REINO ANIMAL
O protagonista de "Reino animal" é Joshua Cody (o bom James Frecheville), um adolescente de 17 anos que, depois da morte da mãe - por overdose de heroína - não encontra saída na vida a não ser procurar abrigo junto aos demais membros da família, de quem estava afastado há muito tempo. Sua avó, Janine (Jackie Weaver), domina seus três filhos com mão de ferro, a despeito de serem todos criminosos consumados. A chegada de Joshua ao seio desse núcleo familiar um tanto estranho a ele acontece justo no momento em que o mais velho dos irmãos, Pope (Ben Mendelsohn) está sendo caçado pela polícia, que vigia qualquer membro do clã dos Cody com quase obsessão. Fazendo pequenos serviços para seus tios, aos poucos Joshua se vê envolvido no mundo do crime, do qual tenta escapar na sua relação com a namorada, Nicole (Laura Wheelright). Porém, quando o cerco começa a apertar e a violência chega assustadoramente perto dele, o rapaz tenta descobrir uma maneira eficaz de sair da história de violência da família. Para isso, ele conta com a ajuda do policial Leckie (Guy Pearce, o nome mais conhecido do elenco).
O mais interessante no roteiro do diretor é a maneira com que apresenta suas personagens, de maneira abrupta, seca, como se o público já os conhecesse anteriormente. Nem mesmo a narração em off de Joshua diminui a sensação de que estamos sendo jogados no meio de um tiroteio, sem saber ao certo em quem devemos confiar (sensação essa que dividimos com o jovem protagonista e que a edição ajuda a reiterar). As dúvidas que permeiam todo o filme - narrado por meio de elipses que empurram o espectador à ação - são a base da trama. Mais do que simplesmente contar sua história, Michôd quer que a plateia a sinta, utilizando para isso uma crueza na forma de movimentar a câmera que foge do glamour dos policiais americanos, que distanciam a violência do público a revestindo de beleza plástica. Aqui qualquer tiro tem importância fundamental ao desenvolvimento da história (e pelo menos em duas ocasiões é capaz de deixar surpresa qualquer plateia, até mesmo a mais acostumada com o gênero).
É possível que "Reino animal" passe batido nos cinemas brasileiros, tão afoitos por bilheteria que esquecem de qualidade. Mas é uma experiência bastante intensa, em especial devido às atuações de Weaver, do ótimo Joel Edgerton (que vive o carismático bandido Barry Brown) e do jovem James Frecheville, que transmite a exata noção de angústia de sua personagem. Violento e imprevisível, é uma das pérolas que o Oscar fez o favor de apresentar - e paradoxalmente, praticamente ignorar na hora H.
Mais sobre cinema em http://www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com/
http://www.confrariadecinema.com.br/
http://www.cinematotal.com.br/