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I WAS HOPING
Em homenagem a um aniversário de cinco anos...
Sinceramente eu esperava mais de você. Não que você tenha me enganado, muito pelo contrário, lembro como se fosse hoje do nosso terceiro encontro, quando, olhando nos meus olhos você disse: "Posso ser uma filha da puta da pior espécie." E, sim, eu me arrisquei, porque achava, ingenuamente, que poderia mudar isso, que as coisas poderiam ser diferentes entre nós, diferentes das suas histórias traumáticas e das minhas relações problemáticas. Você era tão jovem, tão cheia de planos, tão cheia de ideias, tão cheia de si e era tão consciente de tudo isso que não tive outra alternativa a não ser me apaixonar perdidamente e aceitar que você pudesse realmente ser uma filha da puta da pior espécie. Mea culpa!
É verdade, eu queria ter tido mais de você. Mais amor, mais dedicação, mais alegria, mais sexo, mais tempo... Eu queria ter aproveitado mais nossos beijos, nossas noites enrolados um no outro, nossas sessões de dvds, nossos silêncios íntimos... Eu esperava ter de você mais do que tive, ainda que as lembranças do pouco que recebi tenham sido o meu porto seguro em tempos de águas revoltas. Eu esperava, ansiava, desejava ter de você o seu melhor, mas acredito que você não me julgava merecedor de tanto.
Eu esperei de você mais compaixão. Esperei um telefonema amigável, um email consolador, um recado carinhoso, um abraço pacífico. Foi uma tormenta quando tudo acabou e mais do que dinheiro, fama, sucesso, sexo e a possibilidade de ver e saber de tudo, eu precisei de um sinal seu. Um sinal que me dissesse até mesmo sem palavras que eu era um cara legal, que a culpa era sua, sim, e que você nunca mais iria conseguir encontrar alguém como eu. Eu precisava de uma mentira sincera, migalhas me serviriam naquele momento. E eu esperei por elas. Em vão.
Eu esperava que um dia passasse. Era o que todos sempre diziam. "Vai passar, você é mais forte que tudo isso, ninguém merece esse sofrimento todo..." Eu queria acreditar, porque acreditar talvez me ajudasse a continuar. Eu queria ter a inabalável certeza de que um dia tudo estaria para trás e a tempestade teria passado. Eu esperava que mais cedo ou mais tarde eu, por méritos meus mesmo, me olhasse no espelho e me visse não através dos olhos de quem me abandonou e sim através dos olhos de alguém que vê em mim as qualidades que você nunca viu, ou se viu, não se importou em rejeitar.
Eu esperava desesperadamente superar a raiva que senti de você, do mundo, de mim mesmo, de todos os casais felizes que insistiam em cruzar meu caminho. Esperava perdoar você - de verdade e não como uma palavra vazia - por todas as noites aos prantos, embriagado de álcool e de angústia, que eu atravessei em silêncio. Por todas as ocasiões em que tentei enfrentar o vazio que você deixou ocupando minha cama com nada mais que corpos inertes e tesões fugazes. Por cada objetivo meu que abdiquei quando decidi, conscientemente ou não, viver minha vida em função da sua. Por ter perdido a fé não na humanidade - isso não seria tão trágico assim, levando em consideração que nunca a tive - mas em mim mesmo, na minha capacidade de acreditar que alguém pudesse perceber o quanto de amor eu posso dar.
Acima de tudo, no entanto, eu esperava que passasse. Que depois de um tempo - dias, semanas, meses - eu pudesse olhar pra trás e dar risada de todo o meu excesso de dramaticidade. Eu precisava acreditar que outros olhos fariam os meus brilharem, outras bocas preencheriam a minha com beijos e outros toques me acordariam do torpor em que mergulhei naquele inverno. Eu esperava, sim. Mas hoje só o que espero é nunca mais te esquecer, porque bem ou mal, você foi a melhor e a pior coisa que poderia ter me acontecido. E o que é a vida senão uma constante espera por Godot, uma eterna espera de um milagre e, no meio disso tudo, um grande e devastador amor?
Feliz aniversário...