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O PRIMEIRO QUE DISSE
Posted by Clenio
on
23:12
in
CINEMA 2011
O cineasta Ferzan Ozpetek - que nasceu na Turquia mas foi morar na Itália em 1976 para cursar história da arte - tem uma grande simpatia pelo universo homossexual. Depois de seu realista/romântico/carinhoso "Um amor quase perfeito", de 2001 ele surge com mais um filme mais do que simpatizante. Comédia dramática realizada com delicadeza e bom-humor, "O primeiro que disse" é uma pérola que merece ser descoberta por qualquer tipo de público que aprecia uma história bem contada, com personagens interessantes e que não apela, em momento algum, para o vulgar ou piadas forçadas.
A trama concentra-se em Tommaso Cantone (Riccardo Scamarcio), um jovem que retorna à pequena cidade da Itália onde sua família mantém uma fábrica de massas com a intenção de revelar a todos seus três maiores segredos: ele estudou Letras e não Administração de Empresas, sonha em tornar-se escritor e principalmente, é gay e mantém um relacionamento estável com o médico Marco (Carmine Recano). Antes que ele saia do armário, no entanto, seu irmão Antonio (Alessandro Preziosi) toma a iniciativa e assume a sua própria homossexualidade, causando uma crise de saúde em seu pai (Ennio Fantastichini) e uma revolução na família - que inclui uma tia solteirona, uma irmã casada e mãe de duas meninas obesas e uma avó que jamais esquece um romance do passado. Obrigando a manter seu segredo por mais tempo, Tommaso assume os negócios, inicia uma amizade com a bela Alba (Nicole Grimaudo) e tenta manter as aparências que todos esperam que ele mantenha.
É impressionante como as distribuidoras brasileiras adoram destruir os títulos dos filmes de Ozpetek: "A fada ignorante" virou "Um amor quase perfeito" e "A bala perdida" virou esse "O primeiro que disse", um nome absolutamente patético, capaz de assustar o público desavisado. Assim como no filme mais famoso do cineasta, a sutileza do título original se perde em uma "tradução" preguiçosa, que nem de longe atinge todo o alcance do roteiro, que é inteligente, engraçado e sensível. Escapando com maestria do previsível - mesmo quer em determinados momentos seja praticamente impossível de o fazê-lo - Ozpetek criou uma galeria de personagens coadjuvantes que interessam tanto quanto o protagonista, como é de seu feitio. E enquanto fala de assuntos sérios - como a hipocrisia da sociedade - ele o faz com uma fina ironia e cenas muito, muito engraçadas.
O humor de "O primeiro que disse" é irresistível. Quando entram em cena os amigos de Tommaso - que resolvem visitá-lo sem aviso prévio - o filme atinge um senso de comédia extremamente bem-vindo, que contrasta com o tom quase melancólico de algumas das sequências da primeira metade. Mesmo quando brinca com o universo gay, porém, o cineasta o faz com propriedade, nunca ofendendo ninguém e fazendo rir ao mostrar as diferenças entre alternativas formas de vida. O final, feliz na medida certa satisfaz a audiência sem fazê-la de boba, podendo até mesmo comover os mais sensíveis. E é impossível deixar de elogiar a fluência dos diálogos e o talento dos atores envolvidos.
"O primeiro que disse" merece ser descoberto. É um filme delicioso, leve e alto astral que reitera o talento de Ozpetek como um realizador dos mais importantes dentro de seu estilo.
Mais cinema em www.clenio-umfilmepordia.blogspot.com e www.cinematotal.com.br
A trama concentra-se em Tommaso Cantone (Riccardo Scamarcio), um jovem que retorna à pequena cidade da Itália onde sua família mantém uma fábrica de massas com a intenção de revelar a todos seus três maiores segredos: ele estudou Letras e não Administração de Empresas, sonha em tornar-se escritor e principalmente, é gay e mantém um relacionamento estável com o médico Marco (Carmine Recano). Antes que ele saia do armário, no entanto, seu irmão Antonio (Alessandro Preziosi) toma a iniciativa e assume a sua própria homossexualidade, causando uma crise de saúde em seu pai (Ennio Fantastichini) e uma revolução na família - que inclui uma tia solteirona, uma irmã casada e mãe de duas meninas obesas e uma avó que jamais esquece um romance do passado. Obrigando a manter seu segredo por mais tempo, Tommaso assume os negócios, inicia uma amizade com a bela Alba (Nicole Grimaudo) e tenta manter as aparências que todos esperam que ele mantenha.
É impressionante como as distribuidoras brasileiras adoram destruir os títulos dos filmes de Ozpetek: "A fada ignorante" virou "Um amor quase perfeito" e "A bala perdida" virou esse "O primeiro que disse", um nome absolutamente patético, capaz de assustar o público desavisado. Assim como no filme mais famoso do cineasta, a sutileza do título original se perde em uma "tradução" preguiçosa, que nem de longe atinge todo o alcance do roteiro, que é inteligente, engraçado e sensível. Escapando com maestria do previsível - mesmo quer em determinados momentos seja praticamente impossível de o fazê-lo - Ozpetek criou uma galeria de personagens coadjuvantes que interessam tanto quanto o protagonista, como é de seu feitio. E enquanto fala de assuntos sérios - como a hipocrisia da sociedade - ele o faz com uma fina ironia e cenas muito, muito engraçadas.
O humor de "O primeiro que disse" é irresistível. Quando entram em cena os amigos de Tommaso - que resolvem visitá-lo sem aviso prévio - o filme atinge um senso de comédia extremamente bem-vindo, que contrasta com o tom quase melancólico de algumas das sequências da primeira metade. Mesmo quando brinca com o universo gay, porém, o cineasta o faz com propriedade, nunca ofendendo ninguém e fazendo rir ao mostrar as diferenças entre alternativas formas de vida. O final, feliz na medida certa satisfaz a audiência sem fazê-la de boba, podendo até mesmo comover os mais sensíveis. E é impossível deixar de elogiar a fluência dos diálogos e o talento dos atores envolvidos.
"O primeiro que disse" merece ser descoberto. É um filme delicioso, leve e alto astral que reitera o talento de Ozpetek como um realizador dos mais importantes dentro de seu estilo.
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