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UTOPIA

Posted by Clenio on 12:04 in ,
O mundo não seria um lugar perfeito se nós conseguíssemos a façanha de amar a quem nos ama? Não seria ideal que nos apaixonássemos justamente por aquela pessoa que sente por nós o que sentimos por outra pessoa? Não seria maravilhoso que, ao fim de um relacionamento todos os sentimentos poderosos de paixão fossem soterrados pela lava do vulcão que os despertou? O mundo é, definitivamente, injusto e cruel para aqueles que amam.

Não seria um espetáculo viver em um universo onde os sentimentos bons fossem recíprocos? Imaginar um mundo onde amores correspondidos fossem algo corriqueiro sempre me dá um aperto no coração, porque é utópico, é impossível, é uma quimera inalcançável. Diariamente pessoas são lançadas em um poço de tristeza por outras que não nutrem por elas o mesmo amor, o mesmo carinho, o mesmo desejo. Seria muito bom se nossa racionalidade de entender os dois lados da questão não fosse suplantada pela dor de ser aquele que é rejeitado.

É uma questão indecifrável: por que nos sentimos sempre tão imerecedores do amor daqueles que nos amam se temos tanta certeza que temos qualidades o bastante para satisfazer aqueles a quem amamos? Ficamos dias e noites fazendo a lista de nossas qualidades, de nossas vantagens, de nossos pontos positivos para utilizá-las em nosso favor e quando acontece de alguém percebê-las ficamos abismados e incrédulos... Paradoxos do coração, diriam os mais filosóficos. Burrice, diriam os mais práticos. Equações imponderáveis, eu diria.

Sonho com o dia em que eu finalmente vou acreditar no amor que dizem sentir por mim. Por enquanto é apenas uma utopia. Bela, mas ainda assim utopia.

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MISSÃO MADRINHA DE CASAMENTO

Posted by Clenio on 17:56 in
Primeiro temos que levar em consideração que, se um filme tem como principal atrativo ser uma versão feminina de "Se beber, não case" já não pode ser grande coisa. Depois, basta dar uma olhada no trailer de "Missão madrinha de casamento" para se perceber que esperar demais de uma comédia que apela para o humor grosseiro disfarçado de feminista é uma utopia desesperada. O filme de Paul Feig - que tem no currículo episódios das séries "The office", "30 rock", "Weeds", "Mad men" e "Nurse Jackie" - já rendeu mais de 280 milhões de dólares mundo afora, o que comprova das duas uma: ou o público realmente perdeu o nível de exigência ou está muito carente de filmes menos violentos e menos recheados de efeitos visuais. "Missão madrinha de casamento" não é exatamente ruim, mas é chato e, apesar de negar, bastante apelativo.

A protagonista do filme, Kristen Wiig, é considerada uma das revelações do humor feminino americano, mas se julgarmos por aqui é bom começarmos a rezar fervorosamente. Sem a sutileza de uma Tina Fey, por exemplo - talvez a mais talentosa roteirista de humor em atividade nos EUA - Wiig é simplesmente sem graça e sem muito carisma. Sua personagem, Annie, é uma fracassada absoluta (seu negócio faliu, seus relacionamentos são uma piada e ela divide o apartamento com um casal de irmãos pra lá de bizarros) que recebe a missão de ser a dama de honra do casamento de sua melhor amiga, Lilian (Maya Rudolph). Porém, para ser bem-sucedida, ela precisa rivalizar com uma outra dama-de-honra, a perfeitinha Helen (Rose Byrne). Logicamente, o duelo entre as duas acaba por envolver as demais convidadsas para o altar, que passam por poucas e boas até o dia da festa.

"Missão madrinha de casamento" parece levar a sério sua alcunha de versão feminina de "Se beber, não case": não falta piadas escatológicas, nem humor de baixo nível e nem mesmo uma tentativa pálida de celebrar a amizade entre as mulheres. O problema é que o roteiro não se decide entre ser uma comédia pastelão ou seguir o caminho do romance, quando une Annie ao policial Rhodes (Chris O'Dowd). Esse pé na esquizofrenia atrapalha bem mais do que ajuda, porque tira o foco do principal assunto e não é particularmente interessante - isso sem falar em várias tramas paralelas que começam e não são desenvolvidas a contento.

Dá pra se contar um ou outro momento um pouco mais inspirado em "Missão madrinha de casamento", mas é pouco para tanto barulho. Para quem gosta de humor feminino, "Sex and the city" ainda é- disparado! - a melhor pedida.

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R.E.M. - MAIS UM SONHO QUE ACABA...

Posted by Clenio on 19:56 in
E então acabou. A carreira da melhor e mais íntegra banda de rock americana , R.E.M., chegou ao fim esta semana, com um comunicado oficial em seu site. Michael Stipe, Mike Mills e Peter Buck, depois de elevar o nível do cancioneiro americano por mais de 30 anos, chegaram à conclusão de que é hora de parar, ainda que os fãs não tenham essa mesma certeza. Mesmo que não tenham atingido com seu último álbum, "Collapse into now" - lançado este ano - o sucesso comercial de seus mais famosos trabalhos -  "Automatic for the people" (que legou ao mundo pop canções clássicas como "Man on the moon", "Sweetness follows" e a indescritível "Everybody hurts") e "Out of time" (que apresentou ao público o hino "Losing my religion") - a banda formada em 1980 na cidade de Athens, Georgia nunca criou um trabalho aquém de respeitável. Com letras provocantes e complexas, melodias de alto nível técnico e a voz excepcional de Stipe, o R.E.M. não conquistou seus (muitos) fãs com polêmicas ou manchetes sensacionalistas e sim com a força de sua música, coisa rara no mundo efêmero do rock.

Até seria difícil pra mim - fã confesso e hoje um tanto triste com o fim de mais sum sonho musical - escolher uma canção preferida dentre tantas obras dignas de figurar em qualquer antologia (e ela existe e é perfeita!!!). No entanto, apesar de adorar "At my most beautiful", que foi trilha sonora de um romance, "Strange currencies" (que embalou um outro "quase romance"), "It's the end of the worl as we know it" (que até hoje não consigo cantar inteira sem a letra diante de meus olhos), "E-bow the letter" (que me apresentou à música de Patti Smith) e "What's the frequency, Kenneth?"e "Imitation of life" - que me fizeram dançar noite afora - é "Everybody hurts" que me toca diretamente ao coração.

Poucas músicas - pouquíssimas mesmo - tem o poder de me envolver quanto a belíssima canção de "Automatic for the people": a letra, a voz de Stipe, a melodia, a mensagem e o videoclipe são os ingredientes mais do que perfeitos de uma obra-prima pop, capaz de me levar às lágrimas em poucos minutos. E foi uma bênção ter podido presenciá-la ao vivo, em 2008, em um show inesquecível que certamente está na minha lista de melhores momentos da vida. Infelizmente não mais terei a chance de repetir a experiência (e nem os inconsoláveis adoradores de "Drive" e "Man on the moon"). Realmente os dias dessa semana não foram bons dias sem eles. É o fim do mundo como o conhecemos... e eu não me sinto bem com isso...

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PREMONIÇÃO 5

Posted by Clenio on 21:40 in
Em 2000, um filme de terror adolescente chamou a atenção por desviar-se dos clichês dos assassinos mascarados e tornou-se uma franquia bem-sucedida. Chamada no Brasil de "Premonição" - em contraste com o bem mais interessante "Final destination" do título original - a série chega agora a seu quinto capítulo, depois de um vexaminoso quarto episódio que utilizava-se da tecnologia 3D para esconder um roteiro frágil e sem novidades. O novo filme, dirigido por Steven Quale - diretor de segunda unidade do sucesso "Avatar" - não é exatamente uma perfeição de técnica e roteiro, mas apaga a má impressão de seu antecessor e ainda, de quebra, oferece algumas surpresas ao espectador que vem acompanhado a série por mais de uma década.

Como sempre acontece, tudo começa com um espetacular acidente. Dessa vez, o jovem aspirante a chef de cozinha Sam Lawton (Nicholas D'Agosto) tem uma visão do desabamento de uma ponte e consegue tirar a namorada Molly (Emma Bell) e outros seis colegas de trabalho de dentro do ônibus que é vítima da tragédia. Logicamente, os sobreviventes do acidente passam a morrer de forma bizarra (e é preciso dar-se crédito à imaginação e criatividade dos roteiristas em inventar as mais estapafúrdias mortes). E é isso. Assim como em todos os outros filmes da série, a história é o que menos importa (ainda que dessa vez exista uma ligação bastante interessante com o primeiro episódio, mostrada nas cenas finais).

Em resumo, "Premonição 5" é um bom programa para quem gosta da franquia e de levar alguns sustos, mas há muito tempo que tudo deixou de ser novidade.

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PRONTA PARA AMAR

Posted by Clenio on 12:44 in
Pelo trailer, parecia ser pior, mas "Pronta para amar" até que não chega a incomodar. Vendido como comédia romântica, na verdade o filme de Nicole Kassel está mais para um dramalhão ao estilo "Tudo por amor" revestido com uma camadinha de bom humor e pela simpatia natural de sua estrela, Kate Hudson - ainda que aqui ela interprete uma personagem que em determinados momentos chega a ser bem difícil de lidar. Tendo como galã o mexicano Gael García Bernal - um ponto positivo, diga-se de passagem - "Pronta para amar" é uma típica sessão da tarde, que pode agradar aos fãs do gênero mesmo que nunca ultrapasse a barreira do lugar-comum.

Marley Corbett, a protagonista interpretada por Hudson é uma jovem publicitária que foge de um relacionamento sério como o diabo da cruz. Bonita, bem-sucedida e desejada, ela leva um golpe quando descobre estar com câncer em estágio avançado. Depois de ter uma alucinação onde encontra Whoopi Goldberg fazendo as vezes de Deus, ela percebe que alguma coisa muito importante falta em sua vida e acaba se envolvendo com seu médico, o jovem Julian Goldstein (Gael García Bernal um tanto desconfortável com o inglês, mas com o carisma intacto). Enquanto luta contra a doença, ela precisa também melhorar sua relação com os pais (Kathy Bates e Treat Williams), cuja separação ela de certa forma culpa por seu medo de compromissos.

No final das contas, "Pronta para amar" é daqueles filmes feitos para levar a plateia às lágrimas, mesmo que conte com momentos de genuíno humor (principalmente por conta da participação de Peter Dinklage como um garoto de programa anão). Tem uma trilha sonora inspirada, um casal central atraente e não engana o público prometendo milagres que não irá fazer. É um filme simples, recomendado para quem gosta de chorar mas não faz questão de obras-primas. Poderia ser bem pior.

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PROFESSORA SEM CLASSE

Posted by Clenio on 10:00 in
Vamos fazer um exercício. Lembre da pior comédia que você já assistiu na vida. Agora multiplique sua falta de graça e vulgaridade (ou outro atributo que o tenha levado a elegê-la) por dez. Agora acrescente Cameron Diaz e sua habitual canastrice. Pronto. Assim dá pra ter uma ideia (ainda que pífia) do que é "Professora sem classe", uma das mais execráveis produções já cometidas pelos agressores da sétima arte. Dirigido (força de expressão) por Jake Kasdan, o filme é um verdadeiro atentado ao bom gosto e uma ofensa àqueles que levam o cinema a sério (ou ao menos buscam um mínimo de inteligência quando escolhem um filme para se divertir). E é também um incomensurável teste de paciência.

Cameron Diaz (que ainda acredita que é engraçada e boa atriz) vive Elizabeth Halsey, uma professora de ensino fundamental que, depois de ser chutada pelo noivo, não vê outra alternativa na vida a não ser voltar a lecionar. Crente de que a melhor forma de arrumar um marido rico é aumentando seus seios (hilário, não?), ela resolve apelar para todo tipo de artimanha para isso (desde tornar-se líder de uma maratona de lavagem de carros até roubar o gabarito de uma prova tipo ENEM). Enquanto isso, ela ainda encontra tempo para rivalizar com outra professora, a chatinha Amy Squirrell (Lucy Punch, novamente exagerando na composição), pelas atenções de um colega, Scott Delacorte (Justin Timberlake, coitado, que deve estar no filme a convite da ex-namorada Cameron).

É impossível listar o montante de equívocos de "Professora sem classe". Desde o roteiro, inundado de piadas (!!) sem o menor fundamento até a atuação do elenco (sem exceção estão todos ridiculamente over), tudo no filme é de um inacreditável mau-gosto. Nem mesmo os fãs de humor politicamente incorreto conseguirão rir das situações forçadas da trama - que inclui uma indescritível cena de sexo entre Diaz e Timberlake vestidos.... É de se pensar apenas nos motivos que podem levar alguém a querer produzir um lixo desse naipe (talvez os produtores soubessem que a maior parte do público realmente não liga muito para qualidade, haja visto a bilheteria de mais de 200 milhões de dólares mundo afora.)

Simplesmente irritante, intragável e inacreditável, "Professora sem classe" é uma vergonha para todos os envolvidos.

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AMIZADE COLORIDA

Posted by Clenio on 12:45 in
Já está virando moda. Filmes sobre casais que elegem o sexo como base para seu relacionamento - sem que exista nenhum outro tipo de vínculo sentimental - e depois se apaixonam pipocaram nas telas de cinema como nunca nesse último ano, com qualidades variadas. Houve o ótimo "Amor e outras drogas", com Jake Gylenhaal e Anne Hathaway e houve o tenebroso "Sexo sem compromisso", com Natalie Portman e Ashton Kutcher. No meio do caminho entre os dois fica "Amizade colorida", o divertido e sexy filme estrelado por Justin Timberlake e Mila Kunis e dirigido por Will Gluck, cujos créditos anteriores incluem o pouco visto (mas muito engraçado "A mentira").

No filme de Gluck, a bela Kunis interpreta Jamie, uma caça-talentos de Nova York que convence o jovem diretor de arte Dylan (vivido com surpreendente timing cômico por Timberlake) a sair de Los Angeles e mudar-se para a Grande Maçã, para trabalhar para a revista GQ. Ambos saídos de relacionamentos fracassados, Jamie e Dylan tornam-se amigos e, bonitos, inteligentes e sexies, resolvem iniciar uma relação de sexo sem compromisso. Logicamente as coisas não andam da maneira com que eles pretendem (mas seguem à risca as comédias românticas que Jamie adora): eles se apaixonam um pelo outro, ainda que a princípio não o percebam.

Logicamente o roteiro de "Amizade colorida" é repleto de clichês (e é o tipo de filme cujo final se adivinha só de olhar-se o cartaz). Mas a grande sacada - e que o diferencia de bombas como "Sexo sem compromisso" - são alguns diálogos realmente engraçados, os coadjuvantes afiados e que não servem apenas para fazer piada (Patricia Clarkson e Richard Jenkins, ambos de "A sete palmos" estão ótimos) e a química sensacional entre seus protagonistas. Kunis, que já se atracou com Natalie Portman em "Cisne negro", já provou que não tem pudores e Timberlake mostra-se extremamente à vontade em cenas que mixam com equilíbrio invejável uma sensualidade discreta e um bom-humor muito bem-vindo. Mesmo quando não estão na cama, Kunis e Timberlake convencem o público que estão apaixonados (mesmo que não o saibam) e conseguem o que qualquer dupla romântica sonha em filmes como este: uma torcida por seu final feliz. E Will Gluck sabe, como poucos cineastas recentes, brincar com as referências pop do espectador e utilizá-las a seu favor.

Tudo bem que "Amizade colorida" não vai mudar a vida de ninguém, nem tampouco consegue escapar da previsibilidade. Mas o faz de uma maneira tão charmosa e despretensiosa que é impossível não cativar a audiência. Uma bela surpresa.

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DUPLA FALTA

Posted by Clenio on 11:59 in
Em "Precisamos falar sobre o Kevin", a escritora norte-americana Lionel Shriver investigou, através de uma chacina adolescente, a relação doentia entre mãe e filho, proporcionando ao leitor uma viagem dolorosa por dentro da mente de uma mulher culpada por não ser a figura maternal que a sociedade impunha. Em "O mundo pós-aniversário", ela convidou os leitores a um fascinante jogo de probabilidades onde uma mulher se dividia entre sua vida afetiva estável e um relacionamento que prometia loucas aventuras - apenas para concluir que não há caminhos fáceis ou certos. Em seu terceiro livro publicado no Brasil, "Dupla falta" (Ed. Intrínseca), Shriver mais uma vez seduz o público com seu talento em fazer com que os mais íntimos sentimentos e pensamentos soem menos doentios do que parecem a uma primeira visão, tornando-os humanos e, portanto, passíveis de perdão.

A protagonista de "Dupla falta" é Willy Novinsky, uma jovem cuja maior paixão, desde a infância, é o tênis. Dedicada e quase obsessiva, aos 23 anos - e caminhando rumo a uma posição de destaque no ranking mundial - ela conhece e cai de amores por Eric Oberdorf, um rapaz a quem a vida sempre facilitou tudo. Formado em Matemática, rico, bonito e adorado pela família, ele retribuiu seu amor à primeira vista e os dois se casam, apesar da falta de apoio do treinador de Willy, com quem ela teve um caso em seus primórdios como tenista. Depois do casamento, porém, a felicidade que a relação prometia começa a escassear. O motivo? Eric, também um tenista - mas que não tem o esporte como principal meta de vida - inicia uma escalada veloz rumo ao topo do ranking, enquanto Willy passa a experimentar uma estagnação inesperada. Logicamente, o sucesso do marido transforma todo o amor que ela sentia por ele em uma competição e uma inveja avassaladoras, o que atrapalha de maneira irreconciliável a relação entre os dois.

Enquanto em "O mundo pós-aniversário" a autora utilizava a sinuca como pano de fundo para uma trama intrigante e sufocante sobre relacionamentos, aqui é o mundo do tênis, com seus campeonatos, seu glamour e sua quase crueldade com os jogadores que assume o papel de cenário. Se os primeiros capítulos podem incomodar o leitor com suas descrições de jogadas e torneios, em pouco tempo Shriver retoma as rédeas e apresenta suas melhores armas: personagens bem delineados e psicologicamente acurados e uma prosa densa mas nunca pedante. Situar sua estória nas quadras de tênis, na verdade, é apenas uma tentativa (válida, diga-se de passagem) de tirar suas personagens dos cenários clichês de tramas como a sua (galerias de arte, restaurantes, etc) para universos menos conhecidos do público. E, o que é ainda melhor, faz com que o leitor se identifique com sua protagonista, mesmo que ela não seja exatamente uma pessoa agradável ou sadia (ao menos em termos racionais). É fácil entender suas motivações, mesmo porque a situação explicitada poderia ter lugar em qualquer ambiente, em qualquer relacionamento, com quaisquer pessoas com um mínimo de competitividade. E esse é o grande trunfo da escritora, que ainda presenteia o público com um final absolutamente coerente e nada previsível.

"Dupla falta" é um livro excelente, que mais uma vez comprova o imenso talento de Lionel Shriver, uma das vozes mais potentes da nova literatura norte-americana. Imperdível como seus dois trabalhos anteriores.

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O HOMEM DO FUTURO

Posted by Clenio on 15:19 in
É preciso dar mão a palmatória e assumir que o cinema nacional vem atingindo um nível técnico bastante elogiável. Problemas de som e edição, tão comuns nos anos 70 e 80 -  e que foram grandes responsáveis pela evasão do público - hoje em dia praticamente inexistem, ainda que sempre dê para melhorar. Uma prova disso é "O homem do futuro", terceiro longa do cineasta Claudio Torres. Tecnicamente apurado - até mesmo os discretos efeitos visuais são bem realizados - a obra é perceptivelmente bem cuidada em termos visuais e sonoros. Infelizmente, há algo de ligeiramente errado no filme. Talvez seja porque falta o humor brejeiro do trabalho anterior de Torres, a bem-sucedida comédia "A mulher invisível". Ou talvez seja porque tudo soa como dèja-vu: qualquer fã de cinema já viu a história contada aqui em outros filmes, que vão desde a nostalgia do já clássico "De volta para o futuro" até o pessimismo do surpreendentemente bom "O efeito borboleta". O que resulta disso? Um filme bem dirigido, com ótimos atores e um roteiro razoavelmente consistente, mas que peca por não surpreender em momento algum.

A história de "O homem do futuro" não ofende ninguém. O cientista João (Wagner Moura), também conhecido como "Zero" devido a um trauma ocorrido vinte anos atrás, está em vias de descobrir uma nova forma de energia que lhe dará fama e fortuna - assim como para sua patrocinadora, Sandra (Maria Luisa Mendonça). Um problema durante um teste, porém, o leva para o dia 22 de novembro de 1991, justamente a data em que foi humilhado pela mulher que amava, a bela Helena (Alinne Moraes). Chegando no passado, João resolve ajudar a sua versão mais jovem e impedir que ele sofra as decepções vindouras. Ao conseguir isso, porém, ele altera o futuro para uma versão mais sombria para Helena e seu melhor amigo, além de tornar-se um canalha de marca maior. Para consertar o erro, uma outra versão sua também resolve viajar ao passado.

Sim, tudo em "O homem do futuro" lembra a comédia estrelada por Michael J. Fox em 1985. A boa notícia é que Torres não apenas faz uma homenagem ao gênero "viagens no tempo": ele também leva o espectador a experimentar uma própria volta a seu passado, com uma trilha sonora inteligente - que dá importância crucial a "Tempo perdido", da banda Legião Urbana - e piadas bem sacadas, ainda que nunca brilhantes ou originais (e é possível que essa ausência de um humor mais fácil é que faça falta no resultado final). Contando com um elenco extremamente competente (Wagner Moura convence em todas as suas versões), o diretor apresenta um trabalho correto (característica que mantém desde sua estreia, o pouco visto "Redentor") mas que não empolga sua audiência. O filho mais velho de Fernanda Montenegro ainda deve ao público um produto à altura do talento demonstrado até aqui.

No final das contas, "O homem do futuro" é uma diversão ingênua e inofensiva, um programa razoável para um domingo chuvoso. Mas - com exceção da técnica - não acrescenta muito à filmografia nacional.

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POLANSKI, UMA VIDA

Posted by Clenio on 12:50 in
O cineasta Roman Polanski não é uma unanimidade - e nem pretende ser, a julgar por seus trabalhos e sua polêmica vida pessoal - mas é inegável que tem em seu currículo alguns dos mais perturbadores filmes do século XX, como "Repulsa ao sexo", "O bebê de Rosemary" e, por que não?, "Lua de fel". Vítima de uma infância sofrida - a mãe morreu em um campo de concentração - e de uma vida adulta repleta de acontecimentos nada corriqueiros - a mulher, Sharon Tate, grávida de oito meses foi assassinada barbaramente em 1969 e ele próprio fugiu dos EUA, acusado de estupro de uma menor de idade em 1977 - o diretor polonês tem, no mínimo, uma trajetória que merecia uma biografia decente. Infelizmente não é isso que acontece em "Polanski, uma vida", escrita por Christopher Sandford e publicada no Brasil pela Nova Fronteira. Não dá pra saber ao certo se o problema é a tradução sofrível, os erros de português da revisão, a superficialidade do texto ou os erros factuais cometidos pelo autor, mas ler o livro até seu final é uma experiência mais tenebrosa que os sonhos de Rosemary, personagem do filme mais famoso do biografado.

A orelha do livro diz que Sandford é uma das figuras mais proeminentes da área da cultura nos EUA, o que, a princípio, encoraja bastante o leitor (apesar da ideia inexplicável de oferecer a José Wilker (??) o prefácio do livro, três páginas em que mais uma vez o ator e pretenso crítico de cinema não fala nada com nada...). Acontece que, se Sandford é realmente a sumidade que parece, a área da cultura americana está precisando urgentemente de uma renovação. Alguns trechos da obra são simplesmente chocantes de tão rasos - é impressionante o resumo ridídulo que ele faz de "O bebê de Rosemary", por exemplo, assim como sua descrição dos acontecimentos posteriores à morte de Tate - e outros de um psicologismo barato de assustar qualquer leitor. E é bom nem questionar erros crassos como dizer que "Chinatown" fez boa bilheteria no mesmo verão de 1974 que "Guerra nas estrelas", que, como todo mundo sabe, estreou três anos depois.

E o problema maior de Polanski, uma vida - se ser mal escrito já não é problema grande o bastante - é sua edição. É imperdoável que uma editora experiente como a Nova Fronteira tenha publicado um livro com tantos erros de diagramação e revisão, que deixam alguns trechos absolutamente incompreensíveis (e, corrijam-me se eu estiver errado, mas a nova ortografia manda que o adjetivo abrupta passe a ser escrito ab-rupta??). Em resumo, foi uma tortura ler essa biografia de um nome tão interessante da sétima arte. Meu consolo é que em breve estaremos assistindo a seu novo filme, "O deus da carnificina", que promete muito, por sua assinatura e pelo elenco de ouro (Jodie Foster, Kate Winslet, John C. Reilly e Christoph Waltz). Roman Polanski não merecia mais essa provação em sua vida!!

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