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OBJETOS CORTANTES

Posted by Clenio on 23:35 in
Antes de tornar-se uma escritora reconhecida mundialmente pelo sucesso de "Garota exemplar" - e de ter sido indicada ao Oscar por sua bem-sucedida adaptação para as telas - a americana Gillian Flynn trabalhou como crítica de cinema e televisão, formou-se em Jornalismo e Inglês e escreveu para uma revista de negócios. Nada que apontasse para uma carreira como escritora de romances policiais. Porém, desde seu livro de estreia, "Objetos cortantes", publicado no Brasil pela editora Intrínseca no rastro do sucesso de sua história mais famosa (e que chegou aos cinemas sob o comando do genial David Fincher), esse caminho parecia inevitável: mergulhando fundo nos distúrbios da alma dos subúrbios ianques, Flynn vem surgindo como uma espécie de cronista das mazelas humanas, recheando suas tramas com sangue, violência e, felizmente, inteligência. Mesmo sem a força de "Garota exemplar" - que reúne todas as qualidades de sua prosa de forma coesa e mais ambiciosa - "Objetos cortantes" não tem como decepcionar os fãs da literatura policial. Mérito da trama instigante, dos personagens bem delineados e da constante sensação de perigo que perpassa suas pouco mais de 250 páginas.

A protagonista do livro é Camille Preaker - que Natalie Portman interpretaria com propriedade em uma eventual transposição para o cinema. Repórter de um jornal pouco prestigiado de Chicago, ela acaba de sair de um hospital psiquiátrico, onde ficou internada por um tempo devido à sua tendência à automutilação. Com sérios problemas com o álcool, também, ela se vê diante de um dilema profissional quando seu patrão - com quem vive uma relação paternal - pede que ela retorne à sua cidade natal, no interior do Missouri, para uma série de reportagens a respeito do desaparecimento de uma menina de oito anos (que pode ser a segunda vítima de um assassino cruel que arranca os dentes de suas presas). Voltar ao lar não é exatamente um presente para Camille, que não tem o melhor dos relacionamentos com a mãe, uma socialite aparentemente incapaz de maiores manifestações de afeto desde a morte de sua filha caçula, anos antes. Casada novamente e mãe de uma adolescente, Adora (agora Crellin) não vê com bons olhos o retorno da filha mais velha, que chega disposta a exorcizar um passado repleto de excessos e traumas enquanto investiga por conta própria um caso que desafia inclusive o departamento de polícia local - que conta com a ajuda de um agente do FBI, mais acostumado com a crueldade do ser humano.

Sem deixar de lado o tom de romance policial - com direito a reviravoltas, personagens suspeitos e um aprofundamento psicológico raro - Gillian Flynn consegue o feito de criar uma história com diversas camadas, onde descobrir o nome do culpado pelas atrocidades descritas pela trama é apenas um detalhe (importantíssimo, claro, mas tão crucial quanto o desfecho dos dramas pessoais da protagonista). Descrevendo com detalhes os pensamentos mais íntimos de Camille, a autora propõe ao leitor uma viagem para uma alma torturada e angustiada que combina com perfeição com o viés sombrio do argumento. Para quem gosta do gênero, é imperdível.

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