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AVENTURAS AMOROSAS/SEXUAIS DE THEO - CAP. 01

Posted by Clenio on 22:24 in ,
"Cause to lose all my senses that is just so typically me..."

Essa situação é tão típica da minha pessoa que seria trágica se não fosse um tanto cômica. Me apaixonar por uma criatura cujo nome eu nem mesmo sei e cuja vida pra mim é um mistério quase completo está no mesmo nível emocional que me apaixonar por gente que mora em outro estado. E isso eu também já fiz. Duas vezes. A primeira me destruiu. A segunda, como eu meio que já sabia como lidar com essa situação romântico-interestadual, apenas me fez bem enquanto durou. Confesso que ainda sofro. Pelos dois! Sou volúvel? Ou um apaixonado por amores que não tem como dar certo? Minha terapeuta diz que eu só me envolvo com pessoas impossíveis porque não quero estar nunca emocionalmente disponível, o que me remete a outra grande paixão da minha vida. Aliás, paixão não. Amor. AMOR em letras maiúsculas, em CAPS LOCK. Hoje somos amigos. De uma maneira especial, mas amigos, o que já é muito levando-se em consideração os desaforos que despejei em cima do coitado via e-mail na época do rompimento. Na época, diga-se, eu não via nada de coitado nele. Coitado era eu, que amava e não era correspondido. Que chorava e não tinha ninguém pra secar minhas lágrimas. Que pensei em cheirar cocaína pra me amortecer, em entrar em coma alcóolico, trepar sem camisinha com qualquer um que me quisesse, em tomar uma carteira inteira de Lexotan... Tá bom, já que a intenção aqui é ser sincero eu confesso que a cartela de Lexotan eu tomei. Com vinho pra rebater. Em duas ocasiões distintas. Na primeira vez só vomitei. Na segunda, dormi uns dois dias e acordei com uma dor de cabeça do caralho. Nunca mais tento o suicídio assim. Juro! Tenho que pensar em um método que não me deixe um trapo no dia seguinte ao evento. Mesmo porque, vamos deixar claro... além de não conseguir me matar ainda acordar de ressaca e com olheiras é o cúmulo do fracasso. Se bem que, a essa altura da vida, eu já deveria ter me acostumado com o fracasso, já que ele é uma espécie de apêndice do meu ser. Se isso não é verdade, como posso classificar o fato de que tenho 35 anos de idade e ainda trabalho em uma locadora de dvds? Era um emprego provisório aos 22 anos, mas não sou propriamente um cara muito ambicioso em termos profissionais. Toda segunda-feira minha mãe me telefona para perguntar quando eu vou parar de ser adolescente e arrumar um emprego de verdade. E toda segunda-feira a conversa acaba quando eu resolvo mudar de assunto e contar sobre minhas aventuras sexuais do fim-de-semana. É tiro e queda!

Mas que cabeça, a minha! Estou aqui divagando como um texto da Virginia Woolf e nem me apresentei. Me chamo Theodoro, um nome horroroso que herdei do meu pai quando o coitado tinha a ilusão de que eu seria seu parceiro nas partidas de futebol ou nas suas assim chamadas diversões - xadrez e canastra. Meu Deus, como pode alguém ter uma visão tão limitada sobre as possibilidades de uma noite de sábado? Isso é que dá uma criação católica e uma cidade do interior. Theodoro pai quis dividir a desgraça do nome e eu tive o azar de ser o primeiro filho. Felizmente logo na infância o nome foi reduzido a um menos trágico Theo - com H, para que eu nunca pudesse mentir que minhas origens são divinas. E não me consola saber que meu nome é o mesmo da personagem principal de um livro chatíssimo que tenta contar a história das religiões a partir de um garotinho chato e choroso que tem uma doença incurável. Aliás, não deixa de ser no mínimo coerente que eu seja homônimo de uma criatura assim tão infeliz... Hoje sou conhecido como Theo por meus amigos, Theozinho para os familiares e pelo sisudo Theodoro para todo o resto da humanidade, com o qual minhas relações são unica e exclusivamente profissionais. Moro sozinho - depois de ter passado por todas as experiências de co-habitação exceto o casamento - mas raramente sou acometido pela ameaça que paira sobre todos os solteiros do mundo, a solidão. Quando esse acontecimento funesto está com sua cabeça cheia de chifres apontando no horizonte, apelo para uma das minhas possibilidades de fuga: festa, bebida ou sexo casual. Ou filmes, porque além do vício em sofrer por amor eu também sou viciado em cinema, mas isso é assunto pra outra conversa.

Agora voltemos ao início da conversa, quando falei que estou apaixonado por alguém totalmente desconhecido. Quer dizer, desconhecido em termos, porque como eu faço sempre que isso acontece - sim, isso já é corriqueiro em minha agitada vida amorosa - eu logo dou um jeito. Não de conhecer a pessoa porque isso dá um trabalho danado e é sempre frustrante, mas de inventar toda a sua história de vida. Por exemplo, sentado em uma mesa de bar, tomando umas cervejinhas bem geladas (em minha defesa, ainda estava calor e eu havia tido um dia muito cansativo) eu e minha amiga de todas as horas Fernanda logo "descobrimos" as partes essenciais de sua biografia: seu nome é Guilherme, ele é advogado e funcionário público e, o mais importante de tudo: está à procura de um relacionamento sério. De posse dessas informações privilegiadas não é preciso dizer que estou pronto para finalmente conhecê-lo. Falta apenas um detalhe: encontrá-lo de novo. Apesar de "saber" todas as coisas que sei no momento, apenas tenho uma vaga ideia de onde ele mora, porque, vamos deixar claro, quando quero eu sou um detetive de dar inveja a Hercule Poirot. E eu sei onde ele caminha/corre/caça nos finais de tarde. Pensei seriamente em forçar um encontro com ele na semana passada, mas no fim preferi ir ao supermercado comprar coisas que faltavam em casa... Mas todo dia essa ideia me passa pela cabeça e eu jurei - pra mim mesma e pra Fernanda - que, da próxima vez que eu der de cara com ele não vou embora sem ao menos um cumprimento e algo a mais do que simplesmente olhares de desejo, porque dessa fase já passamos. Sim, prezado leitor, sou tímido mas não sou bobo, e sei que ele também está interessado nesse que vos escreve. Só espero que ele não fique em casa fazendo o mesmo que eu, porque jamais iria adivinhar meu nome...

Bom, por hoje é só... Prometo contar sobre mim e inteirar sobre minha vida amorosa a quem possa interessar todos os domingos à noite a partir de agora. Muita gente irá aflorar nesse singelo espaço, portanto, anotem os nomes para não se confundirem. Nem novela do Manoel Carlos tem tantas personagens, mas prometo sempre deixar tudo bem claro. E torçam pra que essa semana eu tenha força de vontade e sorte em quantidade suficiente para encontrar o Guilherme... ou qualquer nome que ele tenha!

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2 Comments


Quem nunca se apaixonou dessa forma? eu ja tive tantas paixões insanas....essas são as melhores.


Tua ficção me soa tão familiar...

ahãm!!! sei!!!

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