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O TURISTA

Posted by Clenio on 21:36 in
A julgar pelos nomes envolvidos, "O turista" tinha tudo para ser um dos mais memoráveis filmes de ação dos últimos anos. Seu diretor, o alemão Florian Henckel von Donnersmarck tem em casa um Oscar de melhor filme estrangeiro pelo elogiado "A vida dos outros". Seus dois co-roteiristas também tem Oscars em casa - Christopher McQuarrie pelo inesquecível "Os suspeitos" e Julian Fellowes pelo cultuado "Assassinato em Gosford Park". Seus protagonistas, Angelina Jolie e Johnny Depp são dois dos mais respeitados atores do momento e Veneza... bem, Veneza é Veneza e tenho dito. Então, por toda essa conjunção de fatores, era esperado que, além de uma bilheteria polpuda, a refilmagem do francês "Anthony Zimmer, a caçada" fosse também um produto bem acima da média do gênero. Quando se assiste o resultado final, entende-se a frustração de todos. Mesmo que não seja o lixo que muita gente vem apregoando, "O turista" fica muito aquém das expectativas. É divertido, mas longe de ser inesquecível.

A premissa do filme é um tanto duvidosa, mas no final das contas, isso pouco importa no final das contas. Tudo começa em Paris, quando a britânica Elise Clifton-Ward (Angelina Jolie desfilando pelas telas sua beleza deslumbrante e sua classe inegável) recebe uma mensagem por escrito de seu amante, o misterioso Alexander Pearce, lhe dando instruções de como despistar a Scotland Yard (que o está caçando). Seguindo à risca o combinado, ela se aproxima do americano Frank Tupelo (Johnny Depp) no trem que os está levando à Veneza: sua intenção é confundir seus perseguidores, que o querem preso pelo roubo de quase 800 milhões de libras. Sem saber o que está acontecendo, Frank se vê sendo perseguido, ameaçado de morte e, pior ainda, apaixonado pela bela estranha.

A trama de "O turista" parece ser mera desculpa para mostrar belas paisagens italianas e o figurino chique de Jolie. Von Donnersmarck não se decide entre realizar um filme europeu, de ritmo elegante e ângulos inteligentes ou uma aventura tipicamente ianque, com reviravoltas não exatamente surpreendentes e uma preocupação inconsistente em fazer um humor bastante sem graça (e Johnny Depp insiste em ser "exótico", dessa vez fumando um cigarro sem fumaça....) que talvez seja responsável por suas indicações ao Golden Globe na categoria comédia. Essa indecisão custou pontos ao filme: as cenas de ação não empolgam e o desenvolvimento das personagens deixa a desejar. Mas mesmo assim, "O turista" tem algumas qualidades que justificam uma conferida.

A fotografia deslumbrante, a beleza de tirar o fôlego de Angelina Jolie e a qualidade da produção como um todo dão o selo de qualidade necessário para fazer de "O turista" uma diversão inofensiva e agradável. Quem não tiver mais nada pra ver e quiser uma horinha e meia sem preocupações maiores - como roteiro e qualidade dramática - pode encarar com tranquilidade e sair satisfeito. Principalmente se for fã de miss Jolie e Johnny Depp.

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SO UNSEXY

Posted by Clenio on 18:54 in , ,
Perdoem-me os que não são como eu e são felizes mesmo assim, mas eu sou uma pessoa sexual. MUITO sexual. Ainda que concorde que sexo não é tudo em um relacionamento - e que pode ser substituído por carinho, companheirismo e amizade desde que haja a concordância de ambas as partes - sou obrigado a reconhecer que sexo é um fator primordial na minha vida. E quando eu digo sexo não falo necessariamente em penetração, gemidos, suor e a prostração pós-coito (ainda que isso tudo seja algo divino): falo de sexo como elemento de atração entre dois seres, e essa atração pode vir nos momentos mais inoportunos e inesperados. Talvez eu seja uma exceção à regra, mas ainda que logicamente um corpo bonito me desperte lúbricos desejos impróprios para menores de 18 anos o que me excita mais do que tudo é, parafraseando o Pequeno Príncipe, invisível aos olhos. Pra mim, alguém com personalidade própria pode ter barriguinha saliente, ser aparentemente sem graça e até não se encaixar definitivamente nos padrões de beleza que eu relevo. Pra mim, ser sexy é muito mais do que exalar hormônios rua afora.

Pra mim, ser sexy é ser inteligente. É ter um senso de humor refinado. É ter interesse em aprender sempre. É enrubescer ao ouvir um elogio. É sorrir de verdade, não apenas com a boca, mas com o coração. Ser sexy é saber respeitar opiniões contrárias e tentar realmente compreendê-las. É ter educação. É ser agradável mesmo em silêncio. É ter prazer na minha companhia. Pra mim, não há nada mais sexy do que ver a pessoa desejada lendo um bom livro...

É sexy dançar. É sexy comer (dependendo da comida, evidentemente). É sexy tomar banho. É sexy pegar na mão no escurinho do cinema. É sexy dormir de conchinha. É sexy lavar a louça juntos. É sexy ver TV abraçadinho. É sexy até mesmo ouvir uma palestra sem entender nada, se quem está falando é o nada obscuro objeto do desejo. É sexy fantasiar situações. É sexy transar com carinho e romantismo, assim como é absolutamente sexy uma noite de fogo extremo. É sexy ouvir palavras de amor sussurradas e é quente ouvir coisas de chocar Marquês de Sade, quando ditas na hora certa. É sexy um telefonema inesperado no meio do dia, e é sexy um presente dado por nenhum motivo específico. É sexy ser romântico.

Também tenho minhas preferências físicas, não sou um anormal. Acho sexy usar óculos (eu pelo menos fico excitado quando vejo alguém que me interessa usando um par de óculos DECENTE!!!!), mesmo porque acho que as pessoas taxadas como "sem graça" são muito mais interessantes. Considero sexy ter estilo próprio de vestir-se, se isso não chocar o senso estético comum. Eu acho sexy um piercing discreto no lugar certo. Uma tatuagem bem feita. Covinhas. Mãos bem tratadas (mas sem base nas unhas, por favor....) Pernas grossas. Bunda durinha e redondinha. Um pescoço com perfume. Uma voz quente (se tiver sotaque, então, eu subo às nuvens...) E mais sexy do que sexo em si é um beijo bem dado. Uma boa química na hora do beijo já pode dispensar o resto, digam o que quiserem.

E também tenho minha lista de coisas totalmente "não-sexies". Homem ou mulher de croque, homem com base nas unhas, mulher com barriga saliente e piercing no umbigo, estilo exagerado na hora de se vestir, pochete, androginia e cigarro são algumas das características exteriores que me revoltam o estômago. Internamente, burrice, arrogância, cinismo e egoísmo me remetem ao contrário de "ser sexy": gostar de si mesmo é muito sensual, mas achar-se superior a todo mundo é desprezível e frequentemente equivocado. Ser independente, bem resolvido e ter a coragem de lutar pela própria felicidade é ser sexy. And let's do it, let's fall in love...

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O PRIMEIRO QUE DISSE

Posted by Clenio on 23:12 in
O cineasta Ferzan Ozpetek - que nasceu na Turquia mas foi morar na Itália em 1976 para cursar história da arte - tem uma grande simpatia pelo universo homossexual. Depois de seu realista/romântico/carinhoso "Um amor quase perfeito", de 2001 ele surge com mais um filme mais do que simpatizante. Comédia dramática realizada com delicadeza e bom-humor, "O primeiro que disse" é uma pérola que merece ser descoberta por qualquer tipo de público que aprecia uma história bem contada, com personagens interessantes e que não apela, em momento algum, para o vulgar ou piadas forçadas.

A trama concentra-se em Tommaso Cantone (Riccardo Scamarcio), um jovem que retorna à pequena cidade da Itália onde sua família mantém uma fábrica de massas com a intenção de revelar a todos seus três maiores segredos: ele estudou Letras e não Administração de Empresas, sonha em tornar-se escritor e principalmente, é gay e mantém um relacionamento estável com o médico Marco (Carmine Recano). Antes que ele saia do armário, no entanto, seu irmão Antonio (Alessandro Preziosi) toma a iniciativa e assume a sua própria homossexualidade, causando uma crise de saúde em seu pai (Ennio Fantastichini) e uma revolução na família - que inclui uma tia solteirona, uma irmã casada e mãe de duas meninas obesas e uma avó que jamais esquece um romance do passado. Obrigando a manter seu segredo por mais tempo, Tommaso assume os negócios, inicia uma amizade com a bela Alba (Nicole Grimaudo) e tenta manter as aparências que todos esperam que ele mantenha.

É impressionante como as distribuidoras brasileiras adoram destruir os títulos dos filmes de Ozpetek: "A fada ignorante" virou "Um amor quase perfeito" e "A bala perdida" virou esse "O primeiro que disse", um nome absolutamente patético, capaz de assustar o público desavisado. Assim como no filme mais famoso do cineasta, a sutileza do título original se perde em uma "tradução" preguiçosa, que nem de longe atinge todo o alcance do roteiro, que é inteligente, engraçado e sensível. Escapando com maestria do previsível - mesmo quer em determinados momentos seja praticamente impossível de o fazê-lo - Ozpetek criou uma galeria de personagens coadjuvantes que interessam tanto quanto o protagonista, como é de seu feitio. E enquanto fala de assuntos sérios - como a hipocrisia da sociedade - ele o faz com uma fina ironia e cenas muito, muito engraçadas.

O humor de "O primeiro que disse" é irresistível. Quando entram em cena os amigos de Tommaso - que resolvem visitá-lo sem aviso prévio - o filme atinge um senso de comédia extremamente bem-vindo, que contrasta com o tom quase melancólico de algumas das sequências da primeira metade. Mesmo quando brinca com o universo gay, porém, o cineasta o faz com propriedade, nunca ofendendo ninguém e fazendo rir ao mostrar as diferenças entre alternativas formas de vida.  O final, feliz na medida certa satisfaz a audiência sem fazê-la de boba, podendo até mesmo comover os mais sensíveis. E é impossível deixar de elogiar a fluência dos diálogos e o talento dos atores envolvidos.

"O primeiro que disse" merece ser descoberto. É um filme delicioso, leve e alto astral que reitera o talento de Ozpetek como um realizador dos mais importantes dentro de seu estilo.

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OSCAR 2011 - INDICAÇÕES E PREVISÕES

Posted by Clenio on 22:06 in

E hoje foram anunciadas as indicações ao Oscar 2011. Como sempre tudo veio acompanhado de polêmicas, sendo a principal delas a exclusão do nome de Christopher Nolan, de "A origem", na categoria de direção. Diretor do melhor filme do ano - que conseguiu unir bilheteria milionária com uma trama inteligente e complexa - ele mais uma vez viu seu filme relegado a prêmios técnicos (sua indicação a Melhor Filme quase se anula com sua ausência na lista), assim como aconteceu com seu genial "Batman, o cavaleiro das trevas".

"O discurso do rei" é o filme com maior número de indicações (12), mas, apesar de ainda não tê-lo assistido, tenho a impressão de que é meio chatinho (opinião que pode mudar depois que eu conferí-lo nos cinemas, que é o lugar onde faço questão de assistir aos filmes mais comentados - daí me recusar a assistir a "Cisne negro", que ando enlouquecido pra ver...) "A rede social" ainda continua como favorito devido a sua enxurrada de prêmios da crítica, apesar de ter ficado atrás da refilmagem de "Bravura indômita" em número de indicações. E, conforme esperado, a animação "Toy Story 3" também disputa a estatueta principal, assim como a premiação de sua própria categoria.

MELHOR FILME - Ainda aposto em "A rede social", apesar das generosas indicações a "O discurso do rei" e "Bravura indômita". Premiar o filme de David Fincher seria concordar com a vasta maioria dos críticos de cinema e de quebra mostrar que a Academia está antenada com o mundo à sua volta, deixando de lado os filmes mais tradicionais e quadrados. Uma pena que "A origem" tenha perdido força durante os meses entre seu lançamento e a festa do Oscar. Seria juntar o útil (dar uma guinada na maneira com que o cinema é visto pelos eleitores da Academia) ao agradável (bilheteria farta, críticas positivas e... convenhamos, um filme bom pra caramba...)

MELHOR DIRETOR - A exclusão de Nolan é um crime hediondo e sem justificativa, mas aumenta ainda mais as chances de David Fincher,  um cineasta íntegro e inteligente que merece um prêmio desde "Seven". Deus nos proteja de ter que ver Tom Hooper subindo ao palco por "O discurso do rei".

MELHOR ATOR - Colin Firth é o favorito absoluto e, a julgar do que vi nas cenas de "O discurso do rei" até merece o prêmio. Jesse Eisenberg talvez seja jovem demais e Javier Bardem e Jeff Bridges foram premiados muito recentemente. James Franco também é bastante jovem, mas seu trabalho impressionante em "127 horas" já o alçou a categorias maiores dentro da indústria e isso deve bastar por ora.

MELHOR ATRIZ - Esse é o ano de Natalie Portman, dizem por aí (e sua atuação em "Cisne negro" comprova a teoria). Grávida, linda e talentosa, é pouco provável que não saia vitoriosa no dia 27 de fevereiro, a não ser que resolvam premiar Annette Bening ("Minhas mães e meu pai") por seu histórico de derrotas somado a seu trabalho excelente. Nicole Kidman deve ficar feliz por estar retornando à lista das atrizes levadas a sério. Michelle Williams é a representante do cinema indie por "Blue Valentine" e Jennifer Lawrence é a grande revelação do ano, mas não deve levar nada.

MELHOR ATOR COADJUVANTE - A ausência de Andrew Garfield ("A rede social") surpreendeu muita gente, mas é pouco provável que Christian Bale perca a estatueta por seu trabalho em "O vencedor". A inclusão do sempre convincente Mark Ruffalo ("Minhas mães e meu pai") e John Hawkes ("O inverno da alma") foram as grandes novidades da categoria. Jeremy Renner, de "Atração perigosa", completa a lista.

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE - Provavelmente a categoria menos previsível da noite. Melissa Leo levou o Golden Globe por "O vencedor", mas a crítica já premiou Jacki Weaver por "Reino animal". Helena Bonham-Carter pode se beneficiar do efeito-"O discurso do rei" e Amy Adams é uma nova queridinha da Academia. Digamos que é a categoria onde tudo pode acontecer.

MELHOR ROTEIRO - "A rede social" deve ganhar fácil o prêmio na categoria dos adaptados, mas a estatueta de roteiro original promete ser uma briga entre "O discurso do rei" e "A origem". Se a justiça prevalecer, dessa vez Nolan sai com um Oscar nas mãos... Mas pedir justiça no Oscar talvez seja utópico demais...

Enfim, essas são minhas previsões. Veremos o que nos reserva a noite de 27 de fevereiro.

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FLINCH

Posted by Clenio on 13:17 in ,
É impressionante perceber como a maioria das pessoas tem medo de ser feliz. Gritam aos quatro ventos que procuram sair da mesmice de suas vidas tediosas e medíocres, mas quando dão de cara com a possibilidade de uma felicidade real simplesmente dão as costas a ela, alegando motivos que não passam de ridículos sofismas. O medo de ser feliz, infelizmente, é mais forte do que a vontade concreta de o sê-lo.

Ser feliz não é pra qualquer um. Fato! Abdicar de todas as fases de vitimização requer uma coragem que nem todos possuem. Bancar o desiludido eterno, o rejeitado, o infeliz é muito mais fácil, mais cômodo e até pode inspirar obras devastadoras, quando se tem o dom das letras ou da música. Mas viver lambendo suas feridas e utilizando-as como desculpa para se esconder do mundo não é apenas covarde: é criminoso!

Tem pessoas que são tão acostumadas a ser infelizes que basta vislumbrar uma saída de seu calabouço escuro e úmido de tristezas infindas que entram no mais absoluto pânico. São pessoas que não ousam, que não saem de sua zona de conforto por puro e simples medo. O amor pode acabar e elas vão sofrer. O emprego pode não durar e elas vão sofrer. A viagem pode dar errado e elas vão sofrer. O corte de cabelo pode ficar feio e elas vão sofrer. O carro novo pode gastar muito combustível e elas vão sofrer... Será que elas não percebem que essa vida morna, monótona, sem riscos é muito mais assustadora do que qualquer salto sem rede de segurança??

As pessoas reclamam que ninguém as ama, quando basta olhar para o lado e perceber que existe gente desesperada por um beijo seu. Tem gente que se queixa que sua vida não tem nada de emocionante e se recusa a fazer sequer uma viagem sem destino fixo. Há uma parcela da população - bastante extensa, sinto dizer - que olha o perigo nos olhos mas quando precisa realmente lhe apertar a mão, hesita covardemente e volta com o rabinho entre as pernas pro seu cantinho acolhedor e tedioso. São essas pessoas que vão morrer de velhice, que vão acabar seus dias amargando uma covardia desprezível e quiçá uma solidão acompanhada. São essas pessoas que, do alto dos seus 80 anos, irão olhar pra trás e arrepender-se de não ter tido a coragem necessária para jogar para o alto seus empregos chatos, para correr atrás do verdadeiro amor, para lutar por seus sonhos mais loucos. São essas pessoas que dão peso ao mundo, que fazem dele um lugar melancólico e cinzento. É dessas pessoas que quero distância.

Felicidade não é algo fácil. É um animalzinho de estimação de difícil manutenção. Como cantava Vinícius de Moraes, é uma pluma que tem a vida breve e precisa que haja vento sem parar. Mas o fato de ser assim tão frágil e tão delicada é que faz dela o santo graal da humanidade. Todos querem encontrá-la. Apenas os saudáveis tem coragem de abraçá-la sem hesitação.

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COMO TRANSFORMAR UMA TARDE CINZENTA EM UMA NOITE ENSOLARADA

Posted by Clenio on 02:08 in
Para ler ouvindo "Para um amor no Recife"...

Era uma tarde mormacenta, com nuvens encobrindo um sol acanhado e um calor abafado que denunciava o verão mas não o explicitava em cores. A chuva caía tímida, sem força suficiente para causar barulho ou refrescar corpos que, como o meu, imploravam por uma brisa além da proporcionada por ventiladores ou ar-condicionados. Era, sem sombra de dúvida, um domingo que prometia nada mais do que vinte e quatro horas de tédio suarento e uma leve ressaca de uma noite de excessos alcóolicos. Mas o que é a vida senão uma sucessão de acontecimentos aleatórios e inesperados que conduzem a desfechos invariavelmente irônicos?

Quando o telefone tocou, o prefixo não me revelou nada, exceto que se tratava de um número desconhecido de outro estado. A voz, no entanto, me trouxe à lembrança momentos divertidos da noite anterior, que eu julgava acabada e parte de um passado já distante. A voz, dona de um sotaque sonoro e quente, me convenceu a abandonar a preguiça e, levantando o corpo do sofá, me joguei debaixo do chuveiro para uma tarde que, no mínimo, seria diferente: o que mostrar de Porto Alegre a quem não conhece a cidade? Dúvida um tanto cruel: eu mesmo não a conheço tanto quanto deveria.

Calor, chuva e nada de carro. Criatividade, apenas, e a vontade de proporcionar horas agradáveis a um "estrangeiro". E lá fui eu, mostrar a ele os pontos turísticos que as pernas permitiam. A chuva intermitente não permitiu o passeio de barco pelo Rio Guaíba, mas não atrapalhou a visita à igrejas. Nem me fez desistir da ideia de mostrar a vista do Café da Casa de Cultura Mário Quintana, com sua abóbada clássica e repleta de histórias. Foi ali, no café, que realmente começamos a conversar. E foi ótimo. Rimos, contamos passagens de nossas vidas, explicamos um ao outro algumas diferenças culturais (não, a água que acompanha o cafezinho não é pro santo, pode beber sem medo...) E fomos visitar o centro histórico da cidade.

Assembléia Legislativa, Palácio Piratini, Catedral Metropolitana, Palácio da Justiça, Multipalco do Theatro São Pedro vistas de maneira menos corriqueira, porque menos corrida e mais, por que não?, romântica.... O céu não decidia entre abrir-se ou fechar-se, mas estar bem acompanhado alguns metros acima do chão não deixa de ser uma experiência que, independentemente do tempo, é inesquecível. Mais calor e a busca por ar-condicionado nos levou ao subterrâneo: uma praça de alimentação deserta de um shopping nada memorável. Mais conversa, mais risadas, eu completando as frases que saíam de sua boca, sua boca me tentando...

E eis que o sol finalmente resolve aparecer. São seis horas da tarde, e está muito calor. Não queremos nos separar e vamos passar por uma experiência inédita: um samba carioca em um boteco de paulistas. Os amigos chegam, os copos de cerveja (muitos) secam, a música contagia e o sol não dá sinal de querer ir embora. Sim, aqui em Porto Alegre, no horário de verão, as noites são ensolaradas, principalmente quando estamos felizes. Risadas mil, alguns beijos tímidos e a noite propriamente dita começa a chegar. Tento convencer o nordestino arretado e querido ao extremo - com a ajuda dos novos fãs arrebatados por ele - a que estendesse sua estadia por mais uma semana, com a programação já toda delineada. E a noite, felizmente, não acaba.

E vamos comer cachorro-quente na República (mais um ponto turístico indispensável), mas já é madrugada e a vida diária inicia a chamar, inclemente. Meus olhos já estão vermelhos de sono, mas meu corpo não quer abandonar o seu. Seu cheiro, sua voz e sua personalidade me fascinam, mas infelizmente o tempo está acabando para nós. Nos despedimos timidamente, sem vontade de fazê-lo. Eu queria ficar junto pra sempre, mas quem disse que as coisas são fáceis pra mim??? Provavelmente o dia seguinte traria uma saudade doída, mas ainda assim feliz. Vão se ver de novo, os dois desconhecidos que tiveram um dia de sonho? Vai saber...

Entrei no táxi a caminho de casa sem certeza nenhuma, a não ser a de que, sempre que lembrar daquele domingo que começou cinzento e tornou-se ensolarado, meu coração irá sorrir. E, mesmo que chuvas e trovoadas sejam uma constante, ao refugiar-me naquelas horas passadas, o sol sempre estará brilhando intensamente. É brega, mas é assim que funcionam as coisas do amor...



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LENNYS AWARD 2010 - VENCEDORES

Posted by Clenio on 21:13 in
Como acontece desde 1993 - quando ir ao cinema passou a ser uma absoluta constante na minha vida, uma vez que vim morar em Porto Alegre, abandonando o interior tedioso - fiz uma lista dos maiores destaques da programação da sétima arte do ano que passou. Tento fugir dos vencedores do Oscar porque o Lennys Award surgiu exatamente para corrigir uma injustiça da Academia - "Drácula de Bram Stoker", até hoje meu recordista em prêmios (7 na primeira edição), empatado com "Moulin Rouge", de 2001 - mas às vezes é impossível. O grande vencedor deste ano é o sublime "A origem", de Christopher Nolan. Segue a lista dos premiados (alguns filmes podem ser mais antigos, mas como só assisti aos filmes em 2010, fica valendo. Afinal, quem faz as regras sou eu!!!!)

FILME - A ORIGEM
DIRETOR - CHRISTOPHER NOLAN - A origem
ATOR - TAHAR RAHIM - O profeta
ATRIZ - KRISTIN SCOTT-THOMAS - Há tanto tempo que te amo
ATOR COADJUVANTE - ANDREW GARFIELD - A rede social
ATRIZ COADJUVANTE - GEMMA JONES - Você vai conhecer o homem dos seus sonhos
ROTEIRO ORIGINAL - A ORIGEM - Christopher Nolan
ROTEIRO ADAPTADO - A REDE SOCIAL - Aaron Sorkin
FOTOGRAFIA - A ESTRADA - Javier Aguirresarobe
MONTAGEM - A REDE SOCIAL - Kirk Baxter, Angus Wall
TRILHA SONORA ORIGINAL - A ORIGEM - Hans Zimmer
CANÇÃO - "BABY, YOU'RE A RICH MAN" (The Beatles) - A rede social
FIGURINO - EDUCAÇÃO - Odile Dicks-Mireaux
DIREÇÃO DE ARTE/CENÁRIOS - NINE - John Myhre/Gordon Sim
EFEITOS VISUAIS - A ORIGEM
MAQUIAGEM - A ESTRADA
SOM - A ORIGEM

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UM ANO DE LENNYS' MIND

Posted by Clenio on 17:43 in
Amanhã o "Lennys' mind" faz um ano. Há 365 dias eu jamais imaginaria que tanta coisa pudesse advir de uma página na Internet onde eu pudesse desabafar minhas mágoas, fazer comentários sobre qualquer assunto e dividir minhas opiniões sobre filmes, livros e um vasto etc. Achava que seria apenas uma espécie de diário, que provavelmente não interessaria a ninguém mais além de mim, mas me surpreendi ao fazer amigos e conhecer pessoas com interesses afins e sentimentos que muitas vezes me devolveram a fé na humanidade.

Durante esse ano muita coisa aconteceu na minha vida: o melhor amigo homenageado em MARY JANE se mostrou interesseiro, mesquinho e mau-caráter (conforme o posterior UM EX-"MELHOR AMIGO"); a pessoa que me devolveu a capacidade de amar (NO PRESSURE OVER CAPUCCINO e CORDA BAMBA) também mostrou-se, mais do que imerecedor dos meus sentimentos, uma pessoa comum e egoísta (HANDS CLEAN e TALVEZ TENHA SIDO BOM ENQUANTO DUROU); cheguei ao fundo do poço em uma absoluta falta de vontade de viver (MORTE EM VIDA e UNINVITED) mas ressurgi das cinzas e pretendo fazer de 2011 o melhor ano dos melhores da minha vida.
Em 2010 apresentei 2 peças de teatro, iniciei a escrita de outras três, assisti Andrea Beltrão e Marieta Severo no palco (AS CENTENÁRIAS). Descobri bares novos, fiz amigos novos, chorei até cansar, ri até a barriga doer, me decepcionei com situações desgastantes (SYMPATHETIC CARACHTER e EX-NAMORADOS... UMA AMEAÇA CONSTANTE), vivi cenas bizarras (NÓS JÁ FICAMOS ANTES... NÃO LEMBRA?) e fui muito menos ao cinema do que gostaria (culpa da má distribuição de filmes realmente bons). Mas o melhor de tudo foi ter tido contato com pessoas que considero meus amigos hoje em dia, blogueiros que, cada um a sua maneira, me ajudou nesse primeiro ano de escrita virtual.

Obrigado a Cris Contreiras, que cuidou do visual do blog, deu grandes dicas e com quem tive longas conversas via msn, sobre cinema e a vida. A Renato Orlandi, com quem converso muitas vezes sobre os reveses da vida (e com quem dou muita risada através de seu blog Rê Confessions). A Tânia, uma preciosa amiga, de coração de ouro e estoicismo admirável. Ao Marcos, que levantou meu astral em inúmeras ocasiões. Ao Luis Fabiano, um gênio ainda a ser descoberto por esse país. A Jenifer, Junia, Santiago, Alan, Thomas, Elton, Hugo e Renato, fãs de cinema com quem troco ideias e comentários. E até mesmo obrigado ao Túlio, com quem tive uma relação que parecia promissora e acabou amarga e tristemente. Pelo menos eu voltei a sentir alguma coisa que achava que estava morta e enterrada.

2011 promete. Em quinze dias já vivi e experimentei coisas que não fiz em mais de trinta anos. Estou em vias de mudança de casa, decidido a não deixar que pequenas coisas me incomodem mais do que deveriam, cheio de metas a cumprir e, por que não?, com um novo amor à espreita. Se vai dar certo, o tempo irá dizer. Torço para que sim. Caso contrário, outros estão à espera. Afinal, eu mereço.

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GOLDEN GLOBE AWARDS 2011 - PREVISÕES

Posted by Clenio on 00:35 in
Temporada de premiações chegando e é chegada a hora daqueles que, como eu, acham que entendem de cinema, fazerem suas previsões sobre o que está para acontecer. Próximo domingo é o Golden Globe e, de acordo com o que já vem sendo divulgado, pelos trailers e pelo que se conhece de Hollywood dá mais ou menos para ter uma ideia de quem serão os vencedores. Nem vou dar palpites nos prêmios para TV, mas em cinema eu acho que vai acontecer o seguinte:

MELHOR DRAMA - "A rede social" vem fazendo um arrastão nas cerimônias de premiação e é um filme sensacional. Se os jornalistas estrangeiros seguirem a tendência, ele sairá vitorioso. No entanto, ele esbarra em filmes também bastante elogiados e principalmente em uma pedra no sapato: "O discurso do rei", apesar de não ser tão unânime tem muitos dos ingredientes que os críticos gostam (atores excelentes, bom roteiro, etc) e é o filme com maior número de indicações. Se isso é algum indício? Não exatamente, mas sempre é bom preparar-se para vê-lo vencer do filme de David Fincher e até mesmo do indescritível "A origem", que tem contra si o fato de ter estreado há mais tempo e não ter atores nas corridas pelas estatuetas. Em todo caso, seja "A rede social" ou "A origem" o vencedor, me darei por satisfeito.

MELHOR COMÉDIA/MUSICAL - É difícil encontrar filmes realmente bons para essa categoria, haja visto que até mesmo filmes pouco considerados pela crítica (como "Burlesque" e "O turista") encontraram lugar entre os indicados. Minha torcida - e a julgar por seus rivais nada espetaculares - fica com "Minhas mães e meu pai", que é humano, real, bem escrito e com um elenco de sonhos em dias inspirados. Deus me livre de ter que ver "Alice no País das Maravilhas" sair o vencedor....

MELHOR DIRETOR - Aplicando o mesmo raciocínio feito na categoria de Melhor Drama a briga fica mesmo entre dois dos melhores e mais criativos cineastas em atividade em Hollywood: David Fincher ("A rede social") e Christopher Nolan ("A origem"). Qualquer um deles merece, ainda que particularmente eu acredite que Nolan foi mais ousado e corajoso este ano - além de já estar merecendo um reconhecimento desde "Amnésia". O quase novato Tom Hopper ("O discurso do rei") até pode surpreender, mas se quiserem surpreender E fazer justiça ao mesmo tempo, que tal Darren Aronofsky, de "Cisne negro"?

ATOR/DRAMA - Esse é, sem dúvida, o ano de Colin Firth, um grande ator que finalmente vem sendo reconhecido como tal (no mínimo desde sua estupenda atuação em "Direito de amar", ano passado). Em "O discurso do rei" ele faz um papel que lhe dá todas as oportunidades de brilhar e deve sair vencedor da disputa que tem nomes fortes como Jesse Eisenberg ("A rede social"), que vem ganhando vários prêmios e James Franco ("127 hours"), elogiadíssimo pela imprensa internacional. Se for levado em conta que os demais candidatos são o ótimo Ryan Gosling ("Blue Valentine") e o surpreendente Mark Wahlberg ("O vencedor") pode-se dizer que é a categoria mais forte do ano.

ATRIZ/DRAMA - Se formos dar ouvido a tudo que vem sendo comentado, a nova grávida do pedaço, Natalie Portman sairá com um prêmio na mão por sua atuação como uma ambiciosa e reprimida bailarina em "Cisne negro". Excelente atriz, Portman já tem um Golden Globe em casa por "Closer", mas agora ela é a protagonista e, pelo que se vê no trailer, está arrasando. Mesmo que pareça uma favorita absoluta ela deve lutar contra duas vencedoras do Oscar (Hale Berry e Nicole Kidman, essa última pelo elogiado "Rabbit Hole"), pela novata Jennifer Lawrence ("The winter's bone")  e pela promissora Michelle Williams ("Blue Valentine"). Mas essa realmente deve ser a vez da bela Natalie.

ATOR COMÉDIA/MUSICAL - Johnny Depp concorre com ele mesmo... por sua habitual tendência ao exagero em "Alice no País das Maravilhas" e por "O turista", em que atua ao lado de Angelina Jolie. Só o fato de ter convencido em dois papéis aparentemente tão diferentes já lhe dá certa vantagem, principalmente porque seus rivais não são tão fortes assim: Paul Giamatti ("Barney's version"), Kevin Spacey ("Casino Jack") e Jake Gyllenhaal ("Amor e outras drogas") não parecem ameaçá-lo. Mas se Spacey ou Jake saírem vencedores eu ficaria bem mais feliz. Por pura simpatia por eles, já que ainda não assisti a seus respectivos trabalhos.

ATRIZ COMÉDIA/MUSICAL - Annette Bening. Seu trabalho em "Minhas mães e meu pai" é sublime, apesar de sua personagem ser um tanto chata e nenhuma rival este ano parece ser páreo, nem mesmo sua colega de elenco Julianne Moore. Nem mesmo Angelina Jolie acreditou em sua indicação por "O turista", Emma Stone concorre por um filmezinho adolescente ("A mentira") e Anne Hathaway é linda, talentosa e carismática mas se não ganhou por "O casamento de Rachel" não vai ganhar por "Amor e outras drogas". Eu acho...

ATOR COADJUVANTE - Quem anda arrebatando todos os prêmios da categoria é Christian Bale, por sua performance como o irmão viciado de Mark Wahlberg em "O vencedor". Extremamente magro em cena (assim como o fez no assustador "O operário"), ele merece o prêmio até por ter dado credibilidade à nova versão de Batman, de Christopher Nolan, e é um ator agrada público e crítica. Porém, Geoffrey Rush também está na batalha por "O discurso do rei" e Andrew Garfield (o próximo Homem-aranha) também vem amealhando elogios e prêmios por "A rede social". A briga promete ser boa, mesmo porque pode ser que resolvam homenagear Michael Douglas, que está bastante doente, por seu trabalho em "Wall Street, o dinheiro nunca dorme".

ATRIZ COADJUVANTE - Extremamente querida pela crítica, a inglesa Helena Bonham-Carter, por incrível que pareça só concorreu ao Oscar uma única vez, em 1997, por "Asas do amor". Este ano ela pode ter mais sorte e sair vitoriosa por sua interpretação da esposa de Colin Firth em "O discurso do rei". Para isso ela precisa bater duas atrizes de "O vencedor" (a onipresente Amy Adams e a respeitada Melissa Leo), a ousada Mila Kunis ("Cisne negro") e a premiada Jacki Weaver ("Animal kingdom"). Talvez seja a categoria menos previsível do ano.

ROTEIRO - "O discurso do rei" foi esnobado pelo sindicato de roteiristas, o que nunca é bom sinal. Isso acaba abrindo caminho para os favoritos do ano, "A origem" (criativo, imprevisível e fascinante) e "A rede social" (inteligente, nervoso e que consegue transformar uma história aparentemente chata em um filme memorável). Assim como na categoria principal, quem sair vencedor é absolutamente merecido.

Bom, minhas apostas estão aí... vamos ver o que nos aguarda no próximo domingo. Em todo caso estarei no twitter comentando cada premiação.... Me sigam....

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ABUTRES

Posted by Clenio on 00:56 in
Ano passado o sensacional "O segredo dos seus olhos" surpreendeu meio mundo ao surrupiar - com justiça - o Oscar de melhor filme estrangeiro das mãos do considerado favorito, o soporífero "A fita azul". Entusiasmados com o sucesso, "los hermanos" tentam novamente concorrer à estatueta com "Abutres", novamente estrelado pelo ótimo Ricardo Darin, mas sem a sublime direção de Juan José Campanella. Comandado pelo competente mas nunca brilhante Pablo Trapero, "Abutres" é um filme extremamente bem feito, tecnicamente impressionante e com atuações bem acima da média. Mas tropeça em um roteiro um tanto arrastado e em personagens não exatamente simpáticos.

Elogiado pela maioria da crítica, o filme se utiliza do fato trágico de cerca de oito mil pessoas morrerem por ano em acidentes automobilísticos na Argentina para apresentar seu protagonista, o advogado Sosa (Ricardo Darin, sempre esforçado), que participa de um esquema nada honesto de indenizações para os familiares das vítimas. Há muito tempo sem saber o que são escrúpulos, ele vislumbra a possibilidade de mudar de vida quando conhece e se apaixona pela médica Luján (Martina Gusman, esposa do diretor). Também dona de uma saudável cota de problemas, ela se entrega ao amor pelo advogado, mas o final feliz não parece assim tão alcançável: Sosa começa a ser perseguido por seus ex-sócios, que não admitem que ele saia do negócio.

"Abutres", ao contrário de "O segredo dos seus olhos" (comparação inevitável), não tem um roteiro tão redondo e fascinante. Apesar de mostrar personagens críveis e humanos, ele não atinge a identificação da plateia, que reage sem maiores sobressaltos aos dramas da história. Violento e realista em suas cenas mais fortes (assassinatos e acidentes de carro são filmados com raro vigor), ele, no entanto, não consegue equilibrá-las com uma trama suficientemente interessante. Em certos momentos, dá a impressão, inclusive, de ser mais longo do que realmente é, o que sempre é sinal de uma certa falta de ritmo.

"Abutres" não é ruim, em absoluto. Mas não cativa a audiência tanto quanto poderia. A Argentina não deverá ser bicampeã este ano.

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MACHETE

Posted by Clenio on 20:03 in
Em 2007, Quentin Tarantino e Robert Rodriguez lançaram o projeto "Grindhouse", que buscava resgatar os programas duplos de cinema de baixo orçamento e gosto duvidoso. O grande público não entendeu a piada e, com o fracasso comercial do empreendimento seus filmes - "À prova de morte" e "Planeta Terror", respectivamente - foram lançados separadamente pelo resto do mundo. Apesar dos pesares, no entanto, o que mais chamou a atenção de todos foram os trailers falsos que acompanhavam a projeção. Um deles, o de um filme trash de ação estrelado por um mexicano mal-encarado que busca vingança contra seus traidores, chamado "Machete", agradou tanto à platéia que acabou se tornando um filme de verdade, em uma daquelas chamadas ironias do destino. A melhor notícia disso tudo? "Machete" é um filme tão bom quanto o trailer.

Para se gostar de "Machete", porém, é preciso que se esteja familiarizado com o universo criado por Rodriguez - que consegue criar pequenas pérolas com pouco dinheiro desde sua estreia com "El Mariachi", de 1992. No mundo onde suas personagens transitam a violência é exorbitante, o sangue jorra sem parar, todo mundo é canastrão, mulheres sensuais não hesitam em entregar-se a homens cuja virilidade é medida através de metralhadoras e ninguém é totalmente santo. No mundo criado pela imaginação delirante do roteirista/diretor, Danny Trejo, um dos atores mais feios de Hollywood é o herói e galã, Steven Seagal é um traficante de drogas e Robert DeNiro (sim, ele comprou a brincadeira, também) é um senador demagogo e interesseiro. Redescobrindo Don Johnson e dando a Lindsay Lohan o papel de uma jovem transviada (!!??!!) ele entrega a seu público (ao menos aos iniciados em seu cinema um tanto doentio) um dos filmes mais divertidos dos últimos anos, um policial tão ruim, mas tão ruim, que chega a ser ótimo.

É claro que "Machete" tem uma história, ainda que pífia. O protagonista - vivido por Danny Trejo no papel de sua vida - já começa o filme perdendo a mulher e a filha pelas mãos do traficante Torrez (um Steven Seagal quase irreconhecível de tão fora de forma). A sequência inicial dá uma amostra clara do que virá pela frente - muito sangue, explosões, tiroteio e um escapismo vergonhoso (lógico que NENHUMA bala acerta o protagonista, enquanto seu parceiro é praticamente massacrado). Poucos anos depois, o mexicano Machete (assim chamado por sua habilidade com facões e afins) é contratado por Michael Booth (Jeff Fahey) para assassinar o senador John McLaughlin (DeNiro), candidato à reeleição e que é criador de um rígido programa contra a imigração ilegal. Quando descobre que foi usado em uma conspiração, ele parte em busca de provar sua inocência, contando com a ajuda da policial Sartana Rivera (Jessica Alba, ruim de doer).

A partir daí é pancadaria sem dó nem piedade. Robert Rodriguez e sua turma entram ensandecidos em uma trama deliciosamente exagerada, inverossímil e muito, muito engraçada. "Machete" não é para ser levado a sério. É uma brincadeira entre amigos, que deu certo - rendeu quase o triplo de seu orçamento - e tem tudo para tornar-se um cult absoluto. Não é para qualquer público, mas quem entender o espírito da coisa jamais esquecerá.

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TALVEZ TENHA SIDO BOM ENQUANTO DUROU

Posted by Clenio on 02:02 in
C.

Em primeiro lugar, muitíssimo obrigado por ser esse babaca ridículo e sentimentalóide que acredita em contos de fadas. Devido a essa sua particularidade patética foi-me facílimo te envolver em minhas palavras bonitas, ainda que muitas vezes incoerentes. Por causa da sua burrice - desculpe-me usar esse adjetivo tão desagradável, mas foge-me à lembrança outro de mesmo teor e significado - não foi-me difícil te fazer acreditar que eu te amava. Sim, você abriu sua alma diante do computador, incentivado por minha máscara de rapaz sensível e sentimentalmente íntegro. Sim, você acreditou que eu estivesse falando minhas verdades pra você. Coitado!!!

Agradeço por você ter me ouvido pacientemente a respeito dos meus problemas - eles são reais, acredite, mas se eu quisesse realmente eu os teria resolvido menos dramaticamente. Aproveito inclusive para agradecer seus conselhos, seu esforço em levantar meu astral, mesmo que eu em nenhum momento tenha me preocupado em saber se você estava realmente bem. Sabe como é, a gente pergunta, mas ter real interesse gasta muita energia e eu prefiro gastá-la bebendo por aí...

Fico feliz (ou pelo menos acho que fico, porque felicidade não é um conceito que me seja familiar) em saber que você realmente se apaixonou por mim e que me ama. É sempre bom saber que existe alguém - em alguma parte do mundo - que gosta de mim (ou pela imagem que eu projetei, o que no fundo dá na mesma, já que você nunca me conhecerá, de qualquer jeito. Nunca pensei em te conhecer pessoalmente e não acredito que você tenha pensado, apesar de estar quase com a passagem nas mãos. Um conselho? Use o dinheiro pra pagar um terapeuta, você precisa...).

Eu até pediria desculpas pelo tempo que te fiz perder ouvindo minhas declarações de amor falsas, pelos telefonemas interurbanos feitos porque você queria ouvir a minha voz. Até me desculparia pelos momentos de angústia que te fiz passar quando te fiz duvidar dos meus sentimentos. Poderia ter um pouquinho de remorso por simplesmente ter desaparecido da sua vida quando você mais precisava do meu apoio e do meu ombro amigo ou por ignorar por completo o que você achava que havia entre nós. Pediria desculpa por não ter tido o mínimo de hombridade de dar um tchau...Mas repito que é um gasto de energia que não me faz a cabeça... Eu preciso descansar e me encontrar. Ser feliz me tiraria a aura negativa que demorei tanto tempo a adquirir.

Talvez eu admitisse que só sei o significado da palavra amor quando ele é impossível, inatingível, distante, e que vê-lo chegando perto de mim me assusta. Mas pra isso eu teria que ter uma coragem que me falta, assim como escrúpulos e consideração pelos sentimentos dos outros. Sim, te ignoro porque, pra mim, você não passou de um passatempo que me aborreceu quando percebi que teria que ter responsabilidades que não me convém... Nem agora nem nunca, talvez.

Pra não parecer tão frio, tenho que te agradecer também porque você me deu munição para meses e meses de risadas pelas mesas de bares. Você vai ser assunto por aqui, espero que não se importe. Por muito tempo eu e minhas amigas lembraremos do trouxa que se deixou envolver por uma falsa esperança de ser amado por mim - ou por quem quer que seja... Eu teria certa pena de você, se eu tivesse coração...

Sei que a essa altura você me bloqueou no Twitter e talvez tenha me excluído do seu orkut e afins - porque, segundo você, ter que ver minha vida seguindo normalmente te machuca. Que seja, nunca me importei com você, mesmo, e minha indiferença a você nesses últimos dias é uma prova contudente disso, não?? Talvez um dia você consiga - assim como eu faço agora - rir disso tudo e me perdoar. Mas se não conseguir... I don't care.

Eu seria cínico demais se dissesse que quero te ver feliz, mas um pouco mais de insensibilidade vinda de mim não te surpreende, não é? Sendo assim... seja feliz.

T.

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2011 - PRIMEIROS (FRACOS) FILMES

Posted by Clenio on 20:52 in
Nada de festa, nada de euforia sem sentido. Antes de tentar ir a uma festa e ficar 40 minutos em uma fila repleta de menores de idade (bela maneira de começar um ano...) resolvi ficar os primeiros dias do ano assistindo a filmes, o maior prazer da minha vida que dispensa um banho depois... E espero honestamente que não seja um presságio para o ano que está iniciano, mas os dois primeiros filmes não foram lá muito bons. Segue comentários:

INSTINTO DE VINGANÇA

Ridley Scott e seu irmão Tony produziram esse suspense sem muito sentido, estrelado por um Josh Lucas tentando provar-se ator sério. Ele interpreta Terry Bernard, um homem que, cinco meses após um transplante de coração, passa a ter uma série de visões relacionadas à morte violenta de seu doador. Sem conseguir controlar-se, ele inicia uma espécie de vingança contra os envolvidos no crime, assassinando-os friamente. Contando com a ajuda do policial encarregado do caso (Brian Cox, ótimo como sempre) e com o apoio da médica de sua filha (Lena Headey), ele tenta impedir-se de continuar a matança, enquanto investiga as circunstâncias do assassinato. A direção é fraca, a fotografia tenta ser modernosa e o roteiro é absolutamente incongruente - não há motivo nenhum, por exemplo, em dar uma doença degenerativa à filha do protagonista. É uma completa perda de tempo.

OS GAROTOS ESTÃO DE VOLTA

Clive Owen é um ótimo ator, sem sombra de dúvida, e é a razão principal de ser desta adaptação da autobiografia do repórter esportivo Joe Carr, dirigida por Scott Hicks (indicado ao Oscar pelo longínquo "Shine", de 1996). Owen, também produtor executivo do filme, interpreta o autor do livro, um jornalista inglês que, após a morte da segunda mulher, é obrigado a cuidar do filho de oito anos de idade, mesmo sem ter a menor noção de como fazê-lo. Quando recebe a visita do filho mais velho, um pré-adolescente fruto de seu primeiro casamento, as coisas ficam ainda mais complicadas, porque ele precisa lidar com os dois filhos, o emprego e as brigas com a sogra, além de um relacionamento hesitante com a mãe de uma das colegas de aula do caçula. A direção de Hicks é sensível, Owen convence e a trilha sonora casa perfeitamente com as belas imagens, mas o fraco desempenho do menino Nicholas McAnulty compromete parte do resultado final. É um filme que não fará feio nos Supercine da vida, mas que poderia ser bem melhor. O fato de praticamente passar em branco nas cerimônias importantes de premiação já é uma pista de que não é exatamente bom, apesar de não ser ruim. Clive Owen vale a locação.


ROBIN HOOD

Mais do mesmo. A reunião da dupla Ridley Scott/Russell Crowe não passa nem perto do superespetáculo de "Gladiador", nem em termos artísticos nem em números. Fracasso de bilheteria nos EUA - nem conseguiu se pagar no mercado doméstico - é um filme bem feito, bem cuidado, bem interpretado, mas também já visto dezenas de vezes desde que Maximus Decimus Meridius chegou às telas em 2000. Talvez Crowe seja velho demais para o papel, e não há como negar que, a despeito da produção caprichada, essa nova versão de "Robin Hood" deixa muito a desejar. As cenas de batalha não são exatamente empolgantes, a trama soa confusa em alguns momentos e nem mesmo Cate Blanchett tem chances de brilhar. Uma ótima sessão da tarde, mas facilmente esquecível, o que é pena de morte para qualquer aspirante a clássico. Podia ser pior, mas também podia ser melhor.

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