúsculo" e John Hughes aos clássicos literários de Nathaniel Hawthorne e Mark Twain - e de um humor ácido e extremamente engraçado (ao menos para o público mais antenado), o script do estreante Bert V. Royal brinca com a hipocrisia da sociedade americana e com seus exageros religiosos da mesma forma que o ótimo e subapreciado "Galera do mal", de 2004, ainda que com menos contundência. Nem mesmo o artíficio um tanto batido de ter a protagonista contando sua história em flashback diminui seu frescor e inteligência. Com piadas sendo lançadas em ritmo vertiginoso e com um apelo afetivo a filmes essenciais para a cultura cinematográfica dos filhos dos anos 80 - "Clube dos cinco", "Namorada de aluguel" e "Digam o que quiserem" são citados nominalmente - "A mentira" conquista pela simpatia e pelo bom humor irresistível. E, logicamente, não atrapalha ter em seu elenco a ótima Lisa Kudrow, da série "Friends" que, mesmo utilizando os mesmos trejeitos de sua Phoebe Buffay, ainda é muito engraçada.

"A mentira" é uma ótima comédia romântica adolescente que tem tudo para agradar também ao público adulto que gosta de ter seu cérebro tratado com carinho. Não muda a vida de ninguém, mas deixa todo mundo com um belo sorriso no rosto.

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MORTE E VIDA DE CHARLIE

Posted by Clenio on 20:41 in
Depois de tornar-se ídolo adolescente com a série de filmes "High School Musical" e ser percebido por um público mais adulto com "Hairspray", o jovem Zac Efron recusou o papel principal no remake de "Footlose" para evitar ficar preso a um gênero específico e para tentar atingir novas audiências. Para isso, ele reuniu-se ao diretor Burr Steers - com quem já havia trabalhado na comédia "17 outra vez" - em "Morte e vida de Charlie" drama romântico com toques espiritualistas baseado em um livro de Ben Sherwood. A resposta das bilheterias foi apenas razoável, mas pelo menos um dos seus objetivos foi atingido: mesmo que o filme seja apenas mediano, é perceptível o fato de que, se for bem explorado, o galã juvenil pode tornar-se um ator senão brilhante ao menos correto e dedicado. Por incrível que pareça, o melhor de "Morte e vida de Charlie" é sua atuação.

Efron se esforça na pele de Charlie St.Cloud, um jovem que não consegue lidar com a trágica morte de seu irmão caçula, em um acidente automobilístico pelo qual ele se culpa injustamente. Trabalhando no cemitério onde o menino está sepultado, ele esconde de todos o fato de que conversa diariamente com ele, o que o impede de levar adiante sua vida e seus planos de tornar-se um velejador. Quando ele conhece e se apaixona por Tess Carroll (Amanda Crew) - que está em vias de fazer uma arriscada viagem de barco - entra em conflito entre seguir seu amor por ela ou manter a promessa que fez a seu irmão de encontrar-se com ele em todo entardecer.

Apesar de uma relativamente surpresa depois de sua primeira hora de projeção, "Morte e vida de Charlie" jamais chega a empolgar o público, em parte devido à falta de carisma de Amanda Crew e em parte devido ao desenvolvimento insosso do roteiro. Indeciso entre uma história de amor e uma trama espírita (Charlie também consegue ver outros mortos, além do irmão), o filme de Steers serve única e exclusivamente como veículo para que Zac Efron desfile pela tela seu charme adolescente e seu esforço em convencer o espectador de que tem talento dramático. Até consegue - muitos ídolos das telas são bem piores do que ele - mas não faz o milagre de transformar um draminha sessão da tarde em um entretenimento memorável.

Para os fãs de Zac Efron, "Vida e morte de Charlie" é uma festa, uma vez que ele apresenta quase todas as qualidades que conquistaram seu público (só deixa de lado seus dotes musicais), mas para o público em geral é um daqueles filmes que serão programa certo nas tardes globais daqui a poucos anos.

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DEIXE-ME ENTRAR

Posted by Clenio on 21:29 in
Seguindo sua eterna mania de traduzir para seu mal-acostumado público filmes estrangeiros de sucesso, Hollywood achou por bem realizar uma versão americana do terror sueco "Deixe ela entrar", dirigido por Tomas Alfredson. O remake, comandado por Matt Reeves (que estava por trás das câmeras de "Cloverfield"), sofreu uma pequena alteração no título - se chama "Deixe-me entrar" (?!?!) - e, apesar de uma modificação crucial em relação a origem de sua protagonista, é bastante fiel ao filme original. Se beneficiando também da onda do momento - o vampirismo - é um trabalho que agrada aos fãs do gênero e pode até conquistar àqueles que procuram um bom filme mesmo não se interessando pelo assunto. Tudo graças ao clima impresso pelo visual caprichado e por seus dois atores principais, Kodi Smith-McPhee e Chloe Moretz.

Depois de ter emocionado a plateia com seu sensível trabalho em "A estrada", o pequeno Smith-McPhee volta a entregar um trabalho de alta qualidade como Owen, um menino tímido e introvertido que precisa lidar com a separação dos pais e com os ataques de bullying que sofre dos valentões da escola que frequenta. Isolado em seu mundo solitário, ele conhece e faz amizade com Abby (Chloe Moretz), uma menina misteriosa que tem uma relação mal-explicada com o pai e que mora na casa ao lado da sua. Quando vários violentos assassinatos começam a ocorrer nos arredores, Owen descobre que Abby é uma vampira, mas decide manter com ela - com quem compartilha um forte senso de solidão e inadequação - um relacionamento de confiança e amizade.

A grande sacada de "Deixe-me entrar" é não ser um produto de terror no sentido puramente convencional. Ao priorizar a relação entre Owen e Abby em detrimento de cenas sanguinolentas - ainda que apresente algumas sequências bastante violentas e convincentes - o filme mostra seu diferencial, se preocupando com seus personagens mais do que com sua vontade de assustar a qualquer preço. A excelente química entre Smith-McPhee e a garotinha Chloe Moretz é preciosa e de certa forma dispensa até mesmo outros atores: a mãe de Owen, por exemplo, nunca tem seu rosto mostrado e o "pai" de Abby aparece sempre envolto em sombras e escuridão. Até mesmo as cenas em que o suspense surge o diretor opta pela sutileza e pela discrição, filmando de longe ou protegido pela fotografia, que lembra muito sua origem nórdica. Sua preferência pelo não-explícito salva o filme do lugar-comum, mas paradoxalmente o afasta dos fãs de coisas como "Crepúsculo", onde a inteligência inexiste. Sem falar que, mesmo bem mais jovem, Smith-McPhee e Chloe Moretz são atores muito, mas muito melhores que Robert Pattinson e Kirsten Stewart.

"Deixe-me entrar" pode não ser um filme extraordinário ou avassaladoramente assustador. Mas tem qualidades em número suficiente para conquistar seu público-alvo.

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A ÚLTIMA ESTAÇÃO

Posted by Clenio on 17:01 in
Um dos maiores autores de todos os tempos, Liev Tolstoi morreu em 1910 em uma melancólica estação de trem, dividido entre o desapego material que pregava em seus últimos trabalhos e a dívida de honra e responsabilidade com a numerosa família - em especial a esposa, a Condessa Sofya, que exigia que os direitos da obra do escritor ficassem de posse dos filhos e não do povo, como queria o autor de "Anna Karenina". Os derradeiros dias de Tolstoi - e a briga de egos entre a condessa e seu arqui-inimigo Vladimir Chertkov - foram retratados no romance "A última estação", escrito pelo jovem americano Jay Parini - publicado no Brasil pela Record. Sua adaptação para o cinema, feita por Michael Hoffman (diretor das comédias românticas "Um dia especial" e "Tinha que ser você") é correta e eficiente, ainda que nunca brilhante. A narração em diversos pontos de vista que dava dinamismo e inteligência ao livro foi subsituída por um roteiro linear, mais palatável às grandes audiências. Sendo assim, na versão para as telas, a história é vista através dos olhos do jovem Valentim Bulgakov, futuro autor de livros como "O mestre e margarida".

Interpretado pelo excelente James McAvoy, Bulgakov assume o papel do público, testemunhando a guerra declarada entre a Condessa e Chertkov, amigo de Tolstoi e que o incentivava a legar sua obra ao povo que o amava. Contratado por Chertkov para lhe manter informado sobre os acontecimentos relativos ao relacionamento entre a condessa e o escritor, o jovem aprendiz acaba entendo os pontos de vista de Sofya, uma mulher determinada a manter para sua numerosa prole as vantagens financeiras da obra do autor de "Guerra e paz". Tornando-se seu amigo e confidente, Bulgakov ouve dela suas lembranças amorosas em relação a seu casamento, mas ao mesmo tempo sente-se um traidor da causa tolstoiana a questionar as intenções de Chertkov e, mais ainda, ao enamorar-se de Masha (Kerry Condon), também uma admiradora do autor russo.

O mérito maior de "A última estação" nem é o fato de contar uma parte pouco conhecida da história do escritor russo de maior influência no mundo literário - ao lado de Dostoievski. As maiores qualidades do filme de Hoffman atendem pelos nomes de Christopher Plummer, Helen Mirren e James McAvoy. Nas peles dos três protagonistas do filme, os atores ingleses mostram como atuações intensas podem compensar um roteiro pouco inventivo. O veterano Plummer só não ganhou o Oscar de coadjuvante do ano passado porque bateu de frente com o imbatível Christoph Waltz de "Bastardos inglórios": sob seu prisma, Tolstoi é um escritor bem-intencionado com dúvidas reais a respeito do destino de sua bibliografia e de suas relações interpessoais. A ótima Helen Mirren - recebendo créditos para torrar em filmes como "RED" - também concorreu ao Oscar por seu retrato intenso e repleto de nuances como Sofya Tolstoya: indo da delicadeza à histeria, do pragmatismo odioso ao romantismo deslavado, Mirren está estupenda, principalmente no ápice de suas crises melodramáticas - "Você precisa é de um coro grego!" , exclama seu marido diante de uma delas. E James McAvoy mostra mais uma vez porque é um dos atores mais talentosos de sua geração, criando um jovem Bulgakov sensível, romântico e dedicado - suas cenas com Plummer ecoam o relacionamento dos protagonistas de "A morte de Ivan Ilitch" (obra de Tolstoi que narra os últimos dias de um homem de idade e sua relação com um jovem que perto de si) e os encontros dos dois são registros de duas gerações de grandes atores. McAvoy ainda vai muito longe, acreditem.

"A última estação" é um filme que precisa ser visto, porque é o palco de grandes interpretações e porque apresenta um capítulo pouco conhecido da história da literatura mundial. É um filme de categoria, que, nas mãos de um diretor mais experiente poderia ter sido uma obra-prima. Infelizmente, dirigido pelo apenas correto Michael Hoffman não chega a atingir suas possibilidades. Ainda assim, um programa bastante inteligente.

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A CONDENAÇÃO

Posted by Clenio on 20:29 in
Baseado em uma história real, acontecida no Massachussets, o drama "A condenação" não apenas falhou em dar uma bem-vinda indicação ao Oscar para sua protagonista (e produtora executiva) Hilary Swank mas também causou a ela boas dores de cabeça. Indignados com o fato de não terem sido sequer consultados a respeito da transição para o cinema da história do crime que vitimou a garçonete Katheryn Brow, seus filhos criticaram publicamente a postura da atriz e dos envolvidos com o projeto. Nem mesmo o argumento - comprovado por quem assiste ao filme - de que o foco da narrativa não é o crime em si abrandou a situação e o resultado foi uma recepção apenas morna a um filme que merecia sorte melhor.

Dirigido por Tony Goldwin - o vilão de "Ghost, do outro lado da vida" se saindo surpreendentemente bem na nova carreira - "A condenação" começa em 1980, quando o simpático mas encrenqueiro Kenny Waters (Sam Rockwell) é preso, acusado do violento assassinato de uma conhecida. Condenado à prisão perpétua devido às provas circunstanciais e alguns testemunhos contundentes, ele deixa sua irmã Betty Anne (Hilary Swank) desesperada. Decidida a tirar o irmão da cadeia, ela começa a faculdade de Direito, negligenciando até mesmo seus deveres de esposa e mãe. Dezoito anos depois do julgamento, ela se une ao advogado Barry Scheck (Peter Gallagher) - representante de uma ONG que tenta reparar erros judiciários - e tenta provar a inocência de Kenny através do DNA das amostras de sangue do assassino, recolhidas no local do homicídio.

Mesmo que o final da história seja conhecida - foi tema de um episódio famoso do programa "60 Minutes" - o roteiro de Pamela Gray consegue manter o interesse do público até seu final, um tanto anti-climático mas coerente com o estilo correto e quase burocrático da direção de Goldwin. Confiando na força da história que está contando, ele não se preocupa em fazer malabarismos com a câmera, frequentemente uma observadora passiva dos dramas de Betty Anne em seu caminho para fazer justiça. A maneira quase formal com que comanda seu filme combina com seu gênero, mas não há como negar que existe uma queda de ritmo na segunda metade. Enquanto a primeira parte do filme intercala a luta de Betty Anne com cenas de sua infância ao lado do irmão protetor - sequências bonitas e interessantes - a reta final concentra-se em uma corrida contra o tempo bastante comum. Felizmente são nesses momentos que brilha seu elenco coadjuvante.

Se o trabalho de Hilary Swank está no nível de suas atuações premiadas - por "Meninos não choram" e "Menina de ouro" - ela conta com um apoio de ouro. Não apenas Sam Rockwell brilha como Kenny Waters, mas também existe espaço para que se destaquem Melissa Leo e Juliette Lewis. Melissa - premiada com o Oscar de coadjuvante este ano, por "O vencedor" - tem o papel pequeno mas crucial de Nancy Taylor, uma policial corrupta e mal-intencionada e Lewis, uma promessa não cumprida do início dos anos 90 aparece quase irreconhecível como Roseanna Perry, uma das testemunhas de acusação: suas rápidas aparições foram suficientes para que ela fosse laureada como Melhor Atriz Coadjuvante do ano pela Associação de Críticos de Boston.

Mesmo que não seja uma obra-prima, "A condenação" merece ser descoberto e apreciado pelo que ele é: um correto drama de tribunal com um belo elenco e boas intenções. A família de Katheryn Brow não deveria ter se preocupado.

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REENCONTRANDO A FELICIDADE

Posted by Clenio on 00:07 in
Nicole Kidman estava a um ponto de sucumbir à famosa "maldição do Oscar", que vitimou Mira Sorvino, Marisa Tomei, Helen Hunt e Hale Berry - só pra citar as mais recentes. Depois do trabalho espetacular em "As Horas", que lhe rendeu a estatueta, Kidman colecionou fracassos de crítica e bilheteria e parecia que sua carreira estava entrando em um beco sem saída. Depois de ter que abdicar, por causa da gravidez, do papel que deu a Kate Winslet o Oscar, no filme "O Leitor" - e que poderia ter recuperado seu prestígio - ela teve uma nova chance de demonstrar seu talento com "Reencontrando a felicidade", adaptação de uma peça teatral que estreou em 2006 na Broadway. Adicionando a função de produtora a seu trabalho como atriz, ela voltou à mídia e às boas graças da imprensa. Indicada ao Oscar, ao Golden Globe e ao Screen Actors Guild Award, Nicole está novamente em alta em Hollywood. Merecidamente!

Menos deformada pelo botox - que estava destruindo a beleza clássica e delicada que amealhou paixões do público em filmes como "Moulin Rouge" - ela entrega um das atuações mais viscerais de sua carreira. No filme, adaptado por David Lindsay-Abare de sua própria peça de teatro, ela vive Becca, uma mulher torturada pela perda do filho de 4 anos de idade, morto oito meses antes. Sem saber como lidar com a tragédia, ela se recusa a compartilhar sua dor com um grupo de pais na mesma situação, o que acaba a afastando do marido, Howard (Aaron Eckhart), que, por sua vez, também precisa suportar a dor de ter perdido o único filho. Cada um à sua maneira, o casal encontra subterfúgios para sobreviver: ela inicia uma série de encontros com Jason (Miles Teller), o rapaz que atropelou seu filho e ele começa um relacionamento de profunda amizade com Gaby (Sandra Oh), integrante do grupo de apoio a que o casal pertence.

Diretor do subversivo "Hedwig" e do polêmico "Shortbus" - que usavam e abusavam, de maneira quase anárquica, da sexualidade como forma de prazer e rebeldia - John Cameron Mitchell está surpreendentemente comportado em "Reencontrando a felicidade", o que apenas comprova sua versatilidade e maturidade. Sem apelar para a lágrima fácil ou cenas feitas com o único objetivo de emocionar a plateia, ele confia plenamente no talento de seus atores e na força do texto - cortesia de sua origem teatral. Não há, aqui, nenhum resquício de seu estilo espalhafatoso ou controverso, o que dá espaço a uma melancolia que soa real e absolutamente humana. Até mesmo o ritmo vagaroso da primeira meia-hora de projeção difere da edição ágil de seus trabalhos anteriores, como se, sendo delicado e discreto, ele respeitasse a dor do casal de protagonistas. A trilha sonora também pontua com correção o desenvolvimento da história, nunca opulenta ou exagerada, mas explodindo sempre que necessário, assim como a interpretação de Kidman.

Ainda que esteja atuando ao lado de Aaron Eckhart - que merece o devido reconhecimento a seu talento ainda pouco explorado - e da veterana Dianne Wiest (em poucas mas marcantes cenas), é Kidman quem realmente comanda o show em "Reencontrando a felicidade". Seus silêncios dolorosos e suas explosões desequilibradas - em especial na cena em um supermercado que termina em uma catarse física - são vividos com um perfeito misto de introspecção e desespero. Suas conversas com o surpreendente Miles Teller - que estará na refilmagem de "Footloose" - são recheadas de uma tristeza profunda e é impossível não ficar impressionado com a maneira com que ela conduz a complexidade de sua personagem. Que essa nova fase de sua carreira seja duradoura....

Enfim, "Reencontrando a felicidade" é um filme triste, inadequado para quem procura diversão pura e simples em uma sala de cinema. Mas é uma opção interessantíssima para quem gosta de interpretações fortes e uma trama consistente.

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